quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

CARGO & FUNÇÃO



Em época da falta de emprego, mas não de trabalho, surge a necessidade de elucidar e associar CARGO e FUNÇÂO, para equacionar esta contradição. Todos estão na busca de algum cargo, mas poucos a conhecem, ou a aceitam, a função inerente a este cargo.


O triste panorama das crianças e de moradores de rua do Brasil,, é índice de que alguém não cumpriu, ou não está cumprindo, a sua função de elo entre o desvalido e quem acumula os bens, que deveriam ter função social.


No plano da distribuição e da circulação do poder político é sabido que o Estado português é um dos primeiros e mais antigos do Ocidente. Este Estado capitalista precoce foi possível graças a contratos entre cristãos, judeus e muçulmanos que permitiram ao rei cristão instalar um Governo central. Por este contrato a nobreza portuguesa não seria hereditária, ao contrário da Espanha onde o cargo nobre acompanha a descendência. Outra diferença era que este cargo nobre português seria adquirido e comprado da corte o que permitia a sustentação da estrutura governante e selecionava os mais aptos e empreendedores do reino. No caso espanhol, além de hereditário, a sustentação desta estrutura dependia do governo. Este empreendedorismo lusitano original - proveniente do poder originário da nação – abriu as portas para empresas extraordinárias provenientes desta minúscula terra. Evidente que o modelo nunca foi aplicado na pureza do seu contrato original e corrompido facilmente por uma nobreza decadente. Esta nobreza entendeu que o cargo o livrava do trabalho com as mãos que passou a ser considerado uma desonra. A solução foi a escravidão onde o dono pensava e posava como nobre, enquanto a mão escrava trabalhava.


No Brasil, o período colonial, repassou ao Império este contrato do cargo conquistado. Instalada a República este conferiu o titulo nobiliárquico brasileiro aos cães . Os títulos de duques”,a as “princesas” e os “barões “ foram conferidos aos peludos que latiam e tinham quatro patas


Contudo este expediente - de mofa da nobreza - não uniu cargos e funções. Ao contrário: a patuléia, que empolgou algum cargo republicano, passou a implementar a separação radical entre cargo e função, sem o menor conhecimento de um e outro e, muito menos, das suas conexões, competências e limites. O autor deste blog foi ameaçado de prisão por alguém se dizendo juiz de comarca da fronteira, por ter-lhe cortado o caminho numa banguela de madeira sobre um córrego no litoral ! Evidente que este ocupante de cargo público estava muito longe de suas funções e muito menos esclarecido em relação aos limites destas funções.


Contudo de uma forma geral, na cultura sul-rio-grandense não há distinção entre quem manda e quem executa o trabalho. Patrão e peões convivem lado a lado nas lides do campo como no galpão, empresário e empregados assumem um trabalho coletivo e sem distinções. Este fato chamou a atenção do espanhol, o escultor e o arquiteto Fernando Corona (1895-1979). Ele acompanhou na intimidade e partilhou a vida, no dia-a-dia, a partir de 1912, da criatura humana de Porto Alegre. A imagem que ele captou está fixada em seu diário(1937, fl 373). Ali ele anotou:


Porto Alegre como capital do Estado é a cidade mais democrática de todas, dando exemplo de fidalguia a qualquer um. A sua riqueza foi conquistada com o trabalho de seus habitantes. Porto Alegre republicana foi sempre, desde sua formação democrática. Não tenho lembrança de ter visto na capital – milionários viver de rendimentos, a não ser o produto do seu trabalho. Desde que aqui cheguei notei que um simples pedreiro ou carpinteiro já era proprietário de seu chalé mesmo que fosse de tábua. A riqueza em Porto Alegre é muito dividida e os grandes industriais cresceram com o trabalho. A influência das colonizações estrangeiras contribuiu muito para a democratização, pois, ao iniciarem o trabalho da estaca zero, o braço do patrão suou a lado do braço do operário. Sempre defendi esse principio, pois todos tem direito e um dever que se crescer na medida do progresso”.


Esta energia vinda do poder originário sulista - com distinções entre cargos e funções apenas em termos de distribuição de responsabilidades e tarefas - permitiu a imensa imigração para as fronteiras do oeste brasileiro e se derramou em países limítrofes sobre culturas da matriz castelhana. Evidente, regado com um rio de dinheiro que dificilmente voltará para as suas origens sulinas. Contudo o sul-rio-grandense não ostenta ou faz cobranças mesquinhas. Saint-Hilaire já havia notado, em 1823[1], este aspecto de economia do Sul do Brasil:


«Na capitania de Minas (Gerais) os casamentos são raros, e as mulheres, reclusas no interior das casas não passam das primeiras escravas de seus maridos : na do Rio-Grande, as mulheres não se escondem, as uniões legítimas são a regra, e os costumes são mais puros.[...] Os mineiros gastam o seu dinheiro com ostentação: os homens do Rio Grande possuem, muitas vezes, fortuna considerável, mas, pelas suas casas e a maneira como vivem, parece que estão na indigência.A capitania de Minas (Gerais) se esgota : a do Rio Grande se enriquece. Os mineiros possuem uma coragem comum : os homens do Rio Grande distinguem-se por um valor brilhante, e, sob um chefe empreendedor, realizam conquistas onde não sejam contrariados nos seus gostos e seus hábitos”.


Neste quadro, traçado com maestria há quase dois séculos, em ano posterior da independência do Brasil, o que necessita ser salvo é esta circulação coerente do trabalho e do capital, sem permitir que seja entravado e engessado pela instalação de qualquer pedantocrocia. Risco latente em qualquer cultura humana. O colapso desta circulação pode paralisar um partido com seus CARGOS honoríficos, corromper uma universidade com os seus títulos de DOUTOR, as novas igrejas com os seus BISPOS, ou em outra qualquer estrutura na qual o poder é impedido de fluir é represado a favor de alguns e a desfavor de muitos.


Evidente que os autênticos DOUTORES, PRESIDENTES ou BISPOS - e tantos outros cargos honoríficos - conhecem melhor do que ninguém as funções e os dolorosos trabalhos e responsabilidades que deles decorrem.








[1] SAINT-HILAIRE, Auguste de- « Aperçu d’um Voyage dans l’interieur du Brásil : La Province Cisplatine et less Missions dites du Paragguay » – Paris : Belin, 1823, (pp.54-5 http://www.brasiliana.usp.br/bbd/advanced-search


segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

COERÊNCIA de ORGANIZAÇÃO.


Toda criação natural, ou humana, tende para um ponto ideal onde é possível verificar a organização coerente das suas partes num todo único, funcional e para a sua existência autônoma. Neste ponto atinge, além do seu ponto de sua plena identidade, o potencial para a sua reprodução.


A partir desta organização coerente é possível examinar as etapas que levam ao ponto esta criação da sua identidade e à possibilidade do sucesso de sua reprodução.


Numa diferenciação ao nível do Discurso do Método cartesiano é possível criar uma hierarquia para atingir este ponto ideal. A tarefa torna-se mais fácil se aproveitarmos as descobertas de psicólogos e pedagogos da arte e da criatividade e na linha behaveorista americana.


Nesta linha tornaram-se clássicos os estudos do pedagogo Victor Lowenfeld[1] e do psicólogo comportamental Joy Paul Guilford[2] cujas pesquisas foram aproximadas, sistematizadas e divulgadas por Robert J. Saunders[3].


Saunders, percebeu que, ao aproximar os dois pesquisadores independentes do fenômeno da criatividade humana, eles percorriam etapas teóricas muito semelhantes. Ao desdobrar a complexidade final da “coerência de organização” Saunders deu-se conta que os dois pesquisadores colocavam a etapa de síntese e que era o resultado da uma análise das partes. Esta analise havia feito um desdobramento e escolha de partes significativas que poderiam ser re-arranjadas sob um pensamento latente de um escopo do projeto de chegada. Este re-arranjo deveria seguir este pensamento de algo novo ou original e que dava o sentido a esta tentativa. Esta originalidade era uma fuga do pensamento único e do de “dejá-vue”. Para afastar este pré-congelamento há necessidade do vigor de uma flexibilidade mental (adaptativa) e natural (espontânea). Esta flexibilidade necessidade da fluência expressiva, associativa, ideativa e verbal. Esta fluência (verbal, ideativa, associativa e expressiva) não é constituída por uma mistura aleatória, mas possui o sua primeiro estágio da qualquer ação criativa que é a sensibilidade de escolher um caminho significativo ou um problema no qual convém investir todas as energias, materiais e ideativas.


Este caminho ou problema escolhido é fundamental em ciências humanas como a História onde Marc Bloch adverte que


A investigação histórica admite, desde os primeiros passos, que o inquérito tenha já uma direção. De início está o espírito. Nunca, em ciência alguma, foi fecunda a observação passiva. Supondo, aliás, que seja possível”. Marc Bloch 1976, pp. 60/61.[4].



O que se espera é que ao final do processo criativo este espírito não definhe ou morra ao longo do árduo caminho. Bem ao contrário. O pensamento autêntico e competente para abrir novos e fecundos espaços para outros pesquisadores proporem outros pensamentos.


Esta abertura é proveniente do amplo leque de escolhas oferecido através da fluência tanto verbal, associativa, expressiva e ideativa é capaz de trazer ao mundo. O lema de Leonardo da Vinci “da pintura como algo mental” é fecundado neste estágio para tomar corpo. Mas esta fluência ideativa já havia recebido sentido por Horácio na direção do seu projeto “ut pictura poesis[5] da Arte Poética. Na cultura humana a fluência verbal denuncia este estágio da abstração competente, ou não, para erguer-se, do ambiente do caos primordial, pelos seus próprios meios. O pensador Wittgensteian sintetizou “Os limites da minha fala significam os limites do meu mundo” no seu Tractatus Philosophicus.


A falta desta capacidade anula o novo e a fluência toma sempre o mesmo caminho da “idéia fixa”, definitiva[6] e absoluta falta de alternativa. Esbarra na incapacidade de administrar as perdas inerentes a qualquer escolha. Este bloqueio da flexibilidade impede a realização do objetivo final (teleologia imanente) e morre diante do primeiro imprevisto ou da racionalização de uma forma pela forma. Na observação do artista Paul Klee[7]boa é a formação, má é a forma, porque a forma é fim, é morte”. A forma pela forma constitui um auto-bloqueio que é a pior saída da criatividade, pois a encerra no “círculo de giz ao redor do peru bêbado”. Sem a presença da capacidade de uma ruptura epistêmica e com o estagio anterior, fica decretada a perpétua infantilização do pensamento e da vida. Um projeto é tanto mais vigoroso quanto mais recursos logísticos e estratégicos constarem em seu arsenal para acompanhar esta rupturas com estágio ultrapassados. Qualquer presunção de onisciência, onipotência, onipresença ou eternidade acaba com todo o processo de flexibilidade. Pessoa que cultiva este tipo de sentimento já está pronta e definitiva e não necessita mais de guia, professor ou escola. É só esperar a ruína destas armadilhas que terminam com qualquer criatividade.


Falta de criatividade que impossibilita qualquer originalidade ou surpresa do novo é único. Diante deste bloco unitário e definitivo não há mais espaço para o exercício de qualquer de análise. A síntese já foi realizada prematuramente e sem trazer nada de novo. O que se produz é um moto contínuo de uma falsa originalidade que se repete ao infinito de uma farsa e sem variações significativas. É a cansativa e monótona endogenia repetitiva e de um único clone. Pode ser tanto da idéia incapaz de tomar um corpo numa forma ou da forma que jamais atinge ser vivificada por uma idéia. Bourdieu sentenciou (1987 p.218) “O conservadorismo estético funda-se na recusa de romper com os códigos conhecidos para entregar-se às exigências internas da obra” .


Nesta dupla via - do problema ao universo da sua coerência de organização final e vice-versa- fica evidente que, tanto no primeiro momento de contato com a obra, ela já se encontra carregada de um pensamento central e que valeu o esforço deste percurso com destino de um conjunto final harmônico e único. O observador do processo possui a certeza que ali emerge e flui algo único e verdadeiro. Na autêntica coerência de organização fixou residência um pensamento vivo que oferece a sua prova na reversibilidade e na capacidade de se colocar em questão a si mesmo a qualquer momento.









[1] - LOWENFELD, Victor. (1903-1960) “Creativity: Education’s Stepchild” in A Source of Book for Creative Thinking, edited by Sidney J. Parnes and Harold F. Harding N.Y.: Charles Scribner’s Sons, 1962.




[2] - GUILFORD, Joy .Paul (1897-1987)., “Introdutory Portion of ‘Creativity’”, “Presidential Adress in 1950”, and “Creativity: Its Measurement and Development”. In A Source Book for Creative Thinking, edited by Sidney J. Parnes, and Harold F. Harding. N.Y.: Charles Scribner’s Sons, 1962.


-----, The Nature of Human Inteligence. N.Y.: McGraw-Hill Book Co., 1967




[3] - SAUNDERS, Robert J. (1926 - )“ A Educação Criadora Nas Artes in AR’TE 10. ano III n o 10, São Paulo :Max Limonad, 1984., pp.18-23 Extraído de Relating Art and Humanities to the Classroom, W.M. C. Brown Co., Iowa, 1977.




[4] BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América 1976 179 p.





[6] - Timeo hominem unius libri. [S.Tomás de Aquino] Tenho medo do homem de um só livro. Deus me livre do homem de um livro só.



[7] - Klee in Bosi, 1995, p. 71

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ARQUIVOS EMUDECIDOS ou FALSIFICADOS.





Os arquivos são índices positivos e comprobatórios das civilizações que contribuem, ou contribuíram, para retirar a criatura humana do seu estado natural entrópico.


A ausência, ou destruição deliberada dos arquivos, é índice da barbárie e do infra-humano a que a criatura pode chegar na sua degradação. A barbárie é direta e objetiva: depreda, silencia e aniquila tudo o que possa denunciar o seu lado negativo e sem deixar rastros das suas atrocidades.


As grandes civilizações criaram instituições, educaram e nomearam profissionais competentes para guardar para si mesmas e para as novas gerações tudo que as enaltecem. Assim as instituições e Arquivistas constituem a parte logística de uma civilização amadurecida e sobre as quais é possível planejar novas conquistas, sem correr p risco repetir a História.


A História, como narrativa – posterior ao evento e datada - necessita destes referenciais, não para imitá-los, mas para evitar a sua repetição e para a superação do que já foi visto. Contudo na maioria das vezes encontra, em vez do arquivo, a sua ruína ou o silencio e o temor que a barbárie infundiu de qualquer documento autêntico. A narrativa é constrangida a se calar diante desta cena deprimente e passa a buscar a memória de outros grupos humanos e onde valha a pena o esforço de fazer falar os que o tempo emudeceu. De outra parte é possível, a partir do documento datado, estabelecer o contraditório que uma certa narrativa datada que necessita enfrentar periódica revisão.


Torna-se mais do que evidente que


“é tal a força da solidariedade das épocas que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente” . Marc Bloch 1976, p.42.[1].


Estes laços de inteligibilidade passam necessariamente pelo tipo de documentos, existentes, ou inexistentes, que alimentam esta circulação do poder de uma civilização para outra.


Infelizmente o historicismo positivista arrastou esta circulação para uma terrível estagnação ou impôs uma verdade dada e definitiva, proveniente de uma ideologia equivocada[2]. O que se verifica, neste caso, é a repetição da história como uma farsa. A simples existência de um arquivo pode infundir, aos menos avisados, a ojeriza, pelo arquivo, proveniente da onipotência, da onisciência, da onipresença e da eternidade do simples documento sem a viva presença atualizadora do Arquivista. Deste sentimento para a destruição ou abandono do Documento e doa Arquivo, é um passo só.


O cargo de Arquivista é simplesmente ignorado nas universidades federais do Brasil. Basta verificar o que aconteceu com a Lei nº 12.156 de dezembro de 2009. na qual não costa NENHUM cargo de ARQUIVISTA.


Depois do leite derramado, seria necessário verificar a quem cabe a culpa de quem realizou a minuta desta lei. Certamente não foi quem assinou ! Certamente quem elaborou esta minuta tem aversão a que este profissional Arquivista conste com este nome nesta estrutura. Esta ausência abre o flanco para irresponsabilidades fiscais e de tantos outros objetos de inquéritos administrativos que poderiam ser facilmente prevenidos pela inclusão do Arquivista profissional, e com este nome, no corpo administrativo destes entes federais. A leitura do discurso omisso se impõe diante da estrada aberta para as manipulações, desvios e prestações de contas não documentadas integralmente. O crime é cometido antes que se abram os portões das Procuradorias, dos Tribunais de Contas e a chegada da Polícia Federal. Após este crime praticado, a única providência, em relação a estes descontroles, é remeter estes desvios para debaixo do tapete e dos engavetamentos de processos que poderiam ser evitados pelo Arquivista como profissional qualificado que acompanha o dia a dia da geração, circulação e arquivamento documental. A administrador poderia dedicar-se tranquilamente às funções do seu cargo se os documentos fluíssem, fossem devidamente arquivados e recuperados na hora oportuna quando há necessidade de tomadas de decisões. Isto sem pensar no imenso potencial para o continuum institucional nas horas das avaliações e nas pesquisas acadêmicas, que possuem como objeto estas universidades como pólos de um saber indispensável. Documentos que poderiam evitar os labirintos, o eterno recomeçar e a repetição da história como uma farsa pela falta de conhecimento da natureza do campo que ali está sendo trabalhado pela carência de circulação de documentos significativos.


- Onde está ao menos um mísero prêmio Nobel das nossas universidades brasileiras?


- ou qual o seu lugar no ranking publicado pelas universidades chinesas ou francesas?


Contudo, na maioria das vezes, este sentimento de aversão ao arquivo nasce de projetos mal sucedidos, criminosos ou pela vinda de um novo período administrativo ao qual se quer negar a notícia dos projetos alimentados e não realizados pela administração que se encerra ou realizados de uma forma equivocada. Aí os arquivos e os seus documentos sofrem a decapitação como aquele mensageiro que traz ao califa de Córdoba a notícia da perda de Granada.


O poder originário brasileiro está colaborando, para o incremento da barbárie e do infra-humano, enquanto o ARQUIVO seguro sejam as CUECAS ou as MEIAS SUJAS, em vez de profissionais capazes de assegurar a vida da documentação adequada. Estas práticas das CUECAS ou as MEIAS SUJAS, contornam, evidentemente, todos os arquivos. Pessoas que praticam tais atos querem ver bem longe qualquer documento e que seja capaz de denunciar tais desvios das boas práticas administrativas. Estas boas práticas administrativas são corrompidas na raiz se as funções dos profissionais do arquivo estão esvaziados e arquivistas são afastados de qualquer concurso publico, como é possível verificar no silêncio sobre o Cargo de Arquivista na Lei nº 12.156 de dezembro de 2009.


No lugar do arquivista cresce e se avoluma o indivíduo que se oferece e busca encarnar o papel como agente da HISTÓRIA – que os outros deverão escrever a partir dele como origem e fonte. Uma tal mentalidade afunda-se na imaginação infantil e na triste figura de Dom Quixote querendo ser o herói de algo que já passou há muito tempo ou foi sublimado como um mito. Ou, pior ainda, arrasta-se na contravenção pois está seguro de ninguém segue ou seja capaz de iluminar as suas pistas sórdidas.








[1] BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América 1976 179 p.




[2] Interessante verificar que a escolha de LULA PERSONALIDADE do ANO, de 2009, pelo jornal francês Lê Monde, parte das premissas positivistas de Auguste Comte. Confira em


http://www.lemonde.fr/opinions/article/2009/12/24/lula-l-homme-de-l-annee-2009-par-eric-fottorino_1284552_3232.html

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O CHARME da IGNORÂNCIA



Existe um verdadeiro charme na ignorância de uma criança desvendando o mundo ou de uma bela mulher fascinada apenas nos seus dotes físico.


No interior de uma universidade, exibir ignorância, já não possui a menor graça, charme ou fascínio A ignorância começa pelo desconhecimento de uma noção do que seja uma universidade.


As generalizações em distinções entre esquerda e direita. Os diretóides misturando taylorismo, capitalismo fascismo e nazismo Os esquerdóides misturando e não distinguindo marxismo, leninismo, maoismo, trostkismos ou gramscianos. Anarquistas querendo se instituir em organizações ideológicas perenes e realizando atos de proselitismo institucional.


Na semiótica existe a busca do horizonte dos 12 anos da idade mental e de extrema utilidade para o marketing que deseja atingir universalmente as massas ditas populares.


A infantilização das mentes é uma mina de ouro para os populismos de todas as matizes e para todas as finalidades. Quando se trata de gerar um mercado físico ou ideológico consegue-se que países e continentes inteiros sejam forçados a mergulhar abaixo da linha horizonte intelectual dos leitores de um Harry Potter. Trabalha-se depois com o grupo de dentro que mergulhou neste baixo horizonte e que constituem automaticamente os “amigos”. Todos aqueles que estão de fora deste grupo são os “outros” ou os “inimigos” ou os “hereges”.


A imersão neste inconsciente coletivo rebaixado possui múltiplas vantagens além do seu eventual charme quando é autêntico. A primeira é felicidade do paraíso primitivo sem a compulsão ao trabalho e culpa. A segunda é fuga de qualquer sanção moral dos atos praticadas nesta presunção da inocência do coletivo. A terceira é que esta imersão coletiva na ignorância aproxima-se do extremo oposto em que os filósofos mais adiantados confessam “que só sabem que nada sabem”.


Nada adianta o quixotismo de investir e confundir o “rebanho” de ovelhas com os “mouros”. Reinventar batalhas contra os mouros, fora do seu contexto, é tentar repetir a História sob a forma de uma farsa. Muitos direitistas, esquerdistas e centristas estão repetindo batalhas contra os “mouros” e, portanto, repetindo a História como uma farsa.


O charme de ignorância seria algo muito bonito e poético se não escancarasse e deixasse os seus portadores a mercê das mais ferozes paixões humanas de domínio. Domínio que se expressa pela busca de um campo de hegemonia sobre as suas vítimas a semelhança de um rebanho a caminho do matadouro e um “objeto” a ser exaurido pelo dominador em busca das suas próprias vantagens.

sábado, 19 de dezembro de 2009

“A Natureza não tem dentro”


Arbusto da família das euforbiáceas (Phyllantus Sellowianus),



A irradiação das cores, das formas, dos aromas, dos sabores variados e sons da natureza seduziram sempre a criatura humana. Esta criatura rendeu-se a esta magia e colocou a Natureza como valor máximo ou uma conexão com a divindade criadora.


A ciência conduzida por uma Razão infantil ou adolescente, entre seus cochilos e seus sonos intermitentes, alimentou a afoita tecnologia a buscar as forças mais íntimas desta Natureza. A Razão buscava a afirmação do poder de quem manejava esta tecnologia, muitas vezes, envolta em interesses contrários. O resultado é um planeta cada vez mais inóspito e imprevisível, tanto para quem quer dominá-lo como para aquele que simplesmente quer viver nele como um lar.


A distância em que o ser humano colocou-se, em relação à Natureza, vivendo separada dela pelo universo da Razão, ciência e tecnologia, deveriam fornecer-lhe, no mínimo, a medida e a sabedoria para avaliar este abismo. Contudo percebe-se isolamento intransponível. Isolamento levados as raias do solipsismo por Thomas Bernhard (1931-1989) ao escrever em ‘O Sobrinho de Wittgenstein’[1].que “na verdade, amo todo menos a natureza”. Ou do poeta português Fernando Pessoa (1888-1936),a afirma que “a Natureza não tem dentro” que necessita ser lido e entendido no mundo da ecologia.


Esta tomada de posição implica numa evidente responsabilidade moral. Em especial quando a criatura humana chega ao impasse e sente-se responsável e culpado pelas questões da Natureza. Culpa nascida da tentativa humana de separa-se dela ao impor-lhe a sua mentalidade alegando que ela “não tem dentro”.


Responsabilidade moral visível nos índices com quais a criatura humana trata a morte. Este evento fundamental e inerente a toda Natureza. Responsabilidade moral visível nos vastos extermínios da espécie humana em programas como aqueles dos campos de concentração nazista. No outro extremo individual encontra-se a cremação individual erguido a totem. Cremação que corresponde à tecla ‘delete’ dos programas numérico digitais.


Os dinossauros não destruíram o planeta nem colaboraram com as causas que levaram à sua morte massiva. Mesmo assim viveram e acabaram mortos em massa e extintos radicalmente entre os seres vivos de sua época.


A criatura humana pode fazer a diferença, pois ela torna-se histórica na medida em que a sua Razão é capaz de projetar as condições nas quais quer viver. Contanto que afaste seus cochilos e seus sonos intermitentes.


O que não se deve discutir é que está acontecendo aquecimento ou esfriamento. Mas obter dados seguros sobre quando de oxigênio e outros componentes atmosféricos este planeta consegue produzir para repor o que desperdiça na sua passagem e na sua órbita. A partir destas condições gerais tomar as deliberações e decisões providências, tanto em relação ao aquecimento como do esfriamento. Conhecendo a origem e as armadilhas das causas destas destruições massivas das espécies vivas, prever quais o planeta Terra é capaz de suportar.


Destas deliberações e decisões é impossível afastar o PODER ORIGINÁRIO dos estados, nações e qualquer outra organização na qual esteja em jogo ou fluindo o poder. Caso contrário irá formar-se novamente uma casta dos iniciados nestes mistérios e a imensa população ignorante e incapaz de agir no momento e na forma adequada no salvamento da espécie humana.


Como a criatura humana foi capaz de sair dos abrigos naturais das cavernas, assim a Economia e a Ecologia somadas podem reconstruir o ‘oikos[2] ou lar.









[1] http://escrito-a-lapis.blogspot.com/2007/11/thomas-bernhard-um-realismo-agnico-como.html


BERNHARD Thomas – O Sobrinho de Wittgenstein – uma amizade .Lisboa : Assírio& Alvim 2000, 142 p




[2] Economia é a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. O termo economia vem do grego oikos (casa) e nomos (costume ou lei)ou também gerir, administrar: daí "regras da casa" (lar) e "administraçao da casa"."[ A palavra ECOLOGIA Usada, em 1866, pelo biólogo alemão HAECKEL na obra "Generelle oikos = significa casa.


segunda-feira, 14 de dezembro de 2009





EU FAÇO a HISTÓRIA – VOCÊS a ESCREVEM”.


Fernando Collor de Mello



A frase do ex-presidente demonstra não só todo o seu desconhecimento do que seja História, como, a vista de todos, exibe a sua onipotência, onisciência, eternidade e onipresença de que se julga portador.


Para iniciar, a História sempre é constituída por uma narrativa que pode tomar formas orais, escritas ou icônicas. Os dados empíricos pertencem à Natureza e como tais são meros objetos e sem alma própria[1].


O historiador autônomo, ao construir esta narrativa vai buscar o referencial como profissional, desta narrativa, em dados empíricos do passado, que ele seleciona sob um paradigma ou mentalidade que constitui o seu repertório. Evidente que os poetas do cordel e os trovadores nordestinos louvam o que consta num imaginário humano universal. Como tais não possuem a ambição da fidedignidade e nem interessa o que aconteceu de fato. Os poetas são superiores e mais universais do que os historiadores, pela concepção de Aristóteles [2]. Contudo, até o presente, a grande poesia universal ficou indiferente ao ego inflado deste ex-presidente. O poeta-cantor nordestino louva-se no que lhe é oferecido, em segunda ou terceira mão, pela mídia da indústria cultural e premido por necessidades primárias básicas.


O historiador autônomo e profissional, possui a liberdade de deixar de lado, na sua seleção, este ex-presidente, por considerá-lo irrelevante, ou um equívoco do povo ou um embuste de marketing. Neste caso este historiador não possui outra saída do que remeter os fatos, de que este personagem julga-se protagonista, para casos de marketing, dolo ou insignificância. Tudo isto apesar de o personagem julgar-se onipotente, onisciente, eterno e onipresente e digno da mais alta consideração.


O historiador pode fixar também nos efeitos que um personagem provoca sem se dar ênfase para a causa de tantos males que provocaram um povo inteiro para levantar se unânime contra ela.


O pobre homem catapultado para a órbita do cargo presidencial, não encontra meios para descer para atmosfera da cidadania e da condição dos demais mortais. Re-encena-se a triste figura do Dom Quixote de La Mancha de Cervantes.


A frase “eu faço a História” atualiza as palavras de consolo ao onipotente, ao onisciente, ao eterno e ao onipresente, que Moliére[3] coloca na boca de:


Don Juan: - Il n’y a plus de honte maintenant à cela: l’hypocriesie est vice à la mode, et tous les vices à la mode passent pour vertus. Lê personnage d’homme de bien est lê meileur de tous lês personnages qu’on puísse jouer aujourd’hui, et la profession d’hypocrite a de merveilleux avantages. C’est um art de qui l’imposture ets toujours respectée; et quoiqu’um la découvre, on n’ose rien dire contre elle”.


O sofrimento de personagens, desta natureza, vai até o momento da sua desintegração física e o seu retorno à Natureza que não tem nada por dentro. Permanece o consolo de


Sganarelle[4] - Ah ! mes gages ! mes gages [...] il n'y a que moi seul de malheureux, qui, après tant d'années de service, n'ai point d'autre récompense que de voir à mes yeux l'impiété de mon maître punie par le plus épouvantable châtiment du monde. Mes gages ! mes gages ! mes gages ¡








[1]- “ A Natureza não tem nada dentro: senão não era a Natureza” Li Hoje – Fernando Pessoas (Alberto Caeiro)




[2] “O historiador e o poeta não se distinguem um do outro, pelo fato de o primeiro escrever em prosa e o segundo em verso Diferem entre si, porque um escreveu o que aconteceu e o outro o que poderia ter acontecido. Por tal motivo a poesia é mais filosófica e de caráter mais elevado que a história, porque a poesia permanece no universal e a história estuda apenas o particular”.


Aristóteles – Da arte poética http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2235




[3] MOLIÈRE (Jean-Baptiste Poquelin, 1622 - 1673) ELOGIO da HIPOCRISIA Don Juan ou le festin de Pierre Acte V, p 79/80





[4] - Moliere gostava de interpretar este personagem

sábado, 12 de dezembro de 2009

PODER ORIGINÁRIO ou INVENTAR um POVO.



As elites guerreiras, comerciais ou eclesiásticas necessitam inventar uma população para poder manter uma máquina própria que os alimentem e lhe forneça as condições para se reproduzir por tempo indeterminado. Elites que constituem, para este objetivo, milícias, firmas de fachada e igrejas cuja função esgotam-se no objetivo de prover as necessidades de seus líderes e dos seus mentores. Trata-se de socializar trabalhos e prejuízos para poder embolsar os lucros.


Neste caso as leis precedem os fatos e as cidades precedem o meio rural. È a morte do poder originário autêntico. Elites, corporações e associações torpes que constituem, por todos os meios ao se alcance, o seu próprio poder de origem que eles controlam como propriedade patrimonial. Poder formal cujo único objetivo é apenas para indicar certos personagens pseudo-constitucionais que afinam com os seus objetivos. Personagens totalmente comprometidos com os seus mentores e que acabam realizando constituições, estatutos e regimentos que os favoreçam e legitimem os cargos que os seus mentores continuam a ocupar e cuja ocupação é cláusula pétrea secreta estas pseudo leis. Na política constituem partidos para tanto e cujos membros acabam realizando proezas acrobáticas de se jogar de galho em galho de uma série sem fim de pseudo-partidos semelhantes que favoreçam o seu apetite sem fim e sem o menor constrangimento.


Estes personagens sem contrato necessitam negar o que deveria ser o poder originário. Para elas as necessidades primárias, provenientes da origem do poder, deve ser ignoradas. Em vez deste esforço urge usar o tempo integral para azeitar e alimentar a máquina corporativa daqueles que podem tirar proveito deste embuste continuado no tempo e assim reproduzi-lo por tempo indeterminado.


Elites, corporações e associações, desta natureza, continuam a prosperar enquanto prosperar a violência física ou simbólica mantendo, pelo medo e terror, as populações participativas, coesas e submissas.


Pervertido por elites, corporações e associações desta natureza é impossível pensar em poder originário nascido, desenvolvido e que se expresse coerente com a sua própria natureza. Bem ao contrário é a própria corrupção de qualquer poder autorizado. A circulação do poder corrompido na origem, oriundo da violência física, ou simbólica, necessita ser centralizado e controlado de forma contínua e eficaz. Há necessidade da neutralização e eliminação sumária, eficiente e rápida de todo e qualquer contraditório.


Os nascidos e educados neste ambiente, e nesta lógica, passam a considerar esta corrupção como algo natural e necessária para o seu próprio proveito. Corrupção que lhe mostra uma pseudo-segurança e que é constituída como uma necessidade que sobre-passa qualquer outro valor. Pseudo segurança em função da qual é necessário desfazer-se de qualquer patrimônio, e no extremo, doar a própria vida.


A descrição acima é descrição do regime escravocrata e que apenas trocou de nome e hoje denomina-s cooperação e participação de desiguais. Se o “escravo é aquele ser humano que não delibera e não decide” estas elites que inventam, corporações e associações para seus fins particulares para as quais conseguem reconduzir populações inteiras para a heteronomia das suas vontades e perverter o que deveria constituir o autêntico poder originário.


Se a educação democrática é reconhecida na medida em que gera ânimos e vontades para que todo cidadão possa expressar o todo em si mesmo, a escravidão treina apenas para expressar as deliberações e decisões daqueles que os cativaram seus ânimos e suas vontades.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009



ICONOGRAFIA SUL-RIOGRANDENSE de PLÍNIO BERNHARDT –


o livro.

10 de dezembro de 2009 , às 17h


Lançamento do livro Iconografia Sul-Riograndense de Plínio Bernhardt, com seminário sobre a obra.Auditório Barbosa Lessa, no 4º andar do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), Rua dos Andradas, 1223, Centro Histórico.

A entrada é franca para o seminário e o lançamento

No seu conjunto, o livro não é uma obra eventual e nem obedece aos mandamentos do simples marketing da indústria cultural. Trata-se de uma obra amadurecida tanto no conteúdo, como nas fotos, a preparação gráfica e impressão. Evidente que esta escolha pagou o preço da popularidade imediata.


O livro é coerente com as obras de Plínio que são testemunhas de paisagem, do homem e dos seus hábitos. A obra e o livro não se deixaram seduzir pelos estereótipos da industria cultural quando ela registra o mundo empírico e o produz apenas pensando em agradar ao viajante apressado e superficial.


Há necessidade de decodificar lentamente o caráter da criatura humana sul-riograndense. Este caráter foi gerado graças ao confronto do frio, ao mergulho nas imensas planícies desproporcionais à presença da figura humana, a falta de produtos de fácil pilhagem e o constante alerta contra intrusos indesejados e saqueadores dos produtos do árduo labor humano nestas contrariedades. Quem olhar com atenção para a obra de Plínio será arrastado para estes universos de contrariedades que o pintor conseguiu transpor para o universo da poética e torná-los universais sem ter o projeto supremo de simples querer agradar a todos. Nesta lenta e segura maturação, fazem justiça a uma geração de autênticos artistas sul-riograndeneses, fiéis à sua terra e o que pode oferecer para quem se debruçar sobre ela, a acarinha e trabalha na mais absoluta integridade intelectual e sensorial.


Resumindo pode-se afirmar que a vida, a trajetória e a obra de Plínio são índices incontornáveis daquilo que um cidadão podia realizar, por seus próprios meios e sem grandes encomendas, no campo das artes plásticas em Porto Alegre na metade do século XX.


O livro nos fornece esta lição de autonomia e do bem querer à sua terra. Ele constitui uma conexão entre o presente e as possibilidades estéticas da parte de quem realizou estas escolhas numa vida que se encontra num passado definitivo. A obra de arte constitui, no mínimo de sua forma, uma ponte que carrega o máximo de informações do passado para o nosso presente e ruma para um futuro de tempo indeterminado. O livro possui asas para esta tripla tarefa.



Mais informações em:

ICONOGRAFIA SUL-RIOGRANDENSE de Plínio BERHARDT

http://www.cccev.com.br/site/template_011.asp?campo=368&secao_id=7

Revisão ortográfica deste texto de Yvonne BERNHARDT.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ICONOGRAFIO SUL-RIOGRANDENSE

OS TEXTOS do LIVRO “ICONOGRAFIA SUL-RIOGRANDENSE de PLÍNIO BERNHARDT.

10 de dezembro de 2009 , às 17h

Lançamento do livro Iconografia Sul-Riograndense de Plínio Bernhardt, com seminário sobre a obra.Auditório Barbosa Lessa, no 4º andar do Centro Cultural CEEE Erico Verissimo (CCCEV), Rua dos Andradas, 1223, Centro Histórico.

A entrada é franca para o seminário e o lançamento..

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Os textos deste livro foram elaborados pelas pessoas mais engajadas no universo das artes visuais, patrimônio e da arquitetura, tirando o autor desta resenha.

A paraense Yvonne OLIVEIRA da CUNHA, nascida na terra do Círio de Belém, mudou-se para o Rio Grande do Sul, cuidou e compartilhou a vida do artista, adotou o seu sobrenome BERNHARDT, e agora prolonga a suave mensagem do artista, escrevendo a emocionada introdução do livro. Em poucas palavras consegue abarcar todo o projeto e conferir-lhe o sentido para o sistema de artes do Rio Grande do Sul e do Brasil. Este texto nasceu de sua interação e comandou a equipe interna que tomou a si o trabalho. Externamente, selecionou os observadores mais atentos. Empenhou alguns recursos familiares, conhecendo as dificuldades do erário público e as urgências que um projeto civilizatório compensador exige do Estado. O certo é que o trabalho precede os valores econômicos. Estes vieram na forma justa e essencial de várias instituições que entenderam os méritos da obra do artista e do patrimônio físico que tomou forma no âmbito de sua família. O TRT de Porto Alegre, por meio da sua associação civil dos juizes do Trabalho, está disseminando a obra pelo Brasil afora. A CEEE desde a 1ª hora compreendeu e empenhou-se para que a sua missão social desse um sentido a todos aqueles que militam diuturnamente nesta empresa, capitaneados pelo seu presidente que franqueou o seu Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo, lugar onde pratica esta política do projeto civilizatório compensador


A leitura do texto de Vinício GIACOMELLI é indispensável para entender a vida e a construção da obra do artista e seus observadores. Evoca os grupos, as instituições nas quais circulou a geração do artista e dos quais o testemunho mais fiel são as obras que sobreviveram ao trânsito do sistema de artes do Rio Grande do Sul. O autor do texto, além de sua formação acadêmica na mesma instituição superior de Plínio, possui experiência pessoal na criação artística[1]. Mas o que levou o Vinício a abraçar esta causa é o conhecimento dos rituais e protocolos do trânsito que a obra de arte necessita cumprir em Porto Alegre para atingir o público de uma forma qualificada e de longa duração. Um dos rituais é a palavra que orienta o olhar do observador. É isto que Vinício cumpre no seu texto. Saber ver a obra de arte significa decodificar para observador os repertórios nos quais estão encapsuladas as obras de arte.


Vinício empenhou-se, ao longo de cinco anos, na tarefa de esquadrinhar a obra de Plínio, pelos documentos escritos e rigorosamente coletados pelo artista. Artista e pesquisador foram solidários neste espaço das letras, fotos e documentos escritos. As 21 notas do texto de Vinício fornecem a possibilidade de outros pesquisadores penetrarem neste espaço. Este cuidado é raro em artistas visuais, pois é comum ouvir deles que a obra de arte fala por si mesma”. Certamente a obra de arte é primordial e seria inútil qualquer discurso sem a sua presença. Contudo, sem o discurso documentado e reversível às fontes destes documentos, a obra de arte perderia as suas particularidades, o rico universo do qual se originou, e pior, este universo poderia ser mitificado e confundido com outros repertórios concorrentes, incongruentes com o seu sentido e apócrifos. Certamente a infinita carga semiótica de uma obra de arte permite esta mitificação e a corrupção de seu sentido.

O texto de Sérgio COSTA FRANCO refere-se inicialmente a esta polissemia tanto da obra de arte como da palavra escrita. Como bom carioca, que cedo se aquerenciou no pampa, conhece e sabe distinguir tanto o linguajar como o ambiente social, urbano e telúrico das plagas do Sul do Brasil. Sérgio é referência obrigatória em qualquer evento urbano de Porto Alegre que possua necessidade de decodificação para a contemporaneidade. E o realiza com a mesma maestria e desenvoltura para a pessoa de letras como para o público em geral que se move pelas ruas portoalegrenses. Os textos de Sérgio e os desenhos de Plínio sintonizam neste particular.


Outra contribuição notável é a do arquiteto e professor Maturino da LUZ. Antigo presidente do Conselho Estadual de Cultura do RS, ao lado do seu vice o artista plástico Francisco Alves, certamente conhece os meandros do sistema de artes do Estado. Mas o seu texto é um documento incontornável de de uma amizade e uma profunda interação entre arte e arquitetura, como seria desejável para a identidade sul-riograndense. Um exame mais detalhado do texto do Maturino revela um conhecimento e um amor à evolução destes dois universos em Porto Alegre. Registra o caminho de Plínio em instituições, pessoas e obras, coisa que seria difícil encontrar em outra fonte. Fonte escrita que permite decodificar as obras do artista que possuem como tema o ambiente e as obras arquitetônicas do Porto Alegre e do Estado. O forte conhecimento e a defesa do patrimônio que caracterizaram sempre Maturino não poderia terminar sem a denúncia “frente ao imobilismo da sociedade e do poder público ante a ação do tempo, dos vândalos e dos especuladores imobiliários”. Se Plínio não o fez nestes termos, certamente o texto de Maturino fornece o contraponto e sentido ao infatigável esforço do artista em salvar, ao menos em imagem e poética, o que já sabemos no passado irremediável.


Ana MEIRA conjuga no seu texto o patrimônio material e imaterial que uma obra de arte consegue materializar em linhas e tintas, ao focar um prédio. As experiências de Plínio, nas suas visitas aos sítios arquitetônicos referenciais do patrimônio construído do Rio Grande do Sul, acompanham toda a epopéia da construção de uma consciência estadual, em relação ao legado das múltiplas etnias e períodos, que deram uma feição tão própria ao estado brasileiro do extremo sul do Brasil.




O texto do geólogo e paisagista Carlos Fernando de MOURA DELPHIM descreve a transcendência que uma obra de Plínio consegue criar. O autor nos afirma que a obra de Bernhardt fixa o verdadeiro sentido poético e visual do ambiente físico no qual se move a criatura humana no Sul do Brasil. Este texto projeta as paisagens de Plínio com potencial para representar o Estado, diante da cultura brasileira e universal sendo indispensável para penetrar no sentido de uma paisagem. O tema autônomo da paisagem muito recente na arte ocidental, ganhou autonomia na medida em que a criatura humana se urbanizava e perdia o contato direto com a vida no campo e na paisagem natural. A imagem possui o dom de estar no lugar de algo que não existe mais.


O texto de Teniza SPINELLI é um dos registros fundamentais desta colega de tantas jornadas institucionais ao lado da ação do artista na qual estão as observações escritas da jornalista e agente cultural de larga experiência na cultura sul-riograndense. Teniza está sempre atenta e sensível ao que de melhor se produz na pesquisa estética, que permanece como testemunho institucional do que é possível na ex-província de São Pedro e que foi pioneiro em abraçar a causa republicana conquistando a soberania que lhe foi alcançada pelo decreto de 15 de novembro de 1889.


Confira no próximo artigo a coerência entre a obra e o livro Iconografia sul-riograndense de Plínio BERNHARDT.



Mais informações em:

ICONOGRAFIA SUL-RIOGRANDENSE de Plínio BERHARDT

http://www.cccev.com.br/site/template_011.asp?campo=368&secao_id=7

Revisão ortográfica deste texto de Yvonne BERNHARDT.