[1] - Texto de uma alocução em
inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13
de maio de 1960.
Consta em SANOULLET, Michel. DUCHAMP
DU SIGNE réunis et présentés par.. Paris Flammarrion, 1991, pp. 236-239
MARCEL DUCHAMP “Nu
descendant un escalier n°2”
Burro
como um pintor
Este
provérbio francês remonta pelo menos ao tempo da vida de Bohème de Murger, ao
redor de 1880, e que é usado como gracejo nas discussões.
Por
que o artista deve ser considerado menos inteligente do que os demais?
Seria
devido a sua atividade técnica é essencialmente manual e não possui vinculo
direto com o Intelecto?
Seja
como for, possui-se a concepção geral
que o pintor não possui necessidade de uma educação específica para
tornar-se um grande artista.
Mas
hoje estas concepções não possuem mais fundamentos, pois as relações entre o
artista e a sociedade mudaram quando o artista firmou a sua liberdade, no final
do século XIX.
Hoje
em dia, em vez de o artista estar ao serviço de um monarca, ou da Igreja, o
artista pinta livremente e nem está ao serviço de mecenas aos quais ele impõe a
sua estética pessoal, em vez de estar a
seu serviço.
Em
outros termos, o artista agora está inteiramente integrado na sociedade.
O
artista de hoje, emancipado há mais de um século, se apresenta como um homem
livre, dotado com as mesmas prerrogativas do cidadão comum e fala de igual para
igual com o comprador de suas obras.
Esta
liberação do artista possui como contrapartida natural algumas
responsabilidades que ele antes podia ignorar quando era um pária ou um ser
intelectualmente inferior.
Entre
as suas responsabilidades, uma das mais importantes é a EDUCAÇÃO do seu
intelecto, ainda que o intelecto não seja a base da genialidade artística.
Evidentemente
que a profissão do artista assumiu seu lugar na sociedade hodierna a um nível
comparável aquelas das profissões ditas «liberais».
Ele não é mais, como antigamente, uma espécie de artesão superior.
Para
permanecer e sentir-se ao nível dos advogados, dos médicos, etc., o artista necessita receber a mesma formação
universitária.
Ademais
o artista possui, na sociedade moderna, um papel muito mais importante que do
artesão ou do palhaço.
O
artista encontra-se face ao mundo fundado sobre o materialismo brutal no qual
tudo é avaliado em função do BEM ESTAR MATERIAL e no qual a religião, depois de
ter perdido muito espaço, não é mais a grande distribuidora dos valores
espirituais.
O
artista é hoje em dia um estranho reservatório de valores para-espirituais em
oposição absoluta com o FUNCIONALISMO diário, pelo qual a Ciência recebe uma
admiração cega. Digo cego, porque não creio mais na importância suprema destas
soluções científicas que não atingem mais os problemas pessoais do ser humano.
Por
exemplo, as viagens interplanetárias parecem
ser um dos passos prioritários em direção um auto-denominado «progresso
científico» e contudo estes passos nada
mais são, em última análise, do que o alargamento do território colocado a
disposição da criatura humana. Não posso ser impedido de considerar isto como
uma simples variante do atual MATERIALISMO que afasta o indivíduo, cada vez
mais, da procura do seu EU interior.
Isto
nos leva à importante preocupação do artista contemporâneo que é, na minha
opinião, informar-se e manter-se atualizado do auto-denominado «PROGRESSO
MATERIAL QUOTIDIANO».
Dotado
de uma formação universitária, o artista não precisa temer o assalto de complexos nas relações com os seus
contemporâneos. Graças a esta educação, ele terá ao seu dispor ferramentas
adequadas para opor-se a estas questões materialistas por meio do EU cultivado
no quadro dos valores espirituais.
Para
ilustrar a situação do artista, situado no mundo econômico contemporâneo, observa-se
que todo o trabalho ordinário é remunerado, mais ou menos, conforme o número de
horas empregadas para realizá-lo, enquanto, no caso de uma pintura, o tempo
usado na sua execução, não é tomado em conta, quando se trata de fixar o preço,
e que este preço varia conforme a celebridade de cada artista.
Os
valores espirituais, ou interiores acima mencionados, e dos quais o artista é a
grande fonte, por assim dizer, e valores que dizem respeito ao indivíduo tomado
separadamente, em contraste com os valores gerais que se aplicam ao indivíduo
fazendo parte da sociedade.
E sob
a aparência, estou tentado dizer sobre o disfarce, de um dos membros da raça
humana, o indivíduo é de fato sozinho e único e no qual as características
comuns a todos os indivíduos, tomados no conjunto, não possuem nenhuma relação
com a explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo.
Max
Stirne estabeleceu claramente, no século XIX, esta distinção numa obra notável
denominada Der Einziger und Eigentum[1],
e que, se de uma grande parte da educação se aplica ao desenvolvimento destas
características gerais, uma outra parte, tão importante, da formação
universitária desenvolve as faculdades mais profundas do indivíduo, do
auto-análise e do conhecimento da nossa herança espiritual.
Estas
são as qualidades importantes que o artista adquire na universidade e que lhe
permitem sustentar vivas as grandes tradições espirituais com as quais a
própria religião parece haver perdido o contato.
Creio
que hoje, mais do que nunca, o artista possui esta missão para-religiosa a cumprir: manter acesa a chama de uma visão
interior da qual a obra de arte parece ser a tradução a mais fiel para o
profano.
Isto
quer dizer que para cumprir esta missão, é indispensável a educação no mais
alto grau.
MARCEL
DUCHAMP “Os Cinco Marcelos”
FONTE BIBLIOGRÁFICA
SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et
présentés par Michel Sanouillet Paris
Flammarrion, 1991, pp. 236-239
FONTE NUMÉRICA DIGITAL
O ENTE no SER
ARTISTA
http://profciriosimon.blogspot.com.br/2015/05/estudos-de-arte-018.html
Deve-se o presente texto à preciosa indicação e empréstimo
da fonte ao Prof. Dr Hélio Custódio FERVENZA
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