sexta-feira, 31 de julho de 2015

ARTE no RIO GRANDE do SUL - 12

A ARTE e a ARQUITETURA em AUTONOMIA no 
RIO GRANDE do SUL

“Toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Aristóteles[1](1973: 243 114a 10)
01          – ARTE EXPRESSA as SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
01-1 Toda arte está no que produz.
01-2 Distinguindo as circunstâncias da Arte de Arquitetura.
01-3 Classificando para entender.

02          – ACIMA de INTRIGAS e MAL ENTENDIDOS
02-1 A arte torna-se complexa e se subdivide em campos de forças.
02-2  A arte na transição ente a ERA INDUSTRIAL e PÓS-INDUSTRIAL.
02-3 A arte e arquitetura em dois campos de forças distintas

03          – A  CIVILIZAÇÃO como CONSTRUÇÃO HUMANA.
03-1 A arte como construção a partir de expressão da vida.
03-2  A arte guarda as conexões com as expressões da vida na construção de uma civilização artificial
03-3  Distinguindo  arte de cultura
04          – TRABALHO e OBRA 
04-1 Trabalho como castigo.
04-2  O trabalho humano pode ser substituído por máquinas
04-3  A arte como índice do grau de uma civilização

05          – SINGULARIDADES do ARTISTA numa CIVILIZAÇÃO. 
05-1  Projetos temerários e destinados ao fracasso
05.2  Artista não é profissão
05-3  O cultivo da arte no plano pessoal e no social.

06          – COMPETÊNCIAS e LIMITES do PRESNTE TEXTO. 
06-1  Competências das artes visuais
06-2  Competência comum no hábito da integridade intelectual.


[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.

Parque MARINHA do BRASIL - obra coletiva do  Fórum Social Mundi
Fig. 01 –  Vestígio do I Fórum Social Mundial celebrado em Porto Alegre entre os dias 26  e 30 de Janeiro de 2001. O circulo de pedras-  trazidas de todo o planeta-  remete ao signo universal presente nas construções megalíticas de Stonehenge como aos norengues das populações primitivas dos mediterrâneas e a taba indígena brasileira. Nelas a ARQUITETURA e a ESCULTURA viviam e prosperavam  na mesma pessoa .

01     – ARTE EXPRESSA as SUAS CIRCUNSTÂNCIAS
01-1 Toda arte está no que produz.
No apogeu da ERA INDUSTRIAL os campos das forças de ARTE e da ARQUITETURA separam as suas energias no Rio Grande do Sul e proclamaram as suas próprias competências e limites. Para tanto existem razões profissionais, econômicas, políticas e especialmente de natureza intrínseca. Mas acima de tudo propiciam a ocasião para evidenciar - em cada campo estético - a verdade contida na afirmação de Aristóteles de quetoda a arte está no que produz
ESCULTURAS em SÉRIE Exames de junho de 1954 3ª série do CURSO SUPERIOR de ARTES PLÀSTICAS ênfase ESCULTURA IBA-RS
ESCULTURA dos ALUNOS do  INSTITUTO de BELAS ARTES Álbum no 1  1938 até 1956
Fig. 02 –  As aulas institucionais superiores de ESCULTURA iniciaram no Rio Grande do Sul no Instituto de Belas Artes no ano de 1938 A foto das obras de exame desta disciplina escolar orientado po Fernando Corona evidencia a profunda cultura da linha de montagem e do tipo necessário para a produção e avaliação (exame) neste modo de produção subjacente para a Era Industrial. O próprio processo geral do ensino aprendizagem esta submerso neste inconsciente coletivo taylorista
ESCULTURA dos ALUNOS do  INSTITUTO de BELAS ARTES Álbum no 1  1938 até 1956

01-2 Distinguindo as circunstâncias da Arte e da Arquitetura.
Na obra de Arte a liberdade depende basicamente do seu criador. A Arquitetura supõe sempre outra série de condicionantes e de exigências externas que escapam às competências e aos limites do seu criador. Porém ambos são testemunhos de uma época, do lugar de sua criação e sociedade nas quais firam concebidas. Na medida em que esta tripla circunstância se torna mais complexa Arte e Arquitetura continuam atarefadas para responder ao seu TEMPO, LOCAL e SOCIEDADE. Nesta tarefa separam-se e distinguem suas competências e os limites impostos pelas membranas que as protegem e permite a sua vida autônoma.
1951 - MAQUETES EXAME FINAL das aulas Fernando  CORONA
CURSO de ARQUITETURA: Cadeira de MODELAGEM. Documentário fotográfico de 1946 – 47 – 48 – 49 – 50 - 51
Fig. 03 –  A As aulas institucionais superiores de ARQUITETURA iniciaram no Rio Grande do Sul no Instituto de Belas Artes no ano de 1939 com o Curso Técnico de Arquietura. Em 1945 este curso migrava para o CURSO SUPERIOR de ARQUITETURA, seguido em 1947 com o com SUPEREIOR de URBANISMO  A foto das obras de exame da disciplina escolar de MAQUETE destes curso também orientado por Fernando Corona mstram profunda cultura da linha de montagem e do tipo necessário para a produção e avaliação (exame) neste modo de produção subjacente para a Era Industrial.

01-3 Classificando para entender.
As manifestações estéticas podem serem codificadas,  percebidas, e respondidas a partir dos signos e sinais destinados aos sentidos humanos envolvidas na emissão e recepção de concepções expressas em formas materiais. Para este processo de emissão, codificação e emissão há uma evidente especialização de acuidade sensorial e mental. Basicamente supõe uma aprendizagem do que é importante e acessório neste processo. O desenvolvimento desta acuidade, destreza no uso e na recepção, codificação e resposta supõe uma longa e difícil aprendizagem. Cada cultura ou civilização é diferente e necessita educar os que desejam interagir no espaço estético. 
Fig. 04 –  Entre as numerosas possibilidades de racionalização dos diversos campos de criação artísticas humanas, com o objetivo de sus compreensão intelectual,  parte-se, ne eixo vertical da maior complexidade de signos e de sentidos humanos envolvidos na construção e apreciação das obras em direção aos mais elementares, universais e abstratas. No eixo horizontal parte-se da gratuidade destas manifestações humanas em direção às suas aplicações utilitárias
[ clique sobre o gráfico para ler]

02     – ACIMA de INTRIGAS e MAL ENTENDIDOS
02-1 A arte torna-se complexa e se subdivide em campos de forças.
Estas subdivisões, autonomias e soberanias dos diversos campos estéticos não são frutos de intrigas, de mal entendidos ou excomunhões recíprocas. Apenas seguem a lei geral dos organismos e concepções quando eles se tornam mais complexos. Separam suas competências em membranas[1] e limites que os distinguem de sua origem comum.   Na medida em as diversas manifestações ARTÍSTICAS se tornam mais complexas e carregadas de elementos elas distinguem suas funções e suas organizações, tornam-se autônomas umas das outras. Estes limites e membranas divisórias, além de guardar sua vida própria, permitem e facilitam a sua apreciação de quem vem do lado de fora.  Esta apreciação seria  difícil e, mesmo  impraticável. na medida em que a ARTE permanecesse como um TODO uno e homogêneo. Como também seria um passo para a NATUREZA pura e entrópica.


[1] MATURANA R., Humberto (1928-)e VARELA. Francisco(1946-).El árbol del          conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid: Unigraf. 1996, 219p

Fig. 05 –  As aulas institucionais superiores de ESCULTURA, iniciadas no Instituto de Belas Artes, foram acompanhas por Fernando Corona nas carreiras individuas dos  seus discípulos No ano de 1970 ele foi uma voz ativa e firme na defesa do projeto e execução do MONUMENTO dos AÇORIANOS do seu discípulo Carlos Tenius.  No seu entorno uma equipe de arquitetos e urbanistas criou umas obras públicas e urbanísticas coerentes no seu todo e no seu uso viário.  Entre eles o Viaduto da continuidade da Avenida Borges de Medeiros sobre a PRIMEIRA PERIMETRAL do mestre arquiteto Roberto Py está colocado de numa maneira irretocável no seu devido contexto.   

02-2  A arte na transição ente a ERA INDUSTRIAL 
e PÓS-INDUSTRIAL.

No momento da passagem da era industrial para a pós-industrial é necessário elucidar e fixar alguns conceitos que distinguem estas duas infraestruturas. A corrida espacial, a informática e os transgênicos exigiram uma nova estética, vontade e compreensão. A explosão da bomba atômica, no dia 06 de agosto de 1945, inaugurou esta nova era.  As suas ondas de choque foram demais intensos para serem assimilados na arte local e produzir algo diferente, criativa e coerente com este novo tempo e suas circunstâncias técnicas, sociais e políticas. O triunfo da Era Industrial corresponde ao apogeu das concepções escandalizadas, unívocas lineares adequadas ao processo da linha de montagem unívoca, linear e que trabalha com a estandardização taylorista e de Fayol. A era pós-industrial permite diversas concepções variadas e com múltiplas entradas e saídas.
MAQUETE do projeto “ MEU GRUPO ESCOLAR” das aulas CORONA ano de 1951 –
Fig. 06 –  A concepção, criação e construção dos espaços físicos e dos prédios escolares influem poderosamente para a valorização, apreciação e educação formal do estudante. De fora para dentro a  concepção criação, construção dos prédios escolares  é um signos presente e destacado do seu meio urbano. Este prédio constitui um recado claro para a sociedade do valor ou menosprezo que uma administração publica possui da educação A foto das obras de exame da disciplina escolar de MAQUETE deste curso também orientado por Fernando Corona. .

02-3 A arte e arquitetura em dois campos de forças distintas

A complexidade e o acúmulo de informações contraditórias e não amadurecidas, não seletivas são características  era pós-industrial. Diante desta complexidade e acúmulo as Artes e a Arquitetura separaram estes dois campos. Eles passaram a ter conexões  acoplagens distintas da linha de montagem na qual um ou outro campo de forças era hegemônico. Se a era PÓS-INDUSTRIAL permitiu esta multiplicidades tona-se  muito difícil mover-se no interior deste labirinto. O cenário piora se forem consideradas as múltiplas conexões, conceitos e infraestruturas nas quais elas operam e se reproduzem.
ARTISTAS PLÁSTICOS – R  Revista - MANCHETE - nº 966 de 24.10.1970 -  p. 148
Fig. 07 –  As manifestações artísticas do ano de 1970 mostram a contradição entre os “anos de chumbo” do Regime Militar que não interveio diretamente no campo estético na medida em que este não tocavam nas questões do poder do Estado Brasileiro De outra parte demonstra a pouca consistência deste regime em simplesmente “TOLERAR” as manifestações estéticas das quais não tinham a menor competência, entendimento e vontade de interagir. Para o artista foi a condenação à sua “AUTONOMIA de FEVELA” na qual sempre viveu no Brasil.

03     – A  CIVILIZAÇÃO como CONSTRUÇÃO HUMANA.
03-1 A arte como construção a partir de expressão da vida.

    Uma civilização constitui-se sempre numa construção artificial e humana. A ideia, o pensamento, o projeto e a lei precedem  os fatos no âmbito desta civilização artificial. No entanto esta civilização se esteriliza - e está condenada a desaparecer da face da Terra - na medida em que interrompe o fluxo com a vida e com a Natureza.
A Arte sempre foi a expressão da vida e o primeiro passo humano para o mundo das ideias.  Cabe à Arte realizar, manter e reproduzir a conexão entre os polos da natureza dada e bruta para o mundo artificial e construído do pensamento formal. Pensamento formal e transmissível aos semelhantes humanos por intermédio dos sentidos e das percepções sensoriais.
03-2  A arte guarda as conexões com as expressões da vida na construção de uma civilização artificial
Este papel da Arte foi percebido por Platão. Assim ele se preocupou com as potenciais desconexões que uma lei artificial pode provocar entre a natureza das percepções dos sentidos humanos com o mundo das ideias. Estes curtos-circuitos são reais conforme escreveu nos seus Diálogos onde consta (1991, p.417)[1] que
veríamos desaparecer completamente todas as artes, sem esperança alguma de retorno, sufocada por esta lei que proíbe toda pesquisa. E a vida que já é bastante penosa, tornar-se-ia então totalmente insuportável
O desaparecimento de uma civilização pode ocorrer tanto pela entropia e pelo consequente retorno para a Natureza. No polo oposto o efeito letal é comandado pela cristalização em meros rituais comandadas por leis desconectadas do seu Tempo, Lugar ou Sociedade


[1] PLATÃO ( 427-347) DIÁLOGOS – (5ª ed.) São Paulo : Nova Cultural, 1991 – (Os pensadores)

SÃO LEOPOLDO monumento do sesquicentenário da imigração 21.12.1974 Luís Carlos XAVIER, e Vasco PRADO
Fig. 08 –  A  obra que celebra os 150 anos da  Imigração Alemã - em São Leopoldo no Rio Grande do Sul, e inaugurada  em plena vigência do  Regime Militar - não tocava nas questões do poder do Estado Brasileiro Antes, ao contrário, era um monumento de um discurso por cima e por fora do PODER ORIGINÁRIO dando lugar para a ênfase na unidade nacional e de segurança coletiva sem entrar em méritos, individualidades ou possibilidade de interação com este poder externo.

03-3  Distinguindo  arte de cultura
Numa civilização pragmática e cada vez mais diferenciada e especializada há necessidade de distinguir ARTE e CULTURA. A ARTE distingue-se da  CULTURA na medida em que o universo criativo e estético é um estado crítico de permanente vigilante e apto para praticar a qualquer momento uma ruptura com o seu próprio passado morto e sem sentido para seu TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE. A CULTURA, ao contrário, não possui este escrúpulo e busca reforçar e construir um contínuo
Este conflito entre CULTURA e  ARTE foi expresso por Nietzsche a afirmar (2000, p.134)[1] que:
 “a arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário
Poucos seres humanos possuem esta percepção. Muito menos aqueles que tomam isto como um projeto de vida. Estes que fazem esta opção sejam notados por aqueles  mergulhados nas necessidades básicas da sobrevivência  num mundo concorrencial e pragmático. Assim aproximam-se do mundo sobre-humano  que os  diferencia, eleva sobre a massa comum e especializa.


[1]           NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)  Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.      


Cláudio Afonso MARTINS COSTA (1932-2005) – Maternidade – Pequeno Broze
Fig. 09 –  Cláudio Martins Costa buscava nas suas esculturas o “ARQUÉTIPO” plástico característico de todas as culturas básicas das civilizações humanas. Este artista estava em permanente interação com as populações indígenas do Rio Grande do Sul.  Desta interação emanava a sua linguagem de sua obra escultórica.

04     – TRABALHO e OBRA 
04-1 Trabalho como castigo.
O mundo da arte busca expressar-se em OBRAS. Estes OBRAS ultrapassam o mundo do TRABALHO. Na concepção de Hannah ARENDT o mundo do TRABALHO está associado ao esforço, ao penoso e perecível Ao contrário a OBRA é o que permanece, ao prazeroso e a fluência coerente com o pensamento e ao mundo das ideias. O artista possui a recompensa da permanência no TEMPO na medida da fortuna em associar as suas IDEIAS ao mundo FÍSICO das suas OBRAS. Diante desta recompensa o artista não possui fim de semana, férias ou aposentadoria.
Enquanto isto o TRABALHADOR  penaliza, sofre e se esgota no seu fazer repetitivo. Para Arendt, (1983: 41) o TRABALHO segundo a mitologia ponos saiu da caixa de Pândora, castigo de Zeus contra Prometeu, «o supliciado», que o havia enganado”.

04-2  O trabalho humano pode ser substituído por máquinas
Enquanto Aristóteles afirma (1973: 243 114a 10) em “toda a arte está no que produz, e não no que é produzido no TRABALHO, ao contrario  interessa “o que é produzido”. O produtor confunde-se com o seu produto e , as tecnologias e métodos. Confusão que segundo Maturana   (1996: p. 15) decorre do fato de que
o trabalho resulta como acordos de produção nos quais o central é produto e não os seres humanos que p produzem.. Por isso as relações de trabalho não são relações sociais o que possibilita substituir o trabalho pelas máquinas. O desconhecimento do processo é vivido como exploração”.
Por mais inteligente que seja a máquina sempre haverá que a programou para tal. Nesta maquina prevalece ainda a sua origem no pensamento de Leonardo da Vinci de que a “a Pintura é uma coisa mental
PASSO FUNDO - Monumento ao ferroviário- Paulo SIQUEIRA[1]
Fig. 10 –  A fundição e a cópia múltiplas da era industrial  permaneceu no passado quando a solda, a sucata e estruturas de metal levaram para a confecção de peças únicas. O passo seguinte foi a era pós-industrial com a intervenção do laser nos cortes de metais. Cortes comandados por programas de informática.  Cabe ao artista criador comandar este processo

04-3  A arte como índice do grau de uma civilização
O artista e a arte na medida em que possuem e cultivam ativamente o projeto de não pertence à cultura e, sim, ao sobre-humano elevam sua SOCIEDADE, TEMPO e LUGAR geográfico para a mesma condição. Ou ao contrario são abatidos neste voo e ferreamente enjaulados nas necessidades básicas humanas. Esta condição Miguel Ângelo percebeu comparando as condições da arte em Portugal e Itália.  Francisco de Holanda anotou nos seus Diálogos de Roma (1955, p. 66)[2] a sentença de Miguel Ângelo de que:
nesta nossa terra [Itália] até os que não estimam muito a pintura a pagam muito melhor que em Espanha e Portugal os que muito a festejam, por onde vos aconselho, como a filho, que não vos devíeis partir dela, por que hei medo que, não o fazendo, vos arrependereis
O mestre italiano estava bem informado das condições lusitanas de arte por meio de um dos seus ajudantes portugueses que integrava a sua equipe de assistentes.


[2] HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.

Álvaro SIZA Vieira 1933 - MUSEU IBERÊ Porto Alegre -  Correio do Povo  28.05.200
Fig. 11 –   O arquiteto Álvaro Siza mantém estreito contato com a arquitetura ínsita lusitana. Ele criou e encontrou em Porto Alegre um ambiente estético, social e econômico adequado e disposto a levar adiante seu projeto e com resultados adequados para a obra de Iberê Camargo. Esta obra resulta de uma perfeita integração entre escultura, arquitetura e meio ambiente.

05     – SINGULARIDADES do ARTISTA
 numa CIVILIZAÇÃO. 
05-1  Projetos temerários e destinados ao fracasso
 Não basta a um indivíduo singular e separado de sua SOCIEDADE (Volksgeist), de seu TEMPO (Zeitgeist) ou LUGAR (Weltgeist) forjar um projeto temerário e pessoal de se NOMEAR ARTISTA. Isto não impede que a sua explosão solitária se transforme em luz, aviso e desafio. Para Marcel Duchamp o artista deve, hoje, procurar a universidade e interagir ao nível dos demais. Segundo ele (1991, pp 236-239)[1]
sob a aparência, estou tentado dizer sobre o disfarce, de um dos membros da raça humana, o indivíduo é de fato sozinho e único e no qual as características comuns a todos os indivíduos, tomados no conjunto, não possuem nenhuma relação com a explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo.
 Esta “explosão solitária” daqueles que fazem a opção consciente, motivada e consequente pelo mundo gratuito da arte constitui um índice ao mundo concorrencial e pragmático. Este mundo concorrencial e pragmático possui no artista um índice que o eleva sobre a massa comum o aproxima do mundo sobre-humano. Encontram no artista um PROJETO CIVILIZADOR COMPENSADOR de sua ganância e estreiteza do AQUI e AGORA e passam PAGAR a OBRA de ARTE que este mundo pragmático não pode produzir na medida que esta submerso no MUNDO do TRABALHO.


[1] DUCHAMP. Marcel “O artista deve ir à universidade?”[1] in SANOULLET, Michel. DUCHAMP DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet Paris: Flammarrion, 1991, pp. 236-239

Parque MARINHA do BRASIL - obra de Xico STOCKINGER 1919-2009   in ALVES 2004 p.192 - Foto dez. 2010
Fig. 12 –  A obra escultórica, gráfica e o pensamento de Francisco Stockinger [Xico]  associam o universo ecológico, humano e  conceitual num todo harmônico e com profundos diálogos recíprocos. O tema da flora na escultura ganhou na sua obra um sentido e uma coerência  impossível de não ser percebida.

05.2  Artista não é profissão 
O artista paga alto preço por esta sua “explosão solitária”. Ele não possui PROFISSÃO REGULAMENTADA,  CONSELHO ou ORDEM que lhe assinem o CARTEIRA de TRABALHO. Seria um contrassenso na medida em que seu mundo é a OBRA que pode durar uma vida inteira ou ocupar décadas de dedicação sem que seu “EMPREGADOR” notasse algo digno de uma recompensa econômica ou monetária. Estaria sujeito e condicionado e a OBRA do ARTISTA seria creditada a quem a encomenda. 
Vasco PRADO 1914-1998 -Mural do Palácio Farroupilha – Foto no solstício de verão de Porto Alegre
Fig. 13 –  Os escultor Vasco Prado explorou um vasto laque das possibilidades materiais e conceituais que esta linguagem plástica permite. Na obra da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul dialoga com a luz e as sombras  Porem é necessário conhecer e estar atento à sua produção gráfica na qual mostra a sua capacidade de “de-signar” mentalmente o que lhe interessa e calar  aquilo que poderia atrapalhar o seu pensamento e a sua obra

05-3  O cultivo da arte no plano pessoal e no social.
 No plano pessoal a criação, a permanência e a reprodução propiciam a ocasião para evidenciar - em cada campo estético - a verdade contida na afirmação de Aristóteles de que “toda a arte está no que produz” .
No plano social a OBRA de ARTE é um índice do projeto civilizatório de uma nação, estado ou sociedade. Os gritos de guerra, o sangue derramado e as injustiças mais clamorosas já silenciaram, secaram ou foram esquecidas. As grandes civilizações se projetaram TEMPO afora por meio de sua ARTE.

06     – COMPETÊNCIAS e LIMITES do PRESNTE TEXTO. 
06-1  Competências das artes visuais
A presente postagem parte do CAMPO das ARTES VISUAIS. Com este limite é necessário relevar, ao seu autor, qualquer intromissão indevida no CAMPO da ARQUITETURA e URBANISMO.

06-2  Competência comum no hábito da integridade intelectual.
Porém ARTES e ARQUITETURA possuem em comum o recurso à erudição e ao espaço do SABER UNIVERSITÁRIO. Este saber possui validade e eficiente na medida em que cultiva de forma continuada e sólida o fundamento do HABITO da INTEGRIDADE INTELECTUAL, MORAL e ESTÉTICA, na concepção Weberiana[1]

FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ARENDT, Hannah (1907-1975) Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann-Lévy 1983
BLOCH, Marc (1886-1944)  Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América  1976  179 p.
BOÉTIE, Etienne 1a.  Discurso da Servidão VoluntáriaTradução de Laymert G. dos Santos.  Comentários de Claude Lefort e Marilena Chauí.  São Paulo : Brasiliense, 1982. 239p

HABERMAS, Jürgen. Conhecimento e Interesse. Trad. José Heck.  Rio de Janeiro : Zahar, 1982. 367p.

HEIDEGGER, Martin (1889-1979) SER e TEMPO edição em alemão e português tradução e organização de Fausto  Castilho (1929- ). – Campinas SP: Editora da Unicamp; Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012, 1199 p.

HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.

MATURANA R., Humberto (1928-)e VARELA. Francisco(1946-).El árbol del          conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid: Unigraf. 1996, 219p

READ, Herbert.  A Redenção do Robô. Meu Encontro com a Educação através da Arte.  Summus, 1986. 158p.
TOFFLER, Alvin. The third wave.  New York.  William Marrow & Compagny, 1980.
WEBER, Max.  Sobre a universidade. São Paulo: Cortez, 1989.  152 p.

FONTES MANUSCRITAS
CORONA, Fernando (1895-1979) ALBUNS dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES.
ESCULTURA dos ALUNOS do  INSTITUTO de BELAS ARTES
-------------Álbum no 1 contém fotos e escritos de 1938 até 1956
99 folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  com  332  fotos coladas       
---------------Álbum no  2  contém fotos e escritos  de 1957 até 1965
71 folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  com 167 fotos coladas              
---------------CURSO de ARQUITETURA: Cadeira de MODELAGEM.
Documentário fotográfico de 1946 – 47 – 48 – 49 – 50 - 51
Folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  como fotos coladas.
Os três álbuns disponíveis no Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS.
AGIR e FAZER

ARQUITETO como ARTISTA na AUTONOMIA no BRASIL

ARTE, ESTÉTICA e METAFÍSICA. 

FAZER NÂO é ARTE

OBRA diferente de TRABALHAR

PASSO FUNDO - Monumento ao ferroviário- Paulo SIQUEIRA

POIESIS

RIO GRANDE do SUL

TRABALHO – OBRA – AÇÂO em Hannah ARENDT
SÉRIE de  POSTAGENS ARTE no RIO GRANDE do SUL

[esta série desenvolve o tema “ARTE no RIO GRANDE do SUL” disponível em http://www.ciriosimon.pro.br/his/his.html  ]

INTRODUÇÃO
123 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 01
GUARDIÕES das  SEMENTES das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL

124 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 02
DIACRONIA e SINCRONIA das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL nos seus ESTÁGIOS PRODUTIVOS.

PRIMEIRA PARTE
125 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 03
Artes visuais indígenas sul-rio-grandenses

126 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 04
O projeto civilizatório jesuítico e a Contrarreforma no Rio Grande do Sul

127 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 05
Artes visuais afro--sul-rio-grandenses

128 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 06
O projeto iluminista contrapõe-se ao projeto da Contrarreforma no Rio Grande do Sul.

129 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 07
A província sul-rio-grandense  diante do projeto imperial brasileiro

130 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 08
A arte no Rio Grande do Sul diante de projeto republicano

131 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 09
Dos primórdios do ILBA-RS e  a sua Escola de Artes até a Revolução de  1930

132 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 10
A ARTE no RIO GRANDE do SUL  entre 1930 e 1945

133 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 11
O  projeto da democratização da arte após 1945.


SEGUNDA  PARTE
Iconografia e Iconologia das artes  visuais de diferentes projetos políticos do Rio Grande do Sul.

134– ARTE no RIO GRANDE do SUL - 12
As obras das artes visuais indígena do atual território do o Rio Grande do Sul.

135 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 13
Obras das artes visuais afro-sul-rio-grandense

136 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 14
Obras de arte dos Sete Povos das Missões Jesuíticas como metáfora da Contrarreforma

137 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 15
A “casa do cachorro-sentado” como índice açoriano no meio  cultural do Rio Grande do Sul .

138 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 16
Obras de Manuel Araújo Porto-alegre

139 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 17
Obras de Pedro Weingärtner

140 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 18
Obras de Libindo Ferrás

141 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 19
Obras de Francis Pelichek

142 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 20
Obras de Fernando Corona

143 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 21
Obras de Ado Malagoli

144 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 22
Obras de Iberê Camargo


[1] o único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmo”  WEBER, 1989. p.70

Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
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