CLÉBIO GUILLON
SÓRIA no seu
GALOPE INCESSANTE.
-"Heureusement que moi, je n'ai pas trouvé ma manière; ce
que je m'embeêterais."
“Felizmente não encontrei a minha maneira;
isto me aborreceria”'
http://www.poder-originario.com/news/os-juizes-do-gosto-/
Detalhe
do mural da Estação Mercado do TRENSURB POA RS - 1986
Fig. 01 – A obra de Clébio Guillon Sória (*1934- +1987) abriu um caminho
próprio e único que
durou no seu rápido e intenso trânsito. Como não aceitou copiar a si mesmo,
também seria temerário algum discípulo seguir este “GALOPE INCESSANTE” que
tinha a sua própria lógica, natureza em constante mudança.
Clébio Sória não renegou
as suas origens telúricas e culturais. Construiu a sua obra ao longo seu
trânsito entre a sua terra de origem e o
novo espaço humano. Neste trânsito não plagiou nem a si mesmo retroceder sobre
o seu percurso. Clébio sabia que nos seu
GALOPE INCESSANTE não existem caminhos. Estes são feitos e criados no galope
incessante do TEMPO e deixam apenas rastros. Se ele retornar sobre seu rastro perderia o seu bem maior que é o TEMPO e
retrocedia sobre as próprias pegadas sem criar algo de novo e inédito. Sabia que não podia plagiar a si mesmo ao repetir o seu próprio trajeto.
Detalhe
do mural da Estação Mercado do TRENSURB POA RS - 1986
Fig. 02 – O repertório
existencial e plástico de Clébio Guillon
Sória partiu das suas experiências pessoais com as
grandes invernadas e fazendas de criação pecuária. Ele associou ao momento
indústria representado pela ferrovia que transportava este produto aos
frigoríficos, ao porto de Rio Grande ou então entregava este produto em vagões
frigoríficos diretamente ao mercado de São
Paulo e para a capital federal.
A grande arte de Sória é
o de conjugar o seu caminho entre o seu
ENTE no seu modo de SER. Conjuga o seu TEMPO com o seu LUGAR DETERMINADO.
Pratica esta arte sem se prender à sua própria maneira e sem se constitui em
modelo de si mesmo.
Porem neste galope
incessante Clébio não vai solitário. O tropel de toda uma geração o acompanha
pois é movido pelo mesmo desafio. Os estímulos recíprocos para expressar o seu
ENTE no seu modo de SER num TEMPO e num LUGAR DETERMINADO são comuns e
compartilhados entre eles. Toda esta geração de artistas sul-rio-grandenses –
do passado e do presente – realiza esta caminhada pelas artes. Porém o realizam
de uma forma livre e corajosa. Nesta sua autonomia e criatividade são competentes
para praticar consigo mesmos e com a sua obra, a todo instante, uma ruptura
epistêmica e estética. Não plagiam a si mesmos e muito menos de sua maneira de
ver, de sentir e de praticar a sua arte. Praticam incessantemente a esta
ruptura e cultivam o hábito de integridade intelectual.
Detalhe
do mural da Estação Mercado do TRENSURB POA RS - 1986
Fig. 03– Clébio Guillon Sória interpretou a Revolução Farroupilha e o gesta
temerária de Giuseppe Garibaldi de transportar os lanchões por terra. Para esta
obra conjuga as linhas diagonais do comboio com as linhas horizontais da
paisagem que são rompidas e emprestam o dinamismo plástico coerente com o
dinamismo psicológico do autor e desta gesta.
Clébio após a sua
ruptura epistêmica e estética sabia reinventar-se e quanto isto lhe custava. Soube
sair de sua terra, submeter-se livre e conscientemente à heteronomia de mestres
qualificados. Após isto soube conjugar o seu ENTE no seu modo de SER num TEMPO
e num LUGAR DETERMINADO.
Detalhe
do mural no Solar San Raphael - Praça Portão
POA RS - 1987
Fig. 04 – A obra de Clébio Guillon Sória - quando traduz a temática urbana – busca, seleciona e aplica os
elementos plásticos deslocados do centro da superfície e os dispõe de forma a
gerar tensões de volumes que refletem o ente do artista no seu modo de ser rápido, caligráfico sem concessões com o puro
decorativismo ou formalismo de uma unívoca e linear.
No centro de cada de
obra de arte de Clébio Sória reside a autonomia de quem a concebeu, portanto o
seu pensamento. Quem concebeu a obra de arte recebe a sua autoria. Esta autoria e
iniciativa pode ser um soberano, um grupo ou um artista isolado. A partir da
modernidade a autoria é preferencialmente atribuída a um artista singular. Esta
autoria imprime o seu pensamento nesta obra e expressa a sua autonomia. Portanto
ele também não pode ser constrangido a seguir um estilo, uma escola ou mestre.
Assim Clébio Sória perderia a sua autonomia e se colocaria na heteronomia mesmo
que fosse o Clébio de antes da nova obra de arte a ser criada.
Fig. 05 – A imagem da obra - ao fundo da foto de Clébio Guillon Sória - mostram a linha e a sua disposição sobre o
plano numa busca incessante de um grafismo capazdedar conta dos sonhos
A frase de Edgar Degas, acima citada, é
coerente com a pessoa e a obra de Clébio Sória. Sória, como Degas, experimentou
a arte satisfazendo a exigência e a
distinção aristotélica de que “a arte
está no que produz e não no que produz”.
Esta produção é apenas uma senda simbólica para indicar a caminhada, de um ou do
outro, pelo campo das forças da arte.
Este fato permitiu aos
dois artistas não se plagiarem a si mesmos e, assim, ficarem reféns de uma
“maneira” inventada num dado momento do caminho nas artes. De outra parte, esta
liberdade, exigiu o tempo todo em que perambularam neste campo rupturas estéticas
e epistêmicas para permanecerem fieis a si mesmo, ao seu tempo e lugar.
Detalhe
do mural no Solar San Raphael - Praça Portão
POA RS - 1987
Fig. 06 – A Clébio Guillon Sória como muralista tinha uma admiração pela
Arquitetura contemporânea a ele eque permitia generoso espaço para o exercício
do muralismo. Tornou-se professor das primeiras turmas da Faculdade de
Arquitetura da UNISINOS cujos estudantes guardam lembranças da conjugação ainda
possível entre a Arte e a Arquitetura.
Dada esta originalidade,
e a coerência com o seu tempo e lugar, tanto Clébio com Edgar Degas não possuem
seguidores deste seu caminho único. Isto não impediu que ambos incentivarem
outros a aceitar este desafio de serem únicos e coerentes com o seu tempo e
lugar. Ambos sabiam que “aluno não faz
arte, pois esta na heteronomia do mestre”.
A coerência de Clébio
Sória está muito distante de uma maneira peculiar, de um sistema e muito mais
ainda de um estilo. De outra parte esta coerência evitou qualquer ecletismo
estilístico
Mural
para a Faculdade de Medicina da UFRS entregue no dia 03 de julho de 1965
Fig. 07 – Na transição entre a sua permanência no
Instituto de Artes e suas primeiras obras monumentais, a obra de Clébio Guillon
Sória expressa a sua passagem pela disciplina cubista e o grafismo da linha
Superadas estas
condicionantes Clébio pode se entregar si mesmo. Do lado externo, a esta
aventura pessoal e única, o seu observador da obra deste artista possui a fortuna de encontrar alguém
desvelando e mostrando o seu ser sem subterfúgios e falsetes.
No plano conceitual mais
elevado da Filosofia Clébio Sória nos desvendo o seu SER no seu TEMPO. TEMPO
expresso no seu GALOPE INCESSANTE e a urgência de deixar as pegadas do seu SER
nas suas obras. Agora os dois pertencem irremediavelmente ao passado.
Clébio
Sória e o projeto do mural da Estação Mercado do TRENSURB POA RS - 1986
Fig. 08 – Clébio Guillon Sória seguia os ensinamentos
dos seu mestre Aldo Locatelli
(1915-1962) para quem 75% do trabalho do artista estava na concepção de sua
obra. O problema residia na fidelidade e coerência do muralista na sua obra
definitiva Clébio não abria mão de ele mesmo passar esta concepção para a obra
definitiva.
Se de um lado é de
lamentar o desaparecimento do artista fragilidade das pegadas de suas obras.
Contudo estas obras na sua fugacidade e fragilidade carregam o máximo do SER e
do seu TEMPO. A fortuna da memória da pessoa desta obra e do artista repousa,
hoje, na sua sólida família. Esta memoria familiar carregam documentos, registros
e obras que permitem ao pesquisador seguira tradição de Giorgi Vasari que
escreveu a História do Renascimento Italiano valendo-se da memoria dos
familiares dos artistas deste fundante da cultura europeia.
GROYS -2000 p.54
Fig. 09 – Nietzsche afirmou (2000, p.134) que “a arte não pode
ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado
que sobre passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único
inútil, no sentido mais temerário”. Esta inutilidade e temeridade segue a lógica
da própria vida que é gratuita e não pergunta por que apareceu neste planeta. Conforme
Groys (2000: 54) o artista na sua temeridade
gratuidade constrói forças, meios e motivações num mundo utilitário e
pragmático que abrem mundos e mentalidades motivações
um caminho próprio e único que durou
O livro e a Exposição no
CENTRO CULTURAL CEEE são ocasiões, em 2014, para visitar as pegadas do GALOPE INCESSANTE do percurso único de Clébio Guillon Sória. Nesta exposição e livro
é possível conferir o seu trânsito, sem retrocessos, sobre o seu caminho. Não plagiou, nem a si mesmo, pois sabia que
não existem caminhos. Estes são feitos e criados no GALOPE INCESSANTE do TEMPO
e apenas deixam rastros. GALOPE INCESSANTE no qual o artista soube conjugar
coerentemente o seu ENTE e o seu modo de SER no seu TEMPO.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
GROYS, Boris A
obsessão pelo novo e o encanto do elitista. BONN: Inter Nationes - Humbold nº 81
2000 p. 54-56 http://www.hanser-literaturverlage.de/buecher/buch.html?isbn=978-3-446-20964-0
NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900)
Sobre
el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.
VASARI, Giorgio (1511-1574) Vidas dos artistas. São Paulo: Martins
Fontes, 2011, 824 p.
ISBN 9788578274283 - http://www.livrariasemfronteiras.com.br/produtos.asp?produto=811232
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
GALOPE
INCESSANTE
TRENSURB
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Parabéns Pela Linda Homenagem Deste Verdadeiro Mestre das Galopadas...
ResponderExcluirDeixando um verdadeiro mar de admiradores e amigos no rastro da sua obra
Como faço para comprar um exemplar do Livro Num Galope Incessante lançado em 2014
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Sérgio Borges