PORTO ALEGRE
esqueceu-se do pai.
"O brasileiro fala
muito,
documenta pouco,
analisa menos e
conclui definitivamente,
a sua moda, na hora que interessa.”
Paixão
Cortes ( 1984 p.7)
A
sentença do folclorista pode-se aplicar à memória daquele que Porto Alegre
convencionou chamar como seu fundador. Memória
que deixou passar em brancas nuvens os 200 anos da sua morte em 28 de abril de 1814.
Fig.01 – O português MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA (*16.04.1735 +28.04.1814) foi
duas vezes governador do Rio Grande do Sul. Em Porto Alegre era conhecido sob o heterônimo de JOSÉ MARCELINO
FIGUEIREDO.
A cidade de Porto Alegre ainda é
adolescente diante das multisseculares cidades espalhadas em todos os
quadrantes do planeta. Esta pré-adolescência necessita libertar-se da memória dos
seus progenitores num complexo de Édipo. Certamente Porto Alegre não é “filha
da roda da Santa Casa”. A Santa Casa ainda não existia e muito menos a roda dos
expostos.
Fig.02 – A colônia lusitana financiou um obelisco a JOSÉ MARCELINO
FIGUEIREDO (SEPÚLVEDA) e inaugurado em 24 de setembro de 1935 no
âmbito dos diversos eventos comemorativos do Centenário a revolução Farroupilha.
A cidade de Porto Alegre denominou uma avenida monumental que leva o
seu nome abreviado.
Assim ela teve dúvidas de quem era o seu
pai. Andou em naturais certezas quando se apresentou o tropeiro Jerônimo do Ornelas.
Mas zelosos cartorialistas apresentaram documentos inequívocos de sua origem e
o pai declarado dos seus dias históricos. É o intrépido militar luso MANUEL JORGE
GOMES de SEPÚLVEDA (*16.04.1735 +28.04.1814) duas vezes governador do Rio
Grande do Sul conhecido e agindo em Porto Alegre sob o heterônimo de JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO.
Fig.03 – A vida na fronteira exigia
tratados bem argumentos e a sua sustentação no espaço físico diante de estado
de guerra permanente. No aglomerado urbano de Porto Alegre de Dom Sepúlveda
não dá para descartar paliçadas defensivas e a redução do acesso pela
denominada Praça do Portão. Este Portão
- se existiu fisicamente ao lado da guarnição militar - dá sentido às duas
prisões dos representantes do poder legislativo que ele determinou para impedir
a sua volta para Viamão onde moravam. A vida social era constantemente perturbada e
abafada pelos gritos de “inimigos à vista” e de alarmes de guerra real ou
imaginada.
Fig.04 – A pequena aglomeração
urbana de Porto Alegre do tempo de JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO não
ficava distante da Lagoa dos Partos em grande parte controlada pelos castelhanos
entre 1763 e 1776. A
qualquer momento eles poderiam irromper e atacar a nova capital. Não há noticia
sobre muralha nesta época. Mas não dá para descartar paliçadas defensivas e a
redução do acesso pela denominada Praça do Portão. A muralha de Porto Alegre ganhará
um corpo mais denso, entre 1835 e 1845, ao longo do cerco dos farroupilhas as
imperiais.
O burburinho, as
urgências vazias e os gritos agudos das máquinas de comunicação abafam a
origem, a cultura e os valores de Porto Alegre. Máquinas de comunicação,
pautadas por interesses estranhos provenientes de culturas e de terras com
outras origens e outros valores.
Fig.05 – A cidade amuralhada portuguesa
de Trancoso situa-se sobre uma colina da se assemelha geograficamente com
Porto Alegre governada por JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO. Com o seu verdadeiro nome de batismo MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA foi Alcaide Mor da Trancoso.
Não que faltassem registros da origem, da
cultura e os valores de Dom Marcelino Figueiredo ou Manoel Jorge Gomes Sepúlveda,
de sua passagem e feitos em Porto Alegre. O seu desaparecimento inclusive foi
registrado em tempo num dos poucos jornais que circulava há dois séculos. Este
necrológio - neste raro jornal desta época impresso em português - consta com
todas as letras.
Fig.06 – Vista interna do portão da cidade amuralhada de Trancoso da qual
MANUEL
JORGE GOMES de SEPÚLVEDA foi alcaide mor. Em Porto Alegre este mesmo, com o
nome de JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO, criou
um equipamento urbano que se manteve e se ampliou, na linguagem popular, com a
designação de PRAÇA do PORTÃO.
Assim é possível ler no Correio Braziliense nº 72 maio de 1814 Miscellanea.p.
747 .
“O Illustrissimo e Excellentissimo Manoel Jorge
Gomes Sepulveda, do Conselho de S. A. R., Alcaide Môr de Trancoso, e
Commendador de S Martinho de Serveira na Ordem de Christo, Tenente-general dos
Reaes Exércitos, Conselheiro de Guerra, e Gram Cruz da Ordem da Torre e Espada,
falleceo, com todos os Sacramentos, a 18 do de Abril, tendo de idade 79 annos e
um dia. O seu Corpo foi sepultado com o mais decente apparato, e com as honras
militares, em S. Francisco da Cidade. Sua memória será sempre saudosa á Pátria,
e grata aos Soberanos, pelo fundo honrado de virtudes moraes, e civis, que
constituirão sempre o seu caracter; e pelos muitos, e relevantes serviços
militares, que na contínua carreira de sessenta annos, acreditarão o seu nome,
na Europa, e na America, tanto na paz, como na guerra ; e ultimamente na feliz
época da nossa restauração, pozéram o ultimo remate á sua gloria, e
distinguíraô singularmente o seu patriotismo”.
Fig.07 – O mapa de 1780 do
Rio Grande do Sul ao tempo do governador JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO. O
Continente se resumia aos territórios
dos afluentes que desaguavam no Guaíba e nas lagoas costeiras. Porto Alegre consta minúscula neste
mapa sob o nome de Viamão. As manchas escuras eram as terras castelhanas e aquelas que eles ocuparam
pelas armas entre 1763 e 1776. As manchas mais claras assinalam o que os
tratados europeus definiam com CAMPOS NEUTRAIS e os limites entre as potencias
ibéricas. A conquista efetiva até os
limites com Rio Uruguai - e a ocupação efetiva dos territórios as
Missões jesuíticas - só se consumaram em 1810 quando, no dia 11 de dezembro
deste ano, Porto Alegre foi erigida oficialmente em vila.
Pensar, falar e escrever
em relação ao fundador de Porto Alegre é verificar que este fundador encarnou
diversos papeis, heteronômicos e ações antagônicas, Existe o Dom Sepúlveda que
mata o oficial britânico em duelo. Existe o Dom Sepúlveda invisível sob o nome
de Marcelino Figueiredo. Existe o Dom Sepúlveda da política iluminada do
Marquês do Pombal.
Fig.08 – Porto
Alegre consta discretamente neste mapa de 1780 ao tempo JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO ou MANUEL
JORGE GOMES de SEPÚLVEDA como governador
do Rio Grande do Sul entre 1769 até 1780. No princípio do seu governo ele estava
sem comunicação direta com o "mar-oceano" devido à ocupação de Rio Grande, a partir 12.
05.1763, pelos castelhanos comandados
por Dom Pedro Zeballos. Foi quando a Capital foi transferida para Viamão. Dom
Sepúlveda a capital transferiu, em 1773, para Porto Alegre. Reconquistou São
José do Norte para Portugal em 06.06.1776. Graças a um tratado ibérico ele retomou
definitivamente a cidade de Rio Grande.
Neste período em que enfrenta as consequência
da ocupação espanhola do Rio Grande e a retirada estratégica para Viamão.
Existe o Dom Sepúlveda do lance temerário da mudança onde ele manda prender o
seu poder legislativo local e o chantageia a assinar a ata da mudança da
capital para Porto Alegre. Existe o Dom Sepúlveda da Viradeira de Dona Maria I
que manda destruir a indústria na Colônia do Brasil. Existe o Dom Sepúlveda
idoso surpreendido com a invasão francesas de Portugal e a permanente ameaça do
seu retorno apoiado pelos seus simpatizantes.
Fig.09 – O terreno sobre o qual
se assenta a monumental Avenida SEPÚLVEDA foi conquistada ao rio. Era a primeira
vista de Porto Alegre de quem chegava via fluvial à capital do Estado. Era uma
sala de visita digna de Porto Alegre. O
seu prolongamento aponta em direção ao obelisco de Júlio de Castilhos da Praça a Matriz e ao centro cívico de Porto
Alegre.
Estes esquecimentos do
múltiplo Manoel Jorge Gomes Sepúlveda,
do Conselho de Sua Alteza Real, Alcaide Mor. de Trancoso, e Comendador de S
Martinho de Serveira na Ordem de Cristo, Tenente-general dos Reais Exércitos,
Conselheiro de Guerra, e Gram Cruz da Ordem da Torre e Espada podem
ocorrer no tumulto da pós-modernidade e ser justificada devido as atuais incinerações
de quem se despede da vida. No
entanto todos estes esquecimentos do pai de Porto Alegre comprometem “a honra, e a dignidade, não porque isso
seja um bem real, mas porque produz efeitos reais e importantes na
prosperidade, conforto, e existência dos homens” . (Correio Braziliense nº 72 maio de 1814
Miscellanea.p.755)
Fig.10 – A inscrição afirmando
que JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO como
fundador de Porto Alegre certamente
é um erro em bronze. Erro que
gera um mito que escamoteia o verdadeiro sentido e valor do português MANUEL JORGE
GOMES de SEPÚLVEDA duas vezes governador do Rio Grande do Sul refugiado sob o
seu heterônimo.
O conhecimento das suas
origens permite ao ser humano escapar do mito da sua origem miraculosa como
também descarta a aceitação de se deixar tratar como coisa confundida com a
Natureza e reificada.
Uma cidade - na
adolescência como Porto Alegre e em pleno processo da afirmação diante do mundo - credita-se mais este esquecimento ao complexo de Édipo que necessita matar ou
ignorar o pai e se apropriar da mãe. O múltiplo Manoel Jorge Gomes Sepúlveda, do Conselho de Sua Alteza Real, Alcaide
Mor de Trancoso, e Comendador de S. Martinho de Serveira na Ordem de Cristo,
Tenente-general dos Reais Exércitos, Conselheiro de Guerra, e Gram Cruz da
Ordem da Torre e Espada certamente está muito acima destas circunstâncias e
saberá esperar hora mais propícia. Esta hora chegará com a razão e plena posse
das suas competências no interior de seus naturais limites.
Fig.11 – Os esforçados
escoteiros sul-rio-grandenses certamente podem associar o seu fundador o
britânico Baden-Powell of GILWEL (1857-1941) com o português MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA o JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO local. Ambos foram desbravadores,
militares e líderes que souberam se colocar no seu tempo e lugar e transformar
as suas existências em lideranças naturais. O erro em bronze colocaria Dom
Sepúlveda numa situação curiosa e fora dos FUNDADORES de PORTO ALEGRE, pois em 1740 ele tinha apenas cinco anos.
Muita pesquisa atenta para “não
perpetrar erros em bronze” e muito menos promover custosos eventos coletivos
equivocados como o de1940. Para a presente postagem também vale o puxão de
orelha do João Carlos Paixão Cortes (1984 p.7)"o brasileiro fala muito,
documenta pouco, analisa menos e conclui definitivamente, a sua moda, na hora
que interessa.” Entre tantos
balões furados da presente postagem foi o de seguir a onda e atribuir a
paternidade e fundação de Porto Alegre a Dom Sepúlveda. Acertadamente José Francisco ALVES de Almeida
avisa e corrige “Porto Alegre não teve ‘fundador’
ou outros fundadores”, (2004, p.168).
Fig.12 – A Avenida SEPÚLVEDA
aponta para o rio para quem vem do obelisco de Júlio de Castilhos, da Praça a Matriz e do centro cívico de Porto
Alegre. A monumental
estrutura em ferro e vidro constitui um vestíbulo da sala de visita
digna da cidade de Porto Alegre que MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA ou JOSÉ MARCELINO FIGUEIREDO queria como capital
do Rio Grande do Sul
Porém não é ocasional que o periódico dirigido por Hipólito Jose da Costa
dedica-se um espaço ao intrépido Dom
Sepúlveda. Dois homens ligados ao extremo meridional do Brasil e às suas
circunstâncias da sua época de dúvidas, tensões e de audaciosas definições
conferiam as raízes para múltiplos caminhos.
Sem a ação decisiva
de Dom Marcelino talvez a capital voltasse para o porto de Rio Grande, como foi
de 1737 a 1763 Permaneceria definitivamente em Viamão, como foi em 1763 até
1772. Ou então iria para Rio Pardo onde Pinto Bandeira e Dom Marcelino
colocaram definitivamente uma Tranqueira Invicta para as pretensões
castelhanas.
As duas vezes que ele mandou prender o seu poder legislativo dizem
de sua determinação, audácia e temeridade em colocar um ponto final neste
trânsito das capitais e escolher o ponto geográfico estratégico no qual está ainda
em maio de 2014
Fig.13 – A lacônica e
enferrujada placa que deveria identificar MANUEL
JORGE GOMES de SEPÚLVEDA - duas vezes
governador do Rio Grande do Sul conhecido em Porto Alegre como JOSÉ MARCELINO
FIGUEIREDO - certamente não presta este serviço à população local e muito menos
para um estrangeiro na busca da identidade, personagens e história local.. Um
desafio de transformar os dois termos AVENIDA SEPÙLVEDA em título de um tema de
vestibular colocaria muito estudante esforçado e inteligente em sério risco de
não aprovação.
Em
relação às comunicações que tem por tema a figura de MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA não
é possível percebê-las e coloca-las no mundo dos mitos sublimes fundantes.. No
polo oposto não é possível deixar que a memória desta figura deslize
silenciosamente para o mundo natural. O caminho natural destinado ao entulho
das inutilidades e arbítrios parece ser indicado por uma placa enferrujada e
lacônica. O caminho da mitificação e da
comunicação imponderável é indicado por um obelisco ao modo egípcio.
Tanto a placa como o obelisco induzem ao esquecimento da pessoa que migrou da
vida para a História no dia 28 de abril de 1814 e a quem Porto
Alegre deve de fato e de direito tanto o impulso inicial do seu protagonismo,
como de sua identidade bem como dos seus bens materiais e imateriais.
LOCATELLI, Aldo -A
FUNDAÇÂO de PORTO ALEGRE- óleo sobre tela, 265 x 440 cm – obra de 1960
- Foyer do Teatro Sesi Av, Assis Brasil –
FIERGS Porto Alegre - RS
Fig.14 – A epopeia da transformação de Porto
Alegre em capital da CAPITANIA de SÂO PEDRO do RIO GRANDE do SUL por obra do brigadeiro
MANUEL JORGE GOMES de SEPÚLVEDA, foi celebrada, em 1960, pelo pinceis do mestre Aldo Locatelii
(1915-1962). O pintor o cercou do bandeirante com o seu arcabuz, No lado
oposto está o gaúcho dos Pampas ao lado o Negrinho Pastoreio, que posa como uma
das personagens que o arista pintou numa das suas vias sacras. Ao fundo o
açoriano agricultor e indígena segurando uma das lanças, Bem a fundo aparece Porto
Alegre com o seu perfil com a Chaminé do dito Gasômetro. -
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ALVES de Almeida, José Francisco (1964). A Escultura pública de Porto Alegre –
História, contexto e significado – Porto Alegre: Artfólio, 2004 246 p.
PAIXÃO CORTES, João Carlos. Aspectos da
música e fonografias gaúchas. Porto Alegre: Repressom
1984 117p.
FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS
A CIDADE AÇORIANA
DOM
SEPÚLVEDA de Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda
DADOS BIOGRÁFICOS
relativos a Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda
CASTELO
de TRANCOSO
ALCAIDE
IMAGEM
DOM SEPÚLVEDA
GENEALOGIA
de Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda
BERNARDO
CORREA DE CASTRO SEPULVEDA 1791-1833
-Filho
http://purl.pt/11777
http://purl.pt/11777/3/
GOVERNADORES
do RIO GRANDE do SUL - lista
FALSO
BICENTENÁRIO de PORTO AEGRE de 1940
CORREIO
BRAZILENSE maio 1814 Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda p.747
A RODA dos
EXPOSTOS de PORTO ALEGRE e LUCIANA de ABREU
Este
material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de
ensino-aprendizagem
Não
há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus
eventuais usuários
Este
material é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a
formação histórica deste idioma. http://creativecommons.org/licenses/by/3.0/
e-mail do autor
ciriosimon@cpovo.net
facebook
em https://www.facebook.com/cirios2
PRODUÇÃO NUMÉRICA DIGITAL no
1º blog : 1ª geração – ARTE - SUMARIO do
4º ANO
2º blog : 1ª geração - FAMÍLIA SIMON
3º blog :
1ª geração
SUMÁRIO do 1º ANO
de postagens do blog
NÃO FOI no GRITO
4º blog de 5ª geração + site
a partir de
24.01.2013 :PODER ORIGINÀRIO
Site (desde 2008) www.ciriosimon.pro.br
Círio, parabéns pela lembrança e pelo texto.
ResponderExcluirNelson Rosa