terça-feira, 30 de abril de 2013

062 – ISTO é ARTE.



ARTE está ACIMA e

ALÉM das 

INTRIGAS IDEOLÓGICAS e ESTÉTICAS.

Não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar       
 Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo aforismo][1].




GOEBELLS INAUGURA a EXPOSIÇÂO  ENTARTETE KUNST” no dia  19.07.1937 em Munich
Fig. 01 – O mestre da intriga Joseph Goebbels (1897-1945) manipulou a intriga política,  cultural estética com desastrados resultados práticos. Doutor em literatura alemão do século XIX pela Universidade de Heidelberg soube captar o clima reacionário e abrir o espaço ao Mein Kampf de Hitler que transformou em bíblia do regime nazista. Aqui inaugurando a exposição das Entarte Kunst –ARTE DEGENERADA - em Munich. Este mesma exposição circulou depois pelas principais cidades da Alemanha. A intriga funcionou pois esta agressão provocou uma reação igual e contrária e que marcou a arte de todo pós-guerra

A criatura humana necessita de palavras para dar forma ao seu próprio pensamento, encadeá-lo em discurso linear e unívoco, e assim, expressá-lo. Entre as palavras, portadoras deste pensamento, o emissor do discurso destaca aquelas de sentido mais forte. Estas privilegiadas na escolha ganham mais força e impacto na medida em que são contrastadas com outras que se deseja derrotar. Esta escolha é artificial e independente da realidade que elas descrevem. A desproporção, as intrigas e as omissões intencionais reforçam o contraste.

Fig. 02 – Os prosélitos populares que acorriam às exposições da “Entarte Kunst” inaugurada em Munich e que circulou, depois, pelas principais cidades da Alemanha. Joseph Goebbels com a sua tese sobre as aspirações românticas da classe média alemã entendia dos seus sonhos de felicidade, os mitos da sua cultura homogeneizada pela indústria cultural. Faltava apenas apontara ‘um culpado’ por isto não acontecia e alimentar a intriga com as palavras e discursos do seu chefe imediato.

As intrigas, de qualquer natureza, possuem a sua fonte nos interesses transfigurados em ideologias acompanhadas de estéticas com características de onipotência, onisciência, onipresença e eternas. Esse universo artificial, para ganhar mundo, joga-se contra é um outro universo diferente e que pertence a círculo de fora. As intrigas reforçam interesses pontuais escolhidos na realidade. Estes detalhes são transformados em algo verdadeiro, belo e justo contra algo externo que é desqualificado como falso, o feio e o injusto.
A fragilidade do pensamento e a falta de segurança nas suas próprias convicções internas fazem com que os intrigantes necessitem, externamente, de um cortejo de prosélitos imantados pelas intrigas e um aparato de eventos e de rituais que beiram ao ridículo.

Fig. 03 – Os violentos contrastes ente o tipo ariano germânico e a estética daquele apontado como  ‘o culpado de tudo’ algumas amostras sem sentido da e que impedia o sonho romântica do reino dos mil anos de hegemonia, da felicidade e comprometia a imagem externa da nação e as sus riquezas.
O exemplo clássico é a ideologia nazista que escolheu a raça ariana como seu paradigma. O não ariano era falso, feio e injusto. Até o presente esta ideologia possui seus efeitos revividos de intrigas ideológicas, estéticas e tecnológicas. 
O campo de marketing e propaganda municiam a sua fonte nos interesses transfigurados em ideologias acompanhadas de estéticas características. Esta propaganda necessita dos contrastes entre opostos. Opostos construídos a partir de detalhes da natureza transformados em verdadeiros, belos e justos. O consumismo e o pragmatismo acrescenta o componente de algo desejável pois o desejável é algo verdadeiro, belo e justo. Portanto vale o sacrifício de sua aquisição é transformação em propriedade simbólica ou física.


Fig. 04 – O período colonial brasileiro foi orientado e perpassado pela propaganda da fé que armou imensos cenários, aplastrantes cerimônias nas quais os cincos sentidos humanos eram encerrados e conduzidos para a corte celeste e com trânsito obrigatório e único pelo trono da metrópole.  Mestres da intriga antecipavam qualquer desvio deste caminho único e fatal. Desvios que eram prevenidos pelo “Tribunal da Consciência” e em casa de residência no desvio do caminho único era punido, em Portugal,  com a fogueira purificadora, a forca ou garrote vil na Espanha
Porém este ‘cliente’ jamais pode descobrir a verdade inteira. Assim o regime colonial manteve o Brasil inteiro subjugado pelo interesse da posse lusitana. Posse lusitana reforçada pela estética da Contrarreforma (Barroco) e pela instrumentalização do juízo e da fogueira da Inquisição.
A necessidade da esquematização entre extremos é característica das culturas em processo de transição como o helenismo grego, o maneirismo e a atual pós-modernidade.  Nestas culturas de transição a cena é dominada pelo ecletismo. Esta geleia geral do ecletismo constitui o refúgio de todas as covardias, nas palavras de Mário de Andrade. A escolha, a decisão e adoção de extremos maniqueístas são elogiados como virtude. Virtude na medida em oferece para a comunicação humana escolhas unívocas e lineares e encontra facilmente a quem se opor frontalmente. O cenário da intriga esta pronto a espera dos seus atores no papel de protagonistas e antagonistas.

Pano de Boca de Teatro na Coroação de Dom Pedro I desenhado por Jean Baptiste Debret
Fig. 05 – Os artistas, os técnicos e os teóricos da Missão Artística Francesa eram os artistas da corte de Napoleão Bonaparte. A Revolução Francesa despojara o Barroco do seu sentido místico ao qual contrapôs a Razão. A deusa Razão buscou ocupar os cinco sentidos cultivados pela Contrarreforma e os coloca ao serviço de Regime Imperial como havia praticado com Napoleão Bonaparte

A independência, a troca de regimes e as sucessivas rupturas das diversas revoluções permaneceram os interesses pelas intrigas, de qualquer natureza, transfigurados em ideologias acompanhadas de estéticas características. Há muito mais interesse nestas intrigas e posições do que uma larga visão da realidade. Esta pode chata, cheia de arrependimentos pelos caminhos tomados individual ou coletivamente e certamente onde se chega ao presente no qual o colonialismo e a escravidão estão mais presente do que nunca.

Fig. 06 – O anarquista luta pelo retorno absoluto para a ordem da Natureza onde reina a entropia implacável e o caos. Para instalar este caos uso a intriga entre a posse monetarista e os despossuídos da fortuna. O anarquista  despeja o seu mal estar da civilização sobre o Estado que ele percebe como “culpado de tudo” devido ao marketing e propaganda que valeu dele para estabelecer intrigas entre o micro e macro poder. Porém movimentos desta Natureza não prosperam pois os conflitos os joga este anarquista em perene contradição e que o condena ao jogo perpétuo de  intrigas internas logo após a sua conquista de alguma posição. A anarquia é uma ferramenta externe útil num primeiro momento, para subverter a ordem estabelecida. Porém logo ela será descartada, mais cedo ou mais tarde, devido ao seu perpétuo retorno para o domínio da Natureza implacável.

No lado social o contraste entre a arte alta e a baixa. Onde abastados e no ócio desqualificam necessitados e no perene trabalho
Ninguém propõe luta de classes, de interesses e antagonismos insolúveis. Em seu lugar a instalação de um hábito de integridade intelectual que sabe contemplar serenamente um passado nem sempre tão glorioso como alguns querem. Isto leva para a avaliação do presente com todas as potencialidades. Potencialidades coerentes com uma legítima soberania que sabe que deverá pagar o preço de suas escolhas.

Paris 01.05.1968. Reprodução do Le Monde  - maio de  2008
Fig. 07 – Quem possui a fala possui o poder. A mitificação da fala impõe um discurso uniforme e linear e para qual o jovem é considerado incompetente. A intriga é sustentada por uma gerontocracia que deseja impor a sua vez e a própria voz. Esta gerontocarcia impõe a norma "seja jovem e te cale"

A escolha pela intriga constitui o caminho do fechamento sobre si mesmo. O solipsismo estético gera a cápsula na qual o seu próprio autor perece e é olvidado como um câncer maligno.  Uma das características comuns destes intrigantes é a sensação que passam nos seus discursos é de que a História começou quando eles nasceram. Outra é facilidade que encontram de transformar em mito qualquer uma das suas “descobertas”. Aproveitam imediatamente para jogar a ‘sua’ descoberta contra tudo e todos que escapam a sua magnifica e única inteligência possível na ‘sua’ civilização e assim jogar combustível para perpetuar a intriga.
Este intriga perpetuada constrói e abre os fornos crematórios do Holocausto, arma e justificam o garrote vil, as fogueiras e a forças da inquisição e todos os horrores das Guerras Santas até desembocar no Vietnã, no Iraque ou no Afeganistão.

Fig. 08 – O imenso campo simbólico fornece para a criatura humana - e para o estudioso da arte – signos e índices  provenientes de todas as latitudes e de todos os tempos. Este criatura humana acumulou ao longo dos séculos (DIACRONIA) amostras e signos em cada etapa (SINCRONIA) e que acumula uma sobre a outra. Este acúmulo permite escolhas, fornece ferramentas e estimula o cultivo de mentalidades especificas e que afastam a necessidade da oposição e o maniqueísmo e da intriga gratuita.
Para ler o gráfico clique sobre gráfico
A intriga estética elevada como método em arte por Wölfflin mostrando slides em dois projetores de obras de arte com mesmo tem porém e épocas distintas. Esta contraposição foi praticada também por Worringer ao opor duas estéticas distintas e buscando o contrate entre os ambientes físicos distintos nos quais se desenvolveram como contraste entre arte praticada nos tropicais e nas regiões glaciais.
Porém o filósofo Wittgenstein, o psiquiatra Freud e Thomas Bernhard (1931-1989) perceberam na difusa cultura que se formou em Viena e mostraram que o problema das artes não se esgotava na contraposição maniqueísta de índices colhidos ao acaso e  arbitrariamente. Evidente que o pensamento explicito de Kant, de Schiller e Goethe a Filosofia Alemã construíram sistemas de pensamento sem necessitarem das intrigas ideológicas com outros sistemas alheios aos paradigmas que adotaram. De outro lado Habermas demonstrou - na sua obra ‘Interesse e Conhecimento’ - as raízes deste pensamento que necessita os contrastes eternos entre o bem e o mal, as luzes e as trevas e a vontade e poder. 
Em vez deste maniqueísmo de oposição de pares é possível considerar no mínimo três eixos na leitura de uma realidade cultural política, estética ou social construída a partir da inteligência, da vontade e do direito humano.

Fig. 09 – Numa visão cartesiana a cultura, as ideologias decorrentes e a própria arte, além da mentalidade social (SINCRONIA) e da mentalidade do seu Tempo (DIACRONIA) põem ser percebidos e analisados sob a ótica do se ambiente ecológico (LUGAR) è possível estabecer contraste ente eventos e obra particulares. Porém a visão do todo (ENTE) como a expressão da vida pela Arte (SER) não pode ser ignorado ou afastado deste todo. Esta alienação da obra e da ação humana destes três vetores é a ambiente que a intriga necessita para armar o seu jogo solerte.

Os mais renitentes onipotentes, oniscientes, onipresentes e eternos intrigantes sabem que do limite de suas forças, do seu conhecimento, de seu mundo e do seu tempo. Infelizmente descobrem tarde estes limites e as dimensões equivocadas das intrigas ideológicas e estéticas nas quais se meteram por ignorância, má vontade com o contraditório ou mesmo com o mau caráter de que são portadores. O seu modo de SER evidencia o seu ENTE limitado e intrigante.

GABRIELA SIMON BUMBEL - em 27.04.2013 - pintando e falando com a mãe ao telefone
Fig. 10 – Por mais frágil e incipiente que seja qualquer projeto humano representa uma vitória sobre o condicionamento de heranças da espécie e constitui a promessa de um mundo construído sobre a justiça, a beleza e vontade no qual a mesquinha intriga não possui lugar. Gabriela, do alto dos seus 33 meses,  ligada por telefone à mãe e, com a sua mão canhota, maneja os instrumentos básicos da pintura como a humanidade faz desde a mais remotas eras. Qualquer mitificação ou naturalização desta cena pode estragar tudo..

Nas vertentes da origem e das raízes das intrigas estão, de um lado, o MITO do GÊNIO e do outro a NATUREZA. Este reducionismo é necessário para o marketing e para propaganda reduzir o discurso é torná-lo linear e unívoco. Reducionismo que constrange a Arte a se comportar no campo da Comunicação e no âmbito de um marketing e propaganda primária e redutora da criatividade humana.
A liberdade de deliberar e de decidir - proveniente de qualquer projeto humano, por mais frágil incipiente que seja -  conduz esta criatura humana para além dos condicionamentos de qualquer maniqueísmo. Liberdade que a conduz para muito além e acima de intrigas que criaturas interesseiras, limitadas ou mal intencionadas em alimentar o colonialismo e a escravidão voluntária.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

BERNHARD, Thomas (1931-1989) – O Sobrinho de Wittgenstein – Tradução de José A. Palma Caetano . Rio de Janeiro : Assírio&Alvin, 2.000 -ISBN: 972-37-0603-2

GOETHE, Johann Wolfgang von.Teoria de los colores.Buenos Aires:1945. 466p.

HABERMAS, Jürgen. A Filosofia Hoje.  Trad. Sonia Ramos.  Rio de Janeiro: Salvat, 1979. 140p.           ______. Conhecimento e Interesse. Trad. José Heck.  Rio de Janeiro : Zahar, 1982. 367p.
KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d.  255p.
______. Crítica da Razão Pura.  Trad. J. Rodrigues de Moraes. Rio de Janeiro: Tecnoprint. S/d. 271p.
SCHILLER, Friedrich (1759-1805) Sobre a Educação Estética. São Paulo : Herder, 1963. 134 p

WITTGENSTEIN, Ludwig Joseph Johann (1889-1951). Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo : EDUSP  - 1993.  281p.

WÖLFFLIN, Heinrich  (1864-1945)  Conceptos fundamentales  de la história del arte [3ª ed] Madrid: Espasa Calpe, 2007, 439 p. ISBN 978867023855
--------------Enciclopédia Universalis Madrid: Universalis, 1990, v.23,  p. 874 (verbete Wölfflin).
          
WORRINGER,  Wilhelm (1881 - 1965).  Abstraccion y naturaleza.  1.ed. 1908.  México :  Fondo de Cultura   Econômica, 1953. 137p.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ANARQUISTAS em MUSEU de NOVA YORK

ARQUITETURA da DESTRUIÇÂO - vídeo

BIBLIOGRAFIA de livros digitais gratuitos sob a ótica da Propaganda e  Marketing

CENTRAIS IMPERIAIS

Os EXTREMOS não são CIÊNCIA e nem ARTE.

PODER ORIGINÁRIO

RESPEITO CONFUNDIDO COM MEDO

SOLIPSISMO

Thomas BERNHARD (1931-1989)

TRIUNFALISMO em ARTE


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