ARTE
- MONUMENTOS – CIVILIZAÇÃO
- COLUNA VENDOME
no CHÃO PARIS em 17 de maio de 1871
Fig.
01 – A Coluna Vendôme derrubada pela Comuna de Paris em 1871. Cada novo regime,
ao chegar e se instalar no poder, busca se apropriar do patrimônio público e
destruir tudo aquilo que não é coerente com a sua nova ideologia que se deseja
implantar, cultivar e reproduzir. Os novos regimes e inseguros de si mesmos
sempre praticaram estra ação. As dinastias egípcias mandavam raspar a mensagens
das anteriores e escrever os seus nomes para se afirmarem.
As grandes civilizações
superiores preferem os monumentos visuais onde podem deixar registrado o estágio e o
índice do seu desenvolvimento e os seus apogeus. Mesmo admitindo que o que permanece
é o pensamento a maioria das civilizações prefere a vista
“Não
só para agir, mas até quando não nos propomos operar coisa alguma, por assim
dizer, preferimos a vista aos demais sentidos. A razão é que ela é, de todos os
sentidos, o que melhor nos faz conhecer as coisas e mais diferenças nos
descobre”
Aristóteles, 1973, p.211, .Metafísica L.I cap. 1.
Não se trata da
figuração. As pirâmides do Egito ou o padrão infinito são visuais sem serem
figurativos.
“A
imagem desce ao coração da matéria penetrando ali na realidade do mundo”.
Chartier foi mais categórico: "com
a imagem não se discute". (1998:
179)
No conjunto e resumindo: trata-se da culminância
da civilização.
MUNIZ Vik – Releitura da Medusa de Caravaggio http://historiadaarte2009.blogspot.com.br/2009/11/medusa.html
Fig.
02 – As artérias das metrópoles contemporâneas transformam-se em verdadeiras
serpentes da cabeça das Medusas urbanas. As suas vitimas preferidas são as
vidas humanas. O novo regime colonial, que instalam, não são só devoram os vestígios das
civilizações anteriores, mas retiram e aniquilam qualquer sentido e tornam
arcaicos e incômodos estes índices das gerações anteriores. Estas preferem a
cremação aos antigos túmulos perpétuos.
Porém a maior parte do tempo a humanidade
viveu as idades médias, a época das trevas e agarrado ao dia a dia da
sobrevivência. Pouco importava qualquer transcendência destes universos
empírico do aqui e do agora. Nestas épocas usam-se os santos de pau ocos das
Missões Jesuíticas para cochos dos animais. Ou o contrário estes mesmos santos
são objetos de cobiça e transformados em patrimônio material de uma classe que
se julga superior a estas crenças primitivas e coletivas.
ALVES, José Francisco. A Escultura pública de Porto Alegre –
história, contexto e significado. Porto
Alegre: Artfolio, 2004, p. 172
Fig.
03 – A obra de Joice SCHLEINIGER da Praça Japão de Porto Alegre sofre o
abandono e simples desmantelamento. Resultante de um belo projeto para humanizar os espaços públicos
da metrópole com obras de jovens artistas denota os mesmos índices do
colonialismo e da mentalidade de transformar o trabalho do artista em algo
pontual e passível de ser esquecido no momento seguinte, como a maioria das
obras públicas que povoaram posteriormente o Parque Marinha do Brasil.
Ainda em 2013 as
máscaras dos Hopi[i]
foram em leilão em Paris e transformados em objetos particulares de
colecionadores.
Fig.
04 – A apropriação dos objetos simbólicos dos povos considerados inferiores e
incompetentes pela lógica dos regimes coloniais encheram os museus de objetos
que perdem o sentido tanto para o colonizador como pelo colonizado. Para o poder do
regime colonial esta apropriação do mundo simbólico do colonizado era uma
demonstração de sua superioridade econômica,
política, militar ou eclesiástica. Passado este regime estes objetos
simbólicos perderam para o colonizador o sentido de seus múltiplos poderes. A
tradição e os suportes nos objetos materiais de equilíbrio do mundo dos povos
nativos o autorizam as mais desencontradas reações emocionais contra o seu
opressor oportunista.
Os museus dos países colonialistas estão
recheados, fazem se restaurações para ganhar dinheiro e se apaga tudo o que a
geração ou o partido anterior no poder.
Fig.
05 – A apropriação do espaço público segue a mesma lógica do regime colonial
brasileiro. Esta apropriação colonial é possível na medida em que não
interfere ou atrapalha o poder político, militar ou eclesiástico. Assim o
brasileiro deixa evidentes índices do regime colonial e da mentalidade cuja
designação de “colono” foi
transferida impropriamente ao inocente imigrante.
- Adianta vigiar e punir estes
neo-bárbaros?.
Se o objetivo for apenas
vigiar e punir os pichadores sob a ótica e o pretexto do lucro com um
hipotético turismo lucrativo, a resposta é: NÃO. A resposta é SIM
se o objetivo é procurar as raízes do mal e as formas adequadas para curar a
barbárie pela raiz e sem usar qualquer meio aversivo. O punir destemperado e
carente de tempo e oportunidade produz os efeitos contrários conforme advertiu
Sêneca (Consolo à Hélvia, p.3) que:
“não se deve combater de frente a
violência e no primeiro instante das dores da indignação, porque só se consegue instigá-la ainda mais e,
assim, aumentá-la. Assim como nas doenças nada mais pernicioso para a saúde do
que um remédio prematuro”.
Fig. 06 – As
agressões e desqualificações atingem indiscriminadamente tudo aquilo que evoca
a escravidão e o regime colonial. A antiga IGREJA do ROSÁRIO de Porto Alegre, erguida com o trabalho dos escravos e de sua
busca para se adaptarem e fazerem as pazes com o Regime Colonial - que os
explorava e arrancava os derradeiras
forças - foi insensivelmente posta abaixo e arrasada. Esta demolição não só tentava apagar os
últimos vestígios desta identidade e cultura - ao qual o Brasil e as suas
instituições - mas até o presente não recebeu uma reparação condigna e à altura
da civilização que se dizia superior e universal.
Nesta cura da barbárie o
primeiro passo é conhecer o mal (inteligência). O segundo é admitir (vontade)
este mal. O terceiro é a profilaxia em tempo adequado e proporcional à vontade
e ao mal diagnosticado. Evidente que o remédio tardio e a procrastinação indefinida
da correção são piores do que o remédio prematuro.
Fig.
07 – O monumento à Júlio da Castilhos, erguido entre 1908 e 1913, ao longo dos
governo de Carlos Barbosa e de Cândido José de Godói, seus operoso secretário
das Obras Publicas e da Fazenda marcou um período civilizatório ímpar na
cultura sul-rio-grandense. Este projeto não compreendido e muito menos assimilado. Por isto
foi imediatamente esquecido e os seus agentes destinados ao mito e ao olvido.
No seu isolamento conceitual e estético foi entregue não só ao olvido, mas às agressões
mais vulgares. A administração e as gerações seguintes foram incapazes e
incompetentes para entender, ampliar e reproduzir algo como este projeto único.
Não se faz aqui apologia da estética, nem da ideologia e muito menos da
política partidária que deu forma e materializou este monumento, mas ao projeto civilizatório compensador dos
quais ele era o portador físico.
No conhecimento
certamente repercute a frase “pouca saúde e muita saúva”. A duas piores pragas
que se desenvolveram na cultura brasileira foram o Regime Colonial reforçado e
alimentado pela escravidão. Regime Colonial que avilta a tudo e a todos
transformando tudo em lucro e patrimônio material controlado por alguns em
beneficio próprio. Escravidão na qual uma classe, que se julga superior e
separada das demais, avilta a vontade da maioria. Maioria que lhe deve
obediência e servidão e para isto transforma
o trabalho de todos em benefício próprio e exclusivo. Apesar de oficialmente e declarados legalmente
extintos eles continuam, na prática, a devastar o inconsciente coletivo de uma
forma continuada e se reproduzindo nas formas mais evidentes até as mais
subliminares.
Fig.
08 – A reação ao colonialismo e aos horrores da escravidão não podia ser mais
eloquente do que a barbárie armada e letal desta imagem. Evidente que esta
reação deste bando não produz mais do que barbárie. Porém a busca do poder pelo
mais forte, armado e ágil não respeita a vida, os valores materiais ou
simbólicos dos que aproveitaram ou ainda gozam algum usufruto do colonialismo
ou escravidão. Revivem a saga dos
quilombos, do cangaço ou do Contestado.
Atualizam no território nacional brasileiro as insurgências populares latino-americanas
contra o regime colonial e a escravidão. Diante desta mentalidade não há
monumento, civilização e arte a ser pensada, implantada e reproduzida por tempo
indeterminado.
Apesar de diagnosticado
por todos existe uma resistência absurda em admiti-los, mesmo contra as mais
evidentes provas.
O pouco apreço pelo coletivo é uma das
demonstrações do colonialismo e da escravidão. Este coletivo imposto pela lei
pela lei, pela vigilância e desconfiança e pela violência e truculência de um
pensamento tão primitivo como aquele que deve ser punido. Este que deve ser
punido procura todas as brechas e ocasiões para depredar o que ele sabe que é
do seu opressor. Com isto ganha notoriedade entre os do seu bando e os próprios
donos de plantão do poder. Não sente nenhum contrato e nem remorso em agredir o
que os agentes do poder constituído. Não representa o menor valor para ele.
Fig.
09 – Índices corrompidos do que deveria
ser civilização. Os enfoques exclusivos no processo material corrompe
ecologicamente a paisagem e desvia as mentes de um projeto civilizatório, no
mínimo compensador dos tributos que uma nova tecnologia exige para se humanizar
e ser um autêntico instrumento de melhoria social, política e econômica. O sorridente jovem, que foi capaz de matar
seis motoristas de taxi certamente possui o mesmo esgar do bando da fig.08. Quando
um grande número de civilizações usou as colinas para construir as suas
acrópoles e os seus lugares sagrados a cultura atual as consagra e reserva para
a tecnologia.
A preservação dos
monumentos públicos, de outra parte, jamais pode ser prioridade diante dos mais
frios assassinatos e atentados ao patrimônio de suas vitimas[i].
Porém estes atentados à vida humana, a depredação e a agressão ao patrimônio
público e privado, decorrem da servidão
aos bens materiais. Servidão que tira qualquer
sanção moral dos atos destes delinquentes.
NAU dos INSENSENSATOS - Nrenmberg - Alemanha - Google Earth
http://www.flickr.com/photos/46614817@N04/5431808956
http://naofoinogrito.blogspot.com.br/2012/10/nao-foi-no-grito-056.html
Fig.
10 – Em todos os tempos e lugares da terra, a sedução pela propaganda e
marketing fez as suas vítimas. A imprensa industrial esclareceu,
nas primeiras edições, acentuou e
condenou as causas desta irracionalidade
coletiva. A Nau dos Insensatos numa das primitivas edições ganhou forma visual
e que foi retomado no teatro por Molière, por Delacroix na pintura ou, em
monumentos como o de Nuremberg da imagem.
Estes infratores agem presos aos grilhões de um
regime colonial. As suas vontades próprias deixam de existir na medida em que
são substituídas e subjugadas pelas condições sociais e matérias alheias e
carentes de qualquer sanção moral. Condições sociais alheias implantadas,
alimentadas e reproduzidas pelos conceitos subliminares da escravidão coletiva.
Escravidão coletiva louvada e alimentada pelo marketing e pela propaganda
exógena e traduzida apenas por bens materiais. Marketing e propaganda exógena
contra a qual a cultura local é incapaz de desenvolver um meio de defesa eficaz
ou um antídoto pontual.
Fig.
11 – As quatro estátuas quebradas do Chafariz da Praça da Matriz de Porto
Alegre foram reinstaladas e cercadas em outra praça. A população lhes
é indiferente, pois está carente de orientações e de informações em relação à
sua história e o seu sentido. No máximo as percebe como índices ligados a um
projeto de um poder central de um regime político cuja vigência está vencida.
Esta eficácia e antidoto
à escravidão e ao colonialismo torna-se visível
nos índices de uma plena convicção e uma noção sadia de liberdade e competente
para deliberar e de decidir. Índices nascidos da vontade humana que reina
soberana e harmoniosa tanto sobre as condições inerentes à uma vida digna, como
sobre os bens materiais e imateriais. A
arte, como ação humana, leva ao terreno da ética,
pois Kant vinculou a vontade da ação humana com a moralidade e a autonomia, ao
afirmar na Crítica da Razão Prática (Livro I, teorema IV), que “a vontade possui moralidade no limite da sua
autonomia” , o que faz com que a ação
do artista busque a ampliação permanente do limite da sua autonomia.
Fig.
12 – Imagem de um dos monumentos da era industrial cuja vigência e sentido se perderam
no tempo marcado e guiado pelo relógio
mecânico. Porto Alegre possui bairros inteiros sujeitos à entropia natural
e cultural. As reciclagens destes prédios para outros fins e os museus
tecnológicos demonstram a passagem da era marcada pelos bens simbólicos para
aqueles que constituem os bens virtuais. Deste prédio só sobrou a imagem
enquanto que ele foi demolido.
Uma cultura, ainda
incapaz de elaborar um projeto, sustentar a sua autonomia e muito menos reproduzir
um pacto social, não possui o direito a uma memória positiva e muito
menos a uma civilização.
CATTELAN Maurizio “If a Tree Falls in the Forest and There is no One Around it, Does it Make a Sound” 1998 Taxidermized donkey, television, bridles, cotton cloth, cord 150 x 154 x 46 cm
Fig.
13 – Na medida em que a imagem da televisão constitui uma realidade virtual o
seu suporte tecnológico ainda é da era industrial. Esta por sua vez
sobrecarrega o mundo da Natureza com o lixo que produz. O mundo da escravidão e do colonialismo
cultural ra parece e cobra os seus tributos. Carente de um projeto
civilizatório compensador, fundado no respeito e a coerência de cada uma destas
etapas, o mundo virtual também possui a força de reconduzir para o exercido
pelo mais forte e competente e imposto ao mais ignorante.
Na elaboração, na
sustentação e na reprodução deste pacto social, não há espaço nem para a
mentalidade mítica e muito menos admitir que ele seja um produto natural.
Impõe-se um projeto coerente com o trabalho possível aqui e agora.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, José Francisco. A
Escultura pública de Porto Alegre – história, contexto e significado. Porto Alegre : Artfolio, 2004, 264 p.
: il ISBN 85-99012-01 -0 CDU:
730.067.36(816.51)
ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São
Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
CERTEAU,
Michel de. A
invenção do cotidiano. Petrópolis
: Vozes, 1998 2
v.
KANT, Emmanuel (1742-1804). Crítica da razão prática.
Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. 255p
SÊNECA, Lúcio Anneo(4 aC– 65dC)Consolo à Hélvia,
Brasília: Domínio Público, S/d, 47 p.
http://en.wikipedia.org/wiki/Seneca's_Consolations
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
Descolonização
http://www.historia-e-arte.blogspot.com.br/2013/04/manuel-santos-maia-alheavafilme-quinta.html
PROJETOS e MONUMENTOS
http://www.guardian.co.uk/artanddesign/jonathanjonesblog/2013/apr/22/margaret-thatcher-nazi-memorials
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