ARTE POPULAR e ARTE ERUDITA.
“Todo
fenômeno artístico permanece incompreensível para nós, até conseguirmos
penetrar na necessidade e na regularidade de sua formação” Worringer, 1957: 15
Pinturas
Rupestres na Caverna de Chauvet - fotograma
Werner HERZOG
Fig. 01 – A criatura
humana do período paleolítico refugia-se nas profundezas de herméticas cavernas
para viver o clima da última glaciação do Planeta. Nestas cavernas deixa os
índices do seu tempo, lugar e das suas circunstâncias. Não se representa a si
mesmo. Busca coragem, licença e vencer o tabu de matar para se alimentar. As
suas anotações são concretas e objetivas das partes dos animais que podem lhe
fornecer alimento e ao mesmo tempo anota os perigos que ele corre na caça. Na
luz de archotes bruxuleantes e com o negro dos ossos calcinados - que acabara
de abater e se alimentar- traça uma obra
de arte coerente e que já atravessou milhares de anos e se projeta para todos
os tempos
A Arte
Popular necessita da Arte Erudita. A Arte Popular é facilmente consumida devido
a sua proximidade com o seu mundo empírico e natural. O Ente constituinte da
Arte Popular possui dificuldades de identificação, de preservação e de
reprodução devido à sua proximidade do mundo empírico e natural. Assim a Arte
Popular necessita da Arte Erudita para ser percebida e ter condições até para
se diferenciar desta. Sem esta diferenciação e identidade a Arte Popular passa
facilmente para o mundo da obsolescência.
PINTURA
RUPESTRE BRASILEIRA - Serra da Capivara
Fig. 02 – No período
neolítico a criatura humana - vivendo nos trópicos ensolarados - se refugia nos
recôncavos abertos das rochas. Ali deixa índices do seu tempo, lugar e as
suas circunstâncias. Já se representa a si mesmo e em grupos. Com esta representação
sintética inicia as anotações cada vez mais abstratas e simbólicas que o lavarão à escrita e para o mundo da
numeração repetitiva e cumulativa.
Este
fenômeno é mais intenso na medida em que se aproxima e cai sob o controle e heteronímia
da indústria cultural. Esta indústria cultural vive e cultiva a obsolescência
programada com o objetivo de oferecer novos produtos. A Arte Popular para se
identificar, circular e reproduzir como um poder civilizatório e universal
necessita das ferramentas conceituais testadas, neutras e eficientes que
respeitem a sua natureza, o seu potencial e os seus limites.
OBJETOS INDÍGENAS no Brique da Redenção de Porto Alegre em 2010
Fig. 03 – A cultura dos primeiros habitantes do Brasil - intimamente conectada com a Natureza, as suas
diversidades e os seus ciclos de vidas - encontra formas materiais desta mesma
Natureza para manifestar coerentemente
a sua mentalidade por meio de obras de arte.
Assim
não é de estranhar o espanto diante do fato das profundas interações das
manifestações populares com o corpo erudito. Ambas saem ganhando neste comércio
simbólico e interações. As manifestações ditas eruditas auferem energias,
forças e inspirações no universo mais próximo do mundo empírico. Este mesmo
mundo empírico recebe a identificação e diferenciação e a possibilidade da
permanência e reprodução continuada. No plano social esta somatória entre Arte
Popular e Arte Erudita é um dos índices mais expressivos e sensíveis de um
determinado grupo face aos demais.
HEITOR dos PRAZERES (1898-1966)
Fig. 04 – Heitor dos
Prazeres procurou múltiplas formas de expressão por de diversas manifestações e as obras de arte coerentes
com a cultura e os hábitos das populações da favelas, dos morros e da periferia do Rio de Janeiro.
A pintura foi uma das formas para dar permanência e visibilidade às artes do
tempo como a música e a coreografia.
As
manifestações da Arte Popular por mais autênticas e próximas da vida sejam
estariam no caminho do esquecimento e do reino da entropia e do caos. Contra
este caos, entropia e esquecimento militam, entre tantas outras, as obras
eruditas de Mário de Andrade, Câmara Cascudo, Cecília Meireles, Luís Rodolfo Vilhena
ou de um Dante Laytano.
Transformar a contradição
entre Arte Popular e a Erudita em complementaridade possui também os seus
perigos e obstáculos. Na base de qualquer concepção erudita encontra um
paradigma alimentado pela mentalidade do autor e as suas circunstâncias
José de FRANCESCO
(1895-1967) Paço da Matriz -em1800 óleo s tela 1937 ..
76,0 x 96,0 cm
Fig. 05 – As
manifestações da arte de José de Francesco vinham das suas relações com o
cinema no qual pintava os cartazes dos filmes que ele distribuía para a s salas
de exibição em Porto Alegre e interior do Rio Grande do Sul. Para tanto
editava e imprimia revistas nas quais ele publicava as referências técnicas,
estéticas e críticas especializadas. Manteve uma íntima interação com a classe
intelectual e artística sul-rio-grandense onde buscava fontes para a sua
inspiração e obras plásticas.
A arte, a vida e as relações deste artista com a erudição lembra
a de Henri-Julien- Felix ROUSSEAU (1844-1910)- o Dounier
Dificilmente
uma ideologia ou um determinado paradigma consegue dar conta simultaneamente das
imensas diversidades da Arte folk, Naif, nativa, primitiva, ínsita e
tradicional. A indústria cultural não só joga uma torrente dos seus produtos em
série encobrindo toda obra artesanal, mas impõe aos seus próprios produtos uma
obsolescência rápida para manter ativas as suas linhas de montagem.
O caminho inverso- ou seja - o caminho deste
corpus de retorno ao intuitivo e imediato provocou mais confusões. Ignora-se o involucro
e as formas eruditas que são tidas como Naturais. A naturalização decorrente é
um triste espetáculo. Atravessadores e mediadores transformam este produto
erudito em marketing, tutela e propaganda.
Mestre VITALINO PEREIRA dos
SANTOS (1909-1963)
Fig. 06 – Uma das ‘descobertas’
de Mario de Andrade nas suas andanças pelo Nordeste brasileiro ocorreu em
Caruaru onde ele encontrou o Mestre Vitalino. Herdeiro de uma longa e larga
tradição este ceramista - em poucos e econômicos recursos estilísticos
- sintetizava e projetava todo o seu
autêntico mundo sertanejo Fazia-se portador de uma mentalidade coletiva e
coerente nos seus bonecos da transição do homem rural e o urbano. As formas
tridimensionais provenientes da crueza do barro da roça rimavam com as tintas
industriais do acabamento em cores das roupas populares
Não
dá para exigir ruptura epistêmica ou estética de todo mundo e nem é possível
isto. Contudo os equívocos são muito sem as distinções e as proporções.
As pinturas de Chauvet, de Lascaux, e de Altamira
constituem uma unanimidade de que são autênticas obras de arte. Esta atribuição
de “OBRAS de ARTE” é possível na medida em que se descobrem neles uma notável
coerência entre a mentalidade que os produziu e a Arqueologia revela outros da
vida dos seus autores. Para o artista intuitivo atual é mais difícil separar o
que é dele de fato e de direito pois os filtros culturais que se antepõem numa
leitura imediata é mais difícil.
Esta
é a razão do desenvolvimento de recursos eruditos que aguçam, captam e
comunicam o que coerente, puro e raro em cada artista naif, primitivo e popular.
Arthur
BISPO do ROSÁRIO (1909-1989) Veste para o Juízo Final
Fig. 07 – Arthur BISPO do ROSÁRIO foi interno de
uma casa de saúde mental foi acompanhado pela médica Nise da Silveira (1905-1999)
e sua equipe que perceberam um universo único de realizações estéticas e fora
dos tradicionais meios das artes visuais. Num paciente trabalho remodelava e
reconfigurava o sentido das roupas conferindo-lhes o status de suportes de um mundo mental que ali encontrava a sua
realização e sentido simbólico. A obra de Bispo de Rosário lembra, apesar das
distâncias abismais estilísticas, o urbanismo fantástico
de Erasmus Salisbury FIELD (1805-1900) a
arte bruta de Adolf WÖLFLI (1864-1930) e a arquitetura surreal de Marcel STORR (1911-1976)
Seguem-se
alguns índices teóricos que permitem separar o joio do trigo e acompanhar o
nascimento, a expansão e a decadência de uma tendência estética popular. O
objetivo destas percepções eruditas é distinguir - sob a aparência vulgar da
arte popular - a palpitação da vida do coração da História da Arte, das suas
tendências, dos seus projetos e dos seus próprios estilos.
Os passos
e os conceitos da criatividade convergem para a COERÊNCIA de ORGANIZAÇÃO. Esta
mesma COERÊNCIA de ORGANIZAÇÃO pode vista como sinônimo de ESTILO. Toda obra de
arte, como seu criador, necessita evoluir por diversas etapas para alcançar a
Unidade Ideal. Dois teóricos americanos mapearam estas etapas da CRIATIVIDADE e
estabeleceram as seguintes etapas na evolução em direção da COERÊNCIA de ORGANIZAÇÃO
(ou ESTILO). Estas etapas constam do relatório de Lowenfeld
(postumamente, 1962) e do de Guilford (1959 reeditados no A Source Book for Creative Thinking) estabeleceram os passos da
CRIATIVIDADE. Estes mesmo teóricos estabeleceram uma hierarquia onde consta: 1-
a sensibilidade a problemas; 2 – a fluência verbal, ideativa, associativa e expressiva;
3 – a flexibilidade espontânea e adaptativa; – 4 – a originalidade; 5 – a redefinição simbólica e figurativa; 6 –
a análise; 7 –a síntese; 8 – a coerência de organização[1].
[1] Ver uma
síntese em SAUNDERS,
Robert “ A Educação Criadora Nas
Artes” in AR’TE 10. ano III
no 10, São Paulo
:Max Limonad, 1984., pp.18-23. (um textos de apoio e um dos anexos da presente
disciplina).
Anestor TAVARES (1919-2000) -
Último Tango 1976- Xilo 25x18.5cm - in
Veeck e Paulo GOMES, 1998 p.24
Fig. 08 – Anestor Tavares
encontrou no universo da xilogravura um aparente suporte pobre, mas com abundantes recursos para dar forma e
sentido ao seu universo urbano com profundas e autênticas manifestações da
cultura sul-rio-grandense e sem se prender à estereótipos. Estes suportes,
aparentemente pobres e limitados,
foram as bases sobre as quais os ditos primitivos de todos os tempos instauraram tradições que ganham forças
coletivas e se projetam em manifestações
portentosas. Assim DUCCIO di BUONINSEGNA (1255-1319), GIOTTO di Bondone (c.1266-1337)
e Ambrogio LORENZETI (1290-1348) são considerados os primitivos do Renascimento
Italiano. Eles aceitaram o desafio de manifestar toda a sua criatividade por
meio do suporte pobre de tintas, de pinceis e sobre tabuas. Este desafio continua vigente
até o presente passando por obras de Leonardo da Vinci como a Mona Lisa que
materialmente não passa de tintas
distribuídos com o pincel sobre uma tábua.
Esta
coerência de organização tende para uma unidade ideal que pode ser percebida por
meio da 1– identificação e descrição
global dos aspectos mais coerente do estilo abordado; 2– em pormenores
significativos e conceitos revelados por esta tendência ou estilo; 3– no seu princípio
formal essencial ou tendência do núcleo no estilo; 4– pela revelação algo de original apenas com este estilo ou
tendência. 5– pela capacidade de articular elementos díspares e contraditórios transformando-os
em complementares e originais na comparação com outras tendências e estilos.
Fig. 09 – A relação entre
as necessidades básicas humanas, a maneira de resolver materialmente este
problema implementa numerosas formas
materiais que influenciam poderosamente as manifestações e as obras de arte de todos
os tempos. Estas relações podem ser acompanhadas tanto horizontalmente na mesma
época e tempo pela sincronia que alarga tanto a expansão em diversos lugares
com características semelhantes. Nos sucessivos acúmulo verticais ocorrem desmoronamentos retrocessos, mas a
tendência é que as sucessivas gerações humanas se distinguem umas das outras.
Clique sobre o gráfico
para ler
Na comparação
com outras tendências, estilos e traços do fato artístico através do tempo é
possível 1 – visitar os extremos geográficos do estilo artístico estudado
(Weltgeist); 2 – os momentos, obras mais significativas e difusão dos traços
colocados na linha de tempo (Zeitgeist); 3 – as projeção sociais contemporâneas
e posteriores do estilo, escola ou tendência (Volsksgeist).
Fig. 10 – As coordenadas
cartesianas (X - Y) permitem dispor os vestígios materiais das manifestações
estéticas resultantes das relações sociais e culturais (X) e a sua cumulação no
tempo (Y) representando-os sobre uma
superfície. A profundidade considera também o espaço físico (Z) da sua distribuição espacial pela planeta.
Clique sobre o gráfico
para ler
a)
Esta
projeção posterior do estilo, escola ou tendência é realizada no âmbito de sociedade
que é a geradora dos valores estéticos. Neste âmbito é possível identificar e
descrever a composição social dos que criaram e usaram o fato artístico. Um
estilo só existe na medida em que é aceito num grupo humano.
Edgar KOETZ 1913-1969
– “Churrascaria
Modelo” - xilogravura
Fig. 11 – O artista Edgar KOETZ com formação gráfica erudita e dominando os
meios técnicos escolheu os ambientes populares para construir a sua obra mais
expressivas. Deixou depoimentos gráficos e estéticos comoventes de sua passagem por um hospital
psiquiátrico popular de Porto Alegre. Este artista é um índice das
possibilidades doa trânsito possível entre o universo erudito e o popular.
Clique sobre a imagem para
ver detalhes
a)
O
grupo humano é a propulsão do estilo. Como índice é possível identificar e
descrever 1 – em que aspectos a sociedade era dinâmica, estética e equilibrada;
2 – as classes sociais destacando a) a
classe superior modeladora e dirigente e consciente dos valores; b) a classe média
copiadora e difusora dos valores; c) a classe rústica e inconsciente dos
valores culturais; e a classe primitiva integrada apenas na sobrevivência e
geradoras de valores existenciais independentes do momento cultural; 3 – as
formes, índices e tipos de projeções da sociedade sobre o estilo; 4 – a moda da
época e suas projeções sobre a tendência estética e o estilo na a) na
Arquitetura, no Urbanismo, na decoração,
mobiliário; b) na locomoção e no transporte; c) no vestuário; d) na diversão;
e) nos hábitos, na alimentares e na produção predominante.
Fig. 12 – O potencial
humano é distribuído pela genética em doses semelhantes a cada ente humano.
Porém cada indivíduo humano necessita admitir que para a veiculação, compreensão e a reprodução do
seu pensamento - no seu meio social - ele necessita das palavras. Este
pensamento praticado em palavras, constitui e materializa em repertórios
culturais sociais e simbólicas mais ou
menos complexos ou elaborados. No aspecto passivo cada ente humano é capaz de
receber, decodificar e responder na medida do seu repertório verbal.
Clique sobre o gráfico
para ler
A
origem ou gênese do estilo busca: 1
– as primeiras tentativas e a procura de índices na identidade na quantidade; 2
– as obras quantidade transforma-se em
qualidade, reconhecem-se elementos recorrentes que se acumulam mantém e se
reproduzem revelando uma tendência, uma série ininterrupta pela primeira vez o estilo; 3 – os índices e modelos anteriores
reconhecidos no novo estilo e combinados de uma forma original; 4 – a expansão
e a vida útil da nova tendência ou estilo; 5 – a entropia, a decadência e a perda de
identidade.
TEXEIRINHA - VICTOR MATEUS
TEIXEIRA (1927-1985) in CP.05.12.2011
Fig. 13 – O
artista VICTOR MATEUS TEIXEIRA
(1927-1985) o “TEXEIRINHA” partiu
da música popular para se projetar na indústria cultural do rádio e do cinema.
Coerente e fiel ao repertório popular trabalhou estes meios numa linguagem
unívoca, linear e direta. Os resultados
de sua audiência e as respostas vieram de um público com o seu pensamento e a
cultura formado no meio rural mas com o corpo tentando se adaptar ao meio
urbano e industrial.
.
A
busca de índices na identidade Legibilidade do estilo abordado no fato
artístico 1 – a sua racionalidade
formal e legibilidade estabelecidos por meio dos recursos técnicos e materiais
presentes no fato artístico; 2 – a descrição do irracional e do não legível nas
intenções do artista espontaneidade irracional do funcionamento psicológico do
artista e dos consumidores e os efeitos destes mecanismos sobre as obras [i] ; 3 – as tentativas críticas anteriores
para ler o fato artístico devido ao fato de que artista projeta a sua mensagem
em bloco devido à sua carga emocional enquanto é linear a leitura crítica
(comunicação); 4 – convenções e tradição no qual se inscreve o fato.
[i] Nesta direção é
interessante ler Wilhelm WORRINGER. Abstraccion
y naturaliza e que no original descreve a tendência nórdica para a
“Abstraktion” enquanto os tropicais vivem e reagem pelo “Einfülung”
CARLÃO
- Carlos Alberto do OLIVEIRA - 1951 – “futebol”.
Fig. 14 – O artista plástico Carlos Alberto do OLIVEIRA, nascido em
1951, inspirado na cultura afro-brasileira desenvolveu a sua criação no meio de artistas com formação erudita e de
ascendência germânica. Este diálogo entre extremos culturais permitiu a este
artista e ao seu publico reforçar, distinguir e enriquecer as manifestações de
arte deste pintor, como também da cultura regional que assim possui
um vínculo com a cultura nacional e internacional.
As
variações de conceito de Arte, de tendências e Estilo[1] afetam: 1 – o conceito da Arte quando o
fato artístico, que está sendo analisado, foi produzido; 2 – as vicissitudes
conceituais da Arte e os reflexos sobre a tendência ou fato artístico analisado;
3 – os temas, os fins adequados e coerentes com o estilo criado nesta tendência.
Vanius OLEGÁRIO TRIUNFO (1934-2001)
Fig. 15
– O artista Vanius OLEGÁRIO TRIUNFO (1934-2001) foi um
representante da cultura que se desenvolveu no âmbito da Depressão Central do
Rio Grande do Sul. A cultura açoriana é intimista, de fala baixa e de pequenos
gestos domésticos contrasta com a cultura da Campanha de grandes espaços
geográficos, de fala forte e de gestos públicos dramáticos.
Todos
são artistas populares na medida em que a obra se completa do seu observador. No processo de constituir obra de arte seu
observador ela percorre o caminho do fio da navalha.
Cabe
ao autor da obra a tarefa de transformar o tabu em totem e demonstrar outros
caminhos e percepções não so uma elementar alfabetização, mas constitui pontes,
repertórios comuns ao autor A fama pode
se constituir na pior corrupção da necessidade de o artista socializar, da
publicidade à sua produção e angariar observadores para a sua obra.
MARIA de GESU -no campo 1964 Xilo
20 x 29 cm
Fig. 16 – A artista Maria
de Gesu, de origem italiana, usa também a xilogravura como um meio de dar forma
e fazer circular as suas percepções pessoais, o seu universo mental e feminino
vivido, por meio de sua obra física e que ela faz circular no espaço de uma
civilização universal. Nesta obra mínima
- em preto e branco – a artista capta e transmite o máximo de sua cultura local.
Queimar as suas vítimas na FOGUEIRA das
VAIDADES é a luz que ilumina muito empresário, mediador e critico de arte. Porém
constituem-se na prática em atravessadores e tuteladores de artistas que não
possuem o menor remorso em descartar, no momento em que não lhe são mais úteis
aos seus interesses imediatistas e monetaristas.
Porém
o autêntico artista erudito é competente, responsável socialmente. Para tanto ele
é portador da energia para rupturas epistêmicas e estéticas e coloca em prática
na hora e no lugar oportuno. Neste sentido uma das mais comovedoras e honestas
avaliações da abertura foi feita, este ano, pelo mestre Ado Malagoli, ao
repórter Ivo Stigger:
“hoje daria zero para a minha obra,
principalmente porque levei muito tempo para descobrir a verdadeira Arte, isto
é, a Arte com direito de ser livre, alforriada de todas as escolas e
academicismos”. Zero Hora, 17 de julho de 1990, p.4 col. 4
Para
o artista popular este gesto deste pintor erudito não só abre um lugar para
continuar o seu projeto, mas também lhe conferem a autonomia de continuar as
suas experiências estéticas e eventualmente a coragem de examinar, expor e
criticar o seu caminho e a sua obra.
LÚDICA
INFANTIL SUL-RIO-GRANDENSE imagem da
Pesquisa de Glaucus SARAIVA de FONSECA (1921-1983)
Fig. 17 – A infância
constitui uma fase de experimentação do mundo mental no espaço físico. Os
índices desta fase de experimentação, de afirmação e reprodução projetam-se
vida afora e são base do sucesso ou frustrações do ser humano adulto. A criança
vivendo plenamente a gratuidade da vida e das suas manifestações possui nos
seus brinquedos os objetos de sua experimentação, de afirmação e reprodução do
seu ente original e único.
Só um
verdadeiro mestre possui a coragem suficiente para uma declaração destas e
revela um exemplar testemunho do tempo absolutamente novo que estamos vivendo.
Um mestre que compreendeu a lição de Nietzsche ao afirmar (2000: 134) que
“a arte não pode ter sua missão na cultura e
formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre passe a
humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido
mais temerário”
Este gesto
gratuito que a vida e arte lhe colocam como desafio constitui prática constante
para o amador, o primitivo, o naif. Esta prática do sobre-humano desde as mais
remotas épocas, permitiu a Moulin afirmar (1995: 127) contraditoriamente que:
“de
todas as categorias sócio profissionais, a do artista é sem dúvida a mais
definida na medida em que os critérios que podem servir são os da herança multissecular”.
Fig. 18 – As
manifestações e as obras de arte de todos os tempos são um repertório
permanente aos artistas criativos. Estas manifestações fecundam as mentes
humanas e que se materializam em novas tecnologias nas quais os cinco sentidos
humanos são envolvidos de forma singular ou no seu conjunto. Contudo o
permanece é o pensamento que teve a fortuna de encontrar o seu meio coerente
com a sua natureza, época e lugar. Assim ele também é portador do máximo de
conteúdo no mínimo de sua forma física das suá obra.
O estereótipo de gênio, de mito e de pessoa
separado das demais é um produto da era industrial que remeteu e colocou no
museu indivíduos e embalsamou obras de arte. Foram os próprios artistas que
perceberam as manobras destes mediadores, embalsamadores da fama e pretendentes
a se constituírem em titular e da criação alheia. Giulio Argan, historiador e
prefeito de Roma, registrou (1992: 40) que
“foi somente no início do nosso século que os
grandes artistas, com uma surpreendente unanimidade, começaram a protestar
contra o nome «gênio» para insistir no ofício, da competência e nas relações
entre arte e artesanato. O artista,
mesmo quando empresta sua obra à autoridade constituída, exerce uma função de
guia no interior da sua esfera social, a do trabalho.”
Esta saída de cena do gênio, da obra prima
e com preços inacessíveis abriu espaço para todos e democratizou a prática
artísticas sem tabus ou totens a serem evitados ou adorados.
Com esta democratização, as manifestações
da arte popular de uma nação, não só constituem um índice formal do Poder
Originário de uma nação, ou de um Estado, mas constituem uma amostra viva da alma
deste povo. A apreciação, o estudo e eventual descarte ou ocultamento como
objetos esquisitos, raros e separados desta realidade por uma cultura que se
julga superior e diferente é uma demonstração da mentalidade colonialista
arraigada e ao passo de transformar o OUTRO num servo ou escravo.
Os atravessadores, os mediadores e
tuteladores do povo - acostumados à socializar prejuízos e embolsar os lucros -
apropriam-se sorrateiramente dos bens simbólicos populares. A arte erudita
sempre trabalhou para eliminar
estes
parasitas sociais, culturais e econômicos. A sua arma e estratégia foi penetrar, compreender e reproduzir a
regularidade da formação do fenômeno
artístico em todas as instâncias. E assim revelar os profundos e inesgotáveis
vínculos com o potencial disponibilizado gratuita e universalmente pela vida
para toda a espécie humana.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ARGAN, Giulio Carlo
(1909-1992) . História da arte como história da cidade. São
Paulo : Martins Fontes. 1992.
CASCUDO, Luís da Câmara (1898-1986) Antologia do Folclore Brasileiro (9ª
ed.) São Paulo: Global, 2003 ISBN 8526006894
-----Dicionário do Folclore Brasileiro (11ª ed) São Paulo:
Global 2002 768 p ISBN 8526006444
FRANCESCO, José de (1895-1967). Reminiscências de um artista. Porto
Alegre: s/editora. 1961.
GOMES, Paulo, «Anestor
Tavares o poeta do trabalho e dos lazeres» In Caixa Resgatando a Memória - Porto Alegre : Caixa Econômica
Federal, 1998a pp.11/27
HAUSER, Arnold (1892-1988) História social de la literatura y del arte. Madrid; Guadarrama,
1968 3 vol
LAYTANO Dante (1908 - 2000) Folclores do Rio Grande do Sul:
levantamento dos costumes e tradições gaúchas (2ª ed.) Porto Alegre :
Escola Superior de Teologia São Lourenço de Brindes 1987 350 p. Coleção: Temas
Gaúchos ISBN 8570610718
MEIRELES, Cecília (1901-1964). Artes populares. Rio de Janeiro: Tecnoprint,
1968, 156. p.
MOULIN, Raymonde. «L’identification de la l’artsiste contemporain» in La condition sociale de l’artiste.
Paris : centre Interdisciplinaire d´Etudes et de Recherches sur l’Expression
Contemporaine. 1985, pp.121/131.
NIETZSCHE, Frederico
Guillermo (1844-1900). Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets,
2000. 179.
SARAIVA Glaucus (1921-1983). Manual do tradicionalista: orientação
geral para tradicionalistas e centros de tradições gaúchas Porto Alegre:
Sulina. 1968 222 p
-----------Mostra de folclore infanto-juvenil: catálogo em prosa e
verso Porto Alegre: Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore - c.1988 – 111, p. il
VILHENA, Luis Rodolfo.(1963-1997) Projeto e Missão: o movimento
folclórico brasileiro 1947-1964. Rio de
Janeiro : Funarte 1997. 332p.
WORRINGER, Wilhelm (1881 - 1965). Abstraccion
y naturaleza. 1.ed. 1908. México :
Fondo de Cultura Econômica,
1953. 137p.
____La esencia del estilo gótico.(1ª ed.
1911) Buenos Aires: Nueva Visión, 1957. 144p
ALTAIR de BARROS (13.08.1934-15.02.2013) pintura acrílica sobre tela
Fig. 19 - O Rio Grande do
Sul contribuiu com nomes expressivos em todas as manifestações estéticas provenientes
da diversidade das vertentes afro–brasileiras,
especialmente a popular. Como são os artistas visuais Wilson Tibério
(1923-2005) Altair de Barros (1934-2013) e continua sendo com do CARLÃO “O Carteiro” .
Os dois primeiros com projeção mundial. As obras de arte da diversidade das
vertentes afro–brasileiras estão continuando
suas manifestações, a ganhar mundo e a espera de registros eruditos adequados.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
A
caverna de Chauvet e Werner HERZOG
OLEGÁRIO TRIUNFO Vanuis 1934-2001)
NISE da SILVEIRA
JOSÉ de FRANCESCO (1895-1967)
FRANCESCO, José de. Reminiscências de um artista. Porto Alegre; s/editora. 1961
MARIA di GESU
http://www.casadagravura.com.br/?sec=56&produto=516&Artista=Maria
Di Gesu&Obra="No Campo" MdG01
Juan Félix Sánchez (1900-1997)
ARTISTA INGÊNUO
VENEZUELANO
El campesino que entró al museo
12:33 pm 22-Jul de 2012|Mireya
Tabuas
Hace 30 años, el Museo de Arte Contemporáneo expuso el trabajo
de Juan Félix Sánchez. Fue el boom artístico de un país que se soñó potencia
cultural
WILSON TIBÉRIO (1923-2005)
Este
material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de
ensino-aprendizagem
Não
há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus
eventuais usuários
Este
blog é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a sua
formação histórica. ...
e-mail ciriosimon@cpovo.net
1º blog :
2º blog
3º blog
SUMÁRIO do 1º ANO de postagens
do blog NÃO FOI no GRITO
4º
blog + site a partir de 24.01.2013
PODER
ORIGINÀRIO
Site
Vídeo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário