ARTE
está ACIMA e
ALÉM das
INTRIGAS
IDEOLÓGICAS e ESTÉTICAS.
“Não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o
homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar”
Aristóteles –Tópicos
– [Penúltimo aforismo][1].
GOEBELLS INAUGURA a
EXPOSIÇÂO “ENTARTETE KUNST” no dia
19.07.1937 em Munich
Fig. 01 – O mestre da intriga Joseph Goebbels (1897-1945)
manipulou a intriga política, cultural
estética com desastrados resultados práticos. Doutor em literatura alemão
do século XIX pela Universidade de Heidelberg soube captar o clima reacionário
e abrir o espaço ao Mein Kampf de Hitler que transformou em bíblia do regime
nazista. Aqui inaugurando a exposição das Entarte Kunst –ARTE DEGENERADA - em
Munich. Este mesma exposição circulou depois pelas principais cidades da
Alemanha. A intriga funcionou pois esta agressão provocou uma reação igual e
contrária e que marcou a arte de todo pós-guerra
A criatura humana
necessita de palavras para dar forma ao seu próprio pensamento, encadeá-lo em
discurso linear e unívoco, e assim, expressá-lo. Entre as palavras, portadoras
deste pensamento, o emissor do discurso destaca aquelas de sentido mais forte.
Estas privilegiadas na escolha ganham mais força e impacto na medida em que são
contrastadas com outras que se deseja derrotar. Esta escolha é artificial e
independente da realidade que elas descrevem. A desproporção, as intrigas e as
omissões intencionais reforçam o contraste.
Fig. 02 – Os prosélitos populares que acorriam às
exposições da “Entarte Kunst” inaugurada
em Munich e que circulou, depois, pelas principais cidades da Alemanha. Joseph Goebbels com a sua tese sobre as
aspirações românticas da classe média alemã entendia dos seus sonhos de
felicidade, os mitos da sua cultura homogeneizada pela indústria cultural.
Faltava apenas apontara ‘um culpado’ por isto não acontecia e alimentar a
intriga com as palavras e discursos do seu chefe imediato.
As intrigas, de qualquer
natureza, possuem a sua fonte nos interesses transfigurados em ideologias
acompanhadas de estéticas com características de onipotência, onisciência,
onipresença e eternas. Esse universo artificial, para ganhar mundo, joga-se
contra é um outro universo diferente e que pertence a círculo de fora. As
intrigas reforçam interesses pontuais escolhidos na realidade. Estes detalhes
são transformados em algo verdadeiro, belo e justo contra algo externo que é
desqualificado como falso, o feio e o injusto.
A fragilidade do
pensamento e a falta de segurança nas suas próprias convicções internas fazem
com que os intrigantes necessitem, externamente, de um cortejo de prosélitos
imantados pelas intrigas e um aparato de eventos e de rituais que beiram ao
ridículo.
Fig. 03 – Os violentos contrastes ente o tipo ariano
germânico e a estética daquele apontado como ‘o culpado de tudo’ algumas amostras sem sentido da e que impedia o sonho romântica do
reino dos mil anos de hegemonia, da felicidade e comprometia a imagem externa
da nação e as sus riquezas.
O exemplo clássico é a
ideologia nazista que escolheu a raça ariana como seu paradigma. O não ariano
era falso, feio e injusto. Até o presente esta ideologia possui seus efeitos
revividos de intrigas ideológicas, estéticas e tecnológicas.
O campo de marketing e
propaganda municiam a sua fonte nos interesses transfigurados em ideologias
acompanhadas de estéticas características. Esta propaganda necessita dos
contrastes entre opostos. Opostos construídos a partir de detalhes da natureza
transformados em verdadeiros, belos e justos. O consumismo e o pragmatismo
acrescenta o componente de algo desejável pois o desejável é algo verdadeiro,
belo e justo. Portanto vale o sacrifício de sua aquisição é transformação em
propriedade simbólica ou física.
Fig. 04 – O período colonial brasileiro foi
orientado e perpassado pela propaganda da fé que armou imensos cenários, aplastrantes
cerimônias nas quais os cincos sentidos humanos eram encerrados e conduzidos
para a corte celeste e com trânsito obrigatório e único pelo trono da
metrópole. Mestres da intriga
antecipavam qualquer desvio deste caminho único e fatal. Desvios que eram
prevenidos pelo “Tribunal da Consciência” e em casa de residência no desvio do
caminho único era punido, em Portugal,
com a fogueira purificadora, a forca ou garrote vil na Espanha
Porém este ‘cliente’
jamais pode descobrir a verdade inteira. Assim o regime colonial manteve o
Brasil inteiro subjugado pelo interesse da posse lusitana. Posse lusitana
reforçada pela estética da Contrarreforma (Barroco) e pela instrumentalização
do juízo e da fogueira da Inquisição.
A necessidade da
esquematização entre extremos é característica das culturas em processo de
transição como o helenismo grego, o maneirismo e a atual pós-modernidade. Nestas culturas de transição a cena é
dominada pelo ecletismo. Esta geleia geral do ecletismo constitui o refúgio de
todas as covardias, nas palavras de Mário de Andrade. A escolha, a decisão e
adoção de extremos maniqueístas são elogiados como virtude. Virtude na medida
em oferece para a comunicação humana escolhas unívocas e lineares e encontra
facilmente a quem se opor frontalmente. O cenário da intriga esta pronto a
espera dos seus atores no papel de protagonistas e antagonistas.
Pano de Boca de Teatro na Coroação de Dom Pedro I desenhado por
Jean Baptiste Debret
Fig. 05 – Os artistas, os técnicos e os teóricos da
Missão Artística Francesa eram os artistas da corte de Napoleão Bonaparte.
A Revolução Francesa despojara o Barroco do seu sentido místico ao qual
contrapôs a Razão. A deusa Razão buscou ocupar os cinco sentidos cultivados
pela Contrarreforma e os coloca ao serviço de Regime Imperial como havia
praticado com Napoleão Bonaparte
A independência, a troca
de regimes e as sucessivas rupturas das diversas revoluções permaneceram os
interesses pelas intrigas, de qualquer natureza, transfigurados em ideologias
acompanhadas de estéticas características. Há muito mais interesse nestas
intrigas e posições do que uma larga visão da realidade. Esta pode chata, cheia
de arrependimentos pelos caminhos tomados individual ou coletivamente e
certamente onde se chega ao presente no qual o colonialismo e a escravidão
estão mais presente do que nunca.
Fig. 06 – O anarquista luta pelo retorno absoluto
para a ordem da Natureza onde reina a entropia implacável e o caos. Para
instalar este caos uso a intriga entre a posse monetarista e os despossuídos da
fortuna. O anarquista despeja o seu
mal estar da civilização sobre o Estado que ele percebe como “culpado de tudo”
devido ao marketing e propaganda que valeu dele para estabelecer intrigas entre
o micro e macro poder. Porém movimentos desta Natureza não prosperam pois os
conflitos os joga este anarquista em perene contradição e que o condena ao jogo
perpétuo de intrigas internas logo após a
sua conquista de alguma posição. A anarquia é uma ferramenta externe útil num
primeiro momento, para subverter a ordem estabelecida. Porém logo ela será
descartada, mais cedo ou mais tarde, devido ao seu perpétuo retorno para o
domínio da Natureza implacável.
No lado social o
contraste entre a arte alta e a baixa. Onde abastados e no ócio desqualificam
necessitados e no perene trabalho
Ninguém propõe luta de
classes, de interesses e antagonismos insolúveis. Em seu lugar a instalação de
um hábito de integridade intelectual que sabe contemplar serenamente um passado
nem sempre tão glorioso como alguns querem. Isto leva para a avaliação do
presente com todas as potencialidades. Potencialidades coerentes com uma
legítima soberania que sabe que deverá pagar o preço de suas escolhas.
Paris 01.05.1968.
Reprodução do Le Monde - maio de 2008
Fig. 07 – Quem possui a fala possui o poder. A
mitificação da fala impõe um discurso uniforme e linear e para qual o jovem é
considerado incompetente. A intriga é sustentada por uma gerontocracia que
deseja impor a sua vez e a própria voz. Esta gerontocarcia impõe a norma "seja jovem e te cale"
A escolha pela intriga constitui o caminho do fechamento sobre si mesmo. O solipsismo estético gera a cápsula na
qual o seu próprio autor perece e é olvidado como um câncer maligno. Uma das características comuns destes intrigantes
é a sensação que passam nos seus discursos é de que a História começou quando eles nasceram. Outra é facilidade que
encontram de transformar em mito
qualquer uma das suas “descobertas”. Aproveitam imediatamente para jogar a
‘sua’ descoberta contra tudo e todos que escapam a sua magnifica e única
inteligência possível na ‘sua’
civilização e assim jogar combustível para perpetuar a intriga.
Este intriga perpetuada
constrói e abre os fornos crematórios do Holocausto, arma e justificam o
garrote vil, as fogueiras e a forças da inquisição e todos os horrores das
Guerras Santas até desembocar no Vietnã, no Iraque ou no Afeganistão.
Fig. 08 – O imenso campo simbólico fornece para a
criatura humana - e para o estudioso da arte – signos e índices provenientes de todas as latitudes e de todos
os tempos. Este criatura humana acumulou ao longo dos séculos (DIACRONIA)
amostras e signos em cada etapa (SINCRONIA) e que acumula uma sobre a outra. Este
acúmulo permite escolhas, fornece ferramentas e estimula o cultivo de
mentalidades especificas e que afastam a necessidade da oposição e o
maniqueísmo e da intriga gratuita.
Para ler o gráfico clique sobre gráfico
A intriga estética
elevada como método em arte por Wölfflin mostrando slides em dois projetores de
obras de arte com mesmo tem porém e épocas distintas. Esta contraposição foi
praticada também por Worringer ao opor duas estéticas distintas e buscando o
contrate entre os ambientes físicos distintos nos quais se desenvolveram como
contraste entre arte praticada nos tropicais e nas regiões glaciais.
Porém o filósofo
Wittgenstein, o psiquiatra Freud e Thomas Bernhard (1931-1989) perceberam na
difusa cultura que se formou em Viena e mostraram que o problema das artes não
se esgotava na contraposição maniqueísta de índices colhidos ao acaso e arbitrariamente. Evidente que o pensamento
explicito de Kant, de Schiller e Goethe a Filosofia Alemã construíram sistemas
de pensamento sem necessitarem das intrigas ideológicas com outros sistemas
alheios aos paradigmas que adotaram. De outro lado Habermas demonstrou - na sua
obra ‘Interesse e Conhecimento’ - as raízes deste pensamento que
necessita os contrastes eternos entre o bem e o mal, as luzes e as trevas e a
vontade e poder.
Em vez deste maniqueísmo
de oposição de pares é possível considerar no mínimo três eixos na leitura de
uma realidade cultural política, estética ou social construída a partir da
inteligência, da vontade e do direito humano.
Fig. 09 – Numa visão cartesiana a cultura, as ideologias
decorrentes e a própria arte, além da mentalidade social (SINCRONIA) e da
mentalidade do seu Tempo (DIACRONIA) põem ser percebidos e analisados sob a
ótica do se ambiente ecológico (LUGAR) è possível estabecer contraste ente
eventos e obra particulares. Porém a visão do todo (ENTE) como a expressão
da vida pela Arte (SER) não pode ser ignorado ou afastado deste todo. Esta
alienação da obra e da ação humana destes três vetores é a ambiente que a
intriga necessita para armar o seu jogo solerte.
Os mais renitentes onipotentes,
oniscientes, onipresentes e eternos intrigantes sabem que do limite de suas
forças, do seu conhecimento, de seu mundo e do seu tempo. Infelizmente
descobrem tarde estes limites e as dimensões equivocadas das intrigas
ideológicas e estéticas nas quais se meteram por ignorância, má vontade com o
contraditório ou mesmo com o mau caráter de que são portadores. O seu modo de
SER evidencia o seu ENTE limitado e intrigante.
GABRIELA SIMON BUMBEL - em 27.04.2013 - pintando e falando com a
mãe ao telefone
Fig. 10 – Por mais frágil e incipiente que seja
qualquer projeto humano representa uma vitória sobre o condicionamento de
heranças da espécie e constitui a promessa de um mundo construído sobre a
justiça, a beleza e vontade no qual a mesquinha intriga não possui lugar.
Gabriela, do alto dos seus 33 meses, ligada por
telefone à mãe e, com a sua mão canhota, maneja os instrumentos básicos da pintura
como a humanidade faz desde a mais remotas eras. Qualquer mitificação ou
naturalização desta cena pode estragar tudo..
Nas vertentes da origem
e das raízes das intrigas estão, de um lado, o MITO do GÊNIO e do outro a
NATUREZA. Este reducionismo é necessário para o marketing e para propaganda
reduzir o discurso é torná-lo linear e unívoco. Reducionismo que constrange a
Arte a se comportar no campo da Comunicação e no âmbito de um marketing e
propaganda primária e redutora da criatividade humana.
A liberdade de deliberar
e de decidir - proveniente de qualquer projeto humano, por mais frágil
incipiente que seja - conduz esta
criatura humana para além dos condicionamentos de qualquer maniqueísmo.
Liberdade que a conduz para muito além e acima de intrigas que criaturas
interesseiras, limitadas ou mal intencionadas em alimentar o colonialismo e a
escravidão voluntária.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
BERNHARD, Thomas
(1931-1989) – O Sobrinho de Wittgenstein – Tradução de José A.
Palma Caetano . Rio de Janeiro : Assírio&Alvin, 2.000 -ISBN: 972-37-0603-2
GOETHE, Johann Wolfgang von.Teoria de los colores.Buenos
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HABERMAS, Jürgen. A
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140p. ______. Conhecimento e Interesse. Trad. José Heck.
Rio de Janeiro : Zahar, 1982. 367p.
KANT, Emmanuel
(1742-1804). Crítica da razão prática. Rio de Janeiro: Tecnoprint, s/d. 255p.
______.
Crítica
da Razão Pura. Trad. J.
Rodrigues de Moraes. Rio de Janeiro: Tecnoprint. S/d. 271p.
SCHILLER, Friedrich
(1759-1805) Sobre a Educação Estética. São Paulo : Herder, 1963. 134 p
WITTGENSTEIN, Ludwig Joseph Johann (1889-1951). Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo : EDUSP
- 1993. 281p.
WÖLFFLIN,
Heinrich (1864-1945) Conceptos fundamentales de la história del arte [3ª ed]
Madrid: Espasa Calpe, 2007, 439 p. ISBN 978867023855
--------------Enciclopédia Universalis Madrid:
Universalis, 1990, v.23, p. 874 (verbete
Wölfflin).
WORRINGER, Wilhelm (1881 - 1965). Abstraccion y naturaleza.
1.ed. 1908. México : Fondo de Cultura Econômica, 1953. 137p.
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
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em MUSEU de NOVA YORK
ARQUITETURA
da DESTRUIÇÂO - vídeo
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(1931-1989)
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