SIGNOS
HERMÉTICOS:
da caverna aos pichadores pós modernos.
“A memória coletiva está ligada a um
grupo relativamente restrito e portador de uma tradição, aproximando-se do mito
e manifestando-se através da ritualização dessa memória”.
Oliven 1992: 20
ZUCCARO pintando com sgrafitto
o Palacio Mattei em 1595: detalhe
Fig. 01
–Taddeo Zuccaro (1529-1566) grafitando, em 1548, o Pallacio Matteo num desenho
feito em 1595 na lembrança de seu irmão mais novo Frederico Zuccaro (1541-1609). Era o tempo em
que os grafiteiros trabalhavam à luz do sol, sob a vista de todos os cidadãos,
aprovação, admiração e sob contratos pagos pelos donos dos imóveis.
A obra de arte se
completa na sua recepção pelo seu público. Porém esta recepção possui seus códigos.
Códigos herméticos para o público geral fora dos grupos internos dos produtores
e eventuais receptores iniciados. Nas artes visuais tanto os produtores como os
receptores formam grupos internos de concorrentes entre si. Estes concorrentes que se agregam tanto na criação
de obras como no consumo. Estes se agregam em constelações formando um mercado
físico ou simbólico. Mercado de peças físicas e dominado pelo sistema
pecuniário. Mercado simbólico das peças da indústria cultural como das
peças conceituais da era numérica
digital.
ZUCCARO pintando com sgrafitto o
Palacio Mattei em 1595. Conjunto.
Fig. 02
– Frederico Zuccaro (1541-1609) representando seu irmão Taddeo Zuccaro
(1529-1566) grafitando o Pallacio Matteo sob os olhares dos seus cidadãos e
recompensado pelas asas e trombetas da fama.
Os períodos clássicos - como
o grego e do Renascimento Italiano - haviam atingido uma forma de arte na qual
os seus autores tinham nome pessoal e eram aceitos e exerciam a sua arte de
forma publica. Exerciam sua arte à luz do sol e sob um contrato digno. Contrato
público e remunerado que oferecia as fachadas dos seus prédios e para identifica-los,
humaniza-los e ser uma página aberta aos não podiam comprar literatura ou não
alfabetizados. O resultado final deste projeto coletivo foi descrito por Miguel
Ângelo descreveu (in Francisco de
Holanda, 1955, p. 22)[1] como:
“nasceis na província [Itália]
que é mãe e conservadora de todas as ciências e disciplinas, entre
tantas relíquias dos vossos antigos, que em nenhuma outra parte se acham, que
já de meninos, a qualquer cousa que a vossa inclinação ou gênio se inclina,
topais ante os olhos pelas ruas muita parte daquelas, e costumados sois de
pequenos a terdes vistas aquelas cousas que os velhos nunca viram noutros
reinos”.
O artista renascentista
não assinava as suas obras. Porém o seu nome era consagrado pela cultura
italiana. Os seus nomes ganharam letra de forma na sistematização com os
registros de Giorgio VASARI (1511-1574). Assim a maioria dos tratados da
História de Arte perseguiu e se fixou em nomes e nas pessoas dos artistas.
Porém os nomes dos artistas romanos exerciam a suas atividades de forma
anônima. A cultura romana os percebia como escravos especializados e sob a heteronímia
dos seus donos. Este paradigma persistiu ao longo da Idade Média e no Brasil
até a Missão Artística Francesa.
[1] - HOLANDA,
Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga.
Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p
Fig. 03
– A autêntica técnica do “sgrafitto” que trabalha com várias camadas de cores
de cimento e que são raspadas numa técnica que também na cerâmica onde recebe o
nome de engobe. O resultado é pelo tempo em durar a parede, Os grafiteiros
trabalhavam à luz do sol, sob a vista e aprovação admiração de todos os
cidadãos e sob contratos pagos pelos donos dos imóveis.
Estes pichadores fecham-se sobre si mesmos e estão longe de qualquer
sistema democrático. De outra parte os iniciados também formam um grupo de
domina os códigos usados pelos produtores de TAG’S e PIXOS. Assim repetem-se as
sociedades herméticas que agridem, depredam e passam por cima dos que tentam
impor-lhes limites. Sociedades herméticas e clandestinas que se apropriam sem
respeitas leis, contrato ou pactos sociais.
Por estas e outras razões não é possível aceitar como ARTE PÚBLICA
apesar da escancarada visibilidade de seus “pichos” e “tag’s”. Também pela falta de contrato entre o
autor em “recebe” a obra existe um
abismo. O mais grave em termos de arte que apenas estamos diante de um
“produto” na maioria das vezes não desejado. Porém o que anula todo o trabalho
em termos de arte é que os seus autores escamoteiam os seus ENTES sob este
manto de um produto cujo original é provisório e perecível.
Fig. 04
– Uma fachada de um prédio na cidade de Praga recoberta com autêntica técnica
do “sgrafitto”. Hoje um das atrações turística da cidade, um testemunho do seu
tempo e uma ilustração da cultura deste que é aprovada admirada e preservada todos os cidadãos e que lhes rende não só
dividendos simbólicos e econômicos de turistas de todos os recantos do planeta.
Esta aura teve a sua
origem que pode ser atribuída ao artista Leon Battista ALBERTI (1404-1472) com
o mito do gênio. Ao menos ele foi um poderoso teórico que reforçou o nome do artista
na forma da sua fama construída entre os seus observadores. O artista norte
americano multimídia Andy WARHOL (1928-1987) reduziu esta fama aos 15 minutos e
o distribuiu a todos. Já os seu protegido e discípulo, o porto-riquenho Jean
Michel BASQUIAT (1960-1988), levou esta fama e sua assinatura para os muros
urbanos o que se mestre reservava para superiores portáteis e nos padrões da
indústria cultural.
Porém o artista BANSKY é
radical e prefere permanecer no anonimato, apesar de suas obras valerem milhões,
estarem espalhadas em muros públicos e com fama mundial. Prefere a divulgação
do seu apelido e as obras apropriadas pelos meios numérico digitais.
As manifestações de
artes visuais foram, em todos os tempos, apropriações do código vigente no seu
meio cultural, expressão dos sentimentos daí decorrentes e busca do seu potencial
observador.
Tavik Frantisek
SIMON 1877-1942 - idílio o pastor - Sgrafito na fachada do atelier do artista
Fig. 05
– A tradição dos grafiteiros trabalhando à luz do sol, sob a vista e aprovação
admiração de todos os cidadãos foi cultivada pelo artista da Bohemia Tavik
Frantisek SIMON (1877-1942). Ele usou a fachada do seu próprio atelier. Em vez
do tradicional esgrafito de cores raspadas ele preferiu a palheta de todo as
cores. Porém este pigmento é aplicado
numa camada enquanto a massa de cobertura estava ainda úmida o que faz com que
a cor esteja integrada na parede.
Potencialmente todos são
artistas. Todos podem apropriar-se do código vigente no seu meio cultural e
expressar os sentimentos daí decorrentes e buscar o seu potencial observador. O
problema se aguça quando há necessidade de efetivar uma escolha neste vasto
mundo de potencialidades dos caminhos que apontam em todas as direções. Toda
escolha significa a perda das demais direções.
Quem recebe as obras
destes artistas potenciais também pode interferir nesta escolha. O observador
pode bloquear a manifestação do pretendente a artista. Bloqueia quando não
recebe devido a numerosos traços perceptíveis no autor ou na sua obra.
Tavik Frantisek
SIMON 1877-1942 - Idílio o pastor - Esgrafito na fachada do atelier do próprio
artista
Fig. 06
– A tradição dos grafiteiros trabalhando à luz do sol, sob a vista e aprovação
admiração de todos os cidadãos foi cultivada pelo artista da Bohemia Tavik Frantisek
SIMON (1877-1942). Ele usou a fachada do seu próprio atelier.
Uma obra de arte se
tiver por projeto de estar ao alcance direto do seu publico e sem mediações
percorre o caminho sobre um fio da navalha. Normalmente é ela despencar deste
fio para no mundo do trabalho onde encontra a sua entropia e não reconhecimento
Porém a obra de arte sempre correu este risco.
Colocada entre o aberto ideal
e sua mensagem ser percebida por um observador desconhecido e colocado muitas
gerações após o seu criador. A obra de arte já tinha este papel muito antes dos
códigos escritos a quer nas cavernas, nas portas das cabanas ou nos monumentos
megalíticos. Em todas as civilizações antigas teve este papel.
Fig. 07
– Em Porto Alegre a tradição das
fachadas das casas bávaras pintadas, dos grafiteiros trabalhando à luz do sol,
sob a vista e aprovação admiração de todos os cidadãos foi cultivada pelo
artista do artista de Munique Ferdinand Schlatter. Aqui um detalhe da casa dos
Bávaros da SOGIPA pintada para a ocasião do centenário da Imigração Alemã.
O pacto social, cultural
e estético do Renascimento italiano foi transformado em migalhas pelos
processos concorrenciais do mais forte e agressivo do sistema capitalista.
Traços deste sistema capitalista são perceptíveis nas obras geradas nestas
circunstâncias. A sua natureza estética reflete a inquietação diante destas
circunstâncias. Por mais cruéis, agressivas ou até feias elas não fogem da
busca da sua verdade. Verdade que buscam na coerência e de adequação interna parcial
ou total em si mesma. Traços no autor da obra perceptíveis como agressão a
valores, desajuste aos hábitos ou de pura delinquência. Estas obras de arte são
vigorosos documentos da ordem moral e ético das quais as obras são portadores.
A singela busca da fama
pode se constituir na pior corrupção da necessidade de o artista socializar, da
publicidade à sua produção e angariar observadores para a sua obra. Só um
verdadeiro mestre tem coragem para uma declaração destas e revela um exemplar
testemunho do tempo absolutamente novo que estamos vivendo. Para manter viva a
indústria cultural esta teve de estabelecer e manter o projeto que Bourdieu
descreveu (1987: 104) que
“na
Inglaterra com a vinda da era industrial, a relação entre artistas o público modifica-se, o público é tratado de
uma forma diferente em relação a era do artesanato, a produção artística
torna-se uma entre as especializadas, a teoria da realidade superior da arte e
o artista independente é um «gênio superior».
Fig. 08
– As obras romanas foram realizadas por artesões na total heteronímia e que
trabalhavam para estetizar estes períodos de decadência e de luxo que Sêneca
recriminava nos seus escrtitos. Repetiam motivos e técnicas da Grécia clássicas às quais elas citavam sem atingir a
alma e mentalidade que caracterizavam estes criadores visuais em permanente
concorrências e excomunhões recíprocas e que os escritores gregos
testemunhavam.
Se arte contemporânea ainda atesta este
projeto na contramão as queimas das suas vítimas na FOGUEIRA das VAIDADES cuja
luz ilumina muito empresário, mediador e critico de arte é que os artistas
tomaram em suas mãos a força da arte. Exercem esta autonomia sabendo de todas
as perdas que poderem provir desta escola.
Se as obras romanas não testemunham as lúgubres
e horrendas fogueiras de Nero para as sua noites de orgias e crueldades. Elas
foram realizadas por artesões na total heteronímia, sem nome que história
guardou e que trabalhavam para estetizar estes períodos de decadência. Os
corações palpitantes nas mãos dos sacerdotes astecas ou as fogueiras da
inquisição iluminando as noites da Idade Média também foram cobertos por
estetizações de artista sem a autonomia para expressar o seu mundo.
O autêntico artista
contemporâneo é competente nas mais impiedosas críticas, mesmo que elas atinjam toda a vida e sua
própria obra. Assim uma das mais comovedoras e honestas avaliações da abertura
foi feita, este ano, pelo mestre Ado Malagoli, a o repórter Ivo Stigger:
“Hoje daria zero para a minha obra, principalmente porque levei muito
tempo para descobrir a verdadeira Arte, isto é, a Arte com direito de ser
livre, alforriada de todas as escolas e academicismos”. Zero Hora, 17 de julho de 1990, p.4 col. 4
Certamente trata-se de
um artista que passou, se formou e soube orientar os seus estudantes
universitários para o exercício perene do hábito do hábito intelectual e estético.
Fig. 09
–. O estágio natural seria o pictograma como a primitiva escrita já desenvolvida pelos maias no atual
México O sonho de uma sociedade cuja
subsistência física dependia da caça e cuja mentalidade estava voltado e
representava apenas os animais que podiam satisfazer esta necessidade básica
estava dando lugar para primitivos agricultores. O tabu da representação da representação
naturalista estava dando lugar para o totem da figura humana. Porém como totem
estava longe figura natural. Esta era representada mais como uma sombra ou símbolo
e uma silhueta. Assim esta figura humana pode ser interpreta como TAGS’S
ou PIXOS da pré-história humana
mais recente e desenvolvido no atual território do Brasil.
Na contemporaneidade a
pintura ganhou novamente as fachadas pela ação agressiva dos grafiteiros. Se
esta manifestação encontra argumentos que a condenem pela sua posição estética,
agressão patrimonial e pelo seu hermetismo das suas mensagens anárquica
individualista, encontra argumentos que explique esta manifestação agressiva.
Entre eles a mercantilização, mitificação de gênios e mediações, atravessadores
e tuteladores de toda ordem que se apropriaram do sistema de arte. Mediadores,
atravessadores e tuteladores que incluem “os simpáticos” e excluem os “não simpáticos”. A reação
daqueles “não simpáticos” é expressa pelos “pichos” silenciosos, noturnos e individualistas. Estes
“pichos” e “tag’s” substituem a voz e a
vez ações e atitudes dos pichadores urbanos.
Os braços cruzados dos
impotentes, tolerantes e atônitos poderes constituídos pelos mediadores,
atravessadores e tuteladores do poder público perdem cada vez mais terrenos em
toda a cultura ocidental. O seu agressivo meio urbano encontra cada vez mais as
respostas em pichações simetricamente cada vez mais agressivas. Pichações tão
vazias, anárquicas e agressivas na mesma medida das agressões, faltando-lhes
humanismo e carecem de um pacto social significativa que produz estes monstros
dos dois lados deste muro erguido pelos mediadores, atravessadores e
tuteladores.
Fig. 10
– A representação da máscara mão humana
como um "TAG" ou "PICHO" obtido com o sopro de um pó vermelho sobre a parede úmida de
uma caverna da pré-história de uma
ausente e sonho de uma sociedade cuja subsistência física dependia da caça e
cuja mentalidade estava voltado e representava apenas os animais que podiam
satisfazer esta necessidade básica. Não há vegetais, nem paisagem muito menos a
figura humana que podia ser interpretada como objeto de caça.
O artista visual reage e
coloca as suas obras fora do sistema convencional de arte e do circulo de ferro
do mercado. Realiza esta façanha voluntária e intencionalmente reconquistando a
sua autonomia do rebanho que vai para o matadouro do sistema de artes. Subsidiariamente
estes criadores fogem do alcance dos alfinetes nas suas costas e
classificando-os em estilos. Fogem dos mitos redutores de gênio largamente
disseminado pela indústria cultural e pelo sistema de artes. O teórico Argan, arquiteto e prefeito comunista de
Roma, afirmou
(1992: 40) que
“foi
somente no início do nosso século que os grandes artistas, com uma
surpreendente unanimidade, começaram a protestar contra o nome «gênio» para
insistir no ofício, da competência e nas relações entre arte e artesanato. O
artista, mesmo quando empresta sua obra à autoridade constituída, exerce uma
função de guia no interior da sua esfera social, a do trabalho”.
Assim os artistas podem
novamente serem eles mesmos com todas as perdas que isto importa, inclusive de
sua própria aura.
Fig. 11
– Uma sociedade caçadores cuja subsistência física dependia daquilo que ela
representava. Esta representação pictográfica irá gerar no estagio da
agricultura para pictogramas base das primeiras escritas cuja mentalidade estava voltado e apenas os
animais que podiam satisfazer esta necessidade básica. Não há vegetais, nem
paisagem muito menos a figura humanaque podia ser interpretada como objeto de
caça.
Quando os TAGS’S e PIXOS :
pichadores e pixadores
Porém a greve dos
observadores poder ser observada pelos
braços cruzados dos impotentes, tolerantes e atônitos poderes
constituídos pelos mediadores, atravessadores e tuteladores do poder público
perdem cada vez mais terreno em toda a cultura ocidental. O seu agressivo meio
urbano encontra cada vez mais as respostas em pichações simetricamente cada vez
mais agressivas. Pichações tão vazias, anárquicas e agressivas na mesma medida
das agressões, faltando-lhes humanismo e carecem de um pacto social
significativa que produz estes monstros dos dois lados deste muro erguido pelos
mediadores, atravessadores e tuteladores.
Fig. 12
– Os pichadores há 30.000 anos na caverna de Chauvet, no sul da França, num fotograma do filme ‘Caverna dos Sonhos
Esquecidos” de Werner Herzog e colocado
no mercado cultural como peça industrial.
O sonho de uma sociedade cuja subsistência física dependia da caça e
cuja mentalidade estava voltado e representava apenas os animais que podiam
satisfazer esta necessidade básica. Não há vegetais, nem paisagem muito menos a
figura humanaque podia ser interpretada como objeto de caça.
Cabe ao autor da obra a
tarefa de transformar o tabu em totem e demonstrar outros caminhos e
percepções. É necessários que os "tag’s" e
"pichos" constituem uma apropriação simbólica dos lugar e dos imóveis. Seria um
capítulos a parte esta guerra de apropriação de áreas que eles consideram de
prestígio e posse individual.
De um lado Moulin afirma
(1995: 127) que “de todas as categorias sócio profissionais, a do artista é sem dúvida
o mais definido na medida em que os critérios que podem servir são a
herança multissecular”
Porém toda esta herança
multissecular é anulada sem a fala, a exposição das mentalidades, os contratos
que transformam contradições em complementariedades o terreno das forças da
arte correm o risco de caírem como prêmio no terreno do mais esperto e economicamente
forte. Mesmo as leis - contra e favor - não fazem, neste caso, o artista.
Resta a esperança na alfabetização
deste criador nos nas circunstâncias para que ele as tenha presente no momento
de sua criação. Certamente para isto são necessárias instituições coerentes e
que já possuem um histórico que Durand descreveu (1989: 59) quando
“Antoine
Prost observa que a organização de escolas para a formação de artesões e
operários correspondeu a uma fase em que, com a destruição do artesanato pela
indústria capitalista, e com a correlata desorganização das categorias de
artesões através da aprendizagem nos ateliers dos mestres credenciados,
abriu-se a necessidade de nova solução institucional".
De outro lado este
projeto e a apropriação desta nova obra de arte necessita o preparo do
observador. Certamente não se trata de um público acostumado a receber tudo mediado,
editado e colocado de forma linear e de sentido unívoco sempre esteve distante
da competência de se sentir à vontade da autêntica obra de arte. Uma obra de
arte de qualquer natureza é sempre portador de um mundo e que possui parcas
conexões com outros repertório, mundos e paradigmas. Se um de lado a palavra
dirige os sentidos humanos há necessidade de alguém honesto e coerente que
tenha, de fato, acesso ao mundo do qual pretende ser intérprete e do outro
domine as técnicas do discurso. Talvez este interprete coerente e honesto seja
mais raros que os produtores de arte.
-Pichação Av.Sertório Porto Alegre foto
de Círio Simon em 18.02.2013
Fig. 13
– O arsenal iconográfico usado pelos pichadores pode inclui os TAGS’S e PIXOS : numa
estrutura geométrica e os índices visuais os mais próximo possíveis da
realidade da indústria cultural e índices numéricos digitais de uma geração 4G.
O seu autor abdica da identificação,
assinatura e de data e lugar. A sua obra é intencionalmente efêmera, feita de madrugada
a luz dos luminárias, fora do sistema de arte e sem financiamento. A sua
mochila ceramente está carregada de cartuchos de spray colorido. O seu publico
são eventuais observadores e que necessita adivinhar o código e o seu sentido
A causa desta dificuldade já era apontada por Nietzsche quando escreveu
(2000: 134) que “a arte não pode ter sua missão na
cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre passe a
humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido
mais temerário”.
De um lado o ideal
para a obra é que ela esteja aberta
ao alcance direto do seu publico e sem mediações. Porém, de outro lado, o alto pacto social, cultural e estético do Renascimento
italiano do artista com assinatura e contrato social foi transformado em
migalhas pelos processos concorrenciais do mais forte e agressivo do sistema
capitalista e pós modernidade. O que era o objetivo da obra de arte muito antes
dos códigos escritos quer nas cavernas, nas portas das cabanas ou nos monumentos
megalíticos tornou-se um mundo hermético para poucos iniciados. Se em todas as
civilizações antigas teve este papel, o artista voltou para a noite do tempo,
para o anonimato voluntário. Refugiou-se dos agressivos e humilhantes contratos, dos prêmios em cima de...comandados
pelos que acham mais espertos e fortes. Refugiou-se para a noite, para o anonimato fugindo de um
sistema e de um mercado de arte que não respeita o seu momento de criação
individual Produz para um pequeno grupo de iniciados e de um publico genérico.
Busca dispensar os mediadores, atravessadores e aqueles que desejam tutelar a
sua criação, furtar-lhe a fama e a propriedade mental e física das suas obras.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS
ARGAN,
Giulio Carlo (1909-1992) . História
da arte como história da cidade. São Paulo :
Martins Fontes. 1992.
.BOURDIEU, Pierre ( *1.8.1930 - †23.1.2002) Economia das trocas simbólicas. São Paulo: EDUSP- Perspectiva, 1987.
361p.
DURAND, José Carlos, Arte, Privilégio e Distinção: Artes plásticas, arquitetura e classe
dirigente no Brasil, 1855/1985.São Paulo : Perspectiva: EDUSP 1989. 307p.
MOULIN, Raymonde. L’artiste, l’institution et le marché. Paris: Flammarion, 1995. 437 p.
NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900). .La
génesis da la moral. Buenos Aires : Tor, s/d, 160 p. e A
gênese da moral (3a. ed). São Paulo : Moraes, 1991. 113 p.
OLIVEN, Ruben George. VA parte e o todo: a diversidade cultural no Brasil - Nação. Petrópolis:
Vozes 1992. 143p..
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
VILLA MEDICI
ACADEMIA da FRANÇA em ROMA
_ Revista
Fachadas com sgrafitto
TADDEO ZUCCARO aos 18 anos pinta o palácio
Mattei
Casa dos bávaros Sogipa
PRAGA Sgrafitto
Tavik
Frantisek SIMON 1877-1942
Leon Battista ALBERTI (1404-1472)
Giorgio VASARI (1511-1574)
Andy WARHOL (1928-1987)
Jean Michel BASQUIAT (1960-1988)
BANSKY ARTIST ANÔNIMO
FABRICE HYBER e o grafite.
http://www.evene.fr/celebre/biographie/fabrice-hyber-1067999.php?video=1233611
TAGS’S e PIXOS : pichadores e
pixadores
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material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de
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