Uma
PINACOTECA como DEVE SER
Fig. 01 – Uma
imagem do salão principal da Pinacoteca
. O porão, deste prédio, foi presidio da delegacia de polícia. Recuperado
passou a abrigar diversas e sucessivas exposições de produtores de Arte.
Este blog propôs e sempre
defendeu o PODER ORIGINÁRIO cuja primeira expressão institucional estatal
ocorre e se identifica no âmbito do município. A Arte que se produz e circula
neste âmbito confere identidade material e imaterial à esta base do Estado
Brasileiro.
Fig. 02 – O prédio
da Prefeitura marca o coração histórico de Porto Alegre. O seu andar térreo
abriga os diversos ambientes das Pinacotecas. O porão está recuperado e abriga
salas nas quais alternam exposições especialmente da nova geração e
experimental das artes visuais. O andar superior abriga o gabinete do prefeito
e ambientes de recepções oficiais.
O município de Porto
Alegre continua a consolidar e fortalecer e fazer circular a sua identidade
própria através de instituições municipais dedicadas à cultura e à Arte. Acolhe,
estuda, sistematiza e socializa, por meio destas instituições, aquilo que
considera relevante e coerente com seu tempo, o seu espaço e o seu Poder
Originário. Instituições que sabem todas as limitações de mentalidades,
práticas e recursos. Instituições que aceitam estes limites e competências sem
se dobrarem â mentalidade e se submeterem à projetos hegemônicos externos. Para
tanto não deixam passar o tempo e a ocasião, até para deixar marcas e índices
destas limitações. Não se intimidam e agem, nas suas potenciais competências, em
todas as oportunidades, para marcar os seus projetos civilizatórios coerentes
com a mais alta qualidade possível e com aqueles do seu Poder Originário.
Fig. 03 – Público
da inauguração do SALÃO de OUTONO de 1925 na Prefeitura de Porto Alegre- Fala o Desembargador André da Rocha. Este notável
jurista era dedicado a todas as manifestações superiores da Arte, sendo eleito
inclusive Presidente da Comissão Central do Instituto de Belas Artes do Rio
Grande do Sul, cargo que não pode exercer pois foi designado e assumiu
como primeiro Reitor da atual UFRGS
É esta mentalidade que
gostaríamos de evidenciar nas suas duas pinacotecas. Uma é aquela que recebeu
dos Diários Associados e que possui a mesma origem do MASP e outras que Assis
Chateaubriand espalhou Brasil afora. O seu nome PINACOTECA RUBEN BERTA homenageia
um filho ilustre de Porto Alegre. O seu acervo é conservado limitado às obras
desta doação exemplar. As novas aquisições e doações são direcionadas para a
PINACOTECA ALDO LOCATELLI. Este nome e homenagem foram sugeridos por Leandro
Silva TELLES, um pioneiro na
consciência e na defesa do patrimônio artístico e bens públicos de Porto Alegre.
Os acervos destas duas coleções passaram muito tempo hospedados e ao abrigo do
MARGS.
Fig. 04 – O historiador e professor José Joaquim Felizardo (1932-1992) forneceu o
paradigma inicial e legal como o primeiro secretário da municipal de Cultura de
Porto Alegre.
Quando a Secretaria
Municipal de Cultura de Prefeitura de Porto Alegre ganhou forma jurídica, entre
1989-1988, o seu primeiro Secretário Prof José Joaquim Felizardo (1932-1992) já
estava no caminho de constituir uma equipe de professionais para as suas Pinacotecas.
Fisicamente elas foram ganhando, no prédio histórico, salas de exposições, para
trabalhos os profissionais além de uma reserva técnica, qualificada e adequada
para a conservação do seu acervo. Pontua esta atividade, de base profissional
continuada com eventos de exposições. Eventos que socializam gratuita e
prudentemente novos e antigos talentos expondo-os para um público indistinto num
ponto privilegiado do Centro Histórico da Capital. Estes eventos pontuais são
costurados por meio de um contínuo de exposições e de publicações dos seus
acervos. No percurso da necessária institucionalização profissional visa a formação
de um público presente aos eventos além de conferir o seu acervo permanente.
Este processo ocorre tanto para socializar o que produz em Artes Visuais em
Porto Alegre de quem ainda não possui obra no acervo como para conferir o que
já está consagrado. Certamente um projeto inteligente e coerente como índice do
que se produziu e se produz em Artes Visuais em Porto Alegre. Um projeto
inteligente e coerente com os limites daquilo que falta ainda, sem cair na
neurose do novo pelo novo. Mentalidade que subestima, desqualifica e passa por
cima da criatividade com fundamento, autêntica e com sentido próprio.
Fig. 05 – Alguns
dos promotores do SALÃO de OUTONO de
1925. O médico Mário TOTTA (1874-1947) era o inspirador e proprietário da
Revista Máscara. O artista plástico tcheco Francis PELICHEK ( 1896-1937)
ilustrava esta revista e expunha no Salão. O músico e artista gráfico Sotero
COSME ( 1905,1978) fez carreira em Paris e Florença. O pintor Helios SEELINGER (1878-1965) foi um
dos agentes mais ativos para a criação e manutenção do Museu Nacional de Belas Artes
do Rio de Janeiro. Pode-se perceber neste grupo de elite e uma semente das
Sociedades dos Amigos das nossas contemporâneas instituições de Arte.
O município de Porto
Alegre pode estar atento ao fato de que um dia não ser mais a capital política
do Rio Grande do Sul. A sua vida e sua produção continuaria graças às suas
instituições municipais consolidadas com a sua identidade própria e
profissionalismo dos seus servidores. A cidade de Rio Grande, Salvador na Bahia
ou Rio de Janeiro souberam colocar isto em prática e continuam ativas até o
presente. Depois de capitais continuaram a sua vida cultural, artística,
comercial e tecnológica graças ás suas instituições e a sua gente especializada
do seu Poder Originário.
Fig. 06 – Obras
expostas no SALÃO de OUTONO de 1925. A
foto permite perceber as mudanças de
conceitos museológicos quando se trata de obras de Artes Visuais. As obras de
Arte são ciumentas e necessitam de uma exposição adequada para poderem
interagir com quem as recebe como expectador.
Neste Poder Originário
há necessidade de permanente interlocução com todas as manifestações culturais
e artísticas do Poder Originário. Tarefa da Secretaria de Cultura desenhada Por
José Joaquim Felizardo e que merecidamente hoje é nome de instituição e prêmio
em Porto Alegre. As PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI são construções
artificiais, como toda civilização e constituem buscas intencionais para a sua
reprodução por tempo indeterminado. Eventos, iniciativas individuais ou de
grupos, por mais espetaculares, surpreendentes e amplos que eles sejam, não garantem o continuo de uma civilização
no tempo e no espaço. O Mestre Flávio Krawczyk, diretor do Acervo Artístico
das Pinacotecas Municipais, conhece muito bem os resultados dos eventos dos
Salões de Arte de Porto Alegre e que ele estudou e socializa no texto de sua
dissertação. Muitos Salões de Artes Visuais de Porto Alegre, frutos de um
voluntarismo pontual, permanecem apenas na sua 1ª edição. Apesar das melhores
intenções estes eventos, resultantes iniciativas individuais ou de grupos, não
conseguem cumprir o que prometem. Carentes
de uma firme e sólida instituição, destinada a este projeto civilizatório
compensador, são desviadas imediatamente do seu projeto original. Contra estas
rupturas - do contínuo no seu tempo ou do projeto original - nada melhor do que
instituições como as atuais PINACOTECAS
RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Fig. 07 – O
cartaz do Salão de Outono de 1925, elaborado a partir da fotografia de obra de
modelagem de Fernando Corona (1895-1979)
A Arte que
“está no que produz, e não
no que é produzido”. Aristóteles[1](1973: 243 114a 10 ) necessita
das instituições para revelar, prolongar estes instantes de fulgor e explosões
individuais, socializando-os no tempo e
no espaço. Com este contínuo institucional tornam-se altamente significativas
para os observadores e a civilização na qual o artista se inscreve e cria sua
obra. Este alto significado resido no fato de a obra de Arte possui a qualidade
intrínseca de carregar o máximo do mundo imaterial - no qual se origina - no
mínimo de seu corpo físico perceptível pelo seu observador.
Uma obra de Arte, no
mínimo de seu corpo físico perceptível pelo seu observador, depois de brotar
inteligência, coração e vontade do seu criador, passa a circular no mundo destas
conexões. Uma instituição como esta Pinacoteca é centro de uma rede destas
conexões de diversas ordens e situadas na área mais elevadas de uma civilização.
Esta obra física circula no âmbito familiar. Com alguma fortuna passa a ser
valor comercial no mercado de arte. Um
dos papeis de uma Pinacoteca é constituir um porto seguro para esta obra e do seu
prestígio. Esta obra de Arte esta apta para receber os seus observadores. Numa
instituição qualificada el escapa à entropia que tudo reduz ao trabalho e ao seu
consumo, além de receber a segurança física, conceitual e institucional. As PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI
da Prefeitura Municipal de Porto Alegre são lugares de prestigio na medida em que
recebem, constroem e se mantém como referencial para as obras das quais são
depositárias fieis. Esta rede de conexões de prestígios, a sua construção,
segurança e manutenção são objeto de estudo do livro
Aurora LEON “El
Museu: teoria, práxis y utopia” (1995).
[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
Fig. 08 – Uma obra do
patrono da Pinacoteca e que foi incorporada recentemente ao acervo da
Prefeitura de Porto Alegre. Aldo Locatelli (1915-1962) representou a
profissionalização do muralismo sul-rio-grandense. Na sua tese escreveu com
testamento: “o Brasil, o nosso mesmo Rio Grande do Sul tão pródigo em
vocações artísticas, vivem internacionalmente no mesmo valor de Paris, Roma,
Tóquio, Nova York e de Moscou. Estamos errados se pensamos que os centros de
maior tradição e movimento artístico devem ser os nossos guias, absorvendo-nos
com teorias resultantes de ambientes bem diferentes e preocupados de não
repetir-se nos exemplos de uma grande tradição. Ao contrário, nós vivemos no
princípio da nossa formação de civilização e devemos tentar expressá-la nos
nossos próprios valores” (Locatelli, 1962).
Com a crescente urbanização é necessário
evitar o erro da política improvisada e desesperada do “Pão e Circo” como aconteceu com inflada capital do Império Romano
cuja população máxima correspondeu àquela que abriga, em 2012, na cidade de
Porto Alegre. Um projeto de instituições, de profissionais, de fontes de
manutenção adequada de uma política coerente e eficiente para os seus objetivos
leva o tempo de sucessivas administrações e de gerações de profissionais.
Jamais faltarão energias,
inteligência e vontade humana, caso houver um projeto coerente e consistente a
ser seguido numa longa duração. A poderosa e orgulhosa capital do Império
Romano estava reduzida a uma modesta cidade de 20.000 habitantes logo após a
sua queda. As suas instituições estavam mortas, consumidas pelos eventos do “Pão e do Circo” e pela ganância daqueles
que lhe arrancaram os últimos vestígios de sua glória e fama.
Fig. 09 – Uma das obras provenientes da doação dos Diários
Associados que constituiu a Pinacoteca Rubem Berta e cujo primeiro diretor, em
Porto Alegre, foi o Professor Ângelo GUIDO GNOCHI (1893 -1969) . O pintor HANG DAÍ-CHIEN (1899-1983) é considerado o
Picasso Chinês. Ele passou um período no Brasil.
A falta de energia, de
inteligência e de vontade proveniente de um projeto coerente e consistente de
longa duração, só produz mentalidade e os olhares submissos à cultura de países
alheios. Nada mais contrário ao bicentenário da soberania brasileira do que a
mentalidade e os olhares submissos às culturas alheias. Culturas que se julgam
também hegemônicas no gosto e ditam as normas estéticas aos seus vassalos. Nada
mais contrário ao bicentenário da soberania do que eventos e gritos pontuais e
sem ecos internos, coerentes e sustentados pelo Poder Originário e externo no
âmbito do concerto das Nações Soberanas.
Fig. 10 – A
artista plástica Marilice Corona é a
ponta de uma tradição familiar de notáveis contribuições para as Artes de Porto
Alegre. Com toda a certeza “a Arte é
longa e a vida breve” e que necessita de várias gerações para atualizar
momentos criativos, para revelar e manter esta continuidade da expressão
artística. Esta atualização supõe, também contraposições e complementariedades daquilo que os seus
antepassados produziram.
Ao se preparar para o
dia 07 de setembro de 2022, o Brasil pode contar com um potencial imenso no seu
PODER ORIGINÁRIO para gerar uma identidade própria. Data e circunstâncias não só
como pretexto para ser mostrado e vendido como evento de “Pão e Circo” pela
indústria cultural e turística, mas para um profundo, um durante e um
consequente impulso e desvelamento da identidade do seu Poder Originário.
Identidade que possui a origem e brota da seiva das comunidades das quais o município
é o fundamento e o primeiro degrau da organização, manutenção e reprodução do
seu Estado Nacional.
Esta identidade não se
constrói no grito, nas improvisações, nas ações decorrentes da heteronímia de
quem conduz e produz o marketing e propaganda.
Marketing hábil para transformar qualquer data em “homenagem em cima de...qualquer
data” . O PODER ORIGINÁRIO merece muito mais no dia 07 de setembro de
2022 do que uma “homenagem em cima da independência brasileira”. O PODER ORIGINÁRIO
merece que a primeira expressão institucional estatal ocorra e se identifique
no âmbito do município. A Arte confere identidade
material e imaterial que circula continuadamente em instituições como as
PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI. Instituições criadas e mantidas pela
Prefeitura Municipal de Porto Alegre e que são conduzidas como devem ser e
aptas para reproduzirem o seu saber, a sua verdade e a beleza que elas são
fieis depositárias.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS.
ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
KRAWCZYK, Flávio. O
espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em Porto Alegre. Porto Alegre : Programa
de Pós Graduação em Artes Visuais, 1997. 526 fls.. (dissertação)
LEON, Aurora. El Museu: teoria, práxis y utopia.
Madrid : Cátedra, 1995. 378 p.
LOCATELLI Aldo Danielle (1915-1962). “MURAL”
ANÁLISE – CONSIDERAÇÕES, MÉTODO E
PENSAMENTOS - Correio
do Povo. Caderno de Sábado. Volume X, ano V, no 232, Porto Alegre : Companhia Caldas Junior em 22.
07.1972. (Tese de concurso para o provimento
efetivo da cadeira de composição decorativa dos cursos de pintura e escultura
do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, 1962)
PETTINI
Ana Luz e KRAWCZYK, Flávio Pinacotecas ALDO LOCATELLI e
RUBEN BERTA:
acervo artístico da Prefeitura
de Porto Alegre - Porto Alegre : Pallotti, 2008, 216 p.il color
TELLES, Leandro Silva
«Pinacoteca Municipal» in Correio do
Povo, 22.12. 1974. p.16.
---------------- Manual
do patrimônio histórico. Porto Alegre :
EST/UCS. 1977, 123 p.
Salão
de Outono de 1925 Porto
Alegre, Revista MÁSCARA. Ano 7, Nº 7, jun. 1925
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
ARTES VISUAIS no
RIO GRANDE do SUL e em PORTO ALEGRE
FÓRUM MUNDIAL de
2013 em PORTO ALEGRE
HANG DAÍ-CHIEN (1899-1983)
José
Joaquim Felizardo (1932-1992)
PINACOTECAS da PREFEITURA de
PORTO ALEGRE - RS
Pinacoteca Ruben Berta
Pinacoteca Aldo Locatelli
PODER ORIGINÀRIO
SALÃO de OUTONO
de PORTO ALEGRE 1925
http://profciriosimon.blogspot.com.br/2010/07/arte-em-porto-alegre-0701.html
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