30
de novembro de 2012
CINQUENTENÁRIO
do INSTITUTO de ARTES na
UNIVERSIDADE FEDERAL do RIO GRANDE do SUL
“O ensino superior no Brasil obedeça de
preferência ao sistema
universitário”.
DECRETO Nº 19.851 de 11 de ABRIL de 1931
Fig. 01 – Este
mural - da autoria de Ado Locatelli
(1915-1962) professor contratado pelo Instituto
de Belas Artes-RS - foi pintado em 1958. Constitui uma referência
permanente à UFRGS e preside as sessões do Conselho Universitário ao qual o
Instituto passou a fazer parte no dia 30 de novembro de 1962.
As interações das ARTES e a UNIVERSIDADE, após
meio século de efetivo convívio institucional, merecem, no mínimo, um registro.
Pretende-se, por meio deste registro, encaminhar algumas concepções na busca do
sentido desta interação e de algumas avaliações preliminares a outros estudos
mais qualificados do que este mero esboço. Com toda certeza ainda não foram
consolidados os efetivos recursos humanos, científicos, tecnológicos e
orçamentários para este estudo, inclusive para delinear a questão. O sentido e
os problemas significativos, que uma data redonda suscita, como as interações
entre as ARTES com a UNIVERSIDADE, joga a todos na busca de pontos basilares de
avaliação daquilo que ocorreu de fato, e de profundo, ao longo destas cinco décadas.
Esta busca é aguçada e mantida pela permanente tensão provocada pela sístole e
diástole entre os poderes da Universidade e aqueles das Artes.
Fig. 02 – O mesmo
Ado Locatelli produziu este mural para o Instituto
de Belas Artes-RS em 1958 como uma
visualização do Cinquentenário desta instituição e antes do seu ingresso na URGS.
Contudo a mera agitação
do problema e muito menos eventos, pequenos, ou magnos, não tornarão visíveis
soluções para encaminhar esta questão.
Para cumprir cientificamente e de forma neutral a busca de possíveis vislumbres
de sentidos, destas interações, são necessário rever, de forma documentada
tanto os projetos, como a sua execução e o seu legado conceitual e material.
Sentidos que são possíveis de vislumbrar por meio do trabalho continuado de
equipes de teóricos experimentados na área. Equipes secundadas por
profissionais, como arquivistas e técnicos administrativos com um projeto comum
e coerentemente apoiados com espaço físico apropriado, equipamentos que contam
com verbas orçamentárias específicas e continuadas.
Fig. 03 – Este
altar cívico foi montado, no dia 01 de julho de 1943, como parte da inauguração
do prédio construído com inauditos sacrifícios e limitações de toda ordem. A
obra foi terminada antes de dois anos, iniciada
que fora em 14 de novembro de 1941. Tempo de guerra mundial, de carestia de
materiais e rígido controle político e
ideológico do Estado Novo. Este mesmo
político explica esta estranha devoção para a cultura atual. Contudo
materializava a infinita esperança no ente estatal central e local dos agentes
que materializaram esta obra.
O fato é que no dia 30
de novembro de 1962 foi editada a Lei Federal de nº 4.159 que incorporava o
Instituto de Belas Artes à Universidade do Rio Grande do Sul e autorizava um
crédito específico e especial para este ato do Estado brasileiro. Ao mesmo
tempo era recebido e empossado um dos docentes do IBA-RS como membro efetivo do
Conselho Universitário da Universidade do Rio Grande do Sul. Este cargo foi
assumido pelo prof. Ângelo Guido (1893-1969), um dos ex-diretores do Instituto
de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Contudo estes fatos, por mais auspiciosos
que fossem não podiam ser despidos do patrimônio material e imaterial das duas
instituições. Eles tinham, na época, a maturidade de um mínimo meio século de
histórias de acertos e desacertos.
Fig. 04 – O campo
das Artes visuais foi o campo de forças que mais intensamente responderam e se
povoou de massa critica e de estudantes no período de 1939 a 1962. Enquanto
isto campo da Música respondeu imediata e solidariamente. Em 1912, Olinto de
Oliveira, o fundador e presidente do Instituto, registrava no seu relatório 321 matriculados
tanto no Conservatório como na Escola de Artes. Porém esta contava apenas com
uma dezena de estudantes e dois professores. Tasso Corrêa, mesmo como professor
de Piano, enxergou nas Artes Visuais a grande oportunidade. O muralista Aldo Locatelli também percebeu
isto, conferindo um destaque central às Artes Visuais neste detalhe do mural de
1958.
O Instituto Livre de
Belas do Rio Grande do Sul tinha vindo ao mundo real no dia 22 de abril de 1908.
Para esta concretização, longamente aguardada, concorreram muitos integrantes
dos Cursos Superiores do Rio Grande do Sul da época haviam Eles haviam entendido
o sentido da criação efetiva de uma instituição no qual “as Ciências teriam o seu complemento nas Artes”. A administração do
Estado do Rio Grande do Sul dava o seu aval e patrocínio. Os nomes mais
expressivos dos poderes Executivo, Legislativo e do Judiciário foram
estimulados ao longo do governo (1908-1913) do Dr. Carlos Barbosa (1851-1933). Estes
nomes eram, secundados por representantes de variadas profissões das mais
expressivas da sociedade, da economia e da cultura da época. Assim 25 nomes,
reunidos na Comissão Central[1]
do IBA-RS formavam e administravam pessoalmente a mantenedora. Nos demais
locais do Estado esta Comissão Central constituiu 65 Comissões Regionais[2].
Com a intervenção crescente do Estado Nacional, a partir de 1930, estas funções,
da mantenedora e direção, foram remetidas aos cuidados dos entes públicos
municipais, depois estaduais em, no final, federais. Assim sob a égide dos
poderes formou-se em 1934 a Universidade de Porto Alegre (UPA) pelo DECRETO Nº 5.758, de 20 de NOVEMBRO
de 1934[3].
O Instituo de Belas Artes foi uma das seis unidades integradas na fundação
desta Universidade municipal (SILVA e SOARES, 1992). Ela espelhava-se no
DECRETO Nº 19.851 de 11 de ABRIL de 1931[4].
Este Decreto dispunha que “o ensino
superior no Brasil obedeça de preferência ao sistema universitário”. (SOUZA
CAMPOS, 1940 e SOUZA NEVES, 1951 e 1969).
[1] Instituto de Bellas Artes do Rio Grande do Sul - Porto Alegre : A Federação dia 10 de abril
de 190
[3] - Reproduzida
na “A Federação” Porto Alegre 05
de dezembro de 1934 por ter havido
incorreção.
Fonte do
presente texto: Revista da Associação
dos Docentes da UFRGS nº 5 julho de 1992. .
[4]
- SOUZA NEVES, Carlos. Ensino Superior no Brasil: legislação e jurisprudência federais.
Rio de Janeiro: MEC-INEP 1951 vol 4 pp.
165-192
Fig. 05 – Este
diploma, conferido pela Universidade de
Porto Alegre, em maio de 1938, mostra um momento pontual e é um índice da
tentativa de aproximação do campo das Artes da Universidade. Contudo esta
tentativa fracassou. Foi necessário recuar e qualificar para que estas duas
instituições não se tornassem meros carimbadores de diplomas. Era necessário
conferir aos documentos todo o peso, conteúdo e significado coerente com oque
se espera de uma universidade autêntica na tradição daquelas que Rossato
pesquisou ao nível mundial e
descreveu, em 1992.
Com as exigências desta
lei ficou claro, tanto para a Universidade como para os agentes do IBA-RS, que a
área de Artes necessitava preliminarmente de pesados e continuados investimentos.
Investimentos significativos e contínuos tanto na sua própria massa crítica, no
apoio técnico-administrativo, como nas questões materiais e técnicas do seu
efetivo funcionamento.
Fig. 06 – Esta foto registra um momento crucial do
Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul publicada no Diário de Noticias
de Porto Alegre no dia 08 de janeiro de 1939. Ela foi gravada no dia 06 de
janeiro de 1939 quando no dia anterior o IBAR-S havia sido excluído da UPA. São
os membros da Congregação do IBA-RS reunidos. Eles haviam tomado sobre os seus
ombros a mantenedora que antes de responsabilidade da Comissão Central. Esta se
retirara ordeira, entregando formalmente a mantenedora, após a UPA recusar este
encargo. Esta Congregação era comandada
pelo diretor, Tasso Corrêa, sentado no
centro da imagem.
A prova da exclusão do
IBA-RS da UPA, em 05 de janeiro de 1939, foi visto, pelos docentes na
administração do Instituto, como desafio de vida ou morte da instituição e do
seu projeto. Desafio assumido ao ponto de alguns deles, empenharem e
hipotecarem as suas próprias residências particulares. Em tempos da II Guerra Mundial
(1939-1945) angariaram fundos locais, regionais e de todo território brasileiro.
Para divulgar o seu projeto promoveram sucessivos Salões Nacionais e realizaram
leilões de arte para angariar fundos para a construção da sede do IBA-RS e que
ele ocupa ainda 2012.
As duas décadas - entre
o dia 05 de janeiro de 1939 até 30 de novembro de 1962 - também foram aproveitadas
intensamente para afirmar e credenciar cursos superiores que se orientavam
pelos decretos federais de 04 de abril de 1931. Inovou inclusive do Brasil ao
oferecer e fazer funcionar o primeiro Curso Superior de Urbanismo (TREVISAN
1994). Oscar Niemeyer, formada pela ENBA, foi paraninfo deste Curso, numa das
suas raras vindas pessoais ao Rio Grande do Sul.
Fig. 07 – Os
audaciosos e consistentes lances políticos, econômicos e institucionais do
IBA-RS, no campo das Artes Visuais, tiveram um momento alto quando os primeiros
formandos (de branco) de um Curso Superior de Urbanismo se diplomaram no palco
do Instituto de Artes, na noite de 13 de abril de 1949[1]. Ao centro o paraninfo Oscar Niemeyer que, em vez
de discurso, projetou uma série de slides sobre a Arquitetura e Arte Brasileira
mostrando e destacando a origem de sua Arte que aprendera e exercitara na
Escola Nacional de Belas Artes.
De outro lado o IBA-RS
criou canais diretos com o MEC e as demais Instituições superiores do Brasil e
do exterior. Isto permitiu que os seus formandos pudessem estar qualificados
para criar outros cursos superiores de Artes pelo Rio Grande do Sul afora e
pelos demais Estados brasileiros. O IBA-RS cumpria assim o projeto pelo qual 65
comunidades do Rio Grande do Sul haviam arrecadado fundos para a sua criação,
manutenção e posterior reprodução institucional.
A efetiva integração do IBA-RS na UFRGS
ocorreu no âmbito da data e do processo da federalização das duas instituições.
Assim o IBA-RS ingressou na URGS, via
Brasília, a recém-criada capital federal brasileira.
Neste plano merece
destaque o papel de um Estado Nacional na criação, manutenção e projeção do campo
das forças da Arte. O Brasil somava-se aos
demais Estados Nacionais que estimulava e se valiam o campo das forças da Arte,
para adquirirem identidade, força e reproduziam a efetiva ação como atores
maiores e respeitados como tais. As Artes viabilizam estes projetos na medida
davam corpo sensível e força aos projetos civilizatórios compensadores
nacionais (MARQUES - 1997). Deste a antiguidade do Egito, da Grécia, da Itália -
romana como, depois, as Republicas do Renascimento (PEVSNER - 2005) - e depois
França (MONNIER – 1995 e MEROT- 1996 ) investiram pesado e por longos períodos no
campo das forças da Arte. No Brasil os regimes políticos - tanto imperial como
o republicano - seguiram estes exemplos positivos, e civilizatórios, das demais
nações mais desenvolvidas. O Brasil Império instaurou a Arte, ao investir
pesado e continuadamente na vinda da Missão Artística Francesa, cuja estética
triunfou em diferenciar do longo projeto subalterno do regime colonial. No
regime republicano os arquitetos e os urbanistas, como Lúcio Costa, Atílio
Corrêa e Oscar Niemeyer, são resultados dos esforços do governo federal. Este
entendeu, favoreceu e manteve a antiga Escola Nacional de Belas Arte, hoje Escola
de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estas formações
superiores se deram quando a Arquitetura era competência ativa na criação neste
projeto civilizatório federal, projetado, mantido e reproduzido sob as
competências das forças do campo da Arte. No Rio Grande do Sul, se for
realizado um acurado estudo e avaliação dos nomes que foram os agentes da Arte,
muitos deles podem ser associados, direta ou indiretamente, ao Instituto de
Artes da UFRGS. Isto sem estudar e discriminar o público qualificado dos
observadores e investidores que receberam formação escolar no IBA-RS.
[1] - Livro de Atas de formatura do Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes
[1] - Livro de Atas de formatura do Curso de Arquitetura do Instituto de Belas Artes
Fig. 08 – Para
sustentar o seu projeto, os docentes, estudantes e amigos constituíram em
“Legionários da Campanha Pró Novo Edifício do IBA-RS”. Quem se matriculava
neste projeto recebia um carnê que saldava mensalmente. Inclusive o próprio
Tasso Corrêa percorria pessoalmente a Rua da Praia para distribuir, inscrever
no “livro de ouro” e cobrar estes carnês. Uma curiosidade é que, ao longo desta
Campanha, mudou, em 1942, a moeda dos Mil Reis (R$) para o Cruzeiro (Cr$) o que
é possível conferir no carimbo.
A Universidade para todo
o Brasil constitui uma recente realização. Este ente que é uma das poucas
contribuições originais da cultura ocidental, segundo Weber (1989), teve
algumas experiências temporãs no Brasil que Luiz Antônio Cunha estudou em 1980.
Mas um projeto e efetiva concretização de uma universidade - para todo o
território Nacional - teve de esperar a Revolução de 1930. Este projeto e esta
legislação - fiéis aos princípios republicanos - mantiveram a concretização da universidade
no Brasil aberta tanto para a iniciativa privada como a pública. O tempo e a
prática demonstraram que a instituição da Universidade, de iniciativa privada,
pouco podia realizar na pesquisa, extensão e o ensino autônomo das Artes. Mesmo
na Universidade pública a pesquisa, extensão e o ensino viram o campo autônomo
das Artes sendo geminado, subsumido e tornado eclético com outros campos próximos
das Ciências Humanas. Esta proximidade produziu formas de heteronímia muito danosas,
profundas e irreversíveis para a autonomia do campo de forças da Arte. Muito mais
danosas do que aquelas interferências de campos distantes universitários e
facilmente identificáveis. Esta distância era visível a olho nu para todos,
combatíveis de imediato e frontalmente. Uma destas interferências – de campos
universitários distantes - foi denunciada em 24 de outubro de 1933. O docente do
IBA-RS Tasso Bolívar Dias Corrêa (1901-1977) evidenciou o paradoxo ao público
do Theatro São Pedro, de “uma Faculdade
de Medicina, dirigida por uma comissão de músicos, pintores e escultores... a
sua situação deveria ser idêntica á do Instituto de Belas Artes” (in Diário
de Notícias POA 26.10.1933). A comparação valeu, no mesmo dia, ao seu autor a expulsão
formal do IBA-RS. Contudo a solidariedade dos estudantes e professores de Artes
reverteram esta punição. Passado o
evento, a punição o autor da frase manteve e reforçou as mesmas expressões de
autonomia das forças da Arte. Tasso Corrêa tornou-se um dos mais profícuos realizadores
institucionais ao elevar as forças do campo das Artes ao nível universitário.
Fig. 09 – O longo
e profícuo período de 20 anos da administração continuada do Instituto de Belas Artes foi comemorado
quando ela completou o 20o aniversário sob o comando de Tasso Corrêa
ao centro da mesa e ao lado da esposa. Um banquete, com 200 talheres foi
servido, na noite de 19 de junho de 1956 [1] na sala ocupada, em 2012, pela Pinacoteca do IA-UFRGS. A presença do
Irmão José Otão(1910-1978) era devido ao fato de ele ter lecionado
Matemática nos cursos superiores do IBA-RS além do seu cargo de Reitor da PUCRS(1954-1978), .
Porém o perigo não estava
afastado definitivamente. O Instituto, de volta para a Universidade em 1962,
viu-se na eminência de dividir as competências de sua autonomia com outros
saberes devido à Reforma da Universidade, iniciada em 1968. Porém manteve o
princípio da autonomia. Em 2012, o Instituto de Artes com os seus três
Departamentos constitui uma das instituições de uma Universidade que apresenta
uma coerência interna e expressa em três departamentos distintos e produtivos.
Os dois centenários Cursos Superiores do IBA-RS, apenas formalmente rebatizados
como departamentos, receberam o reforço de um Departamento da Filosofia quando
as Artes Dramáticas. Enquanto isto a
Filosofia, primitivo núcleo universitário foi fragmentado por efeito da
intervenção estatal, do regime instaurado no Brasil em 1964. O Instituto de Artes
recebeu o curso, criado pela Filosofia, para
tornar sensíveis e acessíveis, ao público geral, as suas buscas teóricas.
[1] - Em Diário de Notícias. Porto Alegre: dias 15.06.1956, 17.06,1956 e 22.06.1956 -- A Hora. Porto Alegre, dias 12.0.1956, 13.06.1956 e 15.06.1956 - Correio do Povo. Porto Alegre, 23.06.1956, p.4 O Jornal. Rio de Janeiro, Sábado, 23.06.1956 (Recortes dos periódicos sem no e página da pasta de Tasso Corrêa {148bCURR
[1] - Em Diário de Notícias. Porto Alegre: dias 15.06.1956, 17.06,1956 e 22.06.1956 -- A Hora. Porto Alegre, dias 12.0.1956, 13.06.1956 e 15.06.1956 - Correio do Povo. Porto Alegre, 23.06.1956, p.4 O Jornal. Rio de Janeiro, Sábado, 23.06.1956 (Recortes dos periódicos sem no e página da pasta de Tasso Corrêa {148bCURR
Fig. 10 – O
projeto da Universidade das Artes
foi apresentado, em 1947, para a imprensa local e do centro do Brasil. Para dar corpo físico a este projeto foi
elaborado um projeto que ocupava todo o lado acima da antiga igreja Evangélica da
rua Senhor dos Passos. Compunha-se de um bloco central destinado ás salas de
aula e administração e serviços. Na parte superior foi previsto um prédio para
o Museu de Arte. Na parte próxima ao templo estava previsto o Teatro Municipal
para 2.700 pessoas. Concretizou- se o bloco central construído em dois blocos
em 1941 e 1952 e em funcionamento ainda em 2012.
O IBA-RS sustentou o
projeto da UNIVERSIDADE das ARTES entre
os anos de 1947 até 1958, secundado pela concepção de um MINISTÉRIO das ARTES, em vez do eclético Ministério da Cultura
Evidente que, nem o Estado Brasileiro, muito menos a sua Universidade Estatal
estavam preparados para este passo. Mas o projeto motivou o movimento iniciado
da construção do prédio do Instituto e a colocação em funcionamento dos seus
sucessivos cursos técnicos e superiores. Com o ingresso do IBA-RS na URGS, em
30 de novembro de 1962, estas concepções e projetos não saíram do papel e das candentes
e reiteradas expressões da autonomia das forças da Arte.
Fig. 11 – O humor
e a amizade gerada pelo trabalho em comum e os desafios renovados, gerou uma
intimidade no grupo interno dos docentes do Curso de Artes Plásticas do IBA-RS
e que foi registrado por João Fahrion agitando
o boneco e com cachorrinho farejando as suas pernas.
Apesar disto, o período
do IBA-RS fora da Universidade de Porto Alegre, não pode ser ignorado ou subestimado.
A equipe dirigida por Tasso Corrêa institucionalizou e consolidou o campo de
Artes em Porto Alegre conectando-o diretamente ao Estado Nacional. Esta conexão
materializou-se tanto pela cuidadosa e rigorosa adoção da legislação brasileira
em relação ao campo erudito e superior do ensino-aprendizagem como pela
constante e direta relação com o MEC. Na época o fundador do IBA-RS, o Dr.
Olympio Olinto de Oliveira (1866-1956), integrava a equipe do então MESP na qualidade
de Diretor de setor Infanto-Materno. Graças a estas interações os contatos com
as demais instituições superiores de Artes com os seus agentes, propiciou ânimo necessário ao sustento moral e material
para a construção do prédio da rua Senhor dos Passos em Porto Alegre. Aliou-se
ao Estado no projeto da construção do Centro Administrativo Monumental[1]
do Rio Grande do Sul. Para tal já havia recebido no dia 30 de setembro de 1930,
um terreno que ia da rua Riachuelo nº 1.285, até a rua Jerônimo Coelho. Com a
interação com os empresários recebeu a doação de um terreno no centra da cidade
de Farroupilha onde projetou a Colônia de Férias Francis Pelichek (1896-1937). [1] - http://www.docomomo.org.br/seminario%208%20pdfs/012.pdf
Fig. 12 – O Instituto de Artes sempre acreditou que
o força das Artes deveria estar na malha urbana. Assim evitaria o gueto universitário
dos Campi universitários distantes e desconectados fisicamente da sociedade ao
modelo das antigas fortalezas e mosteiros medievais. Esta tese foi denunciada,
em 1988, por Aluisio Pimenta, reitor da UFMG e ministro de Cultura do Brasil
(1985-1986). Contudo o mal já havia sido praticado. Felizmente os departamentos
do IA da UFRGS são os mais centrais na vida urbana de Porto Alegre, com
evidentes ônus, mas gozando da circulação direta e imediata dos poderes das
Artes no meio das demais forças.
Resumindo esta etapa –
possível registrar sucinta e provisoriamente pelo menos cinco pontos a serem
ampliados e aprofundados posteriormente. Primeiro qualificou seus cursos já
existentes, ao nível das exigências nacionais especificas. Em segundo, com o
êxito destes, pode criar outros cursos superiores. Para tanto gerou um
patrimônio significativo em terceiro lugar. Em quarto lugar, com este
patrimônio investiu em prédios que atendiam as exigências desta época de uma
procura de uma cultura que se deseja qualificar. Em quinto lugar contratou um
quadro docente cuja qualificação havia sido provada como o dos melhores no
campo das Artes de sua competência específica no campo das Artes superiores.
CORONA Fernando (1895-1979) CURSO
de ARQUITETURA: Cadeira de MODELAGEM. Documentário fotográfico de 1946
– 47 – 48 – 49 – 50 – 51
Fig. 13 – A
imagem mostra a integração dos seus Cursos Superiores de Arquitetura e
Urbanismo e a interação das forças das
Artes com a malha urbana de Porto Alegre de 1948 . Uma maquete fotografada na
sala de modelagem do Instituto de Belas
Artes interage visualmente com a parte construída da cidade.
Para avaliar o êxito
destas cinco iniciativas nucleares da instituição, há necessidade de considerar
a cultura local. Há necessidade de contabilizar os parcos, descontínuos recursos
conceituais, materiais e econômicos destinados ao Instituto ( CORTE REAL, 1984).
Mesmo vale no plano individual para quem frequentava a instituição de Artes pois a
escolha é dificílima devido ao pouco e descontínuo suporte social, cultural e
econômico do Rio Grande do Sul (DAMASCENO, 1971). Para quem administrava o erário público, apesar de
compreender estes atos individuais heroicos, necessita pautar a sua ação pela “legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência”. (Caput art. 37, da Constituição Brasileira,
1988).
Fig.
14 – Nas férias de inverno de 1948 o Instituto
de Belas Artes -RS reuniu um
seminário com massa crítica internacional e local . Estiveram presente e atuantes
os arquitetos e urbanistas uruguaios Mauricio Cravotto (5) da Prefeitura da
Montevideo e o autor da sede do Clube Nacional Ildefonso Aroztegui
(7) o arquiteto austríaco norte-americano Eugênio Steinhoff (3) e o espanhol
Fernando Corona (8). Da área local estavam Edvaldo Piava Neto (1), Ney
Chrisostomo da Costa (2), Athos Damasceno (6) Todos eles sob o olhar do
anfitrião Tasso Bolívar Dias Corrêa (4).
Para vencer estes
obstáculos pontuais, o poder estatal praticou a sua crescente centralização,
incentivada pelo êxito da construção de Brasília. Assim assumiu o ônus e bônus
do projeto civilizatório por meio do campo das forças das Artes. Seguindo esta
corrente centralista, o professor Fernando Corona (1895-1979) e Luiz Carlos
Maciel(1938-2011) estavam, no dia 12 de agosto de 1962, em Brasília. Foi quando
o Deputado Federal Florescêncio Abreu reclamou da tribuna da Câmara o lento
andamento do Projeto de Lei nº 1.373 que regularia o regresso do Instituto de
Belas Artes à Universidade do Rio Grande do Sul. A efetiva integração do Instituto
de Belas Artes à Universidade Federal do Rio Grande do SUL aconteceu pela Lei
nº 4.159, editada no dia 30 de novembro de 1962[1]. Esta lei federal integrava o Conservatório Mineiro de
Música de Belo Horizonte na Universidade de Minas Gerais e incorpora o
Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul à Universidade do Rio Grande do
Sul, e autoriza a abertura, pelo Ministério da Educação e Cultura, de crédito
especial.
Um dos objetivos, do presente
esboço é evitar que a interação das Artes e da Universidade torna-se algo
natural e seja aceita sem o exercício do hábito da integridade intelectual. Os
dois campos distintos - das forças da Arte e da Universidade - estão situados
em construções humanas distintas, muito elevadas e artificiais. Quem tiver o
projeto de transitar, viver e produzir, nestes dois campos, necessita estar
preparado com recursos mentais e conceituais. Este necessita o conhecimento e a
prática, como o montanista ou o astronauta que aceitar e resolver trabalhar e viver
em outros planetas ou mergulhar nas profundezas do oceano. Uma naturalização
destas construções humanas - muito elevadas e artificiais - não só sepultaria
uma narrativa da História secular da sua institucionalização (SCHNEIDER, 1993).
Sem uma lúcida concepção, informações e ações adequadas as Artes poderão
transformar-se o seu potencial papel civilizatório em pesadelo e origem de
monstros. Contudo o mais trágico desta naturalização estaria criando a
iminência da barbárie. Esta barbárie se materializa e retira todo e qualquer
mérito de ações e de realizações concretas tanto dos seus melhores, produtivos
agentes como também confundiria os mais altos alcances institucionais. Esta
entropia rondou sempre qualquer projeto humano superior.
[1] - Publicado no Diário Oficial de 04 . 12 . 1962 e assinado por João Goulart, Hermes Lima, Miguel Calmon e Darcy Ribeiro
Contudo apesar de todas
as tensões que rondam um estudante de Artes, como a difícil escolha pelo curso
superior, o seu efetivo estudo diário e a conclusão deste nível, o acadêmico do
IA-UFRGS não decepciona a si mesmo, os seus docentes e a sociedade que investe
pesado nele. No ano de 2005 houve 173 novas matrículas nestes cursos
superiores, depois de dois vestibulares. No mesmo ano houve 144 conclusões,
formandos e diplomações de acadêmicos. Estes números projetados para o conjunto,
levaria para uma média 83,1% de perseveranças e conclusões positivas.
[1] - Publicado no Diário Oficial de 04 . 12 . 1962 e assinado por João Goulart, Hermes Lima, Miguel Calmon e Darcy Ribeiro
Fig. 15 – O logo
que o Instituto de Belas Artes ostentava na época em que ele promoveu e
sediou o Iº Salão Pan-Americano de Artes e o Iº Congresso Brasileiro de Arte em
22 de abril de 1958 quando apresentou e defendeu a tese da Universidade de
Artes e a do Ministério de Artes. Apesar
de aprovado encontrou a surda oposição dos tradicionais centros hegemônicos do
Brasil nos quais se fixava, centralizava e verticalizava o poder político e
econômico. Além disto o próprio Instituto não possuía a massa crítica nem
desenvolvido o hábito da integridade intelectual a ponto de fazer face as
forças antagônicas internas e externos a este projeto.
No retrospecto dos
cinquenta anos da Interação do Instituto de Artes com a Universidade Federal do
Rio Grande do Sul é possível perceber a tensão gerada pelo seu projeto
civilizatório compensador associado ao Estado Nacional. Esta energia gerada possibilita
manter as vontades em constante
movimento, alertas as sensibilidades e as inteligências iluminadas. A
permanente tensão provocada pela sístole e diástole, entre as forças e os
poderes da Universidade e aqueles das Artes, afasta o perigo da entropia e da simples
endogenia dos campos que interagem de uma forma continuada. Permanente tensão
que aguça inteligências, sensibilidades e vontades do Poder Originário do
Estado Nacional. Este Poder Originário possui o direito de esperar que as duas instituições
e forças tenham um futuro cada vez mais promissor no interior do seu projeto
compensatório coerente com o seu Estado Nacional.
FONTES
BIBLIOGÁFICAS.
CORONA
Fernando (1895-1979)
CURSO
de ARQUITETURA: Cadeira de MODELAGEM. Documentário fotográfico de 1946
– 47 – 48 – 49 – 50 – 51 Folhas de
arquivo: 297 mm X 210 mm como fotos coladas. Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS.
CORRÊA, Tasso Bolívar
Dias (1901-1977) DISCURSO
de TASSO como PARANINFO no TEATRO SÃO PEDRO em 24.10.1933– Porto
Alegre : DIÁRIO DE NOTÍCIAS -Diários Associados, dia 26.10.1933 p.4
CORTE REAL, Antônio. «O Instituto de Artes na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1908-1962)» in Subsídios para a História da
Música no Rio Grande do Sul. 2.ed. Porto Alegre : Movimento, 1984.
pp.234-289.
CUNHA, Luiz Antônio, Universidade temporã : o
ensino superior da Colônia à Era Vargas. Rio de Janeiro : Civilização
Brasileira. 1980, 295p.
DAMASCENO, Athos. Artes plásticas no Rio Grande do Sul (1755-1900) Porto Alegre :
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MARQUES dos SANTOS, Afonso Carlos «A Academia
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portal em 2012
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da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo
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Alegre : PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA
DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - FFCH HISTÓRIA DO BRASIL Orientação da Drª Maria Lúcia BASTOS KERN - Versão 2008 , 660 fls http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html
UNIVERSIDADE FEDERAL do RIO GRANDE do SUL (UFRGS) portal em 2012
UNIVERSIDADE FEDERAL do RIO GRANDE do SUL (UFRGS) portal em 2012
LEIS BRASILEIRAS
PALACIO CRISTAL – Sede do Clube
Nacional Ildefonso Aroztegui
http://www.decano.com/decanocms/index.php?option=com_content&view=article&id=15&Itemid=10
ARTE
e ESTADO FRANCÊS em 2012
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