A ARTE e suas
CIRCUNSTÂNCIAS no ESTADO BRASILEIRO e no ALEMÃO.
“Canto
o hino da pátria que permite ganhar o pão dos meus filhos”
José SIMON professor rural de uma comunidade
germânica ao longo do Estado Novo.
A produção da ARTE é
condicionada diretamente pelo tipo de ESTADO no qual um povo vive e se
reproduz. A ARTE egípcia é índice direto dos condicionamentos do seu ESTADO
NACIONAL monolítico e hierarquizado. Como a ARTE CLÁSSICA HELÊNICA é coerente e
diretamente relacionada com as liberdades criticas e a ênfase na criatura
humana singular da política de um PÉRICLES ao longo do ESTADO GREGO CLÁSSICO.
Fig. 01 – - A antropomorfização do ESTADO - e a atribuição de sua origem do além – criam
e criaram genealogias de reis e mitos de origem que a obra do artista Werner TUBKE (1929-2004) - Revoluções Burguesas - Panorâmio Bad
Frankenhausen 1983-7 , transforma o PODER do ESTADO em algo mítico e monumental. Esta imagem carrega
subliminarmente a representação da membrana da bolha do útero materno prestes a
se romper. O que é certo é que, por mais
metafísica que seja esta representação, tão como as demais narrativas e imagens,
elas repercutem constantemente no mundo
empírico -chegando às raias serem aceitas
como uma fatalidade inquestionável. Segue o principio de que a criatura humana
torna-se histórica na medida, intensidade dos seus próprios projetos
No Brasil os traços da
escravidão fazem com que seus caciques, coronéis e bispos mantenham na
heteronímia a ARTE e o artista sem valor individual, ao paradigma da ARTE e do
artista sob o regime do ESTADO faraônico. Daí a impossibilidade da “EXPORTAÇÃO da POESIA do BRASIL” no
desejo de Oswald de ANDRADE, pois está carente de autonomia na sua fonte e
circulação.
Um ESTADO NACIONAL não é algo dado e natural. Ele é
- antes de tudo - uma construção humana. Assim é necessário admitir que esta
construção esteja sujeita a todas as vicissitudes provenientes de uma obra
artificial.
O ESTADO BRASILEIRO é
uma construção muito mais antiga, mais sólida e ampla do que o atual ESTADO
ALEMÃO. O ESTADO BRASILEIRO possui, além disto, uma história de uma
continuidade de coerência interna em distinta da conturbada e crítica HISTÓRIA
do ESTADO ALEMÃO.
Fig. 02 – - Rudolf Herrmann WENDROTH - Praça da Matriz -
Porto Alegre. A obra deste artista germânico mostra a parte visível do centro
do poder religioso, político e militar da Província do São Pedro do Rio Grande
do Sul na metade do século XIX . A íntima aliança entre o poder religioso,
político e militar vinha sendo mantida
intacta desde os primórdios da ocupaçã ibérica do Novo Mundo. Esta lógica não
permitia nenhuma veleidade de uma educação individual fora deste paradigma. O
futuro do jovem livre era a carreira miliatra, a eclesiástica ou jurídica para
administração. O artista era relegado para a servidão e a expressão maior de
suas obras são as peças de arte anônimas e reproduções dos moldes provenientes
das metrópoles.
A obra - reproduzida
acima e o seu autor - foram vitimas deste estatuto. Esta obra foi esquecida em meio
de relatórios oficiais, só teve alguma divulgação mais de um século depois de
sua execução. Do artista não sabemos muito mais do que seu nome bizarro - para
a cultura lusitana - e do grupo dos militares alemães que atuaram como
mercenários do Império Brasileiro. A estética da obra certamente não constitui
nada na linha dos grandes pintores europeus, elogiados, mediados e mantidos
pela estética ocidental dominante. Esta obra tornou-se - com todas estas
amputações - um peça cômoda e um troféu para a arte oficial do Estado
Brasileiro. Assim ele possui ocasião
para mostrar como era pobre a Província do Rio Grande do Sul.
Assim, os migrantes que
saiam dos seus estados - de fala germânica e aportavam no Brasil - tiveram de
repactuar as suas mentalidades para não serem considerados únicos e permanecerem
como quistos estáticos devido às suas
motivações fixas e de suas origens. Assim esqueceram gradativamente as suas conexões
com os seus estados de origem. Enquanto isto os estados germânicos aceleraram
as suas mudanças de forma radical e tão profunda que o regresso definitivo dos
emigrados ao Brasil seria uma impossibilidade política, cultural e econômica.
Fig. 03 – - A Justiça com o OLHOS ABERTOS e VIGILANTES
na interpretação do artista e arquiteto Carlos Maximiliano FAYETH (1930-2007). Colocada
numa parede cega do Palácio da JUSTIÇA e
no mesmo ponto de vista do qual Rudolf Herrmann WENDROTH observou a Praça da Matriz de Porto Alegre na metade do século XIX – ela possui na sua frente o
Executivo e o Legislativo além do poder eclesiástico.
Certamente continuidade
e coerência interna nem sempre é uma vantagem especialmente ao se mentalidade
se traduzir em práticas fixas, únicas e centralistas. É tudo que ao AGIR da
ARTE NÃO TOLERA.
No plano do artista - como indivíduo singular
e profundamente cultivado a partido romantismo - este EU singular deposita
menos esperanças e não confunde as vontade singular do KUNSTWOLLEN com um quer
coletivo de um ESTADO NACIONALISTA. Um ESTADO NACIONALISTA - ainda mais
TOTALITÁRIO - corre o risco de ser acusado de CULPADO de TUDO na medida em que
ele assume a singularidade do EU incluindo a autonomia do artista. Neste campo
soa forte e clara a voz do filósofo Alemão Kant na sua Crítica à Razão Prática.
“A vontade possui moralidade no limite da
sua autonomia”. A partir da Contemporaneidade intensificaram-se a alguns atributos da ARTE como sendo o diferente, o criativo e único sempre foram
Fig. 04 – - José Feliciano FERNANDES PINHEIRO (1774-1847)
- Visconde de São Leopoldo - era o
Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul quando da chegada das
primeiras levas da imigração massiva dos alemães. José Feliciano nasceu em Santos, com
formação jurídica em Coimbra enveredou pela vida administrativa colonial e
depois imperial brasileira. O ESTADO
BRASILEIRO deve-lhe o exercício de vários e delicados cargos públicos e uma
ação decisiva da 1ª Constituinte Nacional na qual previa a criação da Universidade
e da qual ajudou a implementar as Faculdade de Direito de São Paulo e de
Olinda. Veio a falecer em Porto Alegre depois de escrever uma história bem
documentada da Província.
Este personagem
pode ser resumido como “alguém que possuía um projeto de ESTADO”
projeto que pode ser lido no seu
pensamento disseminado em sua vasta obra prática e escrita.
Isto não significa
anarquizar e eliminar qualquer forma de ESTADO. Esta criação política e
artificial, além de ser a depositária dos contratos humanos, possui o papel que a
membrana exerce para a célula na Biologia. É o que o chileno Maturana com
profundos vínculos germânicos escreveu “na biologia o exemplo da célula viva que
necessita da membrana para proteger a competência da vida. Só a partir da
célula viva é possível determinar o que é relevante.” Maturana &V. 1996: 41
Fig. 05 – - Casa de Feitoria de São Leopoldo depois de
1924. A casa de passagem na qual as primeiras famílias da imigração massiva
se abrigaram antes de prosseguir em direção aos seus lotes rurais monumental. Aqui depois de cem anos restaurada
para a celebração do centenário - in TUBINO 2007 p.056b
São grandes e variadas as
contribuições das teorias - que se expressaram em língua alemã - para construir
paradigmas que sustentam e legitimam a existência empírica, no contexto
europeu, dos Estados Nacionais. Pode-se falar num verdadeiro “bazar de sistemas” na concepção
platônica contrária e ridicularizava as práticas da Democracia grega. As
contribuições da língua alemã perfilam as contribuições de Kant e Hegel até chegar
à Escola de Frankfurt e da qual continua vivo Jürgen Habermas.
Fig. 06 – - Joseph Seraph LUTZENBERGER 1882-1951 -
ataque de cavalaria Este artista e
arquiteto alemão havia servido na cavalaria alemã da 1ª Guerra Mundial e era admirador
das habilidades que gerações de cavaleiros haviam desenvolvido no estado do Rio
Grande do Sul.
As corrupções - destes
altos níveis de pensamento - não foram menores como as de Fichte até chegar á
prática do criminoso sistema totalitário nazista. Cabe o alerta, pois este veneno conceitual
continua muito presente e ativo nos dias atuais, não só na Alemanha como na
Europa como um todo. Se por acaso estas concepções totalitárias tomassem conta
dos aparelhos do governo do Estado Brasileiro a maioria da população seria, não
só alijada de tal governo, senão perseguida e eliminada fisicamente. Contudo no
lado empírico há verdadeiras personalidades do ESTADO ALEMÃO, como Goethe o
ministro da Habitação de Weimer da época da imigração massiva (1824-1834) para
o Brasil.
Esta cultura política do
ESTADO ALEMÃO - crítica e oscilando entre extremos - sempre mantiveram os
artistas em alerta. A frase atribuída a Bismark o unificador e um dos grandes
próceres como se “os alemães se soubessem
como se fazem as salsichas e as leis: não dormiriam à noite” resume esta
artificialidade e violência que todos tentam ocultar o desconhecer. Porém os
que se entregaram aos encantos destas seriais, como prêmio de sua heteronímia,
pereceram com os próprios sistemas políticos dominantes e seus nomes submergiram
e foram esquecidos.
Fig. 07 – - Militares da Legião Alemã de 1851 - In
TUBINO - 2007 p.121a - Na
medida em que a guerra se industrializava e as habilidades inatas e individuais
davam lugar ao treino em estratégias militares e para a logística com armas
produzidas em larga escala industrial havia necessidade de profissionais
militares também em larga escala. O Rio Grande do Sul se pontilhou de quartéis
militares e que fizeram face as turbulências surgidas no Rio da Prata e cuja
ação bélica culminou com a Guerra do
Paraguai. Em contrapartida a presença de legiões de profissionais militares
alemães, atuando como mercenários, manteve o agricultor relativamente protegido
além de manter os filhos em idade militar o mais possível na produção agrícola
e incipiente industrialização colonial. Alguns destes mercenários integraram-se
a vida do Rio Grande do Sul como foi o caso de Carlos Von Kozeritz (1830 1890)
Desde as culturas clássicas, como a grega, o
estrangeiro teve lugar nos banquetes como aqueles de Platão. O alemão SIMMEL
traduziu em linguagem este papel neutral de juiz que o estrangeiro exerce numa
cultura fixa, única e centralista. De outra parte as COLÔNIAS GREGAS, FENÌCIAS
e ROMANAS buscam estabelecer um historio coerente com as suas origens. As
COLÔNIAS ALEMÂES no BRASIL não fogem a esta visão e mentalidade muito presentes
e administradas conscientemente pelo GOVERNO CENTRAL do BRASIL.
Fig. 08 – Um GRUPO dos 1800 BRUMMER que estão no Brasil - a partir de 1851. Na
suas pistas e marchas militares ingressavam no mercado brasileiro as armas das
fábricas Krupp que nesta época passou a para 20.000 operários que fabricavam
todo tipo de armas e equipamentos de uso militar e logístico. - In TUBINO - 2007 p.117
O ESTADO ALEMÃO
unificado - que não existia na época da grande e massiva migração, de 1824 a 1834 - após a sua constituição, em 1870, pouco fez pela continuidade da lógica dos
contratos sociais, políticos e culturais anteriormente assumidos pelos seus
próprios ESTADOS de ORIGEM. Além disto,
com a dinâmica das frequentes mudanças dos regimes políticos que se instalaram no
ESTADO ALEMÃO, a coerência com comunidades, em terras estranhas, tornou-se
temerária e impossível. Esta distância - e este alheamento - mantém-se nos dias
atuais. Esta distância e alheamento se expressa, no plano individual, nas
muitas dificuldades de o ESTADO ALEMÃO conceder a DUPLA CIDADANIA para qualquer
brasileiro por mais próximos que tenham sido ou sejam os seus parentes
germânicos.
Fig. 09 – - SÃO LEOPOLDO - Ponte e Igreja Desde os
tempos romanos um ESTADO NACIONAL possui a tarefa das comunicações e o
estabelecimento de centros regionais como células – ou fractais – das
instituições e serviços públicos conectados e coerentes com o poder central
deste Estado. Nesta imagem de São
Leopoldo, do início do século XX, constata-se o cumprimento destas duas funções primordiais In TUBINO - 2007 p.193j
O ESTADO ALEMÃO - como
um ESTADO que preza o BEM SOCIAL dos seus próprios cidadãos - dificilmente
reconhece, e muito menos estende aos emigrados do seu território, algum
benefício social. Neste sentido distingue-se do ESTADO SUIÇO que mantém e paga,
no estrangeiro, a aposentadoria ao seu
cidadão que emigra.
Fig. 10 – NAPOLEÃO III e BISMARK, em 01.09.1870, depois
da BATALHA de SEDAN . Esta vitória sobre o franceses levou mais água para a
enxurrada unificadora das culturas e estados alemães antes soberanos com língua
comum com outros Estados Soberanos. Para o lado deste novo Estado Germânico
único, esta vitória, acrescentou os territórios da Alsácia e Lorena.
Internamente significou e o submergir dos privilégios e vantagens de uma
floresta de pequenos feudos soberanos. Pequenos estados medievais que cederam diante da avalancha da linha de montagem unívoca e cumulativa da
lógica e dos processos geridos pela era industrial. Linha de montagem que não
tinha o menor contrato com estas estruturas destes ESTADOS ANACRÔNICOS.
Contudo o que é
necessário ressaltar é a quantidade e a qualidade do pensamento alemão em
relação ao seu ESTADO, em geral e do ESTADO ALEMÃO em particular. Este
pensamento é exportado em todas as direções e mantém trocas ativas com o mundo
todo. Nestas trocas navegam também, na rede mundial, a ARTE e os ARTISTAS
germânicos atuais. Enquanto o Brasil,
tolhido na sua concha de ESTADO NACIONAL, permanece no âmbito interno deste seu
auto-limitado projeto e sem expressão para além de suas fronteiras geográficas.
Assim a sua ARTE e o seu ARTISTA, carentes de autonomia, na sua fonte, bloqueiam
a “EXPORTAÇÃO da POESIA do BRASIL”,
mundo afora, no desejo manifesto por Oswald de ANDRADE.
Fig. 11 – - BISMARK PROCLAMA, em 18.01.1871 no PALÁCIO de VERSALHES, GUILHERME I da PRÙSSIA como o rei
de toda a ALEMANHA. A formação deste ESTADO UNITÁRIO ALEMÃO significava,
para o imigrante germânico no Brasil o fim de sua conexão com a sua origem
nacional. De outra parte podia ser lido como uma das potenciais ameaças
provenientes das potências européias na sua plena expansão colonial. A Alemanha instalou colônias na
Namíbi e em outras regiões do continente africano como Ruanda e o Burundi. A forte presença
étnica germânica no cone sul do continente americano foi sempre visto nesta perspectiva
colonial e tratado como uma possível ponte desta NOVA ALEMANHA para o Brasil,
Argentina e Chile. Esta ameaça só deixou de ter sentido com a derrota do Eixo
em 1945 e a sucessiva, pesada e malograda desmontagem das colônias européias. Esta
ação desumana, temerária e contra a soberania de povos e dinastias próprias antiqüíssimas
está sendo paga nos próprios territórios metropolitanos, no século XXI com altos
juros, correção monetária, sob o eufemismo de “descolonização” e com benefícios
invisíveis para os povos locais e das antigas colônias.
Este pensamento possui
uma segurança sobre si mesmo invejável. Esta segurança permitiu a Nietzsche
(1844-1900) conhecer e expressar três qualidades de um pensamento que se
distingue do mundo empírico quando escreveu seu texto ‘o futuro das nossas escolas’:
“espero
do leitor três qualidades: deve ser tranqüilo e ler sem pressa, não deve fazer intervir constantemente sua pessoa e
sua cultura, e por último, não tem direito de esperar – quase como resultado –
projetos”. Nietzsche, 2000, p.27.
Esta distinção - entre o
pensar e o fazer prático - mostram um pensamento amadurecido nesta cultura na
qual existe um acumulado de discussões. Distinção entre o empírico e teórico
que Platão já estabeleceu “depois de
observar os astros, deixemos o as estrelas em paz, e façamos Astronomia”. Distinção que, em termos políticos e de
Estado pode ser interpretado como a capacidade de gerar um pensamento
continuado e que sabe exatamente “do quê” e “de quem” está falando.
Pensamento maduro e competente para acompanhar um projeto, que sabe que é
artificial, mas conectado sempre e é coerente com as forças de sua origem.
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____. Economia e sociedade – esboço de
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