terça-feira, 18 de dezembro de 2012

056 – ISTO é ARTE

 
 
Uma PINACOTECA como  DEVE SER

Fig. 01 – Uma imagem do  salão principal da Pinacoteca . O porão, deste prédio, foi presidio da delegacia de polícia. Recuperado passou a abrigar diversas e sucessivas exposições de produtores de Arte.

Este blog propôs e sempre defendeu o PODER ORIGINÁRIO cuja primeira expressão institucional estatal ocorre e se identifica no âmbito do município. A Arte que se produz e circula neste âmbito confere identidade material e imaterial à esta base do Estado Brasileiro.
Fig. 02 – O prédio da Prefeitura marca o coração histórico de Porto Alegre. O seu andar térreo abriga os diversos ambientes das Pinacotecas. O porão está recuperado e abriga salas nas quais alternam exposições especialmente da nova geração e experimental das artes visuais. O andar superior abriga o gabinete do prefeito e ambientes de recepções oficiais.

O município de Porto Alegre continua a consolidar e fortalecer e fazer circular a sua identidade própria através de instituições municipais dedicadas à cultura e à Arte. Acolhe, estuda, sistematiza e socializa, por meio destas instituições, aquilo que considera relevante e coerente com seu tempo, o seu espaço e o seu Poder Originário. Instituições que sabem todas as limitações de mentalidades, práticas e recursos. Instituições que aceitam estes limites e competências sem se dobrarem â mentalidade e se submeterem à projetos hegemônicos externos. Para tanto não deixam passar o tempo e a ocasião, até para deixar marcas e índices destas limitações. Não se intimidam e agem, nas suas potenciais competências, em todas as oportunidades, para marcar os seus projetos civilizatórios coerentes com a mais alta qualidade possível e com aqueles do seu Poder Originário.
Fig. 03 – Público da inauguração do SALÃO  de OUTONO de 1925  na Prefeitura de Porto Alegre- Fala  o Desembargador André da Rocha. Este notável jurista era dedicado a todas as manifestações superiores da Arte, sendo eleito inclusive Presidente da Comissão Central do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, cargo que não pode exercer pois foi designado e assumiu como  primeiro Reitor da atual UFRGS

É esta mentalidade que gostaríamos de evidenciar nas suas duas pinacotecas. Uma é aquela que recebeu dos Diários Associados e que possui a mesma origem do MASP e outras que Assis Chateaubriand espalhou Brasil afora. O seu nome PINACOTECA RUBEN BERTA homenageia um filho ilustre de Porto Alegre. O seu acervo é conservado limitado às obras desta doação exemplar. As novas aquisições e doações são direcionadas para a PINACOTECA ALDO LOCATELLI. Este nome e homenagem foram sugeridos por Leandro Silva TELLES, um pioneiro na consciência e na defesa do patrimônio artístico e bens públicos de Porto Alegre. Os acervos destas duas coleções passaram muito tempo hospedados e ao abrigo do MARGS.
Fig. 04 –  O historiador e professor  José Joaquim Felizardo (1932-1992) forneceu o paradigma inicial e legal como o primeiro secretário da municipal de Cultura de Porto Alegre.

Quando a Secretaria Municipal de Cultura de Prefeitura de Porto Alegre ganhou forma jurídica, entre 1989-1988, o seu primeiro Secretário Prof José Joaquim Felizardo (1932-1992) já estava no caminho de constituir uma equipe de professionais para as suas Pinacotecas. Fisicamente elas foram ganhando, no prédio histórico, salas de exposições, para trabalhos os profissionais além de uma reserva técnica, qualificada e adequada para a conservação do seu acervo. Pontua esta atividade, de base profissional continuada com eventos de exposições. Eventos que socializam gratuita e prudentemente novos e antigos talentos expondo-os para um público indistinto num ponto privilegiado do Centro Histórico da Capital. Estes eventos pontuais são costurados por meio de um contínuo de exposições e de publicações dos seus acervos. No percurso da necessária institucionalização profissional visa a formação de um público presente aos eventos além de conferir o seu acervo permanente. Este processo ocorre tanto para socializar o que produz em Artes Visuais em Porto Alegre de quem ainda não possui obra no acervo como para conferir o que já está consagrado. Certamente um projeto inteligente e coerente como índice do que se produziu e se produz em Artes Visuais em Porto Alegre. Um projeto inteligente e coerente com os limites daquilo que falta ainda, sem cair na neurose do novo pelo novo. Mentalidade que subestima, desqualifica e passa por cima da criatividade com fundamento, autêntica e com sentido próprio.
Fig. 05 – Alguns dos promotores do SALÃO  de OUTONO de 1925. O médico Mário TOTTA (1874-1947) era o inspirador e proprietário da Revista Máscara. O artista plástico tcheco Francis PELICHEK ( 1896-1937) ilustrava esta revista e expunha no Salão. O músico e artista gráfico Sotero COSME ( 1905,1978) fez carreira em Paris e Florença. O  pintor Helios SEELINGER (1878-1965) foi um dos agentes mais ativos para a criação e manutenção do Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Pode-se perceber neste grupo de elite e uma semente das Sociedades dos Amigos das nossas contemporâneas instituições de Arte.

O município de Porto Alegre pode estar atento ao fato de que um dia não ser mais a capital política do Rio Grande do Sul. A sua vida e sua produção continuaria graças às suas instituições municipais consolidadas com a sua identidade própria e profissionalismo dos seus servidores. A cidade de Rio Grande, Salvador na Bahia ou Rio de Janeiro souberam colocar isto em prática e continuam ativas até o presente. Depois de capitais continuaram a sua vida cultural, artística, comercial e tecnológica graças ás suas instituições e a sua gente especializada do seu Poder Originário.
Fig. 06 – Obras expostas no SALÃO  de OUTONO de 1925. A foto  permite perceber as mudanças de conceitos museológicos quando se trata de obras de Artes Visuais. As obras de Arte são ciumentas e necessitam de uma exposição adequada para poderem interagir com quem as recebe como expectador.

Neste Poder Originário há necessidade de permanente interlocução com todas as manifestações culturais e artísticas do Poder Originário. Tarefa da Secretaria de Cultura desenhada Por José Joaquim Felizardo e que merecidamente hoje é nome de instituição e prêmio em Porto Alegre. As PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI são construções artificiais, como toda civilização e constituem buscas intencionais para a sua reprodução por tempo indeterminado. Eventos, iniciativas individuais ou de grupos, por mais espetaculares, surpreendentes e amplos que eles sejam, não garantem o continuo de uma civilização no tempo e no espaço. O Mestre Flávio Krawczyk, diretor do Acervo Artístico das Pinacotecas Municipais, conhece muito bem os resultados dos eventos dos Salões de Arte de Porto Alegre e que ele estudou e socializa no texto de sua dissertação. Muitos Salões de Artes Visuais de Porto Alegre, frutos de um voluntarismo pontual, permanecem apenas na sua 1ª edição. Apesar das melhores intenções estes eventos, resultantes  iniciativas individuais ou de grupos, não conseguem cumprir o que prometem.  Carentes de uma firme e sólida instituição, destinada a este projeto civilizatório compensador, são desviadas imediatamente do seu projeto original. Contra estas rupturas - do contínuo no seu tempo ou do projeto original - nada melhor do que instituições como as atuais  PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI da Prefeitura Municipal de Porto Alegre.
Fig. 07 – O cartaz do Salão de Outono de 1925, elaborado a partir da fotografia de obra de modelagem de Fernando Corona (1895-1979)
 A Arte queestá no que produz, e não no que é produzido”. Aristóteles[1](1973: 243 114a 10 ) necessita das instituições para revelar, prolongar estes instantes de fulgor e explosões individuais, socializando-os  no tempo e no espaço. Com este contínuo institucional tornam-se altamente significativas para os observadores e a civilização na qual o artista se inscreve e cria sua obra. Este alto significado resido no fato de a obra de Arte possui a qualidade intrínseca de carregar o máximo do mundo imaterial - no qual se origina - no mínimo de seu corpo físico perceptível pelo seu observador.

Uma obra de Arte, no mínimo de seu corpo físico perceptível pelo seu observador, depois de brotar inteligência, coração e vontade do seu criador, passa a circular no mundo destas conexões. Uma instituição como esta Pinacoteca é centro de uma rede destas conexões de diversas ordens e situadas na área mais elevadas de uma civilização. Esta obra física circula no âmbito familiar. Com alguma fortuna passa a ser valor comercial no mercado de arte.  Um dos papeis de uma Pinacoteca é constituir um porto seguro para esta obra e do seu prestígio. Esta obra de Arte esta apta para receber os seus observadores. Numa instituição qualificada el escapa à entropia que tudo reduz ao trabalho e ao seu consumo, além de receber a segurança física, conceitual e institucional.  As PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI da Prefeitura Municipal de Porto Alegre são lugares de prestigio na medida em que recebem, constroem e se mantém como referencial para as obras das quais são depositárias fieis. Esta rede de conexões de prestígios, a sua construção, segurança e manutenção são objeto de estudo do livro Aurora LEON El Museu: teoria, práxis y utopia” (1995).

[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.                                         

Fig. 08 –  Uma obra do  patrono da Pinacoteca e que foi incorporada recentemente ao acervo da Prefeitura de Porto Alegre. Aldo Locatelli (1915-1962) representou a profissionalização do muralismo sul-rio-grandense. Na sua tese escreveu com testamento:o Brasil, o nosso mesmo Rio Grande do Sul tão pródigo em vocações artísticas, vivem internacionalmente no mesmo valor de Paris, Roma, Tóquio, Nova York e de Moscou. Estamos errados se pensamos que os centros de maior tradição e movimento artístico devem ser os nossos guias, absorvendo-nos com teorias resultantes de ambientes bem diferentes e preocupados de não repetir-se nos exemplos de uma grande tradição. Ao contrário, nós vivemos no princípio da nossa formação de civilização e devemos tentar expressá-la nos nossos próprios valores(Locatelli, 1962).

 Com a crescente urbanização é necessário evitar o erro da política improvisada e desesperada do “Pão e Circo” como aconteceu com inflada capital do Império Romano cuja população máxima correspondeu àquela que abriga, em 2012, na cidade de Porto Alegre. Um projeto de instituições, de profissionais, de fontes de manutenção adequada de uma política coerente e eficiente para os seus objetivos leva o tempo de sucessivas administrações e de gerações de profissionais.

Jamais faltarão energias, inteligência e vontade humana, caso houver um projeto coerente e consistente a ser seguido numa longa duração. A poderosa e orgulhosa capital do Império Romano estava reduzida a uma modesta cidade de 20.000 habitantes logo após a sua queda. As suas instituições estavam mortas, consumidas pelos eventos do “Pão e do Circo” e pela ganância daqueles que lhe arrancaram os últimos vestígios de sua glória e fama.  

Fig. 09 –  Uma das obras provenientes da doação dos Diários Associados que constituiu a Pinacoteca Rubem Berta e cujo primeiro diretor, em Porto Alegre, foi o Professor Ângelo GUIDO GNOCHI (1893  -1969) . O pintor  HANG DAÍ-CHIEN (1899-1983) é considerado o Picasso Chinês. Ele passou um período no Brasil.

A falta de energia, de inteligência e de vontade proveniente de um projeto coerente e consistente de longa duração, só produz mentalidade e os olhares submissos à cultura de países alheios. Nada mais contrário ao bicentenário da soberania brasileira do que a mentalidade e os olhares submissos às culturas alheias. Culturas que se julgam também hegemônicas no gosto e ditam as normas estéticas aos seus vassalos. Nada mais contrário ao bicentenário da soberania do que eventos e gritos pontuais e sem ecos internos, coerentes e sustentados pelo Poder Originário e externo no âmbito do concerto das Nações Soberanas.
Fig. 10 – A artista plástica Marilice  Corona é a ponta de uma tradição familiar de notáveis contribuições para as Artes de Porto Alegre. Com toda a certeza “a Arte é longa e a vida breve” e que necessita de várias gerações para atualizar momentos criativos, para revelar e manter esta continuidade da expressão artística. Esta atualização supõe, também  contraposições e  complementariedades daquilo que os seus antepassados produziram.
Ao se preparar para o dia 07 de setembro de 2022, o Brasil pode contar com um potencial imenso no seu PODER ORIGINÁRIO para gerar uma identidade própria. Data e circunstâncias não só como pretexto para ser mostrado e vendido como evento de “Pão e Circo” pela indústria cultural e turística, mas para um profundo, um durante e um consequente impulso e desvelamento da identidade do seu Poder Originário. Identidade que possui a origem e brota da seiva das comunidades das quais o município é o fundamento e o primeiro degrau da organização, manutenção e reprodução do seu Estado Nacional.

Esta identidade não se constrói no grito, nas improvisações, nas ações decorrentes da heteronímia de quem conduz e produz o marketing e propaganda.  Marketing hábil para transformar qualquer data em “homenagem em cima de...qualquer data” . O PODER ORIGINÁRIO merece muito mais no dia 07 de setembro de 2022 do que uma “homenagem em cima da independência brasileira”. O PODER ORIGINÁRIO merece que a primeira expressão institucional estatal ocorra e se identifique no âmbito do município.  A Arte confere identidade material e imaterial que circula continuadamente em instituições como as PINACOTECAS RUBEN BERTA e ALDO LOCATELLI. Instituições criadas e mantidas pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre e que são conduzidas como devem ser e aptas para reproduzirem o seu saber, a sua verdade e a beleza que elas são fieis depositárias.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS.
ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
KRAWCZYK, Flávio. O espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em        Porto Alegre. Porto Alegre : Programa de Pós Graduação em Artes Visuais, 1997. 526 fls.. (dissertação)
LEON, Aurora.  El Museu: teoria, práxis y utopia. Madrid : Cátedra, 1995. 378 p.

LOCATELLI Aldo Danielle (1915-1962).MURALANÁLISE – CONSIDERAÇÕES, MÉTODO E PENSAMENTOS  - Correio do Povo. Caderno de Sábado. Volume X, ano V, no 232,  Porto Alegre : Companhia Caldas Junior em 22. 07.1972.  (Tese de concurso para o provimento efetivo da cadeira de composição decorativa dos cursos de pintura e escultura do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, 1962)

PETTINI Ana Luz e KRAWCZYK, Flávio Pinacotecas ALDO LOCATELLI e RUBEN BERTA:
acervo artístico da Prefeitura de Porto Alegre - Porto Alegre : Pallotti, 2008, 216 p.il color

TELLES, Leandro Silva «Pinacoteca Municipal» in Correio do Povo, 22.12. 1974. p.16.
---------------- Manual do patrimônio histórico. Porto Alegre :  EST/UCS. 1977, 123 p.
Salão de Outono de 1925  Porto Alegre, Revista  MÁSCARA. Ano 7, Nº 7, jun. 1925  

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ARTES VISUAIS no RIO GRANDE do SUL e em PORTO ALEGRE
FÓRUM MUNDIAL de 2013 em PORTO ALEGRE
HANG DAÍ-CHIEN (1899-1983)
José Joaquim Felizardo (1932-1992)

PINACOTECAS da PREFEITURA de PORTO ALEGRE - RS
Pinacoteca Ruben Berta
Pinacoteca Aldo Locatelli

PODER ORIGINÀRIO

SALÃO de OUTONO de PORTO ALEGRE 1925
http://profciriosimon.blogspot.com.br/2010/07/arte-em-porto-alegre-0701.html
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quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

055 – ISTO é ARTE

A ARTE entre o NATURAL e o IMATERIAL.

Fig. 01 – Na lógica do poeta Fernando Pessoa “a Natureza não possui  por dentro” e. por isto é “coisa ou res”. Porém, a imagem  acima, já não é mais a Natureza. O volume, o paladar e a fragrância foram lhe retirados, ou abstraídos além de todas as propriedades cinéticas inerentes à sua Natureza. Além disto, esta fotografia resultou do projeto, da intenção e do  trabalho humano que tomou em conta, para a sua criação,  a luz, a cor, a composição projetado sobre uma superfície plana. De outra parte esta imagem representa algo ausente ou que neste instante é diferente do momento em que foi captada e registrada e está sendo veiculada. Assim esta imagem foi construída entre a Natureza e o pensamento Imaterial.

O campo da Arte manobra as suas forças entre o mundo Natural e o universo Imaterial. Não pertence à Natureza, pois perderia a sua competência  para deliberar e decidir sobre as leis que comandam a entropia universal e assim perderia a sua autonomia. Não pertence ao Imaterial, pois o campo das forças da Arte não pode dispensar um corpo físico para se manifestar e atingir os sentidos humanos.
Maurizio CATTELAN  1960 - -Rotunda GUGGENHEIM  New York Times em  08.11.2011
Fig. 02 – Esta obra do artista Maurizio CATTELANequilibra-se, como metáfora entre a Natureza e o imaterial das ideias abstratas. Ele materializa, nesta obra, os dois polos da Natureza [da carroça e do burro] suspenso num cúpula do qual lhe provém a luz [ideia].

Entre a Natureza e o Imaterial, existe um enorme campo de forças inexploradas, tanto na área da inspiração como no trabalho físico humano. Se “a Arte está em quem a faz e não no que produz” ela potencializa e manifesta o ENTE humano. ENTE humano que potencializa suas forças como origem da sua Arte. ENTE humano que manifesta o seu SER a sua inspiração de forma sincronizada e coerente. A Arte ao confundir-se com a Natureza corrompe a sua potência Imaterial.  No outro extremo a Arte corrompe-se também, ao entregar-se à busca do puro SER metafísico, caminhar no imponderável e sem corpo sensorial. Os extremos da Natureza e do Imaterial, presente simultaneamente numa obra de Arte fora resumidos por Leonardo da Vinci na medida em que ele afirmou de que a “Pintura é uma coisa mental”. Ou então Giulio Carlo Argan ao afirmar (1992, p. 23) que o projeto  “fundamenta a ideia da ação histórica”, retornando à concepção de Leonardo.
TICIANO  VECELLIO c.1490-1576 -Alegoria do Tempo governado pela Prudência  - c.1556 - National Galery Londre~
Fig. 03 – A atenção focada sobre cada instante único e irreversível esfarela e atomiza a percepção do contínuo do Tempo.  A capacidade de costurar cada momento - sem fundo e fugaz - é um projeto humano e artificial e fora da Natureza. O contínuo deste projeto humano estende redes que tornam artificialmente coerente, no plano mental,  esta sequência de pontos no tempo atomizado e esfarelado  em si mesmos únicos e separados. O perigo de afundar em cada momento e o tornar absoluto o instante é contornado pela PRUDÊNCIA HUMANA.  A clássica  imagem, produzida por Ticiano é metáfora e  visualizar esta interminável e insondável busca para conectar a Natureza e o Imaterial. Imagem que cria o contínuo das três idades humanas guardadas pela representação zoomorfa do cão Cérbero,.

De um lado o artista explora criativamente este enorme espaço entre a Natureza e o Imaterial e encontrando nele sempre novas forças e fontes de inspiração. Contudo, a Arte necessita admitir que nem tudo é possível em qualquer tempo e lugar.  Este limite do campo de forças da Arte renega e luta contra a onipotência que poderia sugerir equivocadamente este enorme espaço. Outro limite das forças da Arte é contra a onisciência por mais que a Razão queira ser sinônimo deste mesmo campo de forças. Em todos os tempos a Emoção foi uma das suas mais fortes energias da Arte que a moviam para empreender a saída da Natureza dada, para experimentar outros mundos possíveis e ilógicos na primeira vista. De outra parte a simples oscilação entre a Razão e Emoção não produz Arte. A Arte também não resulta de um jogo maniqueísta entre Natureza e o Imaterial, entre forma e conteúdo, Luz e Sombra entre Bem e Mal. No campo das forças das energias da Natureza e do Imaterial existe uma busca perpétua de um ponto de equilíbrio. Este equilíbrio comporta-se numa homeostase incerta e sem um ponto fixo, unívoco ou pré-fixado entre a Natureza e o Imaterial.

Fig. 04 – A TÉCNICA do MOSAICO de PISO de MODERNA MESQUITA de MARROCOS obedece ao desenho do Padrão Infinito islâmico. Este desenho do Padrão Infinito, não soi cobre pesos paredes e cúpulas, ele recobre objetos, segue na trama dos fios de tecidos e tapetes. A introdução e uso do ZERO e do INFINITO na Matemática, herdados dos hindus, estabeleceu uma nítida competência, na cultura islâmica e humana entre a Natureza e divindade que não pode ser nomeada muito menos representada em imagem antropomorfa ou zoomorfa.

O campo das forças Arte entre a Natureza e o Imaterial não se esgota também na descrição, nem se transveste no mimetismo ou na narrativa. As descrições e as narrativas visuais dos povos primitivos, por mais próximas sejam da Natureza, seguem uma tendência intrínseca para que enveredem, mais cedo ou mais tarde, para a abstração geometria. Alguns povos, mesmo em culturas muito adiantadas não recaem mais nas mimeses primitivas. Assim um Padrão Infinito, tão comum na arte islâmica, retorna periodicamente e se atualiza como aconteceu na tendência da Op Art da década de 1960.

Bridjet RELEY 1931 - OP ART  1931 obra de -1964
Fig. 05 – As obras da OP ART  criam um jogo com as percepções visuais, os mecanismo e limites a provoca a retina do olho humano gerando percepções que revelam o projeto do artista. Este renuncia á percepção apenas fotográfica construindo com poucos elementos e cores uma obra, que atinge construções próprias, mas que nos leva a observar fenômenos e estruturas que a natureza produz num outro plano.

  A tendência para naturalizar - tanto o mimetismo como a mais elevada abstração geométrica – possui a sua fonte nas leis que comandam a entropia universal. Assim o hábito e a repetição mecânica de qualquer fórmula consagrada, leva ao artesanato. A repetição mecânica comanda o mundo do trabalho que consome a tudo e a todos,  aniquilando as forças criativas e inéditas necessárias ao campo da Arte. Quem segue este caminho penetra no largo e imponderável mundo da cultura humana e vai se distanciando da Arte sem sentir e sem se dar conta do desvio. No final deste caminho ergue-se o totem do HOMO FABER na concepção de Hannah Arendt. HOMO FABER que não só mecaniza e ritualiza tudo a que toca, mas entende esta ritualização e mecanização imprescindível como sua própria Natureza. Porém o mais grave acontece no mundo Imaterial onde se julga a si mesmo como isento e acima de qualquer sanção moral. A sua ética é a eficiência e o resultado final é a medida de tudo.  A sua recompensa, muitas vezes, é a sua própria danação definitiva e irreversível consumindo-se como produto e como “coisa-res” no rebanho da multidão no caminho de mais um matadouro de mais uma guerra.
Fig. 06 – A arte islâmica produziu na Alhambra de Granada, na Espanha, uma poderosa arte que impressiona pela capacidade de unir coerentemente o mundo Natural das pedras, madeiras e dos metais com o mundo Imaterial d’”Aquele que É” [Allah].Esta coerência, na união entre extremos, revela uma série de estágios criativos e ao mesmo tempo pela renúncia do que não pode ser dito, muito menos transformado em imagem mimética e antropomórficas. Evidente que cabe a crítica de que esta síntese está muito longe de exaurir a Natureza e o Imaterial.

A ruptura epistêmica - acompanhada da ruptura estética - certamente não é um dado natural. Ao contrário, ela exige profunda competência para quem irá praticar esta dupla ação. Muitos pretendentes á artista foram marcados, dura e definitivamente, por este equívoco que ameaça a ação das rupturas epistêmicas e estéticas simultâneas, empreendidas sem as condições requeridas para tanto. A falta destas condições, e a competência pessoal requerida,  faz com que o artista carregue a sina da loucura efetiva, patológica e improdutiva para a Arte. A falta destas condições e competências para o salto no escuro acaba, de fato, num no abismo de danos ou de patologias mentais. O despreparo, muitas vezes, é da própria civilização humana na qual vive o artista. O xamanismo busca fazer esta ponte com o mundo das forças a serem exploradas, tanto para a inspiração como para o trabalho físico humano coerente com esta inspiração. Contudo não é mais o campo de competência da Arte,  pois o artista - quando entregue a estas forças imponderáveis - priva-se de decidir e de deliberar.
Fig. 07 – Distante de toda a figuração antropo ou zoomorfa  o Padrão Infinito estrutura mentais e efeitos visuais que se contrapões às pesada e solidas estruturas construtivas  dando oportunidade à fantasia. Esta não estando soba a tirania da unicidade, linearidade e estático da imagem figurativa permite alçar voos mentais que caracterizaram esta cultura, As Mil e Uma Noites, a Álgebra e a preservação do pensamento clássico grego escrito. Nestes escritos apontam para a frase de Platão “depois de observarmos as estrelas, deixemos os astros em paz e façamos Astronomia”.

A “Arte é longa e a Vida é curta”, já sentenciavam os latinos.  Este longo período de amadurecimento passa por diversos estágios e que são impossíveis de desconsiderara ou queimar etapas. Cada andar deste prédio, a construir, segue os passos da criatividade. Estes estágios da criatividade pontam e culmina numa sólida e inexpugnável a coerência de organização. Em Arte é um dos sinônimos de estilo. Numa obra com estilo não existem excessos, nem existem carências ou contradições.
Fig. 08 – A construção do mundo da Arte não está entregue ao acaso. A Arte constrói o seu mundo entre a Natureza e o pensamento. Contudo a construção de toda obra de Arte segue passos que são delineados nos processos criativos, ainda que a criatividade não seja Arte em si mesma. Este processo necessita ter bem presente que ela inicia pela Sensibilidade ao Problema proposto. Avança, depois por etapas cumulativas e dos quase não é possível ignorar nenhum elo. Ao atingir a Coerência de Organização a obra de arte apresenta a condição de não faltar e não sobrar nada. Neste estágio ele atinge o ESTILO ou sua identidade legível, única e inédita.
Para ler o quadro, clique sobre o gráfico.

O papel do acaso e sugestão da mancha só favorece a quem já possui um projeto e sabe avaliar o sentido do percalço e catástrofe que qualquer interferência externa exerce ao longo da criação. Leonardo da Vinci valia-se das manchas na parede, nas nuvens ou nos materiais pra estimular e desafiar e prover o novo em suas obras. Contudo o acaso só representa a onipotência e o retorno para a Natureza e uma manifestação da entropia universal e implacável levando tudo para o caso primordial se não  existir o projeto, o pensamento e a intenção.
Fig. 09 – A catástrofe de um borrão no momento da criação final de uma obra certamente estraga todo o sentido e legibilidade de uma obra de Arte. A desculpa não cabe nunca em Arte como no esporte ou na política. A única coisa possível é recomeçar com prudência redobrada para evitar a catástrofe final. Contudo, o acaso, o borrão e o improviso podem ocorrer no início ou ao longo do processo da construção da obra de Arte. Ganha sentido na mediada em que houver um projeto que paira sobre eles e permite incluir o rejeito na obra que tiver este mundo imaterial como guia da Natureza da obra de Arte. Como tais são reelaborados e aproveitados no estágio da “flexibilidade” e da “habilidade para redefinir” no processo da criatividade.

 Se esta fonte oculta o sobrenatural necessita de um corpo físico, este necessita guardar um estrita coerência do organização física com a  sua origem. A despojada e simples palavra escrita e falada pode realizar este papel de guardar este coerência de organização. Contudo numa cadeia de palavras, na narrativa ou no discurso podem acontecer acasos e catástrofes mais subliminares e bem piores do quer uma mancha imprevista sobre o texto.  Porém a frase bíblica no “iniciou era o Verbo” não pode ser ignorada e muito menos subestimada. Diante das demais artes o Verbo possui a função imprescindível de apontar, para os sentidos humanos,  a direção e o sentido da obra física mergulhada na sua materialidade.
Fig. 10 – A Arte da Arquitetura - além da sua Natureza funcional e utilitária - sempre foi vista como um abrigo de grande parte das manifestações artísticas e criativas humanas. Não ultrapassando este patamar da sua simples função e utilidade nada mais são do da própria Natureza do HOMO FABER que  mecaniza e ritualiza tudo a que toca entende-a  imprescindível.  O resultado será uma criatura humana que terá - esta mecanização e ritualização - como prêmio e limite. Por mais premente e urgente que seja o abrigo humano para as suas necessidades básicas, a criatura humana em todos os tempos e lugares expressou o seu mundo Imaterial do seu carinho nas construções materiais de seus abrigos arquitetônicos. Em todos os tempos também o ENTE projetou o seu SER e a sua própria identidade em prédios que levam esta mensagem para todos os lugares e tempos.

O espaço entre a Natureza e o pensamento humano é imenso e inteiramente aberto e disponível ao campo da Arte para criar as suas obras. Evidentes que ali também livre curso as proclamações e reinvindicação pioneirismo e de propriedades que pretendem estabelecer cercas, limites e até promover constante corrupção. A longa e difícil preparação para a qualificação dos agentes deste espaço aberto exige uam atenção redobrada. Os hábitos de heteronímia, a falta de projeto significa a volta à Natureza. O artista privado da sua competência para deliberar e decidir fora das leis que comandam a entropia universal não produz nada de novo, significativo e permanente. No outro extremo escapismo do problema o coloca no campo da metafísica, do sobrenatural e do imponderável incapaz de gerar um corpo físico novo, significativo e permanente competente para se manifestar e atingir os sentidos humanos.

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres  :  Calmann-Lévy, 1983.

 ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992). História da arte como história da cidade. São Paulo:  Martins Fontes. 1992.
 ____.    Arte Moderna.   São Paulo  :  Companhia de Letras, 1996

SAUNDERS, Robert. A educação criadora nas artes GUILFORD e  LOWENFELDT AR’TE 10. ano III  n o 10, São Paulo :Max Limonad, 1984., pp.18-23
Texto é parte do Capítulo “Using Creative Mental Process in Planning Art and Humanities Programs”, do livro Relating Art and Humanities to the Classroom, de Robert J. Sauders. (Dubuque, WM.C. Brown Company Publishers, 1977.) Tradução : Silvia Macedo e D.T. Chiarelli.
Fig. 11 –  O artista russo André Rublev (c.1370 – c.1430) aceitou a tradição bizanri posterior ao período pos iconloclasta quando a  imagem foi Altamente estilizada e criado no interior de uma rígida

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

IMAGENS de Cartunistas Norte-Americanos
IMAGENS FIGURATIVAS e os seus TABUS
FERNANDO PESSOA - LI HOJE QUASE DUAS PÁGINAS
MUSEU DA ARTE MODESTA – Paris- France
OP ART
PELAES Maria Lucia Wochler Uma reflexão sobre o conceito de criatividade e  o ensino da Arte no ambiente escolar
PERIGOS em SUBSTITUIR O TRABALHO CORPORAL pelo MENTAL
VERDADE da NATUREZA e VERDADE do ESPÍRITO: - quem estabelece os limites entre as duas?
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