O TRIUNFALISMO e a ARTE.
O TRIUNFALISMO em
ARTE poder influir no SER do ARTISTA
e da sua OBRA. Contudo o TRIUNFALISMO em ARTE não é, ou constitui, o ENTE, nem da ARTE e, muito menos,
daquele do artista.
Fig. 01 – O TRIUNFALISMO na ARTE por Anibale CARRACCI (1560-1609) em obra que ele denominou de
“Triunfo
de Baco”. O teórico alemão Worringer trabalhou, em 1907, os conceitos
binários opostos de abstração (ABSTRAKTION) e empatia (EINFÜLUNG). Num dos extremos o EINFÜLUNG se derrama em triunfo, pois sabe-se efêmero e
descarrega as suas energias as suas EMOÇÔES buscando a empatia sem remorsos. No extremo oposto a ABSTRAKTION guarda e armazena todas estas
mesmas energias para transferi-las e sublimá-las em projetos comandados pela
RAZÃO. O teórico alemão percebeu nos mediterrâneos uma tendência a serem
comandados pelo EINFÜLUNG, enquanto os nórdicos seguiriam mais facilmente a
RAZÂO. O Carnaval Brasileiro busca formas do TRIUNFALISMO lidando com o EINFÜLUNG
e que se derrama em triunfo no espaço público na busca das mais amplas e
completas formas de empatia.
Em tempo de marketing,
propaganda e eventos efêmeros, a Arte segue, no seu SER, também pela trilha dos
cortejos triunfalistas.
Certamente os
cortejos triunfalistas não esgotam o ENTE da ARTE e nem revelam todas as suas
potencialidades da natureza e neste seu modo de SER. Quem aposta no TRIUNFALISMO,
necessita ter a certeza de ir ao encontro da fortuna de um público benevolente,
atento e, acima de tudo, pio e disposto a se deixar seduzir. Todas as grandes
ditaduras, e suas largas e bem sucedidas investidas sobre um publico pio e
benevolente, tiveram por base, de sua permanência, o componente do TRIUNFALISMO
no seu discurso, por cima e por fora. Algumas formas e mentalidades, que se
dizem da arte, se prestavam, sempre, como uma luva para este projeto TRIUNFALISTA
Fig. 02 – Os eventos do WOODSTOCK,
entre os dias de 15-19 de agosto de 1969,
enfrentaram o tabu nórdico puritano, comandado pela “ABSTRAKTION”,
transformando em totem da busca de empatia recíproca e que se expressou num
imenso TRIUNFALISMO na ARTE fora das suas tradições repressoras.
Mesmo as ideologias mais materiais e objetivas
não escapam desta armadilha que as transpassa e transcendem à própria
compreensão dos seus agentes e de seus profetas. O discurso materialista, mais
do que qualquer outro, necessita desta metafísica, mesmo contra a sua vontade. Isto
porque quanto mais o discurso materialista insiste nas suas certezas, mais ele se
perde em contradições nesta metafísica. Nesta elevada e rarefeita atmosfera
metafísica as ideologias materialistas e objetivas, buscam fugir, ao máximo, da
linearidade e univocidade. O fazem, pois o seu temor permanente é que o seu
público alcance e o discurso materialista tenha de explicar as suas meias
verdades. A sua alternativa é orientar todo seu esforço mental, tempo e economias
num discurso TRIUNFALISTA, apesar de tudo e todos dizerem e aconselharem o
contrário.
Fig. 03 – A Porta do Inferno - 1880-1917 - Augusto
RODIN (1840-1917) escancaram o binário oposto da abstração (ABSTRAKTION) e da empatia (EINFÜLUNG). O Pensador, mergulhado na RAZÃO e da “ABSTRAKTION”,
está mergulhado no cenário oposto da sensualidade, da empatia e do Einfülung.
Esta obra autobiográfica, antes de tudo, - expõe no bronze - de que o preço da
busca da TRIUNFALISMO na ARTE ,
empreendida pelo seu autor, necessita sacrificar a tudo e a todos na Porta do
Inferno.
Esta busca do
TRIUNFALISMO confunde-se, em Arte, com o FACHADISMO em geral. Mesmo que esta
FACHADISMO seja a PORTA do INFERNO magistralmente interpretado por Rodin
No auge Renascimento Alberti já havia
percebido que o TRIUNFALISMO de que a “FAMA
é a RECOMPENSA do ARTISTA”.
Leonardo da Vinci
(1452-1519) levou, às cortes do seu tempo, a proposta do TRIUNFALISMO da ARTE.
O materializou por meio de ostentosos espetáculos e eventos que organizava nas
cortes de Milão, de Florença e de Fontainebleau. Contudo conhecia os limites e
as competências deste TRIUNFALISMO da ARTE, com se verá na Mona Lisa.
O artista como “o mais inútil dos eternos temerários” necessita
experimentar, parecer e aparecer como algo que ainda não foi aceito e
naturalizado na cultura humana. Na sua busca do VIR a SER, o artista, recorre ao
espetáculo. O faz de conta e o TRIUNFALISMO responde a esta necessidade de
buscar as suas energias para superar os binários opostos da RAZÃO e da abstração (ABSTRAKTION) e empatia (EINFÜLUNG) da Natureza dada e do quotidiano
cinza e anônimo.
Contudo esta busca do
sobre humano - além dos seus naturais perigos, fáceis e fatais escorregões –
correm o risco das naturais contrafações de estereótipos. A distância - entre o
sublime e o ridículo - é mínima como o é mínima entre o autêntico e a sua contra
facção ou plágio.
Fig. 04 – O A cultura norte-americana é orientada pela
Razão da ABSTRAÇÃO. Contudo as pesadas perdas desde a Baia dos Porcos, no Vietnam, no
Iraque e agora Afganistão necessitam serem elaboradas. Nada melhor do que o TRIUNFALISMO na ARTE expressa e no
livre curso ao EINFÜLUNG. Isto
conseguido - e consentido pontual e institucionalmente - na obra de
Maurizio CATTELAN suspensa
triunfalmente na Rotunda do Museu GUGGENHEIM
( in NYT 08.11.2011)
A pós-modernidade retomou
as tendências helenísticas, maneiristas e historicistas, adotando o simulacro
por meio de um TRIUNFALISMO em ARTE, ao exemplo de todos aqueles períodos
estéticos e culturais, com limites e competências pouco definidas.
O TRIUNFALISMO encontra
uma metáfora no circo que vai embora. Deixa a grama pisada, as finanças dos
cidadãos combalidas e, para quem o assistiu, uma memória nebulosa, tanto sobre
o seu passado recente, como, no dia seguinte, sobre o presente.
As autênticas forças da Arte sempre se
materializaram e se distinguiram e adquiriram o direito ao se lugar no mundo,
por meio do conhecimento e por uma vontade coerente com o seu direito, seu
sentimento e conhecimento. A vontade, guiada pelo conhecimento, estabelece o
direito da criatura humana escolher e criar algo coerente com o seu sentimento
e com a sua vida. Nesta multiplicidade - de necessidades singulares e limitadas
da vida concreta - as forças da Arte conferem corpo à esta natureza múltipla, como também se adaptam às suas circunstâncias. No entanto, o conjunto
deste processo, não cabe e nem é coerente com a simplificação da VONTADE do
TRIUNFO (“Der TRIUNPH DES WILLENS”)
ou da VONTADE da ARTE ou (“Kunstwollen” )
São apenas outras faces da cultura da
ABSTRAÇÃO ou “ABSTRAKTION”.
O processo da criação seria reduzido ao marketing e à propaganda.
Fig. 05 – A dupla de performer’s britânicos GILBERT
[Proesch - 1943] & GEORGES [Passmore
- 1942]- numa de suas aparições públicas
do ano de2009. Recorrendo apenas às formas plásticas dos seus próprios corpos
estáticos foram bafejados pelo TRIUNFALISMO
na ARTE sempre
O gênio criativo possui
a capacidade de ampliar, em vez de reduzir,
de colocar o seu próprio ENTE no meio do processo e, no final, entregar uma nova síntese, do seu SER, ao seu
observador. Nesta síntese do processo criativo ele é competente para reunir e
conferir uma nova FORMA a todas as forças que o movem. E com esta nova FORMA, ele
instaura uma nova maneira de pensar,
de sentir e de viver. Forma sintética que encontra eco e coerência com o seu tempo
e o mundo que o cerca. Os observadores deste processo sentem-se motivados para reproduzir esta novidade. Esta tarefa,
de instaurar um novo mundo, no lugar de velho gasto e caro para manter, é
facilitada e permitida pela simplicidade, pela originalidade e pelo sentido da
síntese criada pelo gênio.
Ao gênio cabe o agir novo e único e, aos seus
discípulos, o fazer e a reprodução deste
processo por tempo indeterminado. Esta reprodução necessita de uma forma física
e sensível que se revela no ritual. Eventualmente pode-se confundir com o
TRIUNFALISMO. No entanto, apenas na sua superficialidade e na sua transitoriedade.
Fig. 06 – O TRIUNFALISMO na ARTE- Um hedonista -
estátua de bronze –o artista busca e contenta-se em demonstrar toda a sua
virtuosidade técnica como aconteceu ao longo do período helenística. O artista
deste período de passagem, entregou-se a mostra o hedonismo roído pelo
ceticismo, até as entranhas, em relação
aos grandes paradigmas do seu próprio mundo clássico. Assim a sua habilidade
técnica entrega-se ao cinismo e ao deboche na forma de um bêbado no caminho da
calçada do tonel de Diógenes. Diógenes se antecipou aos tapetes humanos que se
formam nas nossas calçadas dos grandes centros urbanos contemporâneos
Contudo a novidade do
gênio, não se restringe ao rito, ao TRIUNFALISMO ou ao evento, por inédito que
este possa parecer. O novo decorre do pensamento, da reflexão que ele instaura.
Antes, de mais nada, o gênio se coloca, no centro deste processo inovador e lhe
confere coerência, legibilidade para os outros. Cabe ao seu publico e
seguidores manterem este pensamento e esta reflexão numa ascese continuada de
escolhas coerentes. O gênio instala o seu agir
no centro deste processo e do qual irradia novas ações. Ações das quais emanam
novas obras e novos modos de viver, sentir comandados com um pensamento
coerente. Em principio, nada a ver com o TRIUNFALISMO.
Fig. 07 – A capa de disco ABRAXAS do Grupo Santana do ano de 1970 da corpo visual ao pós-industrial e o
retorno e triunfo da EMPATIA , da emoção e denominado de PSIDODÉLICO. O TRIUNFALISMO
desta ARTE- foi efêmera como no
ano anterior tinha sido WOODSTOCK, realizado no Verão nórdico entre os dias de 15-19 de agosto de 1969
O agir inovador exige
uma preparação adequada e coerente. Pois em Arte, no esporte e na política não
há como pedir desculpas pelo erro ou por um projeto equivocado para estes
campos de forças próprias. Cabe a mesma advertência para a Educação como para a
soma de Arte e de Política.
A meditação, a
elaboração longa de convicções e o acúmulo de energias são indispensáveis para
intervir no lugar e no momento oportuno e coerente e consequente no processo. O
restante perde-se em marketing, em propaganda e em eventos efêmeros
O agir inovador exige a coerência como culminância da criatividade,
como expressão do todo, gerando um condicionamento novo e escolhido entre
múltiplas possibilidades que necessitam serem descartadas.
Fig. 08– A natureza morta de Batiste Simeon CHARDIN (1699-1776) - demonstraram
ANTI - TRIUNFALISMO na ARTE . Não é
o seu tema, o seu tratamento ou as estratégias técnicas que criaram as grandes
obras de arte. O pintor Chardin atingiu magistralmente a coerência ente a vida
(ENTE) e a obra (SER)
Nem sempre é possível
tudo num determinado momento daí qualquer escolha implica em perdas e
condicionamento. Toda escolha constitui uma perda. As escolhas da simplicidade
significam perdas. Perdas da complexidade e de contradições inerentes a
múltipla natureza. Esta ascese possui como recompensa a autonomia da vontade
humana. Autonomia potencialmente favorável à aquisição do poder sobre as circunstâncias
indesejadas ou adversas decorrentes de uma entropia natural, fatal e universal.
Fig. 09 – Na 1ª obra da MONA LISA do Museu do Louvre - considerada original -
permite perceber o ANTI TRIUNFALISMO na
ARTE. Já na 2ª - recentemente descoberta num acervo do Museu do Prado, uma
das suas cópias e restaurada - uma distância infinita da criação original e a
retomada do TRIUNFALISMO em ARTE. (in Spíegel 02.02.2012)
A genialidade consiste
na escolha daquele condicionamento produtivo de suas novas ações, sentimentos e
julgamentos competentes para administrar as perdas decorrentes da escolhas
realizadas
Leonardo Vinci contribui
de forma fundamental para relativizar o conceito de TRIUNFALISMO em Arte. A sua pintura Mona Lisa constitui uma obra
inegável no contraditório de todo TRIUNFALISMO em Arte. Leonardo abriu caminho nesta obra, por meio
da tinta e do pincel sobre uma superfície para conferir corpo físico e sensível
às suas idéias. Para criar a identidade -
e ter a maior fortuna na natureza da Arte - teve de trilhar a difícil e a problemática
coerência entre seu projeto e os meios físicos escolhidos. Para confirmar o
acerto desta coerência do pintor, com a sua mentalidade, basta observar as
filas e as multidões que se formam, no Louvre, diante da “Gioconda”, onde a fortuna desta obra se materializa todos os dias.
Fig. 10 – O tabu do
ANTI-TRIUNFALISMO - enfrentado por Leonardo da Vinci - teve o seu êxito -
confirmado nas multidões de apreciadores - que lhe conferem razão na
transformação da sua obra em totem, sem necessitar render-se no momento
original da criação da Mona Lisa ao
TRIUNFALISMO em ARTE.
Chega-se se a conclusão de que o TRIUNFALISMO
em ARTE poder influir no SER do
ARTISTA e da sua OBRA. Contudo o TRIUNFALISMO em ARTE não é constitui o ENTE, nem da ARTE e muito menos daquele
do artista.
FONTES em
ALBERTI, Leon Battista
(1404-1474), Da pintura, tradução de Antonio da Silveira Mendonça : Campinas
: Editora da Unicamp, 1989.
WORRINGER, Wilhelm (1881 -
1965). Abstraccion y naturaleza.
México : Fondo de Cultura Econômica, 1953. 137p. (tese
de doutorado, defendida em 1907 - com 1ª.ed. 1908 - sob o título Abstraktion un Einfülung- traduzido para a francês como abstraction et empathie)
MONA
LISA do PRADO
A noção de Kunstwollen Aloïs Riegl (1858-1905)
A
coerência na Arte por Robert SAUNDERS
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