terça-feira, 13 de março de 2012

ISTO é ARTE - 022








O TRIUNFALISMO e a ARTE.

O TRIUNFALISMO em ARTE poder influir no SER do ARTISTA e da sua OBRA. Contudo o TRIUNFALISMO em ARTE não é, ou constitui, o ENTE, nem da ARTE e, muito menos, daquele do artista.

Fig. 01 –  O  TRIUNFALISMO na ARTE por Anibale CARRACCI (1560-1609) em obra que ele denominou de “Triunfo de Baco”. O teórico alemão Worringer trabalhou, em 1907, os conceitos binários opostos de abstração (ABSTRAKTION) e empatia (EINFÜLUNG). Num dos extremos o  EINFÜLUNG  se derrama em triunfo, pois sabe-se efêmero e descarrega as suas energias as suas EMOÇÔES buscando a empatia sem remorsos.  No extremo oposto a  ABSTRAKTION guarda e armazena todas estas mesmas energias para transferi-las e sublimá-las em projetos comandados pela RAZÃO. O teórico alemão percebeu nos mediterrâneos uma tendência a serem comandados pelo EINFÜLUNG, enquanto os nórdicos seguiriam mais facilmente a RAZÂO. O Carnaval Brasileiro busca formas do TRIUNFALISMO lidando com o EINFÜLUNG e que se derrama em triunfo no espaço público na busca das mais amplas e completas formas de empatia.
   
   Em tempo de marketing, propaganda e eventos efêmeros, a Arte segue, no seu SER, também pela trilha dos cortejos triunfalistas.
         Certamente os cortejos triunfalistas não esgotam o ENTE da ARTE e nem revelam todas as suas potencialidades da natureza e neste seu modo de SER. Quem aposta no TRIUNFALISMO, necessita ter a certeza de ir ao encontro da fortuna de um público benevolente, atento e, acima de tudo, pio e disposto a se deixar seduzir. Todas as grandes ditaduras, e suas largas e bem sucedidas investidas sobre um publico pio e benevolente, tiveram por base, de sua permanência, o componente do TRIUNFALISMO no seu discurso, por cima e por fora. Algumas formas e mentalidades, que se dizem da arte, se prestavam, sempre, como uma luva para este  projeto TRIUNFALISTA

Fig. 02 –  Os eventos  do  WOODSTOCK, entre os dias  de 15-19 de agosto de 1969, enfrentaram o tabu nórdico puritano, comandado pela “ABSTRAKTION”, transformando em totem da busca de empatia recíproca e que se expressou num imenso TRIUNFALISMO na ARTE  fora das suas tradições repressoras.

 Mesmo as ideologias mais materiais e objetivas não escapam desta armadilha que as transpassa e transcendem à própria compreensão dos seus agentes e de seus profetas. O discurso materialista, mais do que qualquer outro, necessita desta metafísica, mesmo contra a sua vontade. Isto porque quanto mais o discurso materialista insiste nas suas certezas, mais ele se perde em contradições nesta metafísica. Nesta elevada e rarefeita atmosfera metafísica as ideologias materialistas e objetivas, buscam fugir, ao máximo, da linearidade e univocidade. O fazem, pois o seu temor permanente é que o seu público alcance e o discurso materialista tenha de explicar as suas meias verdades. A sua alternativa é orientar todo seu esforço mental, tempo e economias num discurso TRIUNFALISTA, apesar de tudo e todos dizerem e aconselharem o contrário.

Fig. 03 –  A Porta do Inferno - 1880-1917  - Augusto RODIN (1840-1917) escancaram o binário oposto da abstração (ABSTRAKTION) e da empatia (EINFÜLUNG). O Pensador, mergulhado na RAZÃO e da “ABSTRAKTION”, está mergulhado no cenário oposto da sensualidade, da empatia e do Einfülung. Esta obra autobiográfica, antes de tudo, - expõe no bronze - de que o preço da busca da TRIUNFALISMO na ARTE , empreendida pelo seu autor, necessita sacrificar a tudo e a todos na Porta do Inferno.

Esta busca do TRIUNFALISMO confunde-se, em Arte, com o FACHADISMO em geral. Mesmo que esta FACHADISMO seja a PORTA do INFERNO magistralmente interpretado por Rodin
 No auge Renascimento Alberti já havia percebido que o TRIUNFALISMO de que a “FAMA é a RECOMPENSA do ARTISTA”.
Leonardo da Vinci (1452-1519) levou, às cortes do seu tempo, a proposta do TRIUNFALISMO da ARTE. O materializou por meio de ostentosos espetáculos e eventos que organizava nas cortes de Milão, de Florença e de Fontainebleau. Contudo conhecia os limites e as competências deste TRIUNFALISMO da ARTE, com se verá na Mona Lisa.
O artista como “o mais inútil dos eternos temerários” necessita experimentar, parecer e aparecer como algo que ainda não foi aceito e naturalizado na cultura humana. Na sua busca do VIR a SER, o artista, recorre ao espetáculo. O faz de conta e o TRIUNFALISMO responde a esta necessidade de buscar as suas energias para superar os binários opostos da RAZÃO e da abstração (ABSTRAKTION) e empatia (EINFÜLUNG) da Natureza dada e do quotidiano cinza e anônimo.
Contudo esta busca do sobre humano - além dos seus naturais perigos, fáceis e fatais escorregões – correm o risco das naturais contrafações de estereótipos. A distância - entre o sublime e o ridículo - é mínima como o é mínima entre o autêntico e a sua contra facção ou plágio.

Fig. 04 –  O A cultura norte-americana é orientada pela Razão da ABSTRAÇÃO. Contudo as pesadas perdas  desde a Baia dos Porcos, no Vietnam, no Iraque e agora Afganistão  necessitam serem elaboradas. Nada melhor do que o  TRIUNFALISMO na ARTE expressa e no livre curso ao EINFÜLUNG. Isto  conseguido - e consentido pontual e institucionalmente - na  obra de  Maurizio  CATTELAN suspensa triunfalmente na Rotunda do Museu GUGGENHEIM  ( in NYT 08.11.2011)

A pós-modernidade retomou as tendências helenísticas, maneiristas e historicistas, adotando o simulacro por meio de um TRIUNFALISMO em ARTE, ao exemplo de todos aqueles períodos estéticos e culturais, com limites e competências pouco definidas.
O TRIUNFALISMO encontra uma metáfora no circo que vai embora. Deixa a grama pisada, as finanças dos cidadãos combalidas e, para quem o assistiu, uma memória nebulosa, tanto sobre o seu passado recente, como, no dia seguinte, sobre o presente.
 As autênticas forças da Arte sempre se materializaram e se distinguiram e adquiriram o direito ao se lugar no mundo, por meio do conhecimento e por uma vontade coerente com o seu direito, seu sentimento e conhecimento. A vontade, guiada pelo conhecimento, estabelece o direito da criatura humana escolher e criar algo coerente com o seu sentimento e com a sua vida. Nesta multiplicidade - de necessidades singulares e limitadas da vida concreta - as forças da Arte conferem corpo à esta natureza múltipla,  como também se adaptam às  suas circunstâncias. No entanto, o conjunto deste processo, não cabe e nem é coerente com a simplificação da VONTADE do TRIUNFO (“Der TRIUNPH DES WILLENS”) ou da VONTADE da ARTE ou (“Kunstwollen” ) São apenas outras faces da cultura da ABSTRAÇÃO ou “ABSTRAKTION”. O processo da criação seria reduzido ao marketing e à propaganda.

Fig. 05 –  A dupla de performer’s britânicos  GILBERT [Proesch - 1943] & GEORGES [Passmore - 1942]-  numa de suas aparições públicas do ano de2009. Recorrendo apenas às formas plásticas dos seus próprios corpos estáticos  foram bafejados pelo  TRIUNFALISMO na ARTE sempre

O gênio criativo possui a capacidade de ampliar, em vez de  reduzir, de colocar o seu próprio ENTE no meio do processo e, no final,  entregar uma nova síntese, do seu SER, ao seu observador. Nesta síntese do processo criativo ele é competente para reunir e conferir uma nova FORMA a todas as forças que o movem. E com esta nova FORMA, ele instaura uma nova maneira de pensar, de sentir e de viver. Forma sintética que encontra eco e coerência com o seu tempo e o mundo que o cerca. Os observadores deste processo sentem-se motivados para reproduzir esta novidade. Esta tarefa, de instaurar um novo mundo, no lugar de velho gasto e caro para manter, é facilitada e permitida pela simplicidade, pela originalidade e pelo sentido da síntese criada pelo gênio.
Ao gênio cabe o agir novo e único e, aos seus discípulos, o fazer e a reprodução deste processo por tempo indeterminado. Esta reprodução necessita de uma forma física e sensível que se revela no ritual. Eventualmente pode-se confundir com o TRIUNFALISMO. No entanto, apenas na sua superficialidade e na sua transitoriedade.

Fig. 06 –  O  TRIUNFALISMO na ARTE- Um hedonista - estátua de bronze –o artista busca e contenta-se em demonstrar toda a sua virtuosidade técnica como aconteceu ao longo do período helenística. O artista deste período de passagem, entregou-se a mostra o hedonismo roído pelo ceticismo, até as entranhas,  em relação aos grandes paradigmas do seu próprio mundo clássico. Assim a sua habilidade técnica entrega-se ao cinismo e ao deboche na forma de um bêbado no caminho da calçada do tonel de Diógenes. Diógenes se antecipou aos tapetes humanos que se formam nas nossas calçadas dos grandes centros urbanos contemporâneos

Contudo a novidade do gênio, não se restringe ao rito, ao TRIUNFALISMO ou ao evento, por inédito que este possa parecer. O novo decorre do pensamento, da reflexão que ele instaura. Antes, de mais nada, o gênio se coloca, no centro deste processo inovador e lhe confere coerência, legibilidade para os outros. Cabe ao seu publico e seguidores manterem este pensamento e esta reflexão numa ascese continuada de escolhas coerentes. O gênio instala o seu agir no centro deste processo e do qual irradia novas ações. Ações das quais emanam novas obras e novos modos de viver, sentir comandados com um pensamento coerente. Em principio, nada a ver com o TRIUNFALISMO.

Fig. 07 –  A capa de disco ABRAXAS do Grupo  Santana do ano de  1970 da corpo visual ao pós-industrial e o retorno e triunfo da EMPATIA , da emoção e denominado de PSIDODÉLICO. O  TRIUNFALISMO desta ARTE- foi efêmera como no ano anterior tinha sido WOODSTOCK, realizado no Verão nórdico entre os dias  de 15-19 de agosto de 1969

O agir inovador exige uma preparação adequada e coerente. Pois em Arte, no esporte e na política não há como pedir desculpas pelo erro ou por um projeto equivocado para estes campos de forças próprias. Cabe a mesma advertência para a Educação como para a soma de Arte e de Política.
A meditação, a elaboração longa de convicções e o acúmulo de energias são indispensáveis para intervir no lugar e no momento oportuno e coerente e consequente no processo. O restante perde-se em marketing, em propaganda e em eventos efêmeros
O agir inovador exige a coerência como culminância da criatividade, como expressão do todo, gerando um condicionamento novo e escolhido entre múltiplas possibilidades que necessitam serem descartadas.

Fig. 08–  A natureza morta  de Batiste Simeon CHARDIN (1699-1776) - demonstraram ANTI - TRIUNFALISMO na ARTE . Não é o seu tema, o seu tratamento ou as estratégias técnicas que criaram as grandes obras de arte. O pintor Chardin atingiu magistralmente a coerência ente a vida (ENTE) e a obra (SER)

Nem sempre é possível tudo num determinado momento daí qualquer escolha implica em perdas e condicionamento. Toda escolha constitui uma perda. As escolhas da simplicidade significam perdas. Perdas da complexidade e de contradições inerentes a múltipla natureza. Esta ascese possui como recompensa a autonomia da vontade humana. Autonomia potencialmente favorável à aquisição do poder sobre as circunstâncias indesejadas ou adversas decorrentes de uma entropia natural, fatal e universal.

Fig. 09 –  Na 1ª obra da MONA LISA   do Museu do Louvre - considerada original - permite perceber o ANTI TRIUNFALISMO na ARTE. Já na 2ª - recentemente descoberta num acervo do Museu do Prado, uma das suas cópias e restaurada - uma distância infinita da criação original e a retomada do TRIUNFALISMO em ARTE.  (in Spíegel 02.02.2012)

A genialidade consiste na escolha daquele condicionamento produtivo de suas novas ações, sentimentos e julgamentos competentes para administrar as perdas decorrentes da escolhas realizadas
Leonardo Vinci contribui de forma fundamental para relativizar o conceito de TRIUNFALISMO em Arte.  A sua pintura Mona Lisa constitui uma obra inegável no contraditório de todo TRIUNFALISMO em Arte.  Leonardo abriu caminho nesta obra, por meio da tinta e do pincel sobre uma superfície para conferir corpo físico e sensível às suas idéias.  Para criar a identidade - e ter a maior fortuna na natureza da Arte  - teve de trilhar a difícil e a problemática coerência entre seu projeto e os meios físicos escolhidos. Para confirmar o acerto desta coerência do pintor, com a sua mentalidade, basta observar as filas e as multidões que se formam, no Louvre, diante da “Gioconda”, onde a fortuna desta obra se materializa todos os dias. 

Fig. 10 –  O tabu do ANTI-TRIUNFALISMO - enfrentado por Leonardo da Vinci - teve o seu êxito - confirmado nas multidões de apreciadores - que lhe conferem razão na transformação da sua obra em  totem, sem necessitar render-se no momento original da criação da Mona Lisa ao TRIUNFALISMO em ARTE.

 Chega-se se a conclusão de que o TRIUNFALISMO em ARTE poder influir no SER do ARTISTA e da sua OBRA. Contudo o TRIUNFALISMO em ARTE não é constitui o ENTE, nem da ARTE e muito menos daquele do artista.



FONTES em

ALBERTI, Leon Battista (1404-1474), Da pintura, tradução de Antonio da Silveira Mendonça : Campinas : Editora da  Unicamp, 1989.


WORRINGER,  Wilhelm (1881 - 1965).  Abstraccion y naturaleza.  México :  Fondo de Cultura   Econômica, 1953. 137p. (tese de doutorado, defendida em  1907 - com 1ª.ed. 1908 -  sob o título Abstraktion un Einfülung- traduzido para a francês como abstraction et empathie)

MONA LISA do PRADO

A noção de Kunstwollen  Aloïs Riegl (1858-1905)

A coerência na Arte por Robert SAUNDERS
A presente postagem possui objetivos puramente didáticos
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