UMA das EXPRESSÕES de AUTONOMIA da ARTE no
Fig. 01 – “Cinqüentenário
do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul” - Aldo
Locatelli (1915-1962) no Instituto de Artes da UFRGS.- mural 290 cm X930 cm
- pormenor - fev 1958
As ARTES completam a criação
e a elaboração das obras na sua recepção
pelos seus observadores. Para o êxito desta recepção a palavra orienta e conduz
os sentidos dos observadores destas obras.
Nesta direção publicam-se
as palavras de Tasso Corrêa, professor de Piano. Suas palavras conduzem o
observador para as condições da Arte institucionalizada em Porto Alegre em
outubro de 1934. No centro deste texto está o problema da autonomia
deste criador das Artes. Para isto ele se expunha aos riscos da expressão desta
autonomia. Enfrentava os representantes mais conceituados da sociedade da época
estavam no palco do Theatro São Pedro presidindo uma formatura do Instituto de
Belas Artes do Rio Grande do Sul. Eles dirigiam esta instituição, mas que eram estranhos
à natureza da criação da Arte. As formandas eram a expressão cultural maior e
das suas esperanças desta sociedade. O paraninfo era um docente do
Conservatório do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Ele expôs
publicamente a heteronomia dos profissionais de arte e a falta de absoluta de
poder dos professores desta instituição. Os dirigentes amadores desta
instituição expulsaram o temerário no mesmo dia em que ele pronunciou estas
palavras.
Seguem as palavras pronunciadas no THEATRO SÃO
PEDRO em 24 de outubro de 1933 no texto sem cortes para conhecimento, avaliação
e comparação do que está acontecendo nas Artes em novembro de 2011.
Fig. 02 – Theatro
São Pedro locla de prestígio e consagração
situado em Porto Alegre junto à sede dos
poderes maiores ativos no Rio Grande do Sul.
DISCURSO de TASSO
CORRÊA como PARANINFO da TURMA de FORMANDAS de 1933 em PIANO do IBA-RS
“Exmo. sr. dr. Secretário do Interior, snrs. diretores,
srs. professores do Instituto de Belas Artes, Jovens Diplomandas:
-
É para mim insigne honra paraninfar a presente turma de diplomandas do
Conservatório de Música.
Surpreende-me, deveras o convite das jovens
professoras, porquanto tem sido praxe, até este momento recair a escolha de
paraninfos, em nomes alheios ao corpo docente do Conservatório de Música.
Foram paraninfos das turmas anteriores,
vultos eminentes, ficando sempre de parte aqueles que dedicam o melhor de seus
esforços, aqueles que se sacrificam em prol
da difusão do ensino da música em nossa terra, tudo fazendo pelo
engrandecimento desta casa, donde tem saído alunos brilhantes, verdadeiros
artistas.
E é do prestígio e da competência destes
mesmos batalhadores que ainda se mantém o nosso Conservatório de Música, apesar
de fatores, os mais diversos, que lhe tem tolhido o desenvolvimento.
Imagem : GONÇALVES VIANNA , 1945.
Fig.
03 – O médico Olinto Olympio de Oliveira
*1866..+1956..doutor em Pediatria (1886), fundador e diretor da Faculdade
de Medicina e do Instituto de Belas
Artes do RS foi presidente da sua Comissão Central de 1908 até 1919,
criando o seu Conservatório em 1909 e a sua Escola de Artes em 1910. De
1930-1945 presidiu a Comissão de Saúde Materno Infantil.do Ministério de
Educação e Saúde Pública.
.
Em
1909, o ilustre esteta dr. Olinto de Oliveira e alguns denodados amadores,
fundaram o Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul, dando-lhe uma
organização que, para aquela época, nada deixava a desejar.
Com o correr dos anos, o Instituto foi
naturalmente progredindo, tendo ocupado a direção do departamento de música o
saudoso Araujo Viana e os professores Henri Penasse e Guilherme Fontainha.
Á frente do Instituto, desde a sua fundação,
durante mais de dez anos esteve o seu principal animador, o dr. Olinto de
Oliveira que, transferindo residência para a capital de República, deixou com a
responsabilidade do cargo um grande amigo de todos nós, o dr. Antônio Marinho
Chaves, que a par de dedicação e entusiasmo por assunto de arte, alia
qualidades de administrador, homem de boníssimo coração, animado de espírito de
justiça digno de sua personalidade.
Foi uma gestão benéfica, de resultados reais,
sob todos os pontos de vista. Terminado o período de administração desse
ilustre rio-grandense, havia um saldo em caixa, para ser aproveitado de maneira
útil, de cerca de meia centena de contos de reis.
Em 1923, seu último ano de presidência, tive
oportunidade de, na direção interina do Conservatório de Musica, constatar o
que acabo de proferir.
Imagem : Arquivo Geral do Instituto de Artes da, UFRGS
foto de quadro de formatura
Fig.
04 – Antônio MARINHO LOUREIRO CHAVES – Nascido em 1870 em Triunfo-RS, Formado pela
Faculdade de Direito de São Paulo em 1893. Procurador Fiscal e Secretário da Fazenda do Estado. Presidente da
Comissão Central do Instituto de Belas Artes do RS entre os dias 04 de outubro de 1921 e 14 de outubro de 1925.
Sem
favor, pode considerar o dr. Marinho Chaves como um dos grandes benfeitores do
ensino artístico no Rio Grande do Sul.
Daquela época para cá, nada direi, porque é
do conhecimento público tudo o que se tem passado nesta escola, onde as jovens
diplomandas colheram ensinamentos uteis e aproveitáveis no exercício da
profissão que abraçaram.
Imagem : Arquivo Geral do Instituto de Artes da, UFRGS
foto de quadro de formatura
Fig. 05 – João
Fernando MOREIRA Presidente da Diretoria da Comissão Central o Instituto de
Artes de 29.10.1929 até 26.10.1933
Somente
acentuarei que, neste período foi oferecido à nossa escola a melhor das oportunidades para que
ela tomasse alce, criasse asas e se elevasse á altura dos maiores
estabelecimentos congêneres.
Essa
oportunidade foi oferecida a direção do Conservatório de Música, pelo grande
Otavio Rocha, o remodelador da nossa bela capital.
Hoje teriamos incorporados ao patrimônio do
Instituto de Belas Artes, pelo menos uns mil e quinhentos a dois mil contos de
réis.
Teríamos em plena atividade uma modelar Banda
de Musica assim como uma magnífica orquestra sinfônica.
Esta solenidade não estaria, estejam certos
disso, se realizando neste local, e sim, num imponente e adequado edifício próprio.
De simples Escola de Música, com a criação dos
cursos necessários ao ensino de todos os instrumentos, quer solistas, para a
Banda ou orquestra, passaríamos a ter, na capital do Rio Grande do Sul, um
verdadeiro Conservatório de Música.
Porto Alegre seria um viveiro de excelentes
musicistas, profissionais ou amadores.
Infelizmente o encargo oferecido pelo
benemérito edil da Capital não foi aceito, atirando-se pela janela o futuro do
ensino da musica em nossa terra.
Fig. 06 – Palco do
THEATRO SÃO PEDRO local da Formatura do Instituto de Belas Artes do Rio
Grande do Sul no dia 24 de outubro de 1933 e 3º aniversário do triunfo da Revolução
de 1933.
Agora nossas esperanças estão voltadas para
aquele que dentro de poucas horas assumirá a presidência do Instituto de Belas
Artes.
Vem ele animado da melhor boa vontade e nos
proporcionará o que de melhor poderíamos desejar - a reorganização e o reergui
mento do Instituto de Belas Artes.
Para bom desempenho de seu governo, é
necessária a cooperação de todos aqueles
que sinceramente desejam o progresso desta casa.
Senhores professores do Conservatório de
Música!
Daqui por diante, creio que seremos ouvidos
em nossas sugestões, e si elas não forem aceitas, serão pelo menos, dignas de
atencioso estudo, por parte desse homem inteligente, culto, justiceiro e
patriota, que desconhece inteiramente o que sejam sentimentos menos dignos e
menos nobres.
O que falta a esta casa é justamente
dedicação, competência e largueza de vistas.
Mau grado as premências financeiras, poderíamos,
nestes últimos onze anos, ter atingido a um grau de progresso e desenvolvimento
dos mais apreciáveis. Esperemos dias melhores, pois, de homens idôneos, capazes
e animados de ardorosa vontade de trabalhar, só poderão surtir efeitos
salutares.
Imagem : Arquivo Geral do Instituto de Artes da,
UFRGS – foto de quadro de formatura
Fig.
07 – João Carlos Machado
Secretário do Interior do Governo Estadual foi o quinto presidente da Comissão Central do Instituto
foi o. Ele iniciou sua presidência no dia 26 de outubro de 1933. Como membro do
governo Estadual presidiu a criação da Universidade de Porto Alegre. Mas no
interior do Instituto não há documento que desvelam as razões pelas quais a sua
administração terminou sem o menor registro da causa, ou causas, que o tenha
afastado da presidência.
O
que cumpre, professores do Instituto de Belas Artes, e aqueles que nesta casa
tem auferido conhecimentos, é cerrar fileiras junto ao dr. João Carlos Machado,
não criando dificuldades á sua ação, pelo contrário apoiando-o em todos os seus
atos e confiantes que de sua pessoa somente poderemos esperar confortadora justiça.
Avulta, dia a dia, no entanto, a necessidade
para o nosso Instituto, de nova orientação, de nova organização administrativa.
Ousarei dizer aqui alguma cousa, talvez de
utilidade para aqueles que amanhã, nortearão o destino do Instituto de Belas
Artes.
A posição de inferioridade dos professores,
assevero sem receio de errar, é o motivo principal do fracasso das ultimas
administrações.
Os professores, aqueles que são os
verdadeiros sustentáculos deste Instituto, pelo seu trabalho profícuo e honesto
- pouca gente sabe disto - não tem garantia de espécie alguma dentro desta
casa.
Nós os professores, não temos a menor
interferência, nem na administração, nem na parte técnica.
O Instituto de Belas Artes do Rio Grande
do Sul é uma instituição dirigida por médicos, advogados, engenheiros,
comerciantes, etc.
Daí se
verifica que o Instituto, sendo uma organização destinada á difusão do ensino
artístico no Rio Grande do Sul, é orientado por cavalheiros de alta distinção,
mas que infelizmente, na sua grande maioria, nada entende de Arte.
Fig.
08 – Turma de estudantes de Assuero Garritano professor (1924-1937)
de História da Música Conservatório do
Instituto de Belas Artes do RS e partir
de 1938 titular da cadeira de ‘Análise
Musical’ transformada em ‘Harmonia e
Morfologia Musical” da Escola Nacional de Música da Universidade do
Brasil
Para
demonstrar o absurdo da nossa organização administrativa lembraria o seguinte:
uma Faculdade de Medicina, dirigida por uma comissão de músicos, pintores e
escultores...
A sua situação deveria ser idêntica á do Instituto de Belas Artes.
Eu alvitraria a idéia de se incluir, na
Comissão Central do Instituto de Belas Artes, todos os professores desta casa,
e que essa comissão mista, de
profissionais e de amantes das Belas Artes, resolvesse, então, sobre os diversos
assuntos técnicos e administrativos.
Entrando nos eixos e com o apoio de s. ex. o
gal. Flores da Cunha, chefe do governo rio-grandense, dentro de pouco tempo, teríamos
um estabelecimento modelar, para isso nos valendo, é claro, do prestigioso
baluarte do nosso atual presidente eleito, dr. João Carlos Machado, que já deve
ter alcançado a deficiência da nossa presente estrutura administrativa.
Jovens diplomandas!
Perdoem esta palavras ácidas, secas, mas
estejam certas de que elas partem de quem já muito se tem sacrificado,
dedicadamente, em pról da música no Rio Grande do Sul.
Além da minha atividade no magistério
oficial e particular tenho promovido movimentos de funda repercussão na
educação musical de nossa gente. Fundei sociedades de cultura, organizei
concertos sinfônicos, promovi intercâmbio artístico com centros culturais
nacionais e estrangeiros, trazendo à Porto Alegre artistas de nome universal.
Infelizmente, pela falta de entusiasmo e
de amparo, por parte daqueles que mais se deveriam interessar pelas cousas de
Arte, entre nós, vi resultar quasi inutil a minha contribuição.
Jovens
professoras!
Creio que o gesto amável e bondoso das minhas caras colegas,
convidando-me para seu paraninfo, seja um preito ao meu devotamento, ao meu
trabalho, ao meu entusiasmo. Por isso, tão grande honra só pode ser, para mim,
motivo de orgulho e de conforto.
Lamento não ter expressões ricas, frases
cintilantes de espírito, para agradecer as palavras cativantes da inteligência
e culta oradora, interprete das minhas gentis paraninfandas.
Com a minha profunda gratidão, faço os
mais sinceros e ardentes votos pela felicidade de todas, almejando, para cada
uma, um futuro brilhante, cheio de alegrias e satisfações.
Disse”.
Fonte: DISCURSO de TASSO CORRÊA como PARANINFO no TEATRO SÃO
PEDRO DIÁRIO DE NOTÍCIAS – Porto Alegre : Diários Associados, dia 26.10.1933, p.4
Imagem : Arquivo Geral do Instituto de Artes da, UFRGS
Fig.
09 – Turma de estudantes do Conservatório
do Instituto de Belas Artes do RS com os professores Ida Schulze Brandt.de
Teoria Musical e de Assuero Garritano de História da Música (1924-1937)
O nome do
Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul constava, um ano após este
discurso, na lista das instituições fundadoras de Universidade de Porto Alegre
(UPA). Na prática isto significava que deveria trocar de mantenedora. Este fato
foi um dos primeiros obstáculos do funcionamento prática desta nova
Universidade. O primeiro Reitor da UPA era André da Rocha, que também fora da
Comissão Central do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul e onde
ocupara o cargo de Vice-Presidente e era cogitado para a sua Presidência, que
não aceitou. Indicou para o cargo da direção do IBA-RS o Professor Tasso Corrêa
que havia sido o seu aluno na Faculdade de Direito, prédio no qual ficava a
Reitoria. O reitor renunciou em 1937 diante do Estado Novo e denunciando que as
instituições de origem da UPA continuavam a funcionar cada uma por si e por
seus próprios projetos e meios. No caso do IBA-RS a Comissão Central continuava
de posse dos bens e era uma mantenedora paralela mas inoperante. Esta
contradição levou a expulsão do IBA-RS da Upa em 05 de janeiro de 1939. A
COMISSÂO CENTRAL entregou a direção do IBA-RS à sua Congregação. Com isto Tasso
Corrêa como seu presidente iniciou uma administração autônoma do IBA-RS. Sendo
reeleito por unanimidade até novembro de 1958. Esta autonomia irá até 30 de novembro de 1962 quando
retornou à Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Com este fato retornava
à uma administração de pessoas externas ao campo das Artes.
Imagem : Arquivo Geral do Instituto de Artes da, UFRGS
Fig.
10 – Tasso Bolívar Dias CORRÊA, *1901.+ 1977..Convidado, e m 1922, para ser
professor de Piano do Conservatório do Instituto de Belas Artes Em 1923 é diretor interino no afastamento de
Guilherme Fontainha. Organiza, em 1925 audição de Piano no Teatro São Pedro com
palestra de Eduardo Guimarães Em Atacou a administração da Comissão Central no
dia 24. 10. 1933 no Theatro São Pedro . Nomeado Diretor do Instituto de Belas
Artes, em 16.04. 1936, da Universidade de Porto Alegre Como presidente da Congregação recebeu, em
06.01.1939 a administração e propriedade da Comissão Central do IBA-RS. Abriu,
em 15.11.1939, o 1º Salão de Artes do Rio Grande do Sul. Liderou entre 1941 até
1943 uma campanha nacional para a construção do novo prédio. Promoveu e abriu,
em 22 de abril de 1958, o 1º Congresso
Brasileiro de Arte e o 1º Salão
Pan-Americano de Artes entre os eventos do Cinquentenário do IBA-RS. No mesmo ano se aposentou por não atingir a
unanimidade dos votos da Congregação para a sua reeleição. Recebeu, em 1970, o título de Professor
Emérito da UFRGS junto com Fernando Corona
Tasso Bolívar Dias
Corrêa era formado, em 1921, em piano na Escola Nacional de Música do Rio de
Janeiro. Ao mesmo tempo em inicia o curso de Direito, no Rio. Integra-se na
vida cultural de Porto Alegre em 1922. Participou de grupos de intelectuais,
figurando em várias revistas, orientando músicos e grupos de Arte.(Corte Real
1980). Em 1923, quando assume interinamente a Direção do Conservatório do
Instituto Conclui o curso da Faculdade de Direito sob a orientação de Manuel
André da Rocha Com os decretos de 1931, da Revolução de 30, sobre a formação da
Universidade, toma iniciativa para apropriar o Conservatório para essas novas
exigências. Estava qualificado, assim,
para a sua afirmação e para lutar pela legitimação do campo artístico
quando tem a oportunidade de pronunciar o seu discurso no teatro São Pedro,
atacando de frente um campo que julga incompetente e desqualificado no espaço
de Arte
Antes do discurso de
1933 o professor Tasso Corrêa já ensaiara a possibilidade de um confronto com a
estrutura da Comissão que julgava ultrapassada. A Comissão legitimada pela
estrutura das figuras e postos políticos e econômicos que a compõe além de sua
origem oficial. O docente era portador
de um belo currículo, da estima dos alunos e da sociedade.
O
professor Tasso era docente de Piano. As aulas eram individuais, sob a
orientação do docente, num período de trinta minutos. Há vários registros de
cobrança, tanto do Diretor do Conservatório como, mais adiante, do Presidente
do Instituto, do cumprimento do horário das aulas do docente.
Alguns meses antes do ato do Teatro São
Pedro, junho de 1933, há um pedido de alunos para permanência do docente ao
diretor do Conservatório de Música, prof. José Joaquim de Andrade Neves, em
face de ameaça do prof. Tasso em se demitir. A
resposta do diretor foi evasiva.
Fig. 11 – Tasso Bolivar Dias Corrêa ao lado de
seu irmão Ernani Dias Corrêa (1900-1982)
e sob a imagem de João Fahrion (1898-1970)
no mural de Aldo Locatelli no
Instituto de Artes da UFRGS
A Comissão Central do
Instituto foi constituída em 1908 como uma mantenedora e sem fins lucrativos,
com base na Lei Federal nº 173 de 10/09/1893 que regulava a organização das
associações. Entre os 25 membros, constantemente recompostos, era escolhida a diretoria
executiva para um mandato de quatro anos, contando com Presidente e Vice,
secretário e tesoureiro. Se algum dos membros, por acaso, viesse a ocupar o
cargo de professor, deveria desligar-se da Comissão Central.
O Instituto tinha competência em todo Rio
Grande do Sul. Poderia ser comparado a uma secretaria de cultura com o objetivo
da promoção das Belas Artes no estado. A sua estrutura, contudo, poderia ser
comparada a diretoria de um clube ou de uma provedoria de uma irmandade. Os
professores eram contratados e demitidos sem serem ouvidos.
O Império Brasileiro não havia conseguido
cumprir as suas promessas para institucionalizar o espaço artístico
sul-rio-grandense. Uma das primeiras
tarefas da República foi tentar cumprir as suas promessas nos estados, com
maior autonomia do que as antigas provinciais. A ortodoxia positivista de Júlio
de Castilhos (1860-1903) condenava a ingerência do Estado na manutenção direta
de escolas. Assim o Instituto era o braço, constituído pelo Estado, através do
qual o governo poderia manter o ensino de Arte. A Comissão Central, através dos
seus membros, executava essa tarefa. Anualmente havia suplementação de verbas
públicas aprovadas pela Assembléia Legislativa [Assembléia dos Representantes] e
pela Intendência municipal de Porto Alegre. O aluno contribuía com uma parcela
de matrícula e os serviços da secretaria.
O grande problema para a Arte era que essa
diretoria era composta de amadores e com competência periférica nesse campo.
Amadores detentores de vastas redes de forças políticas, financeiras, técnicas
e sociais ao estilo dos tradicionais coronéis imperiais. Contudo no campo
artístico careciam de legitimidade e experiência de prática, como seus agentes
internos. Os clubes de futebol brasileiros nasceram nesta mesma época e até
hoje existe uma imensa distância entre quem joga e quem dirige estes clubes. Em
1908, a mesma distância era expressa no IBA_RS em relação aos docentes que
recebiam por hora aula dada, com
contratos sem direito a férias e que podiam não serem rompidos a qualquer
momento devido a qualquer causa
Diante disto o gesto de Tasso Corrêa foi
tentar dar forma para essa competência, e, para essa nova classe de produtores
de arte. Ao mesmo tempo anuncia a categoria dos trabalhadores em arte que com o
passar do tempo irá reivindicar cada vez mais para si a administração efetiva
do campo simbólico das Artes. Tenta-se
ao mesmo tempo dar corpo, ou ao menos
espaço, para uma estética cujos valores sejam coerentes com os valores que essa
categoria cultiva.
A instituição de arte
saiu ganhando retirando o viés personalista do episódio. Este Instituto contava
nos seus alicerces sólidas pedras angulares para fazer face aos abalos das
mudanças necessárias para novos tempos. Entre estas estava a impessoalidade, conforme
escreviam no Livro de Atas nº I da
CC-ILBA-RS
“O que constitui a
pessoa jurídica em associação do tipo da nossa, não é propriamente o conjunto
dos sócios; é antes o seu patrimônio, o qual no caso ocorrente, será formado
pelas doações e liberalidades das pessoas que verdadeiramente se interessem
pelo desenvolvimento das artes entre nós”.
(em
01.05.1908. f. 3v).
Assim as doações
constituem o corpo e o patrimônio físico do Instituto. Os fundadores descreverem
a sua visão de um mundo global e, além disto, a realidade local indiferente que
estavam dispostos a enfrentar e, se possível, modificá-la:
“Para
a Europa, Rio da Prata e todo o Brasil, onde existem estabelecimentos desta
ordem foram pedidos prospectos, programas, regulamentos etc., bem como pedidos
de preços de materiais absolutamente necessários ao funcionamento do Instituto,
afim de se fazerem os cálculos todos, sem pessimismo ou optmismo”. Jornal A Federação em 04 de abril de 1908.
As
relações das Artes com a sua mantenedora são de um significado ímpar para
perceber a necessidade que ela possui de liberdade
e autonomia. O confronto entre as
expressões dessas concepções da liberdade das Artes, diante da segurança
institucional permitem contemplar o continuum de exemplos concretos de
expressões de autonomia da arte. Elas fulguram como relâmpagos no meio de
confrontos, negociações e etapas de avanços e recuos que o ideal que o artista
se representava. Fulgor instantâneo, mas necessário para mostrar a direção afirmar as forças
e as normas internas do campo artístico. A vida e a teleologia institucional
imanente que sustentavam essas expressões traduziram-se numa seqüência de
expressões de rupturas com a ordem estabelecida, construção de novas normas,
excomunhões recíprocas e integrações que, no seu conjunto, geraram uma
consciência, com a ajuda da qual foi possível construir, finalmente, um contrato
que respeitasse tanto o campo artístico como qualificou a pretensão
universitária em Porto Alegre. Nessa seqüência, o Instituto não foi um ator
indiferente e, como tal, colheu os frutos dessa caminhada de trabalho árduo.
Os
atores da Comissão Central do ILBA-RS também não podem ser considerados
indiferentes. É necessário creditar-lhes a capacidade de salvar o essencial da
teleologia imanente do seu ILBA-RS, mesmo sem que admitissem ou entendessem as
mudanças necessárias e a totalidade das potencialidades do Instituto. Eles
foram capazes de doar o seu nome, o seu tempo e parte significativa de suas
energias e posses, para que a arte pudesse constituir-se em núcleo formal institucional
crítico nesse ambiente cultural indiferente ao seu ideal civilizatório, senão
hostil, em muitas ocasiões. Este ideal e
a unidade fundadora do grupo da CC-ILBA-RS foi se perdendo na medida em que se
institucionalizava e se reproduzia. Além da entropia natural de qualquer
projeto humano foi se reduzindo a meros rituais e gestos administrativos
formais estéreis para as Artes.
Diário de Noticias –
Porto Alegre - dia 08.01.1939 p. 10
Fig. 012–
A CONGREGAÇÃO do INSTITUTO de BELAS
ARTES do RIO GRANDE do SUL
no dia 06
de janeiro de 1939 sob a presidência de Tasso Bolivar Dias Corrêa
A
organização e a construção da unanimidade docente do IBA-RS, foram lentas e
tateantes. As dúvidas e as unanimidades no projeto dos docentes do IBA-RS são
visíveis na diferença do número e das pessoas que assinaram o primeiro e o
segundo memorial dirigido à CC-ILBA-RS para a adaptação do Instituo às leis
federais. O primeiro memorial, encaminhado em 16 de junho de 1932, levava
apenas a assinatura de seis
professores. Já o projeto de estatuto, encaminhado no dia 17 de maio de 1934,
após o evento em que um deles havia sido defenestrado do Instituto, contava com
a totalidade das quinze assinaturas dos
docentes. Contudo conseguida esta unanimidade, o projeto se evidenciou nas
mentes de todos os professores. Formou-se uma vontade coletiva frente a
conquista necessária para celebrar este novo contrato e para reivindicação dos
seus direitos sobre o campo artístico.
As
subsequentes expressões de autonomia de Tasso Corrêa abriram caminho na
história do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul quando, entre os dias
06 de janeiro de 1939 e 30 de novembro de 1962, o campo das forças da arte
usufruiu da sua própria vontade e do direito que lhe inerente e próprio.
Fig. 13 –
Exposição Pequenos diálogos: Arte e
Intertextualidade, Museu da UFRGS, Porto Alegre/RS e Instituto de Artes em 2005
Mandala que pode simbolizar a visão
planetária da Arte qu os fundadres tinham deste campo de forças. No
contraditório esta visão desconhecia necessidade de autonomia e as forças da
liberdade que o artista necessita co o ar qu respira PA produzir as suas obras.
FONTES BIBLIOGRÀFICAS
GONÇALVES
VIANNA (Raymundo). Olinto de Oliveira. Porto
Alegre: Globo, 1945. 161p
MARINHO (Loureiro) CHAVES, Antônio. Relatório do Instituto de
Belas Artes do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Livraria
do Comércio, 1923. 55 p.
OLIVEIRA,
Olinto de. Relatórios de 1909 a 1912 do
Instituto de Bellas Artes do Rio
Grande Sul apresentados pelo Presidente Dr.Olinto de Oliveira. Porto Alegre : Globo,
1912. 41 p. + estatísticas.
PEREIRA, Américo.O
maestro Assuero Garritano (1889-1965). Niterói: Dom Bosco,1967. 112p.
[Assuero
Garritano Nasceu em 18 de julho de 1889 na
capital paulista. A partir de
1915 estudou Música no Rio de Janeiro no Instituto Nacional de Música, sob a
orientação de Alberto Nepumuceno. Em 1924 estava em Porto Alegre onde
criou as cadeiras de História de Música
no Conservatória de Música do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do
Sul. Voltou ao Rio de Janeiro, em 1937, onde
conquistou em 1938 o 1o lugar para titular da cadeira de ‘Análise Musical’ ,
depois transformada em ‘Harmonia e Morfologia Musical” da Escola Nacional de
Música da Universidade do Brasil .Veio a falecer, no Rio de Janeiro, em 16 de março de 1955]
FONTES NUMÉRIICAS
DIGITAIS
MURAL 1958 de
ALDO LOCATELLI (1915-1962) no INSTITUTO de ARTES da UFRGS
ARQUIVO do INSTITUTO de ARTES da UFRGS
ERNANI DIAS CORRÊA em esperanto (1900-1982
SIMON
Círio ORIGENS do
INSTITUTO de ARTES
da UFRGS ETAPAS entre
1908-1962 e CONTRIBUIÇÕES na CONSTITUIÇÃO de
EXPRESSÕES de AUTONOMIA
no SISTEMA de
ARTES VISUAIS do
RIO GRANDE do SUL Porto Alegre, PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO
GRANDE DO SUL FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - FFCH HISTÓRIA DO BRASIL versão de 22 de abril de
2008
Disponível na
íntegra em http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html
Procuro cópia de partitura do Hino a Sapucahy, ou Hymno ao Marquês de Sapucahy, de autoria do maestro paulista Assuero Garritano. Esse hino foi tocado em 1917, em Villa Nova de Lima - MG, hoje cidade de Nova Lima, por ocasião da inauguração de Herma ao Marquês de Sapucahy, político do Império, nascido na referida Nova Lima - MG. Sou historiador, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e autor do livro "Marquês de Sapucahy, o Executivo do Império".
ResponderExcluirContinuo a procurar cópia da partitura indicada e de outras de autoria do próprio Marquês de Sapucahy, Cândido José de Araújo Viana.
ResponderExcluirObrigado!