Antes de ler este artigo convém consultar:
http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html
02 - NATUREZA não é ARTE.
http://agaudi.wordpress.com/2007/06/07/russel-croman-fotografias-astronomicas/
Fig. 01 – POEIRA CÓSMICA e NEBULOSA
O que se admira aqui é a fotografia e a intervenção do fotógrafo para obter este efeito vista da Terra.
Clique sobre as imagens para ampliá-las
O poeta Fernando Pessoa conseguiu expressar a distinção entre a ARTE e a NATUREZA, ao escrever:
“Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro
Porque a Natureza não tem dentro;
Senão não era a Natureza”.
(1985 pp. 64-5)+ Clique sobre: Li Hoje (Fernando Pessoa)
A distinção entre NATUREZA e ARTE é necessária na medida em que a ARTE constitui um fenômeno humano, enquanto a NATUREZA foge às competências e aos limites humanos.
Contudo muitas correntes filosóficas, políticas, religiosas e estéticas erigiram a criatura humana como juiz e soberano da Natureza e da própria Terra. Esta foi constituída, por este soberano onipotente, como o centro e a razão de ser do seu sistema universalizante e totalitário. Nesta visão nada mais justo que esta Terra, reificada por este sistema, dever obediência ao livre arbítrio humano e dobrar-se a todos os seus caprichos.
Todos sabem e sentem as consequências destas concepções antropocêntricas
http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/xcgal/displayimage.php?pid=281&album=search&cat=0&pos=1
Fig. 02 - Oscar BOEIRA : Harmonia Dourada.
Na obra o pintor usa os recursos das tintas e do pincel orientados pelos sons da música do piano
Para a Música e mais fácil a distinção entre NATUREZA e ARTE. A mais universal das artes não busca imitar [mimesis] a NATUREZA para criar as suas construções sonoras autônomas e subliminares aos julgamentos desta criatura humana onipotente. O artista Paul KLEE era músico e pintor :
http://callybooker.wordpress.com/2009/03/14/weaving-polyphony/
Fig. 03 - Paul KLEE - Polifonia
A crise de Maneirismo ganhou cores dramáticas quando Gallileu Galilei descartou a “Terra e a criatura humana como causa e medida de todas as coisas”.
http://wdjoyner.org/photography/public-domain/abstract-art/kandinsky/kandinsky.comp-6.jpg
Fig. 04 – Wassily KANDINSKY
As concepções da Relatividade e da Física Quântica ampliaram este estranhamento de quem pretendia ser medida e referencial dimiúrgico.
Allain Badiou a contrapõe a ARTE com a NATUREZA. “A natureza é o que do ser é rigorosamente normal” (1996: 109). Ainda Badiou completa “a natureza é a normalidade recorrente. Assim o ser-natural realiza uma estabilidade, um equilíbrio maximal entre a apresentação e representação (+), entre presença (+) e a inclusão (+) entre situação (+) e o estado da situação(+)” (1996: 395).
Nas CIÊNCIAS, tanto NATUREZA como ARTE são entes primitivos, necessários para a investigação, mas impossíveis de serem definidos na linguagem. No máximo é possível lançar sobre eles algumas afirmações. As ciências partem dessas afirmações e constroem seu conhecimento ao redor delas. Em todos os tempos a ciência precisou dessa base preliminar para dar um salto de qualidade. Os pensadores gregos partiram dessa base como em Platão que escreveu (1941: 265) “quero, pois, que a beleza do céu visível não seja mais que a imagem do céu inteligível. Assim nos serviremos dos astros no estudo da astronomia, como nos serviremos das figuras na geometria, sem nos determos no que se passa no céu, se queremos nos fazer verdadeiros astrônomos e tirar algum proveito da parte inteligente da nossa alma”. Adiante essa frase será resumida: “Depois de olhar os astros, deixemos as estrelas em paz e façamos astronomia”. Na arte, o conceito de ente primitivo pode ser remetido ao conceito de supra-sensível. De Duve declarou (1998, p.139): “o supra-sensível é o domínio ou, melhor, é o terreno ‘ilimitado, mas também inacessível’, além do sensível, cuja realidade não pode sr afirmada nem aceita como verdadeira, mas cuja necessidade deve ser postulada, e ‘devemos de fato preencher essa necessidade com idéias”.
Fig. 05 – ESPIRAL MÚLTIPLA CONSTRUIDA a PARTIR do CÓDIGO GENÉTICO
As pontes (inter – esse) - entre a Natureza e a Arte - são numerosas e continuadas no tempo desde os vestígios mais antigos. A criatura projetava o seu próprio repertório sobre a Natureza e dela retirava, e representava ao seu modo, o que pertencia a este repertório e no seu interesse, como caçador.
Fig. 026- TETO dos BISÕES da CAVERNA de ALTAMIRA
O primitivo caçador evidenciava, nas paredes das cavernas, o seu interesse e ali registrava - em tintas, manchas e linhas nas suas pinturas - as suas buscas que realizava na Natureza
Gele concilia e transforma esta oposição, pela educação, e esclarece (1980 : 133) “cumpre a educação estética impor-se como mediadora, porque o seu fim consiste, segundo Schiller, em conferir às inclinações, tendências, sentimentos e impulsos, uma formação que as leve a participar na razão de tal modo que a razão e a espiritualidade ficam despojadas do caráter abstrato, para se unirem a natureza como tal, e da carne e do seu sangue se enriquecerem”. Gele transforma em complementaridade aquilo que para Allain Badiou se contrapõe pela variedade e objetividade da natureza opondo-a à exigência da unidade e à abstração da razão".
Bibliografia para alguns argumentos na distinção entre NATUREZA e ARTE:
BADIOU, Alain. O ser e o evento. Rio de Janeiro : Zaha r- UFRJ, 1996. 402p
BOESIGER, Willy . Le Corbusier Les Derniers œuvres Zurich : Artemis, œuvres complètes 1970, , v.8, 208 p
DE DUVE, Thierry «Kant depois de Duchamp» Arte & Ensaios Revista do Mestrado em História da Arte da EBA. Rio de Janeiro : EBA-UFRJ Ano 5, no 5, pp.125-154, 1998.
KANDINSKY, Wassily. Ponto e linha sobre o plano: contribuição à análise dos elementos da pintura. São Paulo : Martins Fontes, 2001 206 p. il
-------- Do espiritual na arte e na pintura em particular [2ª ed] São Paulo : Martins Fontes, 2001 206 p. il
PESSOA, Fernando . Poemas. (6ª ed). . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985 p. 159
PLATÃO (427-347 a.C) La república o el Estado. Buenos Aires : Espasa-Calpe, 1941. 365 p.
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