quinta-feira, 8 de julho de 2010

ARTE em PORTO ALEGRE – 06

PORTO ALEGRE a CIDADE REPUBLICANA do

Dr. CARLOS BARBOSA GONÇALVES.


Círio Simon – Pintura acrílica 460 x 660mm - 2010

Fig. 01 – PRÉDIO do COLÉGIO JÚLIO de CASTILHOS da ESCOLA de ENGENHARIA

ANTES do INCÈNDIO de 16 de NOVEMBRO de 1951[1]


O entendimento do período que precedeu e seguiu imediatamente a Proclamação da República é muito complexo. O Decreto nº 1 da República concedia, aos estados regionais, a “SOBERANIA” no seu art. 3º[2]. No Rio Grande do Sul a Constituição proclamada por Júlio Prates de Castilhos (1860-1903)[3] de 14 de julho de 1891 abriu horizontes nunca imaginados ao longo do Império - e muito menos na Colônia - mas cuja mentalidade continuava vigente sob muitas formas. Contudo esta multiplicidade não pode ser reduzida a uma única fonte ou causa primeira. O novo regime instalado no Brasil, foi um dos fatores que manteve uma abertura extremamente produtiva nas artes praticadas em Porto Alegre. Com esta SOBERANIA legal esta capital, a mais meridional do Brasil, voltou-se inicialmente para a cultura e arte platina, e através dela, em direção às culturas hegemônicas mundiais da época.






[2] - http://www.soleis.adv.br/leishistoricas.htm#PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA Hoje os estados regionais possuem “AUTONOMIA” com as suas competências e os seus limites concedidos pela “SOBERANIA” do Estado Nacional do Brasil.


Fig. 02 – Giuseppe GAUDENZI modelando, na Escola Técnica Parobé, a estátua para o prédio do Colégio Júlio de Castilhos


A SOBERANIA política, deixou marcas indeléveis na estética da capital do Estado do Rio Grande do Sul. Uma destas culminâncias estéticas expressou-se ao longo (1908-1913) da presidência do Dr. Carlos Barbosa Gonçalves (1851-1933)[1].


ARTE em PORTO ALEGRE

IMEDIATAMENTE ANTERIOR à PROCLAMAÇÂO da REPÚBLICA.



Nas artes as tipologias remanescentes do Barroco Colonial, alguns vestígios do Neo-Clássico imperial brasileiro e os primórdios das estéticas historicistas do “Fin-du-Siècle”, precederam a Republica e o governo de Carlos Barbosa. A tipologia conhecida como Barroca tardia é visível, em Porto Alegre, no interior das igrejas Matriz, das Dores e da Conceição. Já as fachadas da igreja da Conceição, do Rosário e da própria Matriz estão alinhadas com a estética Neo-Clássica Imperial. A Fachada da Igreja das Dores, a fachada do Seminário, a igreja do menino Deus e a igrejinha luterana da rua Senhor dos Passos envergam as tipologias tardias do Romantismo europeu na forma do que se convencionou denominar de Neo-Gótica. Nestas últimas a experiência construtiva do Mestre João Grünewald foi determinante e que ele havia haurido no canteiro de obras da catedral de Colônia na Alemanha.

A era industrial continuou a fazer a sua entrada e conquistando o ambiente em Porto Alegre. A chegada desta nova infra-estrutura exposições industriais e comerciai de 1875 e 1881 evidenciam a. Os artistas visuais estão presentes em ambas e ambas tiveram a firme orientação de Carlos Von Kozeritz (1830-1890)[2].

As artes gráficas atingiram alto grau de perfeição. A litografia, o desenho, a fotografia, a caricatura, a cenografia e os jornais dão corpo e expressão estética desta nova era. Na litografia distinguiu-se o talento do Conde Augusto Lauzac Von Charnac. Mas são os irmãos Weingärtner que criaram a casa de Litográfica[3] mais prestigiosa dacapital. Os irmãos de Pedro (1853-1929), Inácio (1845-1908), Miguel (1869-1928) e Jacob, mantiveram esta oficina até 1928.


Os jornais de Porto Alegre tomaram sentidos políticos, sociais e culturais. O de maior expressão política era o o jornal “A Federação” (1883-1937) onde se forjaram os
ideais republicanos
[4]. Ele funcionava no prédio que é, hoje, a sede do Museu de Comunicação Social Hipólitho José da Costa.

Os periódicos ou panfletos da época eram ilustrados pela caricatura de Joaquim Samaranch (1853-1900), Cândido Faria, Thadeu de Amorim e Araújo Guerra. Eles continuavam, em Porto Alegre, a obra imprensa inaugurada, em 1837, pelo futuro Barão de Santo Ângelo no Rio de Janeiro.

O Desenho técnico, com aplicação industrial, começou a ser lecionada sistematicamente, em 1868, na “Sociedade Brasileira União”. O mesmo acontece também no Liceu Nacional de Porto Alegre.

No Teatro foram escritas e encenadas numerosas peças. Araújo Porto Alegre havia escrito 11 peças, Apolinário Porto Alegre mais oito de Von Kozeritz duas e Lobo da Costa mais cinco. Para estas representações os cenários foram elaborados Oreste Coliva, os irmãos Callegari, Ricardo Giovanin (1885-1930) e Bernardo Grasselli ( -1883). Muitos deste pintores transpunham para as paredes de 3 a 5 metros de altura das casas particulares. Depois esta pintura foi acompanhada, depois, pelo relevo. A era industrial trouxe o papel de parede importado da Europa.




Aldo Locatelli – Pintura mural realiazada no 8º andar dIA-UFRGS- fev 1958

Fig. 03 – OLINTO de OLIVEIRA e CARLOS BARBOSA GONÇALVES




ARTE de PORTO ALEGRE

LOGO APÓS a PROCLAMAÇÂO da REPÚBLICA.


O governo de Carlos Barbosa deu-se depois da pacificação das vontades que deferiram as sangrentas lutas de 1893 e antes do débacle de 1914 quando toda a civilização ocidental se envolveu na I Guerra Mundial. Mesmo neste governo qualquer reducionismo a uma ou outra causa - ideológica, política ou econômica - certamente limita uma mentalidade e uma visão mais abrangente. A carência desta mentalidade e visão dificulta a inscrição num presente que deseja continuar este processo da abertura instalada nos primórdios republicanos.


Na expressão da historiadora Margaret Bakos numerosos agentes cultivaram, neste período, um projeto urbanístico, arquitetônico e estético que visava transformar a face de Porto Alegre, na “sala de visitas” do Rio Grande do Sul[1]. Neste período Porto Alegre não só recebeu um Palácio do Governo[2], digno deste nome, mas espalhou-se por numerosos empreendimentos públicos e privados.





[2] Veja imagens da Praça Marechal Deodoro (antiga da Matriz) http://www.mp.rs.gov.br/memorial/pgn/id342.htm



Foto do acervo dos descendentes Rocco

Fig. 04 – Banquete na Confeitaria Rocco

CLIQUE sobre a FIGURA para AMPLIÁ_LA.

Contudo um traço dominante, da época e do governo deste médico Carlos Barbosa, originário de Jaguarão, foi a sua capacidade de cercar-se de agentes competentes, com as mais densas e fecundas formações técnicas, profissionais e humanas. Junto ao seu governo estão as figuras rio-grandinas do seu vice Juvenal Miller[1] e do Eng. Cândido José de Godoy[2] Secretário Obras e do Tesouro do Estado.




[1] - Juvenal Miller: - (1866- 1909) – Fez seus estudos na Escola Militar de Porto Alegre e na Escola Superior de Guerra. Na revolta da Esquadra defendeu a Barra, depois marchou com a divisão Sul para o campo de luta, contra os Federalistas. Fundou a Escola de Engenharia de Porto Alegre. Em sua vida literária redigiu a “Denúncia”., órgão republicano da Escola Militar. Colaborou com a Revista Acadêmica da mesma escola. Escreveu para o Correio do Povo sob o pseudônimo de Dr. Topsius. Publicou em 1898, uma novela de propósitos positivamente intitulada “Professor” que teve grande aceitação na época

.http://www.riograndeemfotos.fot.br/rghisto.html http://pt.wikipedia.org/wiki/Juvenal_Miller


[2] Cândido José de Godoy, nasceu em 11 março 1858 em Rio Grande-RS. Ele faleceu em 27 junho 1946 em Rio de Janeiro

http://mitoblogos.blogspot.com/2010/05/genealogia-506-os-godoy-de-rio-grande.html



Círio Simon – Pintura acrílica 830 x 500mm - 2005

Fig. 05 – Cândido José de GODÓY (1858-1946)


O assessoram o médico pediatra Dr Olimpio Olinto de Oliveira (1866-1956)[1], o empresário Rodolpho Ahrons (1869-1947)[2] que por sua vez davam trabalho, em seu escritório, para os arquitetos Theodor Wiederspahn (1878-1951)[3] e Otto Menschen. Estes, por sua vez, repassavam a execução para as empresas de construção de escultura, modelagem e decoração. Nesta atividade a empresa e oficina fundada por Miguel Friederichs[4], continuada e ampliada por Vicente Friederichs[5] transformou-se numa escola-oficina onde se formou o seu sobrinho Jacob Aloys Friederichs. Nela circularam mais do 60 nomes como os de Alfred Adloff, Frederico Pellarin, Jesus Maria Corona (1871-1938), seu filho Fernando Corona (1895-1979), Franz Rademacher, André Arjonas[6], Luis Sanguin, Alfredo Staege, Giuseppe Guadenzi, Wenzel, Folberger e Vitório Livi.




[1]- http://www.sbp.com.br/show_item.cfm?id_categoria=74&id_detalhe=1276&tipo=D e http://pt.wikipedia.org/wiki/Olinto_de_Oliveira


[2] - Rodolpho Ahrons (1869-1947)-Dentre seus projetos mais notáveis estão os prédios do Banco Pelotense (depois o Banco Iochpe, e hoje uma agência do BANRISUL), da prefeitura de Cruz Alta[1], do Palecete Chaves[1] da Delegacia Fiscal, dos Correios e Telégrafos, do Banco Nacional do Comércio de Cachoeira do Sul, da Faculdade de Medicinae da Faculdade de Direito da UFRGS.Além disso foi responsável pelo projeto do porto de Porto Alegre e do seu correspondente aterro, das ruas Sete de Setembro até a avenida Mauá.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudolph_Ahrons


Fig. 06 – Cartaz litográfico impresso na oficinas Weingärtner[1]

CLIQUE sobre a FIGURA para AMPLIÁ_LA.



Na atualidade Porto Alegre preserva testemunhos - de forma física ou por registro - desta integração entre a ciência, arte, técnica e artesania e visível em os prédios do mais alto grau. Entre eles salientam-se as edificações erguidas nos terrenos conquistados na área do antigo porto. A antiga Delegacia Fiscal – prédio do MARGS[2] a partir de 1978 ´- obra de Gundlach com esculturas de Alfred Adloff. O atual Memorial do Rio Grande do Sul - antigo prédio dos Correios e Telégrafos[3] – foi projetado por Wiederspahn e recebeu decoração escultórica de Folberg, Rademacker, Jesus Maria Corona e Vitor Livi. Na frente deste ergue-se a estátua de Rio Branco obra de André Arjonas. O Paço Municipal foi iniciado em 1886 e concluído em 1901. Ele é obra de João Antônio Carrara Calfosco.


O comando de Ahrons pode ser sentido nos prédios da Faculdade de Direito da UFRGS[4], na Confeitaria Colombo, na Cervejaria Bopp da Av. Cristóvão Colombo.


O prédio da antiga Faculdade de Medicina da UFRGS[5] seguiu o projeto de Theo Wiedersphan e de Augusto Sartori.


A “sala de visitasenriqueceu-se com a Confeitaria de Nicolau Rocco (1861-1932)[1] construída num dos ângulos frontais à Praça Conde de Porto Alegre. Este prédio foi projetado por Salvador Lambertini e concluído pelo arquiteto Manuel Itaqui Barbosa Assunpção. As cariátides e atlantes são de Giuseppe Gaundenzi. Fernando Corona estreou profissionalmente nesta obra. A Biblioteca Pública[2] foi obra de Afonso Herbert, com ampliação de Teófilo Borges de Barros com obras em relevos Giuseppe Guadenzi, Eduardo de Sá e Alfred Adloff e pinturas de Fernando Schlatter[3]. O prédio do Museu de Comunicação Social é de Teófilo Borges de Barros com esculturas de Sanguin.

O Palácio do Governo – atual Palácio Piratini – é o prédio mais representativo da “SOBERANIA” do Estado Regional e foi erguido da época de Carlos Barbosa. O projeto de Maurice Gras permitiu construir um cenário para receber e acumular s melhores contribuições estéticas regionais e internacionais. As estátuas da fachada são Paul Landowsky[7] e colocadas em 1912. A decoração interna – acompanhando a tipologia estética Luis XVI externa – são de Alfredo Adloff, Rademacker e Fernando Corona. Os seus murais são de Aldo Locatelli.




[1] - NOGUEIRA, Isabel Porto- El pianismo em la ciudad de Pelotas (RS Brasil) Conservatório de Música 1918 a 1968 una lectura histórica, musicológica y antropológica Madrid : Universidade Autónoma de Madrid - tese 2.000 317 f. il

----------------História iconográfica do Conservatório de Pelotas. Porto Alegre: Palotti, 2005, 283 p. il

[4] - Pode-se argumentar que as escolas de ensino superior de Porto Alegre surgiram conta o positivismo. O positivismo acreditava que o exercício profissional deveria ser livre, desimpedido e sem a obrigatoriedade do diploma acadêmico . O retardamento do surgimento universitário brasileira [1931] deve-se ao argumento dos positivistas de que a “universidade seria a fonte de pedantocracia”. Olinto de Oliveira escreveu - e publicou - dois artigos contra o positivismo Ver Correio do Povo, 20.10.1898 e 05.11.1898. (micro-filme Museu Hipólito da Costa)

Círio Simon – Pintura acrílica 660x 480mm - 2010

Fig. 07 – Monumento a Júlio de Castilhos.

Construído ao longo da presidência do Estado do Rio Grande do Sul exercida pelo Dr Carlos Barbosa e inaugurado no dia 25 de janeiro de 1913 quando da nova posse de Borges de Medeiros no cargo presidencial.



Na escultura o monumento a Júlio da Castilhos, na Praça Marechal Deodoro é uma síntese deste período. Construído ao longo do governo de Carlos e inaugurado quando ele entregou novamente o governo a Borges de Medeiros no dia 25 de janeiro de 1913. Este monumento talvez seja um dos mais completos, representativos e elaborados de Porto Alegre. A sua estética e os projetos escultóricos são de Décio Rodrigues Villares (1851-1931)[1]. A execução da sua modelagem e da sua fundição foi realizada na França.

Na pintura o nome mais representativo é de Pedro Weingärtner (1853-1929)[2]. Uma vocação tardia, fez a sua aprendizagem na Europa mantendo atelier me Roma. Com as sua freqüentes vistas ao Rio Grande do Sul aqui se impregnou da temática regional. A sua obra - construída em silêncio e com muita consciência de uma artista profissional ´- é portadora de um sólido legado ao seu povo, tradições e paisagem sulina.



Esta atividade ganhou suporte institucional permanente no início do Governo de Carlos Barbosa quando foi criado, sob a liderança de Dr Olinto de Oliveira, o Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul, no dia 22 de abril de 1908[3]. Este suporte foi constituido por 65 comissões regionais comandadas por uma Comissão Central que ficava na capital. Esta mantenedora colocou o seu Conservatório de Música em funcionamento no dia 05 de julho de 1909 e a sua Escola de Artes no dia 10 de fevereiro de 1910. O diretor desta Escola foi o pintor Libindo Ferrás (1877-1951)[4]. Este Instituto integrava a formação, em 1934, da 1ª Universidade do Rio Grande do Sul. Gradativamente esta semente foi se multiplicando. Em 2004 eram 15 instituições superiores de arte no Rio Grande do Sul e cuja criação ocorreu por iniciativa dos professores ou pelos agentes de artes formandos por este Instituto.




[1] - http://www.arqnet.pt/portal/biografias/vilares_decio.html

[3] - ORIGENS do INSTITUTO de ARTES da UFRGS em: http://www.ciriosimon.pro.br/aca/aca.html

[4] - http://pt.wikipedia.org/wiki/Libindo_Ferr%C3%A1s

Leia um texto sobre Libindo FERRÁS como agente institucional e análise de uma das suas obras na História da Arte do Rio Grande do disponível em http://www.ciriosim on.pro.br/his/his.html fls 161-171


Fig 08 – Esboço da fig. 01


No sistema de artes visuais de Porto Alegre, o Dr Olinto de Oliveira tomou a iniciativa, em 1893. de criar uma galeria de arte permanente na cidade capital na loja “Ao Preço Fixo” de Pedro Porto & Cia. Para comentar e fazer circular as informações relativas a estes valores, das obras ali expostas, o Dr. Olinto assumiu também o papel do primeiro cronista e crítico de arte do jornal-empresa “Correio do Povo” inaugurado em 01 de outubro de 1895[1] e onde ele escrevia sob o pseudônimo de Maurício Bœhme.


Veja uma Seleção de fotos dos prédios de Porto Alegre em

http://nutep.ea.ufrgs.br/fotospoa/fotospoa.htm



TEXTOS em


DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. Porto Alegre 1900-1920: estatuária e ideologia.

Porto Alegre : Secretaria Municipal de Cultura, 1992, 102 p. il.

____________. Porto Alegre(1898-1920): estatuária fachadista e

monumental, ideologia e sociedade. Porto Alegre : PUC-IFCH, 1988, Dissert 208 f..

_____________. Rio Grande do Sul (1920-1940): estatuária, catolicismo e gauchismo. Porto Alegre : PUC-Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 1999, Tese 377 f.


2 comentários:

  1. Eis um blog sério e com informações nas quais se pode confiar.Trabalho de qualidade e não de quantidade
    Parabéns prof. Cirio Simon
    ronaldo bastos
    ronaldomarcos.bastos@gmail.com

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  2. Parabéns pelo blog e pelas informações históricas que não achamos em nenhum outro local.

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