terça-feira, 23 de março de 2010

A POTÊNCIA e a FORMA da MEMÓRIA.

A memória não é um dever - é uma necessidade vital: ‘uma alma sem memória é uma alma morta’." Assinante do Le Monde 14.03.2010.


Fig.01 - MEMÓRIA CAPITALISTA George Raymond Lawrence, (1868-1938) usando a Mammoth Camera construída por J. A. Anderson, c. 1900. Pesava 640 kg, usava negativos de 1.35m x 2.40m, custando cerca de $5,000 e destinada para fotografar comboio de passageiros, The Alton Limited. Da companhia ferroviária Chicago & Alton Railway.


http://www.escoladeimagem.com.br/blog/espaco-escola-de-imagem/mamute-a-maior-camera-fotografica-do-mundo/




O direito à memória, ou a sua subtração, manipulação ou a sua
corrupção, influem poderosamente na identidade e na imagem que o cidadão possui de si mesmo e das suas circunstâncias.


O projeto do capitalismo valeu-se, inclusive, da Câmera MAMUTH (fig.01) e que usou coerentemente para consolidar e amarrar ao seu projeto da conquista do oeste americano [1].


No caso do brasileiro a sua memória é de desqualificação e inutilidade. Esta desqualificação deve-se à potência de grupos no poder que construíram, ao seu favor, a memória e a História. Com este desconhecimento e manipulação estes grupos corromperam o poder do qual eles mesmos resultaram.


Um pequeno segmento da historiografia brasileira está investigando a origem dos membros das câmaras municipais do período colonial[2]. Surpreendeu a descoberta da diversidade da constituição destas câmaras municipais e que era muito maior do que a historiografia tradicional fazia acreditar. Os pesquisadores evidenciaram a posterior desqualificação das vozes com menos potência econômica e que ficaram sem direito a potência da sua própria memória apropriada pelos grupos hegemônicos.




Foto do autor. do artigo.


Fig.02 – MEMÓRIA BRASILEIRA - BRASÍLIA – Esplanada dos Três Poderes – MUSEU NACIONAL



A oca do Museu Nacional de Brasília[1] é um monumento á falta de qualquer projeto nacional ou preocupação com a memória autêntica do poder originário brasileiro. Acolhe qualquer um que oferece vantagens ou paga as despesas da sua exposição. Inclusive estrangeiros.



Diante deste oco, há necessidade de perguntar:

- Alguém já ouviu falar do Arquivo do Museu Nacional de Brasília?


Qualquer grupo humano - no exercício do poder – aprende rapidamente a constituir e consagrar a e sua elite (nomeclatura) Esta elite passa a ditar as normas sobre a ortodoxia de sua memória.


Não existe arquivo sem o projeto de quem o mantém como instituição. Arquivo sem projeto é sucata. No contraditório a mantenedora de um arquivo demonstra nele a potência do projeto no que a instituiu. Este arquivo exibe o continuum da memória da mantenedora no seu desdobramento no tempo e no espaço.


Como uma instituição é por tempo indeterminado, novos agentes necessitam conhecer este projeto e ter iniciação nos atos que comandam este projeto.



Caso não ocorra a corrupção desta memória – por obra de elite em preservar a sua forma de exercício do poder – esta memória corre sempre o risco de ser falsa[2]. Falsidade derivada da impossibilidade da PERCEPÇÃO dos fatos na sua plenitude de seu sentido. Risco de falsificação que exige a atualização permanente de sua origem.

[2] Ver artigo http://profciriosimon.blogspot.com/2009/11/memoria-falsificada-e-falsificadores.html deste blog ou Les
métamorphoses de la mémoire
(1/6) L'hippocampe de Proust LE MONDE 14.07.08 16h13 ou
Les métamorphoses de la
mémoire
(3/6)Tous les souvenirs sont faux LE MONDE 16.07.08 14h29


Fig.03 – MEMÓRIA MILITAR – Foto de um batalhão de soldados russos. c. 1900

[CLIQUE sobre a IMAGEM para AUMENTÁ-LA]


Fig.03b – MEMÓRIA MILITAR – Detalhe da foto anterior do batalhão de soldados russos

http://www.diary.ru/~oldpostcards?from=200

http://radikal.ru/F/s60.radikal.ru/i170/0811/2a/ed180f5e8b08.jpg.html




Somente POVOS que conhecem, cultivam e fizeram a paz com o seu próprio passado, possuem o direito de inovar e romper com este passado.


No período da Primeira Era Industrial a potência de memória de várias culturas tomou a forma e se expressou numa enciclopédia de aspiração nacional. Delas a mais conhecida foi a Francesa.


O Brasil possui resultados de um esforço, realizado entre 1957 e 1964, na sua ENCICLOPÈDIA dos MUNICIPIOS BRASILEIROS[1]. A memória do município é crucial e determinante se considerarmos a potência da memória brasileira nascida e evoluindo a partir do PODER ORIGINÁRIO do ESTADO BRASILEIRO[2].


Os recentes episódios, envolvendo as reservas potenciais de petróleo do mar territorial brasileiro, evidenciaram a fragilidade do direito à memória da identidade e da imagem à que o cidadão brasileiro possui de si mesmo e das suas circunstâncias.


Retornando à potencialização da memória nacional é necessário considerar os motores numéricos digitais e os seus gestores. Os tradicionais Estados Nacionais, nascidos da era industrial ou da sua desmontagem, ainda não possuem concepções e legislação em relação a estes motores. Estes motores numéricos digiatais migraram da criação e do controle da área militar estratégica - de poucas nações – para a área da produção, da manutenção e do controle de algumas corporações.


Certamente a criação, a difusão e a memória do presente blog, estão mergulhadas no fluxo gerado por estes motores numéricos digitais e os seus gestores. Além da evidente potencialidade dos motores numéricos digitais e os seus gestores estão começando a aparecer os limites[3] deste imenso continente.



O que parece certo é que a quarta geração da informática só faz descobrir os imensos potenciais da terra de sua origem. Ocorre, para esta geração, o que ocorreu na descoberta da América, pelo europeu. Esta descoberta não significou o abandono do Velho Continente. Ao contrário: a descoberta dos novos potenciais da sua própria terra de origem, só reforça o direito do cidadão à sua própria memória, da imagem de si mesmo e às circunstâncias da sua identidade.




[2] O Rio Grande do Sul possui também um projeto nesta direção. Um dele é o da Academia de Letras dos Municípios e disponível em http://www.almurs.com.br/ . Um projeto mais antigo é esboço da ENCICLOPÉDIA RIO-GRANDENSE. Porto Alegre : Sulina, 1968, 5 v. il [ Vol 1 e 2 o Rio Grande antigo – Vol 3 e 4 o Rio Grande atual Vol. 5 Imigração]

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