quinta-feira, 4 de março de 2010

CENTENÁRIO da ESCOLA de ARTES do IA-UFRGS 04

Fig. 01- Antigo prédio Instituto, alugado em 1909, ampliado em 1913 com mais um andar e demolido em 1941

Porto Alegre rua Senhor dos Passos nº 58, depois de 1928, nº 248




04 – O sentido do currículo da Escola de Artes e as sementes de um sistema de Artes Plásticas no Estado do Rio Grande do Sul.



"Defender a dignidade do artista e das práticas sociais das artes, elevando-as à sua
verdadeira condição de criadores de pensamento, de atividades intelectuais especializadamente profissionais, capazes, portanto, de afirmar a sua autonomia
seu ambiente de competência, sem submeter-se a outras instâncias de reconhecimento do que a do seu próprio círculo de autoridade”.

Scarinci, 1982, p.192[1].

Na consulta aos memorandos e aos relatórios de Libindo, pode-se verificar aquilo que efetivamente era possível, nessa época, no espaço de Porto Alegre para as Artes Plásticas, dentro das regras culturais dadas. O Arquivo Geral do IA-UFRGS possui um conjunto de documentos produzidos por Libindo Ferrás que registram o que significou a implantação da Escola de Artes no interior do ILBA-RS. Estes relatórios, além de registrar a versão da sua obra administrativa, são incontornáveis no registro das sementes da institucionalização do campo das artes plásticas em Porto Alegre. Destacam-se, de forma particular, os relatórios ao Presidente do Instituto que iniciam em 1912, quando a EA estava no seu terceiro ano de existência e com turmas de estudantes com três adiantamentos diferentes. Os relatórios fluíram regularmente até 1925. Neles torna-se possível auscultar várias iniciativas da EA para desencadear o suprimento de novas potencialidades para a emergência do sistema das Artes Plásticas dessa época em Porto Alegre. De posse desses documentos, também é possível estabelecer o contraditório, sentir e avaliar a estreiteza desse ambiente início, no século vinte, para as Artes Plásticas em Porto
Alegre.

Uma vez iniciada a prática do ensino das Artes Plásticas, dentro das normas da CC-ILBA-RS, Libindo adotou uma lógica formal capaz de viver criticamente as possibilidades locais e sem ambição de destacar nomes e carreiras de alunos individuais.




[1] - SCARINCI, Carlos. A gravura no Rio Grande do Sul (1900-1980). Porto Alegre : Mercado Aberto, 1982. 224p. + il. col.



Fig. 02- Aula de desenho de Modelo Vivo na Escola de Artes

O ensino da arte, centrado no Desenho, levava o aprendiz a conviver com a abstração das formas transpostas no que os artistas do Renascimento nomeavam ‘disegnio’, ou seja, a capacidade de designar ou nomear as formas plásticas no plano ideal, universal e chegando às raias do religioso[1]. Essa proposta e organização modelavam o comportamento e capacitavam o estudante para a previsibilidade mental dos resultados que ele desejava e podia alcançar em diversas técnicas práticas das artes visuais e plásticas. Assim, o espaço didático que Libindo construiu foi o espaço do Desenho. Ele escolheu para si mesmo e lecionou as disciplinas de Desenho Geométrico[2], Perspectiva e Sombras e Desenho de Anatomia Artística[3]. Nessa última cadeira, o seu irmão, o médico Diogo Ferrás[4], constituía banca[5], ao seu lado, no final de ano. Libindo remetia para os outros professores[6] as diversas disciplinas de Desenho Figurado (máscaras, bustos, estátua e modelo vivo)[7].





[1] - Segundo Pevsner (1982, p. 53) os artistas da época de Miguel Ângelo qualificavam o ‘disegno’como ‘ún signo de dio in noi’.


[2] - ILBA: Sala de ensino de Desenho geométrico – Ferrás 1928. TESE ORIGEM do INSTITUTO de ARTES- IMAGENS. -.


[3] - Sala de ensino de anatomia artística – Ferrás 1928. TESE- IMAGENS. -.

[4] - Informação de Cristina Balbão.


[5] - Verificar no quadro dos anexos os nomes, disciplinas e os adiantamentos nos quais atuaram esses examinadores.


[6] - IBA: Sala de aula de modelo vivo - Pelichek..


[7] - Curso Preparatório da Escola de Artes, Curso Preparatório da Escola de Artes, Curso Preparatório da Escola de Artes e Curso Preparatório da Escola de Artes com máscaras de gesso.

Fig. 03- Cartaz da exposição da ESCOLA DE ARTES de 1923

Ele organizava, convidava e fazia parte das bancas e as exposições anuais , além da sua atividade diária, desempenhava os papéis de Conservador do prédio e de consultor das aquisições dos quadros para a Pinacoteca do ILBA-RS. Os seus estudantes formavam uma frágil base cultural, apenas suficiente para agir individualmente no espaço cultural regional da época, em especial na reprodução educacional[1]

Nos relatórios de Libindo Ferrás, acompanha-se a circulação de docentes de artes plásticas em Porto Alegre e que passavam pela EA. Libindo solicitou abrir concurso para professor de Desenho, já no ano de 1912. No ano escolar de 1913, ele contou com o seu primeiro ajudante na Escola, que era o pintor italiano Miro da Gasparello[2], de passagem pelo estado. Em 1914, não foi positiva a experiência com uma monitora, a aluna Percila Pibernat Pedra[3] , que foi nomeada para esse cargo no dia 14 de abril. Na metade do ano ela pediu demissão do cargo.

Para substituí-la e ajudar a atender os 24 alunos matriculados na Escola, Libindo conseguiu uma colaboração gratuita e espontânea de Oscar Boeira. Esse passou a ser responsável pela disciplina de Desenho Figurado. No ano de 1916, a Escola de Artes recebeu a visita do professor Lucílio de Albuquerque[4], da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro. Ele se ofereceu para intermediar com Eduardo de Sá, também docente da ENBA, a remessa de materiais, em especial modelos de gesso. Esse as prometeu para janeiro de 1917. Nesse ano, Libindo conseguiu a vinda do pintor rio-grandino Augusto Luis de Freitas[5]. O ano escolar de 1918 teve de ser interrompido abruptamente no dia 28 de outubro, pelas autoridades sanitárias, devido à gripe espanhola. Como Freitas havia retornado à Europa, Oscar Boeira retomou as suas aulas na Escola de Artes no início do ano letivo no dia 17 de março de 1919. No seu lugar foi nomeado Eugênio Latour[6] no dia 01 de maio e começou a lecionar a partir do dia 12 de maio, inclusive o curso noturno. Latour solicitou a Libindo que lecionasse Geometria e Perspectiva e Sombras também para o noturno. As bancas do final do ano escolar de 1919 foram compostas por Eduardo de Sá e Eugênio Latour. Esse retornou ao Rio de Janeiro no dia 30 de novembro de 1919. No relatório de 1920 Libindo Ferrás registrava que Eugênio Latour esteve aqui por motivo de saúde.

- “Só mesmo por um acaso (como aconteceu com os professores Augusto Luis de Freitas que aqui estiveram, o primeiro para tratar de obter um favor do Governo do Estado e o segundo por motivo de saúde) poderia ter a Escola conseguido achar quem se sujeitasse a tomar conta – com taes honorarios – de uma aula da natureza dessa que exige, pelo menos três horas de trabalho diarias”.

As diversas visitas de Pedro Weingärtner à Escola foram marcantes para o ano de 1920. Ele deu sugestões, fez demonstrações ao curso superior e participou das bancas do final do ano[7].




[1] - O pesquisador, apesar de conhecer esta fragilidade, sentiu a permanência das aulas de Libindo Ferrás no repertório e na metodologia dos seus alunos. Como um depoimento pessoal o pesquisador registra que foi aluno em 1963, após a conclusão do seu curso de graduação em Desenho no Instituto de Artes, do Curso de Licenciatura do Curso de Educação da Faculdade de Filosofia da UFRGS . Ali encontrou Olga Paraguassu em plena atividade. Ela havia sido uma discípula de Libindo e de Francis Pelichek no início da década de 30. Foi uma das fundadoras, junto com Graciema Pacheco, do Colégio de Aplicação da UFRGS, onde ela adotou a metodologia de Libindo. Essas aulas foram de um proveito imenso na capacitação de alguém carente de uma sistematização para transmitir em sala de aula a cultura básica de um projeto de educação institucional a partir da arte. Elas criaram as bases de um planejamento contratual desse projeto, de uma metodologia de execução e uma avaliação do contrato. Despertaram as motivações e as razões para estender um traçado no planejamento, na indução de um processo a partir dos conhecimentos eruditos já adquiridos na graduação em artes plásticas. Entre os colegas do Curso de Licenciatura estava Joaquim José Felizardo que não cansava de elogiar a metodologia de Olga Paraguassu no Colégio Júlio de Castilhos, onde Felizardo foi aluno de Desenho da Prof.a Olga.

[2] Esse recebeu grandes elogios de Libindo e que aguardava para que esse pintor pudesse continuar na Escola no ano seguinte. No relatório do ano de 1914 Libindo lamentava a retorno para a Europa de Miro da Gasparello onde pereceu, em 1915, como soldado da 1a Guerra Mundial. In: . {148GAL} Galeria do IBA: arte rio-grandense do passado ao presente, 1961, 24 p. Ver também FRANCESCO, José de Reminiscências de um artista . Porto Alegre : s/editora. 1961.

[3] - Haveria parentesco com Palmyra Pibernat Pedra que é destacada como promessa brasileira em 1927 por Angyone Costa no seu livro ‘A Inquietaçção das Abelhas (Costa, 1927: 22).e cujas obras são nomeadas no catálogo da Salão Nacional da ENBA de 1931’?http://www.jobim.org/lucioxmlui/browse?rpp=20&order=ASC&sort_by=-1&value=Manoel+Bas+Domenech&etal=-1&type=subject&starts_with=M


[4] - Certamente a presença de Lucílio envolveu o contrato do painel em tela maruflada que está na escadaria do Instituto de Educação, junto aos dois painéis de A.L. Freitas e que inicialmente eram destinados ao palácio do Governo do estado.


[5] - Relatório de Libindo Ferrás a Olinto de Oliveira. No seu relatório do dia 20 de dezembro precisou a data 17 de junho na qual o pintor Augusto de Freitas assumiu a cadeira de Desenho Figurado e Pintura. Substitui assim Oscar Boeira. No dia 17 de setembro de 1917 iniciaram as aulas do curso noturno gratuito. Em 1918 Augusto Luis de Freitas lecionava Desenho Figurado nas manhãs das 2ªs, 4ª e 6ª das 08h30min até às 9h30min. Nos mesmos dias assumiu o curso noturno das 19h30min até 21h30min. Libindo lecionava Desenho Geométrico, Perspectiva-Sombras e Anatomia Artística em todos os dias da semana, nas manhãs, tardes e sábado até às 16h30min.


[6] - Eugênio Latour era pintor brasileiro que havia participado com outros artistas da decoração do Pavilhão do Brasil na Exposição Internacional de Turin em 1911. Nesse grupo estava Carlos Oswald cuja filha Maria Isabel reconstruiu (2000, p.65) o grupo e onde “Carlos reuniu-se ao que havia de mais representativo na arte brasileira de então. Pintores, além dele, havia sido convidado os irmãos Carlos e Rodolfo Chembelland, João e Artur Timóteo da Costa, Lucílio de Albuquerque, Eugênio Latour, Leopoldoa Gottuzzo e Manuel Madruga; o grupo incluía ainda outros artistas, como o escultor Eduardo Sá e o arquiteto Correia Lima”. Alguns deles passarão na Escola de Artes do ILBA durante a 1a Guerra Mundial. In MONTEIRO, Maria Isabel Oswald. Carlos Oswald (1882-1971): pintor da luz e dos reflexos. Rio de Janeiro: Casa Jorge, 2000. 229 p.

[7] - No curso noturno de 1920 o Desenho Figurado da EA era ministrado nas 3ªs e sábados das 19h30min até às 21h30min pelo ex-aluno Francisco Bellanca, formado em 1919. Libindo lecionava, no mesmo horário as 4ªs e 6ª feiras, as disciplinas de Desenho Geométrico e Perspectiva Linear.

Fig. 04 Francisco BELLANCA em 1925

Revista MÁSCARA. Porto Alegre, Ano 7, Nº 7, jun. 1925 – Salão de Outono

Francisco Bellanca, formando da EA em 1919, a partir dessa data ocupou o cargo de professor até 1922, quando iniciou sua carreira de desenhista na prefeitura municipal de Porto Alegre[1].

O pintor Francis Pelichek[2] ingressou na Escola no dia 16 de abril de 1922. Libindo elogiou o seu trabalho no final do ano e fez um ótimo prognóstico sobre o futuro desse professor[3]. De fato Pelichek permaneceu na docência da Escola até ao seu falecimento em 01.08.1937.

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ARQUIVO GERAL do INSTITUTO de ARTES, Prédio da antiga Faculdade de Medicina – CAMPUS CENTRAL – UFRGS Contato Fone: (0xx51) 3308 3391 E-mail: ahia@ufrgs.br


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http://www.ufrgs.br/bibart/ Link para a página da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS]
Acesse aqui a página da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS para obter mais informações sobre o acervo, regulamentos, normas técnicas, tutoriais e serviços.

http://sabix.ufrgs.br/ALEPH/


PINACOTECA BARÃO da SANTO ÂNGELO, Rua Senhor dos Passos, 248 - 1º andar CEP 90.020-180 Porto Alegre RS Contato Fone: (051) 3308-4302 iapin@ufrgs.br

Acervo emhttp://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/mastop_publish/





[1] - As obras mais divulgadas de Francisco Bellanca são os seus desenhos dos escudos dos municípios de Porto Alegre, - obra que seguiu as indicações heráldicas de Walter Spalding - e de Passo Fundo que constam em todos os documentos oficiais dos dois municípios

[2] 1922 Relatório de Marinho Chaves para CC-ILBA-RS. Segundo esse relatório em 1922 os três docentes (Libindo, Pelichek e Bellanca) da Escola receberam 11:104$700. enquanto isso, os onze docentes do Conservatório, receberam a soma anual 34:479$799 da receita do Instituto do total de 94:156$763. Para esses gastos o Presidente conseguiu elevar a dotação estadual de 30:000$000 para 40:000$000. Do Município conseguiu 12:500$000 em três parcelas. As matrículas renderam 19:339$600. O dólar (Us$) estava sendo vendido nesse ano de 1922 por 7$740. Isso representaria aproximadamente Us$ 1.428 anuais para os três docentes. Cabendo a cada um aproximadamente Us$ 40 (quarenta dólares) mensais.

[3] - “Pelichek prestou excelentes serviços à Escola, revelando-se um profissional competente, zeloso e trabalhado.
No proximo exericio esse professor poderá prestar optimos serviços ao Instituto
”. Libindo, Relatório de 1922

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