terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

279. ISTO é ARTE

Uma TOURADA FRUSTRADA 
pelo TOURO

Fig. 01 – O jogo mortal, que o lendário REI MINOS propiciava aos seus súditos, era desafio entre a força bruta do touro e a habilidade do homem em dominar e impor sua vontade ao animal Toda a bacia do Mediterrâneo viveu este arriscado desafio. Em Roma foi superado pelo luta mortal entre gladiares[1]. O Brasil possui vestígios, até o dias atuais, deste desafio da “FARRA do BOI”[2] do litoral do estado de Santa Catarina


Houve  touradas no Rio Grande do Sul?
- Sim.
A dúvida se elas seguiam os rituais da tradição portuguesa ou espanhola. Na tradição portuguesa - inaugurada e regulada no governo do marquês de Pombal - o touro NÃO é sacrificado na arena. Enquanto isto a Espanha a culminância e objetivo é  a morte do touro ou toureiro.
A Espanha continua a elaborar rituais, celebrações e avaliações de desempenhos para as quais se elabora um gigantesco marketing. Assim os aficionados são cercados e envolvidos num clima de “SANGUE pelo SANGUE” quase impossível de abolir ou tornar obsoleto.
No correr do Diário de Fernando CORONA temos a descrição de sua prática da TOURADA no interior do estado do Rio Grande do Sul e em Porto Alegre. A TRADIÇÃO das TOURADAS, motivada e sustentada pela COLÔNIA ESPANHOLA do Rio Grande do Sul, tem como pano de fundo a crise da I GUERRA MUNDIAL. Para Fernando CORONA constituem as circunstâncias e as razões pessoais de sua escolha de sua permanência e radicação no estado.
 É lenta a desativação, no mundo, desta tradição quando hoje são vivamente questionadas na Espanha[3]
Fernando CORONA[4] registra um episódio desastrado de um  evento e uma TOURADA, frustrado pelo touro e o seu proprietário, na cidade de Tupanciretã.
Ele  descreve estas circunstâncias no seu diário para o ano de 1917.
CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui  fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo  Tomo I  604 f. Folhas de arquivo:  210 mm X 149 mm.Manuscrito original pertencente à Família Fernando CORONA


Os primeiros meses de 1917 foram ocupados entre a oficina de escultura e o escritório do pai onde elaborava o projeto definitivo da Catedral. Ele havia projetado para o construtor de Cruz Alta, José Andreani, uma Igreja para Tupanciretã.



[1] - As lutas  entre gladiadores  era feitas entre escravos e que os romanos tinham na categoria de feras e destinadas a derramar o seu sangue na arena, Talvez desta prática sanguinária que Fernando CORONA mantinha a sua sentença “ sangue se paga com sangue”
[3] Tradição e questionamento das TOURADAS  na Espanha http://www.clickideia.com.br/portal/conteudos/c/36/18727

[4] SUMÁRIO das POSTAGENS deste BLOG RELATIVAS a   FERNANDO CORONA

https://mapio.net/pic/p-5701699/
Fig. 02 –  Fernando Corona contava com 22 anos de idade quando deu forma às estatuas de São Pedro e São Paulo que modelou, no lugar definitivo, além do baixo relevo do Padre Eterno da fachada da igreja Gótica de Tupanciretã, .Mais adiante não deixou de percorrer, em todos os sentidos o estado do Rio Grande do Sul  na qualidade de arquiteto contratado para conceber residências, clubes, agências bancárias  nas quais dava expansão à escultura em baixos relevos. Até agora não se fez este levantamento deste patrimônio deixado por Fernando Corona.

Assinalou na fachada duas estátuas com dois metros de altura encaixadas em dois nichos côncavos. A Igrejinha era ogival, de uma pequena torre central. No pórtico da ogiva, desenhou  um baixo relevo com a figura do Padre Eterno.
Fig. 03–  O projeto da igreja Gótica de Tupanciretã  é talvez uma das únicas obras construídas e projetas Jesus Maria Corona, Ele trouxe o conhecimento e a prática da construção da catedral de Vitória Espanha[1] Enquanto isto dava todas as suas energias na concepção e no planejamento da Catedral de Porto Alegre, também  na tendência estética gótica trazida ao Rio Grande do Sul pelo mestre João GRÜNEWALD[2]  com experiência na construção da catedral de Colônia

Como meu pai devia continuar com o projeto da Catedral, pediu-me para que fosse a Tupanciretã esculpir aqueles trabalhos.
No dia 20 de Março preparei meus cacarecos e viajei para Cruz Alta onde o construtor Andreani me esperava. Iuí hospedado em sua casa. Tratado com carinho por sua família.
  Após uns dias em Cruz Alta, os dois viajamos para Tupanciretã (ou Tupaceretam) como era antigamente. Um fiacre nos levou ao Grande Hotel Moderno. Seu proprietário o Sr. João Ferreira Louzada fez um preço para a minha estadia que duraria possivelmente dois meses. 4.000 reis por dia com comida.
  Tupanciretã era por esse tempo uma vila do município de Cruz Alta. Havia uma Estação de Estrada de Ferro e à margem muito perto, uma charqueada que era ou havia sido Pedro Osório. Ao lado da charqueada havia uma rua de prostitutas, com algum boteco perto. Sangue se paga com sangue. No alto da colina, a vila se extendia cortada por uma rua central que era verdadeiro areial.
Andreani me apresentou ao Coronel Quincas Lima, velho gaúcho de estirpe. Ou ouvir dizer que eu era o escultor que vinha fazer os santos, ele olhou para mim de alto a baixo e disse:
- Tão moço assim? Se ele vem fazer os santos éle é o "Santeiro".
Raul BOPP com  Carmen MIRANDA
Fig. 04– O jovem Fernando Corona encontrou e Tupamcirtaã um vos circulo de amigos que ele nomeie entre outros “Felix  Cioffi, o dentista e Carlos Azambuja foram os primeiros. Na farmácia do Dr. Vaz fiz tertúlia vespertinas. Fui convidado do Dr. Catarino Azambuja em seu belo palacete da Praça. Visitei a a casa de parentes de Manoelito d´Ornellas, onde vi sua foto em posição de pensador e fundo de livros. Conheci o poeta Raul Bopp[1] e o estudante de direito Mauro Machado, com quem tive cordiais e proveitosas conversas. O gordo e simpático João Soares fornecia-me livros de sua rica biblioteca O  jovem escultor  recebeu,  em Tupanciretã, marcas culturais indeléveis na sua formação pessoal literária, estética e da vida e cultura sul-rio-grandenses aliadas com profundas  experiências estéticas da literatura universal,.

A 2 de Julho eu voltava para Porto Alegre, deixando na serra a saudade que me acompanhou na viagem e até hoje está guardada em meu coração.

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Esquecia de contar um episodio humorístico acontecido em Tupanciretã.
  Apareceu vindo não sei de onde o toureiro espanhol Antônio Morales (Moralito). Postulava financiamento para organizar umas touradas. O Sr. Louzada, dono do hotel pensou que fosse um grande negócio, falando ao Sr. Pagano, dono do cinema local, eles resolveram financiar a construção de um circo de madeira, talvez para 500 ou 1000 pessoas.



[1] Raul BOPP foi para a Amazônia da qual voltou para integrar o Grupo da Semana de Arte Moderna de São Paulo ser e secretários da REVISTA ANTROPOFÁGICAhttp://profciriosimon.blogspot.com/2018/06/233-estudos-de-arte.html

Fig. 05 – Não se possui fotografias conhecidas da arena de touros construído em Tupanciretã  Como o toureiro espanhol  Moralito já havia construído, em 1916, uma no Jardim Zoológico de Porto Alegre certamente era com o mesmo material (tábuas) e desenho com portão dos touros e  o resguardo dos auxiliares do toureiro  As tábuas de pinho eram, nesta época e lugar, abundantes, baratas, de boa qualidade e transportadas pelo trens

Moralito foi falar com o Coronel Chiquinho Gomes, forte fazendeiro e na ocasião Delegado de Policia. Conseguida a licença Moralito foi a fazenda escolher os touros, enquanto era levantada a arena na praça principal da vila. Chiquinho Gomes ofereceu um touro zebu, alegando que êle era tão bravo que não havíia quem o toureasse. O zebu era enorme.
  No dia do espetáculo o circo encheu de gente. Moralito apresentava como toureira uma mulher sem dúvida sua amante. Seu nome era Francisca Guerra “La Guerrita”. Eram verdadeiros aventureiros esses espanhóis.
  A Empresa Louzada Pagano & Cia sentiu naquela tarde de domingo que aquele espetaculo era o grande negocio da época. O circo estava repleto de público.
  Começa o espetáculo com um touro pampa semi-manso. Os cartazes anunciava o famoso touro bravo de Chiquinho Gomes. Após umas piruetas que mais pareciam de circo que de touradas serias, todo o auditório gritava pelo touro zebu. Chiquinho Gomes e os Empresários presidiam a comedia.
  Aparece o zebu e todo o mundo da um grito de espanto. Parecia não caber na pequena arena. Moralito sai com sua capa tentar o animal que se limita a dar um pulo apenas. Volta novamente e o zebu nada de atacar ao toureiro que o instiga com a capa. “La Guerrita” se ativa para ajudar o touro a atacar e o instiga de lado.  O zebu da outro pulo. No terceiro pulo, o zebu não saiu mais do lugar. A tourada chegava ao fim com a atuação do famoso touro.
  De repente, Chiquinho Gomes, delegado de policia e dono do touro, a joia mais preciosa de sua fazenda, salta na arena com dois soldados e da voz de prisão a Moralito, acusado de ter dado entorpecentes ao touro.
  De nada valeu a Moralito dizer que touro zebu não serve para ser toureado. Foi preso e levado para a delegacía.
  O público saiu indignado com aventureiro e vigarista, palavras que Moralito ouvia ao ser preso.
  Quando os touros foram levados rua a fora com os cabrestões, o zebu ao sentir a querência deu pulos de contentamento, chegou às porteiras da estância antes que os outros. Os vaqueiros foram comunicar a Chiquinho Gomes que o touro zebu de sua estima estava novamente no campo e ninguém se atrevia chegar perto dele.
  Dando uma risada, o Coronel Chiquinho Gomes pediu os guardas para soltarem o toureiro. Moralito entrou no gabinete e o delegado o advertiu. Se tivesse sido constatado que o senhor dopara o meu zebu, ficaria preso aquí até que pagasse o animal que mais estimo na fazenda. E soltou aquele aventureiro que não mais deu touradas em Tupanciretã deixando a Empresa com grandes prejuízos e perdida a ilusão.
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Um ANO ANTES da TOURADA de TUPANCIRETÃ:
o MESMO MORALITO
Fig. 06 – O jovem Fernando Corona viu nascer quadrado o Sol do primeiro dia e o ano de 1917, quando esteve detido pelas grades da Delegacia da Polícia que ficava nos porões do atual Paço Municipal de Porto Alegre  Este local e recinto constitui, na atualidade, uma parte da Pinacoteca Aldo LOCATELLI[1] da Prefeitura Municipal da Capital do Estado do Rio Grande do Sul

Durante  o ano de 1916 levei a bem dizer uma vida boêmia que quase desnorteou meus anos moços. Nem sei que classe de amigos que tive nas muitas casas de chope que frequentei.
         Ainda para cúmulo, havia saído da cadeia um espanhol que dizia ser toureiro, arte de valentia que sempre me empolgou. Era Antônio Moraes (Moralito). Estivera preso por passar estampilhas falsas


Fig. 07 – O Coronel GANZO FERNANDES (1872-1957) era um empresário uruguaio que descobriu e explorou o nicho econômico, técnico e cultural que o estado do Rio Grande do Sul oferecia nos primeiros anos do século XX. Assim dedicou e multiplicou o se capital no serviço de telefonia de Porto Alegre e interior. Voltou-se também para a cultura e paera o entretenimento por meio do projeto de um Jardim Zoológico que localizou no Bairro Menino Deus  Neste ambiente acolheu o desejo da COLÔNIA ESPANHOLA de ter uma ARENA de TOURADAS.  Como empresas, todas estas  iniciativas, visavam o lucro e a acumulação de capital. Durante a I GUERRA MUNDIAL, e especialmente depois , estas empresas do uruguaio foram várias multinacionais com mais capital. Quando o Jardim Zoológico fechou, os animais voltaram para Montevidéu e Buenos Aires.

 Muito ágil, este aventureiro conseguiu com o Coronel Ganzo Fernandez[1], dono do Jardim Zoológico[2] no Menino Deus, financiamento para construir uma pequena Praça de Touros dentro da área do Parque. Seu filho, Carlitos Ganzo seria  o homem de contato.
Fig. 08 – Foto portão de entrada do Jardim Zoológico da propriedade do Coronel GANZO situava-se na avenida 13 de Maio, atual Getúlio Vargas. .  Servido de bondes e com extensa série de jaulas e passeios, fontes e piscinas, contou, em 1816, com uma ARENA de TOUROS sob o comando do toureiro Moralito. Depois da falência da empresa de Ganzo, o local passou por diversas serventias, inclusive p lugar foi a semente da EXOPOINTER que atualmente está em Esteio. Serve à Secretaria de Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul

  Enquanto construíam o circo, eu me juntei aos toureiros em aventuras noturnas por este mundo de Deus. Fiquei amigo dos Toureiros, entre eles o “Rerre” e Federico “El Estiras”. 
Fig. 09 – O ingresso ao local era pago o que selecionava um público que podia se dar este lazer ao nível europeu e platino  Como empresa particular e gerida pela iniciativa privada certamente é uma amostra do passado, como a decantada pura e absolta da cultura e do entretenimento, possui  severos limites e que, cedo ou mais tarde, acabam tentando amparar-se no erário público,  seja por renúncias fiscais ou mesmo investimentos públicos de fundo perdido.  Em contrapartida os Clubes de futebol  montaram poderosas empresas por meio de sócios, patrocínios e cobranças de ingressos nos estádios.. No entanto sempre os espera a obsolescência como aconteceu com o Jardim Zoológico do Coronel Canzo e com o Circo de Touros do Moralito.  

Quem sabe lá se eram as saudades que sentia da Espanha a força psíquica que me ligou a eles. Fiquei um tanto indolente, vivia nas farras, dormia tarde e levantava tarde. O trabalho ficou relaxado e não havia modo de voltar a ser como era. Vaguei despreocupado, abandonado, sem vontade de cumprir com as minhas obrigações. Minha moral decrescia, brigava a toa, discutia com os companheiros, provocava. Era mal educado até com as moças amigas, relaxei a correspondência com minha mãe e irmãos. Curti uma luta entre o ódio e a bondade, sem motivo, sem nunca saber o porquê. Eu que sempre havia sido alegre fiquei triste. Não sabia me governar e o pior é que não sabia sequer viver. Era um constante desespero.
Fig. 10 – Os ingressos do JARDIM ZOOLÓGICO, dominado pela Vila DAIMELA,  eram elevados e proibitivos para operários. Um tecelão recebia, em 1908,  de 600 a 1,000 reis por dia trabalhado. Nesta condições a simples visita de uma família operária, de 4 pessoas, consumia os valores de um ou dois dias trabalhados[1]. Para comparação, o  próprio Fernando CORONA pagava 4.000 reis por dia para um hotel com comida, em Tupanciretã, em 1917.  Além desta despesa com o ingresso, eram oferecidos alimentos, lojinhas de souvenirs e, em 1916, o CIRCO das TOURADAS cada qual seus preços e gastos. Evidente que sempre existiam fazendeiros e altos e graduados funcionários para quem estes gastos não eram sentidos


  Quem sabe se a adesão minha ao grupo de toureiros, mais aventureiros que toureiros, fosse uma fuga do meu desespero em não conquistar com o trabalho, um lugar ao sol. Um lugar decente.
  É verdade que saía de uma luta de trabalho intenso nos quarenta e cinco dias e noites no anteprojeto da Catedral, onde a miséria de dinheiro que recebia de meu pai não compensasse.



[1] VALOR ATUAL de 400 REIS em 1916  em 2020   https://fxtop.com/pt/calculadora-de-inflacao.php
Fig. 11 – A arena, os toureiros e público de um CIRCO de TOUROS  de Porto Alegre no início do século XX. Dezesseis anos depois Moralito e o o Coronel Ganzo tentaram reavivar este espetáculo . Não se possui foto esta Praça de Touros  no Jardim Zoológico Mas como no ano seguinte o Moralito estava tentando a sorte no interior do Rio Grande do Sul em Tupanciretã é de supor que o projeto da Capital do Estado não ultrapassou o ano de 1916


  Vieram as tourada e não faltei a nenhuma. Não o fazia como espectador sentado na gradaria, não, eu ficava na barreira salva-vidas e ajudava os toureiros a dar-lhes bandarilhas e outros pertences.
  Ao finalizar cada tomada, largavam um tourinho para o público. Lá ia eu com a capa tentar a sorte. Minha valentia se constatava na tremedeira que me dava ao avançar a um metro do touro citando-o ao ataque. Tomei afeição por tourear e como era apenas afeição sem que fosse paixão, fiquei um dia atirado ao solo no momento de tentar por no touro um par de bandarilhas. Não passou de um pequeno susto.
     Assim passei este ano envolvido em touradas e outras aventuras, culminando com uma justamente na noite de 31 de Dezembro.
      Entrei às 24 horas num Bar alemão da rua 24 de Maio. Lá estava um cidadão paraguaio que o havia conhecido nas touradas. Seu nome: Nicolas Báez e dizia-se filho do Presidente da República paraguaia
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Afinal, Báez e eu saímos e na rua, êle quería dar-me um relógio de ouro. Mas, como ele podería ter no bolso um relógio de ouro. Sería o que reclamava o dono do violão? – Vamos voltar e devolvê-lo, Báez.
- Eu fico com o relógio, me diz.
  E saimos rumo Pensão onde a Denisce o esperava. Mal haviamos entrado no quarto batem à porta. Denisce abria e um policia avançou para prender o paraguaio. Este, forte que era deu um empurrão no guarda que caiu escada abaixo.
  Fiquei assustado e tratei de serenar o ambiente. A solução foi de ir os três presos até a Delegacia, na época, no porão da Prefeitura. Cada um foi metido em cada cêla. Ao chegar eu ví um ambiente úmido com paredes coalhadas de rabiscos e dízeres pornográficos. Calmamente tirei o casaco (vestía linho branco) o dobrei como travesseiro e alí curei a bebedeira durmindo.
  Passado meio dia de 1° de janeiro de 1917, fui acordado por um guarda:
- Moço, moço, levanta. O Sr. Delgado quer falar consigo.
  A minha dor de cabeça era descomunal, masnão seria nada.
  Entro na Sala do Delegado, por sinal o Major Louzada, popular Louzadinha, e encontro lá meu pai acompanhado pelo jornalista amigo nosso Fernando Barreto.
  A primeira pergunta do Delegado foi se eu conhecia o meu companheiro Nicolás Báez.
- Sim, respondi. O conheci nas touradas e ontem o encontrei no Bar festejando a entrada do ano.
- Pois fique sabendo, disse o Delegado, que Nicolás Báez é ladrão internacional e caftem. Sei que o senhor ficou envolvido, e como seu pai, meu amigo está aquí, o senhor sairá com êle, pedindo-lhe que escolha as amizades. Foi Fernando Barreto que havia descoberto minha prisão, em função de meu ai para liberar-me
PRAÇA de TOUROS e VELÓDROMO de PORO ALEGRE

Fig. 12 – Historicamente o ciclo das TOURADAS em PORTO ALEGRE havia cessado no final do século XIX. No entanto, no âmbito da I Guerra Mundial, a Colônia Espanhola havia encontrado um aliado no Coronel Ganzo para dar uma pequena sobrevida com toureiros em disponibilidade percorrendo o planeta para evidenciar  a sua capacidade de lidar com touros mais ou menos bravios ou mansos com o zebu do Coronel Chiquinho em Tupanciretã. Em Porto Alegre a PRAÇA de TOUROS despontava ao lado da pista do Velódromo do CAMPO da REDENÇÂO ou mais distantes o diversos hipódromos  atraiam multidões ou os diversos capôs de futebol, como o dos “Eucaliptos”. sepultaram o ciclo das TOURADAS em PORTO ALEGRE
  Agradecemos ao Delegado e saímos. Fomos almoçar. Como pela tarde houvesse tourada organizada pela Colônia Espanhola, mesmo cansado, uma ducha me curou e fui tourear. Aquela tarde foi minha consagração como toureiro amador, e a última da minha afeição descontrolada.
In: ESCULTURA dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES
Álbum no  2  contém fotos e escritos  de 1957 até 1965
Fig. 13 – Na década de 1960 Fernando Corona guardava, ainda, os apetrechos da faina do toureiro que colecionou e mostrava na sala do seu atelier de Escultura  do Instituto de Belas Artes. Inclusive tinha um traje completo de toureiro que  não aparece nesta onde a sua assistente está orientando um trabalho de um seu aluno. Foi Fernando CORONA que conseguiu a Incorporação do IBA na Universidade via Brasília na época do regime Parlamentarista Brasileiro[1]

  Nicolás Báez morava no Grande Hotel e segundo soube mais tarde era caftem mesmo. Explorava duas lindas mulheres que se hospedavam no Hotel Metrópole. Ambas eram francesas.
  No depoimento, confirmei que o relógio havia sido colocado no bolso do casaco de Nicolás Báez, embora minha convicção fôsse que êle o tivesse roubado. Nada me custava dar-lhe um álibi. Dias após ele foi solto e segundo me confirmou Pepito Cuervo do Grande Hotel, o paraguaio aventureiro havia sido deportado.
  Do Rio me escreveria, agradecendo-me o depoimento. Nunca mais o ví e nunca entrei em aventuras com gente desconhecida.
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  Mudei sem dúvida, e com o nascer do ano 17 notei em mim alguma alteração na vida cotidiana.
  Não seria arrependimento por certo, pois sempre achei que na vida todo experimento é valido. Meu caráter não se dobrava, e embora seja um tanto petulante eu era incorruptível. É sem dúvida um dos meus orgulhos.
Passada a crise da I GUERRA MUNDIAL avolumam-se as razões pessoais de Fernando CORONA a favor de sua escolha de permanecer no estado do rio Grande do Sul. Atuava tanto como arquiteto, como escultor, modelador. Continuava a aprofundar as suas relações com a inteligência do Rio Grande do Sul. Encontra e convence Érico Verissimo a empreender uma carreira literária e se mudar de Cruz Alta para  capital
Com esta dupla bagagem - prática e intelectual - apresentou-se em banca pública e defendeu a tese[2] para as funções e  cargo da CATEDRÁTICO de ESCULTURA do INSTITUTO de ARTES, Com o seu empenho pessoal em Brasília traz de retorno o IBA-RS ao seio da Universidade que esta instituição havia ajudado a fundar.
 Com todas estas iniciativas o vigor das TOURADAS foi direcionada para outras realizações, Destas TOURADAS sobraram os apetrechos e um uniforme de toureiro.
O desafio permanecia no núcleo de suas MEMÓRIAS PESSOAIS  onde registrou misteriosamente: “sangue se paga com sangue”   como uma metáfora do embate entre a fera bruta e da criatura humana. Ou seja: da NATUREZA, com nada por dentro, e a ARTE como maior legado de uma civilização humana.



[1] COISAS MINHAS : 1962 1965 Brasília e outros alpistes            85 f.
                06.08. 1962    26.11.1965. Folhas sem linhas caderno simples:  210 mm X 149 mm.

[2] CORONA, Fernando (1985-1979) FIDIAS  MIGUEL ANGELO RODIN   TÊSE DE CONCURSO PARA PROFESSOR CATEDRATICO DE ESCULTURA E MODELAGEM DO INSTITUTO DE BELAS ARTES DA UNIVERSIDADE DE PORTO ALEGRE PORTO ALEGRE Estado do Rio Grande do Su:l IMPRENSA OFICIAL. 1939 83 p. com 13 ilustrações



In: ESCULTURA dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES
Álbum no  2  contém fotos e escritos  de 1957 até 1965
Fig. 14 –  Fernando Corona entregue ao registro de sua memória no ambiente do seu atelier de Modelagem do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Nesta instituição  foi o primeiro professor catedrático de Escultura com ingresso por meio de tese defendida diante de banca acadêmica externa. Superou a lacuna da sua formação escolar, que ele interrompeu na quarta série primária, por meio das suas vivências diretas com a gente das artes, das letras, da imprensa e da magistério superior
Ao mesmo tempo Fernando CORONA mostra a transformação gradativa do espetáculo brutal e  descabido das TOURADAS, em TOTEM, em SIMBOLO e em MOTIVAÇÃO o caminho da TRANSCENDÊNCIA. Com esta bagagem de experiências e conhecimentos acumulados, empreende  realizações que orgulham não só o estado do Rio Grande do sul como toda humanidade. Mesmo que o preço seja o de “DEIXAR de ser ESCULTOR[1] para FORMAR ESCULTORES” com resumia a sua ação no magistério superior. Era contato permanente entre os intelectuais de todo o Brasil e especialmente daquelas da ESCOLA NACIONAL de BELAS ARTES (ENBA) onde se formou seu filho Eduardo CORONA Entre as expressões da ENBA estavam Helios SEELINGER e Oscar NIEMEYER[2]. Isto sem esquecer que ele foi um eficiente e fundamental incentivador das ESCOLINHAS de ARTE do Rio Grande do Sul e um dos fundadores da legendária ESCOLINHA dos EX-ALUNOS do IBA-RS.
Tudo isto tinha o seu devido preço, renúncias e até “sangue se paga com sangue”.

TESE
CORONA, Fernando (1985-1979) FIDIAS  MIGUEL ANGELO RODIN   TÊSE DE CONCURSO PARA PROFESSOR CATEDRATICO DE ESCULTURA E MODELAGEM DO INSTITUTO DE BELAS ARTES DA UNIVERSIDADE DE PORTO ALEGRE PORTO ALEGRE Estado do Rio Grande do Su:l IMPRENSA OFICIAL. 1939 83 p. com 13 ilustrações



MANUSCRITOS INÉDITOS de FERNANDO CORONA

CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui  fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo
                                                                                Tomo I  604 f.
Folhas de arquivo:  210 mm X 149 mm.
Manuscrito original pertencente à Família Fernando CORONA

CAMINHADA de FERNANDO CORONA. Tomo II 1945/49-1953. um homem como qualquer: renascer em um lugar e renascer em outro
                                                                                 Tomo II  220 f.
Folhas de arquivo:  210 mm X 149 mm.
Manuscrito original pertencente à Família Fernando CORONA

ESCULTURAS dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES
Álbum no 1 contém fotos e escritos de 1938 até 1956
99 folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  com  332  fotos coladas       
Arquivo  Geral do  Instituto de Artes da UFRGS   



ESCULTURA dos ALUNOS do  INSTITUTO de BELAS ARTES
Álbum no  2  contém fotos e escritos  de 1957 até 1965
71 folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  com 167 fotos coladas              
Livros raros  Arquivo Geral do Instituto de Artes da.  UFRGS



CURSO de ARQUITETURA : Cadeira de MODELAGEM.
21.09.1955  + Viagem a Europa   1952
Documentário fotográfico de 1946 – 47 – 48 – 49 – 50 - 51
Folhas de arquivo: 297 mm X  210 mm  como fotos coladas.
Livros raros Arquivo Geral do Instituto de Artes da.  UFRGS

COISAS MINHAS : 1962 1965 Brasília e outros alpistes            85 f.
                06.08. 1962    26.11.1965.
Folhas sem linhas caderno simples:  210 mm X 149 mm.
Manuscrito original pertencente à Família Fernando CORONA        ( 10  )

FONITES NUERICA DIGITAIS
Catedral de Vitória Espanha
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Página do FACE BOOK do MESTRE JOÃO GRÜNEWALD
Tradição e questionamento das TOURADAS  na Espanha http://www.clickideia.com.br/portal/conteudos/c/36/18727


TOURADA em PORTO ALEGRE
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PRAÇO de TOUROS e VELÒDRMO de PORO ALEGRE

BANDARILHEIRO em AÇÂO numa TOURADA em PORTO ALEGRE

JARDIM ZOOLÒGICO do CORONEL GANZO
Coronel GANZO FERNANDEZ (1872-1957)

FARRA do BOI litoral do Estado de Santa Catarina

PINACOTECA ALDO LOCATELLI

RAUL BOPP (1898-1984) em TUPANCIRETÃ
Poesia de
Raul BOPP com Jorge AMADO e Carmen MIRANDA
 REVISTA de ANTROPOFAGIA

SUMÁRIO das POSTAGENS deste BLOG RELATIVAS a   FERNANDO CORONA

Uma Obra do espanhol FERNANDO CORONA –in  ICONOGRAFIA  SUL-RIO-GRANDENSE http://profciriosimon.blogspot.com.br/2016/10/187-iconografia-sul-rio-grandense.html

OSCAR NIEMEYER em PORTO ALEGRE 4 – Lições de Oscar NIEMEYER aos jovens arquitetos



[1] Uma Obra do espanhol FERNANDO CORONA –in  ICONOGRAFIA  SUL-RIO-GRANDENSE
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[2] OSCAR NIEMEYER em PORTO ALEGRE 4 – Lições de Oscar NIEMEYER aos jovens arquitetos
 
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