Uma TOURADA FRUSTRADA
pelo TOURO
Fig. 01 – O jogo mortal, que o lendário REI MINOS propiciava aos seus súditos,
era desafio entre a força bruta do touro e a habilidade do homem em dominar e
impor sua vontade ao animal Toda a bacia do Mediterrâneo viveu este
arriscado desafio. Em Roma foi superado pelo luta mortal entre gladiares[1]. O Brasil possui
vestígios, até o dias atuais, deste desafio da “FARRA do BOI”[2] do litoral do estado de
Santa Catarina
Houve
touradas no Rio Grande do Sul?
-
Sim.
A
dúvida se elas seguiam os rituais da tradição portuguesa ou espanhola. Na
tradição portuguesa - inaugurada e regulada no governo do marquês de Pombal - o
touro NÃO é sacrificado na arena. Enquanto isto a Espanha a
culminância e objetivo é a morte do touro
ou toureiro.
A
Espanha continua a elaborar rituais, celebrações e avaliações de desempenhos
para as quais se elabora um gigantesco marketing. Assim os aficionados são cercados
e envolvidos num clima de “SANGUE pelo SANGUE” quase impossível de abolir ou
tornar obsoleto.
No
correr do Diário de Fernando CORONA temos a descrição de sua prática da TOURADA
no interior do estado do Rio Grande do Sul e em Porto Alegre. A TRADIÇÃO das
TOURADAS, motivada e sustentada pela COLÔNIA ESPANHOLA do Rio Grande do Sul, tem
como pano de fundo a crise da I GUERRA MUNDIAL. Para Fernando CORONA constituem as circunstâncias e as razões pessoais de sua
escolha de sua permanência e radicação no estado.
É lenta a desativação, no mundo, desta tradição
quando hoje são vivamente questionadas na Espanha[3]
Fernando
CORONA[4]
registra um episódio desastrado de um evento
e uma TOURADA, frustrado pelo touro e o seu proprietário, na cidade de
Tupanciretã.
Ele descreve estas circunstâncias no seu diário
para o ano de 1917.
CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de
janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e
aqui fiquei para sempre: nasci num lugar
e renasci em outro onde encontrei amo
Tomo I 604 f. Folhas de arquivo: 210 mm X 149 mm.Manuscrito original
pertencente à Família Fernando CORONA
Os primeiros meses de 1917 foram ocupados entre a
oficina de escultura e o escritório do pai onde elaborava o projeto definitivo
da Catedral. Ele havia projetado para o construtor de Cruz Alta, José Andreani,
uma Igreja para Tupanciretã.
[1] - As lutas
entre gladiadores era feitas entre
escravos e que os romanos tinham na categoria de feras e destinadas a derramar
o seu sangue na arena, Talvez desta prática sanguinária que Fernando CORONA
mantinha a sua sentença “ sangue se paga com sangue”
[3] Tradição e questionamento das TOURADAS na Espanha http://www.clickideia.com.br/portal/conteudos/c/36/18727
[4] SUMÁRIO das POSTAGENS deste BLOG RELATIVAS a FERNANDO CORONA
https://mapio.net/pic/p-5701699/
Fig. 02 – Fernando Corona contava com 22 anos de idade quando deu forma às estatuas de São Pedro e São Paulo que modelou, no lugar definitivo, além do baixo relevo do Padre Eterno da fachada da igreja Gótica de Tupanciretã, .Mais adiante não deixou de percorrer, em todos os sentidos o estado do Rio Grande do Sul na qualidade de arquiteto contratado para conceber residências, clubes, agências bancárias nas quais dava expansão à escultura em baixos relevos. Até agora não se fez este levantamento deste patrimônio deixado por Fernando Corona.
Fig. 02 – Fernando Corona contava com 22 anos de idade quando deu forma às estatuas de São Pedro e São Paulo que modelou, no lugar definitivo, além do baixo relevo do Padre Eterno da fachada da igreja Gótica de Tupanciretã, .Mais adiante não deixou de percorrer, em todos os sentidos o estado do Rio Grande do Sul na qualidade de arquiteto contratado para conceber residências, clubes, agências bancárias nas quais dava expansão à escultura em baixos relevos. Até agora não se fez este levantamento deste patrimônio deixado por Fernando Corona.
Assinalou na fachada duas estátuas com dois metros
de altura encaixadas em dois nichos côncavos. A Igrejinha era ogival, de uma
pequena torre central. No pórtico da ogiva, desenhou um baixo relevo com a figura do Padre Eterno.
Fig. 03– O projeto da igreja Gótica de
Tupanciretã é talvez uma das únicas
obras construídas e projetas Jesus Maria Corona, Ele trouxe o conhecimento e a
prática da construção da catedral de Vitória Espanha[1]
Enquanto isto dava todas as suas energias na concepção e no planejamento da
Catedral de Porto Alegre, também na
tendência estética gótica trazida ao Rio Grande do Sul pelo mestre João
GRÜNEWALD[2] com experiência na construção da catedral de
Colônia
Como meu pai devia continuar com o projeto da
Catedral, pediu-me para que fosse a Tupanciretã esculpir aqueles trabalhos.
No dia 20 de Março preparei meus cacarecos e viajei
para Cruz Alta onde o construtor Andreani me esperava. Iuí hospedado em sua
casa. Tratado com carinho por sua família.
Após uns
dias em Cruz Alta, os dois viajamos para Tupanciretã (ou Tupaceretam) como era
antigamente. Um fiacre nos levou ao Grande Hotel Moderno. Seu proprietário o
Sr. João Ferreira Louzada fez um preço para a minha estadia que duraria
possivelmente dois meses. 4.000 reis por dia com comida.
Tupanciretã
era por esse tempo uma vila do município de Cruz Alta. Havia uma Estação de
Estrada de Ferro e à margem muito perto, uma charqueada que era ou havia sido
Pedro Osório. Ao lado da charqueada havia uma rua de prostitutas, com algum boteco
perto. Sangue se paga com sangue. No alto da colina, a vila se extendia cortada
por uma rua central que era verdadeiro areial.
Andreani me apresentou ao Coronel Quincas Lima,
velho gaúcho de estirpe. Ou ouvir dizer que eu era o escultor que vinha fazer
os santos, ele olhou para mim de alto a baixo e disse:
- Tão moço assim? Se ele vem fazer os santos éle é o
"Santeiro".
Raul
BOPP com Carmen MIRANDA
Fig. 04– O jovem Fernando
Corona encontrou e Tupamcirtaã um vos circulo de amigos que ele nomeie entre
outros “Felix Cioffi, o dentista e Carlos Azambuja foram os
primeiros. Na farmácia do Dr. Vaz fiz tertúlia vespertinas. Fui convidado do
Dr. Catarino Azambuja em seu belo palacete da Praça. Visitei a a casa de parentes
de Manoelito d´Ornellas, onde vi sua foto em posição de pensador e fundo de
livros. Conheci o poeta Raul Bopp[1]
e o estudante de direito Mauro Machado, com quem tive cordiais e proveitosas
conversas. O gordo e simpático João Soares fornecia-me livros de sua rica
biblioteca” O jovem
escultor recebeu, em Tupanciretã, marcas culturais indeléveis
na sua formação pessoal literária, estética e da vida e cultura
sul-rio-grandenses aliadas com profundas
experiências estéticas da literatura universal,.
A
2 de Julho eu voltava para Porto Alegre, deixando na serra a saudade que me
acompanhou na viagem e até hoje está guardada em meu coração.
+
Esquecia de contar um episodio
humorístico acontecido em Tupanciretã.
Apareceu vindo não sei de onde o toureiro
espanhol Antônio Morales (Moralito). Postulava financiamento para organizar
umas touradas. O Sr. Louzada, dono do hotel pensou que fosse um grande negócio,
falando ao Sr. Pagano, dono do cinema local, eles resolveram financiar a
construção de um circo de madeira, talvez para 500 ou 1000 pessoas.
[1] Raul BOPP foi para a Amazônia da qual voltou para integrar o Grupo da
Semana de Arte Moderna de São Paulo ser e secretários da REVISTA ANTROPOFÁGICAhttp://profciriosimon.blogspot.com/2018/06/233-estudos-de-arte.html
Fig. 05 – Não se possui fotografias conhecidas da arena de touros construído em
Tupanciretã Como o toureiro
espanhol Moralito já havia construído,
em 1916, uma no Jardim Zoológico de Porto Alegre certamente era com o mesmo
material (tábuas) e desenho com portão dos touros e o resguardo dos auxiliares do toureiro As tábuas de pinho eram, nesta época e
lugar, abundantes, baratas, de boa qualidade e transportadas pelo trens
Moralito
foi falar com o Coronel Chiquinho Gomes, forte fazendeiro e na ocasião Delegado
de Policia. Conseguida a licença Moralito foi a fazenda escolher os touros,
enquanto era levantada a arena na praça principal da vila. Chiquinho Gomes
ofereceu um touro zebu, alegando que êle era tão bravo que não havíia quem o
toureasse. O zebu era enorme.
No dia do espetáculo o circo encheu de gente.
Moralito apresentava como toureira uma mulher sem dúvida sua amante. Seu nome
era Francisca Guerra “La Guerrita”. Eram verdadeiros aventureiros esses espanhóis.
A Empresa Louzada Pagano & Cia sentiu
naquela tarde de domingo que aquele espetaculo era o grande negocio da época. O
circo estava repleto de público.
Começa o espetáculo com um touro pampa
semi-manso. Os cartazes anunciava o famoso touro bravo de Chiquinho Gomes. Após
umas piruetas que mais pareciam de circo que de touradas serias, todo o
auditório gritava pelo touro zebu. Chiquinho Gomes e os Empresários presidiam a
comedia.
Aparece o zebu e todo o mundo da um grito de
espanto. Parecia não caber na pequena arena. Moralito sai com sua capa tentar o
animal que se limita a dar um pulo apenas. Volta novamente e o zebu nada de
atacar ao toureiro que o instiga com a capa. “La Guerrita” se ativa para ajudar
o touro a atacar e o instiga de lado. O
zebu da outro pulo. No terceiro pulo, o zebu não saiu mais do lugar. A tourada
chegava ao fim com a atuação do famoso touro.
De repente, Chiquinho Gomes, delegado de
policia e dono do touro, a joia mais preciosa de sua fazenda, salta na arena
com dois soldados e da voz de prisão a Moralito, acusado de ter dado
entorpecentes ao touro.
De nada valeu a Moralito dizer que touro zebu
não serve para ser toureado. Foi preso e levado para a delegacía.
O público saiu indignado com aventureiro e
vigarista, palavras que Moralito ouvia ao ser preso.
Quando os touros foram levados rua a fora com
os cabrestões, o zebu ao sentir a querência deu pulos de contentamento, chegou
às porteiras da estância antes que os outros. Os vaqueiros foram comunicar a
Chiquinho Gomes que o touro zebu de sua estima estava novamente no campo e
ninguém se atrevia chegar perto dele.
Dando uma risada, o Coronel Chiquinho Gomes
pediu os guardas para soltarem o toureiro. Moralito entrou no gabinete e o
delegado o advertiu. Se tivesse sido constatado que o senhor dopara o meu zebu,
ficaria preso aquí até que pagasse o animal que mais estimo na fazenda. E
soltou aquele aventureiro que não mais deu touradas em Tupanciretã deixando a
Empresa com grandes prejuízos e perdida a ilusão.
+
Um ANO ANTES da
TOURADA de TUPANCIRETÃ:
o MESMO MORALITO
Fig. 06 – O jovem Fernando Corona viu nascer quadrado o Sol do primeiro dia e o
ano de 1917, quando esteve detido pelas grades da Delegacia da Polícia que
ficava nos porões do atual Paço Municipal de Porto Alegre Este local e recinto constitui, na
atualidade, uma parte da Pinacoteca Aldo LOCATELLI[1] da Prefeitura Municipal da
Capital do Estado do Rio Grande do Sul
Durante o ano de 1916 levei a bem dizer uma vida
boêmia que quase desnorteou meus anos moços. Nem sei que classe de amigos que
tive nas muitas casas de chope que frequentei.
Ainda para cúmulo, havia saído da
cadeia um espanhol que dizia ser toureiro, arte de valentia que sempre me
empolgou. Era Antônio Moraes (Moralito). Estivera preso por passar estampilhas
falsas
Fig. 07 – O Coronel GANZO FERNANDES (1872-1957) era um empresário uruguaio que
descobriu e explorou o nicho econômico, técnico e cultural que o estado do Rio
Grande do Sul oferecia nos primeiros anos do século XX. Assim dedicou e
multiplicou o se capital no serviço de telefonia de Porto Alegre e interior. Voltou-se
também para a cultura e paera o entretenimento por meio do projeto de um Jardim
Zoológico que localizou no Bairro Menino Deus
Neste ambiente acolheu o desejo da COLÔNIA ESPANHOLA de ter uma ARENA de
TOURADAS. Como empresas, todas estas
iniciativas, visavam o lucro e a acumulação
de capital. Durante a I GUERRA MUNDIAL, e especialmente depois , estas empresas
do uruguaio foram várias multinacionais com mais capital. Quando o Jardim Zoológico
fechou, os animais voltaram para Montevidéu e Buenos Aires.
Muito ágil, este aventureiro conseguiu com o
Coronel Ganzo Fernandez[1],
dono do Jardim Zoológico[2]
no Menino Deus, financiamento para construir uma pequena Praça de Touros dentro
da área do Parque. Seu filho, Carlitos Ganzo seria o homem de contato.
[1] Coronel
GANZO FERNANDEZ (1872-1957) http://familiaganzo.blogspot.com/2007/10/biografia-de-juan-ganzo-fernandez-at.html
Fig. 08 – Foto portão de entrada do Jardim Zoológico da propriedade do Coronel
GANZO situava-se na avenida 13 de Maio, atual Getúlio Vargas. . Servido de bondes e com extensa série de
jaulas e passeios, fontes e piscinas, contou, em 1816, com uma ARENA de TOUROS
sob o comando do toureiro Moralito. Depois da falência da empresa de Ganzo, o
local passou por diversas serventias, inclusive p lugar foi a semente da
EXOPOINTER que atualmente está em Esteio. Serve à Secretaria de Agricultura do Estado
do Rio Grande do Sul
Enquanto construíam o circo, eu me juntei aos
toureiros em aventuras noturnas por este mundo de Deus. Fiquei amigo dos
Toureiros, entre eles o “Rerre” e Federico “El Estiras”.
Fig. 09 – O ingresso ao local era pago o que selecionava um público que podia se
dar este lazer ao nível europeu e platino
Como empresa particular e gerida pela iniciativa privada certamente
é uma amostra do passado, como a decantada pura e absolta da cultura e do
entretenimento, possui severos limites e
que, cedo ou mais tarde, acabam tentando amparar-se no erário público, seja por renúncias fiscais ou mesmo
investimentos públicos de fundo perdido.
Em contrapartida os Clubes de futebol
montaram poderosas empresas por meio de sócios, patrocínios e cobranças
de ingressos nos estádios.. No entanto sempre os espera a obsolescência como
aconteceu com o Jardim Zoológico do Coronel Canzo e com o Circo de Touros do
Moralito.
Quem sabe lá se eram as saudades que sentia da
Espanha a força psíquica que me ligou a eles. Fiquei um tanto indolente, vivia
nas farras, dormia tarde e levantava tarde. O trabalho ficou relaxado e não havia
modo de voltar a ser como era. Vaguei despreocupado, abandonado, sem vontade de
cumprir com as minhas obrigações. Minha moral decrescia, brigava a toa, discutia
com os companheiros, provocava. Era mal educado até com as moças amigas,
relaxei a correspondência com minha mãe e irmãos. Curti uma luta entre o ódio e
a bondade, sem motivo, sem nunca saber o porquê. Eu que sempre havia sido
alegre fiquei triste. Não sabia me governar e o pior é que não sabia sequer
viver. Era um constante desespero.
Fig. 10 – Os ingressos do JARDIM ZOOLÓGICO, dominado pela Vila DAIMELA, eram elevados e proibitivos para operários. Um
tecelão recebia, em 1908, de 600 a 1,000
reis por dia trabalhado. Nesta condições a simples visita de uma família
operária, de 4 pessoas, consumia os valores de um ou dois dias trabalhados[1].
Para comparação, o próprio Fernando CORONA
pagava 4.000 reis por dia para um hotel com
comida, em
Tupanciretã, em 1917. Além desta despesa com o ingresso, eram oferecidos
alimentos, lojinhas de souvenirs e, em 1916, o CIRCO das TOURADAS cada qual
seus preços e gastos. Evidente que sempre existiam fazendeiros e altos e
graduados funcionários para quem estes gastos não eram sentidos
Quem sabe se a adesão minha ao grupo de toureiros,
mais aventureiros que toureiros, fosse uma fuga do meu desespero em não
conquistar com o trabalho, um lugar ao sol. Um lugar decente.
É verdade
que saía de uma luta de trabalho intenso nos quarenta e cinco dias e noites no anteprojeto
da Catedral, onde a miséria de dinheiro que recebia de meu pai não compensasse.
Fig. 11 – A arena, os toureiros e público de um CIRCO de TOUROS de Porto Alegre no início do século XX.
Dezesseis anos depois Moralito e o o Coronel Ganzo tentaram reavivar este
espetáculo . Não se possui foto esta Praça de Touros no
Jardim Zoológico Mas como no ano seguinte o Moralito estava tentando a
sorte no interior do Rio Grande do Sul em Tupanciretã é de supor que o projeto
da Capital do Estado não ultrapassou o ano de 1916
Vieram as tourada e não faltei a nenhuma. Não o
fazia como espectador sentado na gradaria, não, eu ficava na barreira salva-vidas
e ajudava os toureiros a dar-lhes bandarilhas e outros pertences.
Ao finalizar
cada tomada, largavam um tourinho para o público. Lá ia eu com a capa tentar a
sorte. Minha valentia se constatava na tremedeira que me dava ao avançar a um
metro do touro citando-o ao ataque. Tomei afeição por tourear e como era apenas
afeição sem que fosse paixão, fiquei um dia atirado ao solo no momento de
tentar por no touro um par de bandarilhas. Não passou de um pequeno susto.
Assim passei este ano envolvido em touradas e outras aventuras,
culminando com uma justamente na noite de 31 de Dezembro.
Entrei às 24 horas num Bar
alemão da rua 24 de Maio. Lá estava um cidadão paraguaio que o havia conhecido
nas touradas. Seu nome: Nicolas Báez e dizia-se filho do Presidente da
República paraguaia
+
Afinal, Báez e eu saímos e na rua, êle quería
dar-me um relógio de ouro. Mas, como ele podería ter no bolso um relógio de
ouro. Sería o que reclamava o dono do violão? – Vamos voltar e devolvê-lo,
Báez.
- Eu fico com o relógio, me diz.
E saimos
rumo Pensão onde a Denisce o esperava. Mal haviamos entrado no quarto batem à
porta. Denisce abria e um policia avançou para prender o paraguaio. Este, forte
que era deu um empurrão no guarda que caiu escada abaixo.
Fiquei
assustado e tratei de serenar o ambiente. A solução foi de ir os três presos
até a Delegacia, na época, no porão da Prefeitura. Cada um foi metido em cada
cêla. Ao chegar eu ví um ambiente úmido com paredes coalhadas de rabiscos e
dízeres pornográficos. Calmamente tirei o casaco (vestía linho branco) o dobrei
como travesseiro e alí curei a bebedeira durmindo.
Passado meio
dia de 1° de janeiro de 1917, fui acordado por um guarda:
- Moço, moço, levanta. O Sr. Delgado quer falar
consigo.
A minha dor
de cabeça era descomunal, masnão seria nada.
Entro na
Sala do Delegado, por sinal o Major Louzada, popular Louzadinha, e encontro lá
meu pai acompanhado pelo jornalista amigo nosso Fernando Barreto.
A primeira
pergunta do Delegado foi se eu conhecia o meu companheiro Nicolás Báez.
- Sim, respondi. O conheci nas touradas e ontem o
encontrei no Bar festejando a entrada do ano.
- Pois fique sabendo, disse o Delegado, que
Nicolás Báez é ladrão internacional e caftem. Sei que o senhor ficou envolvido,
e como seu pai, meu amigo está aquí, o senhor sairá com êle, pedindo-lhe que
escolha as amizades. Foi Fernando Barreto que havia descoberto minha prisão, em
função de meu ai para liberar-me
PRAÇA de TOUROS
e VELÓDROMO de PORO ALEGRE
Fig. 12 – Historicamente o ciclo das TOURADAS em
PORTO ALEGRE havia cessado no final do século XIX. No entanto, no âmbito da
I Guerra Mundial, a Colônia Espanhola havia encontrado um aliado no Coronel
Ganzo para dar uma pequena sobrevida com toureiros em disponibilidade
percorrendo o planeta para evidenciar a
sua capacidade de lidar com touros mais ou menos bravios ou mansos com o zebu
do Coronel Chiquinho em Tupanciretã. Em Porto Alegre a PRAÇA de TOUROS
despontava ao lado da pista do Velódromo do CAMPO da REDENÇÂO ou mais distantes
o diversos hipódromos atraiam multidões
ou os diversos capôs de futebol, como o dos “Eucaliptos”. sepultaram o ciclo
das TOURADAS em PORTO ALEGRE
Agradecemos ao Delegado e saímos. Fomos almoçar.
Como pela tarde houvesse tourada organizada pela Colônia Espanhola, mesmo
cansado, uma ducha me curou e fui tourear. Aquela tarde foi minha consagração
como toureiro amador, e a última da minha afeição descontrolada.
In: ESCULTURA dos ALUNOS do INSTITUTO de
BELAS ARTES
Álbum no
2 contém fotos e escritos de 1957 até 1965
Fig. 13 – Na década de 1960 Fernando Corona guardava, ainda, os apetrechos da
faina do toureiro que colecionou e mostrava na sala do seu atelier de
Escultura do Instituto de Belas Artes. Inclusive
tinha um traje completo de toureiro que não aparece nesta onde a sua assistente está
orientando um trabalho de um seu aluno. Foi Fernando CORONA que conseguiu a
Incorporação do IBA na Universidade via Brasília na época do regime
Parlamentarista Brasileiro[1]
Nicolás Báez
morava no Grande Hotel e segundo soube mais tarde era caftem mesmo. Explorava
duas lindas mulheres que se hospedavam no Hotel Metrópole. Ambas eram
francesas.
No
depoimento, confirmei que o relógio havia sido colocado no bolso do casaco de
Nicolás Báez, embora minha convicção fôsse que êle o tivesse roubado. Nada me
custava dar-lhe um álibi. Dias após ele foi solto e segundo me confirmou Pepito
Cuervo do Grande Hotel, o paraguaio aventureiro havia sido deportado.
Do Rio me escreveria,
agradecendo-me o depoimento. Nunca mais o ví e nunca entrei em aventuras com
gente desconhecida.
+
Mudei sem dúvida, e com o nascer do ano 17 notei em
mim alguma alteração na vida cotidiana.
Não seria
arrependimento por certo, pois sempre achei que na vida todo experimento é
valido. Meu caráter não se dobrava, e embora seja um tanto petulante eu era incorruptível.
É sem dúvida um dos meus orgulhos.
Passada a crise da I GUERRA
MUNDIAL avolumam-se as razões pessoais de Fernando CORONA a favor de sua
escolha de permanecer no estado do rio Grande do Sul. Atuava tanto como
arquiteto, como escultor, modelador. Continuava a aprofundar as suas relações
com a inteligência do Rio Grande do Sul. Encontra e convence Érico Verissimo a
empreender uma carreira literária e se mudar de Cruz Alta para capital
Com esta dupla bagagem -
prática e intelectual - apresentou-se em banca pública e defendeu a tese[2]
para as funções e cargo da CATEDRÁTICO
de ESCULTURA do INSTITUTO de ARTES, Com o seu empenho pessoal em Brasília traz de retorno o IBA-RS ao
seio da Universidade que esta instituição havia ajudado a fundar.
Com todas estas iniciativas o vigor das
TOURADAS foi direcionada para outras realizações, Destas TOURADAS sobraram os
apetrechos e um uniforme de toureiro.
O desafio permanecia no
núcleo de suas MEMÓRIAS PESSOAIS onde
registrou misteriosamente: “sangue se
paga com sangue” como uma metáfora do embate entre a fera bruta
e da criatura humana. Ou seja: da NATUREZA, com nada por dentro, e a ARTE como
maior legado de uma civilização humana.
[1] COISAS MINHAS : 1962 1965 Brasília e outros
alpistes 85 f.
06.08. 1962 26.11.1965. Folhas
sem linhas caderno simples: 210 mm X 149
mm.
[2] CORONA, Fernando (1985-1979) FIDIAS MIGUEL ANGELO RODIN TÊSE
DE CONCURSO PARA PROFESSOR CATEDRATICO DE ESCULTURA E MODELAGEM DO INSTITUTO DE BELAS ARTES DA UNIVERSIDADE DE PORTO
ALEGRE PORTO ALEGRE Estado do Rio Grande do Su:l IMPRENSA OFICIAL. 1939 83 p. com 13
ilustrações
In: ESCULTURA dos ALUNOS do INSTITUTO de
BELAS ARTES
Álbum no
2 contém fotos e escritos de 1957 até 1965
Fig. 14 – Fernando Corona entregue ao
registro de sua memória no ambiente do seu atelier de Modelagem do Instituto de
Belas Artes do Rio Grande do Sul. Nesta instituição foi o primeiro professor catedrático de
Escultura com ingresso por meio de tese defendida diante de banca acadêmica
externa. Superou a lacuna da sua formação escolar, que ele interrompeu na
quarta série primária, por meio das suas vivências diretas com a gente das
artes, das letras, da imprensa e da magistério superior
Ao
mesmo tempo Fernando CORONA mostra a
transformação gradativa do espetáculo brutal e
descabido das TOURADAS, em TOTEM, em SIMBOLO e em MOTIVAÇÃO o caminho da
TRANSCENDÊNCIA. Com esta bagagem de experiências e conhecimentos acumulados,
empreende realizações que orgulham não
só o estado do Rio Grande do sul como toda humanidade. Mesmo que o preço seja o
de “DEIXAR de ser ESCULTOR[1] para
FORMAR ESCULTORES” com resumia a
sua ação no magistério superior. Era contato permanente entre os intelectuais
de todo o Brasil e especialmente daquelas da ESCOLA NACIONAL de BELAS ARTES (ENBA) onde se formou seu filho Eduardo CORONA Entre as expressões da ENBA estavam
Helios SEELINGER e Oscar NIEMEYER[2].
Isto sem esquecer que ele foi um eficiente e fundamental incentivador das
ESCOLINHAS de ARTE do Rio Grande do Sul e um dos fundadores da legendária
ESCOLINHA dos EX-ALUNOS do IBA-RS.
Tudo
isto tinha o seu devido preço, renúncias e até “sangue se paga com sangue”.
TESE
CORONA, Fernando (1985-1979) FIDIAS MIGUEL
ANGELO RODIN TÊSE
DE CONCURSO PARA PROFESSOR CATEDRATICO DE ESCULTURA E MODELAGEM DO INSTITUTO DE BELAS ARTES
DA UNIVERSIDADE DE PORTO ALEGRE PORTO ALEGRE Estado do Rio Grande do Su:l IMPRENSA OFICIAL. 1939 83 p. com 13 ilustrações
MANUSCRITOS
INÉDITOS de FERNANDO CORONA
CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de
janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e
aqui fiquei para sempre: nasci num lugar
e renasci em outro onde encontrei amo
Tomo I 604 f.
Folhas
de arquivo: 210 mm X 149 mm.
Manuscrito
original pertencente à Família Fernando CORONA
CAMINHADA de FERNANDO CORONA. Tomo II
1945/49-1953. um homem como qualquer: renascer em um lugar e renascer em outro
Tomo
II 220 f.
Folhas
de arquivo: 210 mm X 149 mm.
Manuscrito
original pertencente à Família Fernando CORONA
ESCULTURAS dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS
ARTES
Álbum no 1 contém fotos e
escritos de 1938 até 1956
99 folhas
de arquivo: 297 mm X 210 mm com
332 fotos coladas
Arquivo Geral do
Instituto de Artes da UFRGS
ESCULTURA dos ALUNOS do INSTITUTO de BELAS ARTES
Álbum no 2
contém fotos e escritos de 1957
até 1965
71 folhas
de arquivo: 297 mm X 210 mm com 167 fotos coladas
Livros
raros Arquivo Geral do Instituto de
Artes da. UFRGS
CURSO de ARQUITETURA : Cadeira de MODELAGEM.
21.09.1955
+ Viagem a Europa 1952
Documentário fotográfico de 1946 – 47 – 48 –
49 – 50 - 51
Folhas
de arquivo: 297 mm X 210 mm como fotos coladas.
Livros
raros Arquivo Geral do Instituto de Artes da.
UFRGS
COISAS MINHAS : 1962 1965 Brasília e outros
alpistes 85 f.
06.08. 1962 26.11.1965.
Folhas
sem linhas caderno simples: 210 mm X 149
mm.
Manuscrito
original pertencente à Família Fernando CORONA ( 10 )
FONITES
NUERICA DIGITAIS
Catedral de Vitória Espanha
+
Página do FACE BOOK do MESTRE JOÃO GRÜNEWALD
Tradição e
questionamento das TOURADAS na Espanha http://www.clickideia.com.br/portal/conteudos/c/36/18727
TOURADA em PORTO
ALEGRE
+
+
+
+
PRAÇO de TOUROS
e VELÒDRMO de PORO ALEGRE
BANDARILHEIRO em
AÇÂO numa TOURADA em PORTO ALEGRE
JARDIM ZOOLÒGICO
do CORONEL GANZO
Coronel GANZO
FERNANDEZ (1872-1957)
FARRA do BOI
litoral do Estado de Santa Catarina
PINACOTECA ALDO LOCATELLI
RAUL BOPP
(1898-1984) em TUPANCIRETÃ
Poesia de
Raul BOPP com
Jorge AMADO e Carmen MIRANDA
REVISTA de
ANTROPOFAGIA
SUMÁRIO das
POSTAGENS deste BLOG RELATIVAS a FERNANDO CORONA
Uma Obra do espanhol FERNANDO CORONA –in ICONOGRAFIA
SUL-RIO-GRANDENSE http://profciriosimon.blogspot.com.br/2016/10/187-iconografia-sul-rio-grandense.html
OSCAR NIEMEYER em
PORTO ALEGRE 4 – Lições de Oscar NIEMEYER aos jovens
arquitetos
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DISSERTAÇÃO: A Prática Democrática
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