quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

277 – ISTO é ARTE


A FONTE de TALAVERA na MEMÓRIA de FERNANDO CORONA.
Fig. 01 – A FONTE de TALAVERA de PORTO ALEGRE é conhecida e vista por todos os porto-alegrenses.    Porém poucos conhecem a memória do seu proponente e das pessoas que se mobilizaram para trazê-la para se constituir uma peça da SALA de VISITAS do Rio Grande do Sul e numa espécie de identidade subliminar porto-alegrense.

A FONTE de TALAVERA, erguida pela COLÔNIA ESPANHOLA de PORTO ALEGRE, tinha por objetivo de MARCAR e REFORÇAR o evento do CENTENÁRIO da REVOLUÇÃO FARROUPILHA (1835-1935) e perpetuar a GRATIDÃO desta nação pela generosa acolhida. Com o passar do tempo a FONTE de TALAVERA tornou-se uma referência[1] e uma espécie de cartão de visita de Porto Alegre, passando a integrar a identidade subliminar da capital do Rio Grande do Sul[2].


[2] Para ressaltar a força subliminar deste símbolo tornou-se A FONTE de INTRIGAS e de DISCORDIAS quando de um dano e um restauro que muitos julgaram uma traição ao original   https://portoimagem.wordpress.com/2009/01/12/fonte-da-discordia/

Fig. 02 – Na Praça Montevidéu existia uma fonte anterior aquela de TALAVERA.  Era um dos marcos do CENTENÁRIO da IMIGRAÇÃO ALEMàque se comemorou em 1924. Em 1935 ela cedeu lugar para que a PREFEITURA de  PORTO ALEGRE pudesse acolher o presente da Colônia Espanhola  e marcar o CENTENÀRIO de REVOLUÇÂO FARROUPILHA..

A FONTE de TALAVERA foi o resultado material de uma mobilização da colônia espanhola de todo o Rio Grande do Sul. Mobilização constituída por  uma COMISSÃO CENTRAL na capital do Estado, contando com COMISSÕES REGIONAIS  articuladas por meio de correspondência postal.
A FONTE de CERÂMICA de TALAVERA sucedeu a tradição das FONTES de FERRO importadas da FRANÇA[1]. Por sua vez estas fontes industriais francesas[2] haviam ocupado o lugar das FONTES NATURAIS anteriores aos serviços hidráulicos de água tratada e distribuída por meio de encanamentos.
 As FONTES NATURAIS perderam a função primitiva de fornecer água potável para a população. Permaneceu o simbolismo das primeiras providências do IMPÉRIO ROMANO de abrir caminhos transitáveis e criar e manter os serviços de abastecer as cidades de agua potável, para toda a população.


[1] ALVES de Almeida, José Francisco (1964-.  Fontes d’Art-noveau  no Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Artfolio, 2009, 210 p. : Il

[2] FONTE DE FERRO do RECANTO EUROPEUS do PARQUE FARROUPILHA https://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_Francesa_(Parque_da_Redenção)

Fig. 03 – Uma obra do escultor Alfred ADLOFF [1] encimava a FONTE do CENTENÁRIO da IMIGRAÇÃO ALEMÂ. Esta obra impropriamente denominada de a “FONTE da SAMARITANA” parece arbitrária e de inspiração bíblica romantizada. A “MOÇA com CÂNTARO” era a alegoria da fecundidade de uma nova geração de IMIGRANTES que escolheram se estabelecer, em 1824, começaram a chamar  o Estado do Rio Grande do Sul, de “SEU LAR” [HEIMAT]

A memória da origem da FONTE de TALAVERA está registrada no Diário de Fernando CORONA (1895 – 1979)  que ele denominou como . “CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui  fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo”  fl.s 338 até  347[2]

 Estamos em 1935, ANO VINTE E QUATRO da PERMANÊNCIA de FERNANDO CORONA em PORTO ALEGRE - 
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  . No ano de 1931 - 19 da minha chegada aqui -  terminou com a volta ao Ministério de Estado de Dom Daniel Fernández–Shaw. Ao despedir-se de mim colocou sua casa em Madrid à minha disposição e, estando ele lá, seria mais fácil eu poder trabalhar com seu irmão o arquiteto da cidade Universitária.
  Eu não podia pedir mais. Parece que tudo me favorecia e mais a fundo me empenhei para juntar 50.000,00 pesetas que calculei para passar um ano em Madrid sem trabalhar. Pensei em vender ao meu sócio José Ghiringhelli a parte que me tocava na oficina de escultura e reforçar minhas economias.
  Sempre que a gente sonha com viagem anda à cata de formas de transporte. Claro que seria navio. Por essa época passavam pelo porto de Rio Grande. os transatlânticos da Hamburgem – Leine ou nome parecido. Consultei catálogos, camarotes e preços até Lisboa ou Porto. Sei lá. Chegava a sonhar com as ruas de Santander, a aldeia de Barcenilla, com Torrelaruja, lugares da minha infância. Dezenove anos sem ver minha santa mãe e minha tia Virginia. Meu irmão Luís e minhas irmãs Esperanza, Emilia e Marina. Jesus estivera aqui em 1922 ou 23. voltara com papá. Ao pai nunca mais vi, pois falecera em 1° de novembro de 1938 em Barcelona, ainda e durante a revolução franquista.
+


[1] Alves. 2004, p. 139

[2] CORONA, Fernando (1895-1979). “CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui  fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo”  Tomo I  604 folhas de arquivo:  210 mm X 149 mm.  Propriedade da FAMÍLIA dos DESCENDENTES de FERNANDO CORONA ( 1  )


Fig. 04 – A FONTE de TALAVERA perdeu a sua função de abastecer a gente e os animais de PORTO ALEGRE com água potável. Permaneceu como elemento simbólico da identidade diurna e noturna da capital do Estado do Rio Grande do Sul

  Ainda em princípios do ano a Colônia Espanhola residente em Porto Alegre, por iniciativa minha e de Isidro Vila, ele mostrando-me um catálogo de cerâmica espanhola, achamos por bem ser possível prestar uma homenagem ao Estado do Rio Grande do Sul nas comemorações do centenário da Revolução Farroupilha.
  Falamos com diversos amigos que achavam a ideia magnifica. A colônia espanhola antecipou-se. Embora fosse ela pouco numerosa e com poucos recursos, queriamos que fosse a primeira a lançar a ideia das homenagens a serem prestadas.
MUSEU de CERÂMICA de TALAVERA de la REINA

Fig. 05 – A tradição da cidade espanhola de Talavera une as heranças islâmicas com a técnica cerâmica dos FLANDRES.  Do mundo islâmico herdou o “PADRÂO INFINITO” das molduras e a repetição das formas geométricas. Dos técnicos flamengos herdou a utilidade e detalhada descrição pictórica e visual figurativa.   

  Por esse tempo, Isidro Vila representava produtos cerâmica de Talavera de la Reina, cidade castelhana de antigas tradições. De um dialogo otimista com Isidro Vila chegamos a uma conclusão que nos parecia original e emotivo: oferecer ao povo rio-grandense uma fonte que seria executada pelo afamado ceramista Talavera – no Juan Ruiz de Luna.
  Quanto que nos custaria? A tarefa não era nada fácil, mas, valia a pena o seu significado. Os preliminares contatos que tivemos nos animaram muito e eu redigi uma carta circular convidando algumas personalidades para uma reunião preparatória e de consulta. Da primeira reunião nasceu a Comissão Central  assim constituída: Presidentes Honorários: Dr. Juan Andriansen, Cônsul da Espanha; Francisco Raya Diaz, Presidente da Sociedade Espanhola de Socorros Mútuos; Francisco Raya Diaz foi o presidente que comigo construiu o Edificio Sede. Honorarios eram também do presidentes das sociedades coirmãs do interior; Comissão Executiva: Presidente: Francisco Garcia: Secretario Geral: Fernando Corona; Secretarios; Isidro Vila,  Manoel Salana e Antonio Moral; Tesoureiros: José Fenoy Bonilla e Antonio Wilches; membros consultores; Alvaro Raya Ibañez chanceler do consulado; Padres Modesto Bestué e Felipe de Atucha, claretianos; Frei Aurélio, carmelita; Dr. Mário Alcaraz; Domingos Yze Reyes; Leon Guerrero; Francisco Raya Ruiz; Andrés Ibañez; Manuel Brañas; Felipe Peralba: e Ramón López. Delegados nas minas de Butiá: Francisco Segura e nas Minas de Arroio dos Ratos Domingo Garcia. Foram indicados delegados em Rio Grande, Pelotas, Bagé, Livramento e Uruguaiana.
Fig. 06 –  A “FONTE da TALAVERA” soma-se ao sítio do KM ZERO das estradas do RIO GRANDE do SUL e indica LATITUDE, LONGITUDE e a COTA sobre NIVEL do MAR da CAPITAL   Teoricamente é a origem e a confluência de todas as estradas do Estado.


A fonte foi encomendada a Juan Ruiz de Luna.
         Com um trabalho eficiente conseguimos com o Embaixador D. Vicente Salles, o transporte gratuito até o Brasil. O Presidente da República Dr. Getúlio Vargas, concedeu-nos isenção de direitos aduaneiros. O Governador do Estado General Flores da Cunha, facilitou-nos o transporte para o interior. O Prefeito Major Alberto Bins cedeu-nos a “sala de visitas”[1] da Capital no eixo do marco zero para a colocação da fonte, contribuindo ainda com a concretagem do embasamento e com a rede de água e esgoto


[1]Neste ponto o Diário  de Fernando Corona antecipa o conceito de PORTO ALEGRE” como sala de Vistoas do rio Grande do Sul desenvolvido por Margarete BAKOS , https://www.escavador.com/sobre/739480/margaret-marchiori-bakos
No livro Porto Alegre e os seus Eternos Intendentes

Fig. 07 – A pirâmide do MARCO ZERO indica LATITUDE de - 30´01’39”” enquanto LONGITUDE indica - 51º13º40º.  Ao fundo  da  FONTE  TALAVERA aparece o PRÉDIO GUASPARI projeto de FERNANDO CORONA e inaugurado em 1937.     Foi a obra subsequente ao prédio do INSTITUTO de EDUCAÇÃO FLORES da CUNHA[1] projetado e construído  entre os anos de 1934 e 1935,  Neste curto intervalo o arquiteto deu demonstração de sua flexibilidade para evoluir do Neoclássico para as tendências que seu amigo Oscar Niemeyer estava desenvolvendo no prédio do MEC.


  A fonte chegou e junto vinha o organograma onde constava cada peça numerada. Fui designado para dirigir a colocação e eu mesmo marquei o dodecaedro na base de concreto. Diariamente cuidei desse trabalho penoso e paciente até a colocação do último azulejo.
  No dia 24 de outubro de 1935, às 10,30 horas, a Fonte de Talavera em estilo renascimento espanhol, era solenemente inaugurada. Fui honrado pelos meus companheiros para fazer o discurso oficial em nome da colônia espanhola. Falou a seguir Consul da Espanha em seu nome e no do Embaixador Salles. Encerrada a cerimônia falou agradecendo a dádiva o Prefeito Major Alberto Bins.


[1] A CONSTRUÇÃO do ATUAL PRÉDIO do INSTITUTO de EDUCAÇÃO FLORES da CUNHA na MEMÓRIA do seu ARQUITETO, FERNANDO CORONA   https://profciriosimon.blogspot.com/2019/11/276-isto-e-arte.html
Fig. 08 – O projeto aquarelado da “FONTE de TALAVERA” de autoria e assinada por Juan RUIZ de LUNA.    Projetada e erguida como peça da SALA de VISITAS do RIO GRANDE do SUL seguindo a concepção do arquiteto, escultor e cronista Fernando Corona.

  Ainda conservo o desenho original aquarelado do ceramista Juan Ruiz de Luna, que um dia doarei ao Museu Municipal da cidade.
Permanece aquilo que é realizado com dedicação, o trabalho e especialmente aquilo que possui a condição de expressar o COLETIVO, o seu TEMPO e a TERRA.

Fig. 09 – A “FONTE de TALAVERA” está colocada ao lado do marco do “KM ZERO” do RIO GRANDE do SUL numa altitude de 4,77 m em relação ao mar, do qual dista 100 km.  O “cálice” da FONTE de TALAVERA rima plasticamente com a  “copa” do pinheiro macho plantado pelo movimento ecológico AGAPAN

 A FONTE de TALAVERA possui a proporção do lugar para o qual foi projetada.  Responde aquilo que foi possível na sua época em todo o Rio Grande do Sul. Esta mobilização constituída por uma COMISSÃO CENTRAL na capital do Estado e contando com comissões regionais articuladas por meio de correspondência postal.
Fig. 10 – O busto de Juan RUIZ de LUNA autor e fornecedor da “FONTE de TALAVERA” celebra a memória deste ceramista espanhol com obras espalhadas por todo o mundo.     Ao mesmo tempo criou e administrou uma empresa de produtos cerâmicos com representantes em diversas partes do mundo. Em Porto Alegre esta representação era realizadas por  Isidro Vila que conhecia e garantiu a logística da encomenda e do transporte desta obra.


FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ALVES de Almeida, José Francisco (1964-.)  A Escultura pública de Porto Alegre – História, contexto e significado – Porto Alegre : Artfólio, 2004  246 p
-----Fontes d’Art-noveau  no Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Artfolio, 2009, 210 p. : Il

CORONA, Fernando (1895-1979). CAMINHADA de FERNANDO CORONA: Tomo I. 01 de janeiro de 1911 até dezembro de 1949 – donde se conta de como saí de casa e aqui  fiquei para sempre: nasci num lugar e renasci em outro onde encontrei amo”  Tomo I  604 folhas de arquivo:  210 mm X 149 mm.  Propriedade da FAMÍLIA dos DESCENDENTES de FERNANDO CORONA ( 1  )


FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

FONTE de TALAVERA de la REINA
A FONTE QUEBRADA e RESTAURADA
+

A FONTE de INTRIGAS e de DISCORDIAS

Juan Ruiz de Luna.
 Busto de Juan RUIZ de LUNA

FONTE de TALAVERA em PORTO ALEGRE

TALAVERA de la REINA municio da província de TOLEDO Espanha

MUSEU de CERÂMICA de TALAVERA de la REINA



FONTE DE FERRO do RECANTO EUROPEUS do PARQUE FARROUPILHA https://pt.wikipedia.org/wiki/Fonte_Francesa_(Parque_da_Redenção)

A CONSTRUÇÃO do ATUAL PRÉDIO do INSTITUTO de EDUCAÇÃO FLORES da CUNHA na MEMÓRIA do seu ARQUITETO, FERNANDO CORONA
BAKOS , Margarete
Porto Alegre e os seus eternos intendentes

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