21 - Obras de MAGLIANI como índices ativos e
identificados positivamente com a condição humana da vida na cultura do Rio
Grande do Sul
Continuação e
complemento de Artes Visuais sul-rio-grandenses – 14
21.1 – A
pessoa de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI. 21.2 – As obras de MAGLIANI e o seu sentido. 21.3 – A
opção de MAGLIANI extrapola os limites sul-rio-grandenses. 21.4 – As obras de
arte de MAGLIANI. 21.5 – As leituras iconológicas possíveis nas obras de
MAGLIANI. 21.6 – Competências, limites e uma moça que
não sorri nas fotos. 21.7 – Uma
artista com obras para mostrar 21.8 – MAGLIANI transcende a linha de montagem
industrial e retoma a essência do agir artístico. 21.9 – A nova disciplina da
ÈPOCA INDUSTRIAL e um PROJETO para TODA a VIDA. 21.10 – A defesa de MAGLIANI do
seu projeto de vida 21.11 – A memória da obra e da pessoa de Maria Lídia dos
Santos MAGLIANI.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) foto
Fig. 01 – Maria Lídia dos Santos MAGLIANI transitou
da ERA INDUSTRIAL e esteve presente e ativa nos albores da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL.
Da primeira aprendeu a disciplina do trabalhar dentro de um projeto unívoco e
linear. Da segunda extraiu o pensamento, os conceitos e a memória. Esta memória
está a caminha para receber narrativas adequadas para as redes locais e
mundiais. .
21.1 - A pessoa
de Maria Lídia
dos Santos MAGLIANI.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI transfigurou-se
numa pessoa notável a partir do seu projeto de vida. O projeto de MAGLIANI - de
dedicar a sua existência exclusivamente ás tintas e aos pinceis - não lhe abriu
portas e nem facilitou a sua vida. Porém ela foi até as últimas consequências e
manteve este rumo até os seus últimos dias.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) 1993 DICIONARIO de ARTES PLASTICAS RS contracapa in Renato ROSA 2000
Fig. 02 – A obra de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI percebe
e representa imagens do corpo feminino de dentro do seu ENTE para o exterior do
se SER. Esta leitura, interpretação e figuração inverte o processo
tradicional do corpo feminino representado pela mediação do olhar masculino.
MAGLIANI fez
o seu caminho solitário e áspero. Tirou de si mesma os próprios meios, numa
época na qual não havia cotas para afro descentes na universidade brasileira e
raras se profissionalizavam por meio do seu curso superior. Lutou contra o
preconceito e o tabu de uma mulher fazer das artes visuais o seu caminho e seu
modo de vida. Fez a sua carreira CARREGANDO HEROICA e SOLITÁRIA as MARCAS
INDELÉVEIS do SUL do Brasil. Neste extremo sul brasileiro ela se perfilou com a
estirpe das mulheres míticas. Andou na senda de Ana Terra, da valorosa Anita
Garibaldi ou da letrada Luciana de Abreu. MAGLIANI absorveu a seiva da terra
sem transformá-la em marketing ou propaganda regionalista. O critico Jacob
KLINTOWITZ destacou o seu projeto e as condições de sua origem quando escreveu
(2013) em relação à MAGLIANI:
“As suas dificuldades comoviam. E a sua obra, ainda
mais. Tinha uma força ímpar, de corte expressionista, e me parecia uma artista
marcada pelo sul. Os nossos invernos, as estações bem definidas, a solidão da
planície pampiana, a tradição de cultivar o essencial, o ascetismo da formação
gaúcha, tudo me fazia acreditar que ela bem representava o sul. Nos poucos
encontros pessoais ela não declarava
esta afinidade. E nem outras, na verdade. Emergia apenas a sua áspera relação
com o cotidiano”
O Rio Grande
do Sul possui em MAGLIANI uma represente impar , uma identidade e um patrimônio
no seu exemplo de vida, na sua obra e no seu pensamento lúcido.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) “NÃO SE TRATA
DISSO” Folha da Manhã nº 1.449 p. 45 1977, in Renato ROSA 2013
Fig. 03 – Maria Lídia dos Santos MAGLIANI como
interprete plástica das obras de sue amigo e escritor Caio Fernando ABREU
ampliou o mudo de observadores de suas obras visuais. Esta obra gráfica de
MAGLIANI forma um mundo de signos e de pesquisas que merece uma atenção própria
e separada. .
Apesar da mundialização as pessoas continuam a
nascer, a crescer e se educar nas condições e nos limites telúricos de sua
terra. Continuam a serem marcados profundamente por suas origens singulares
(Weltgeist) e que ganha visibilidade e materialidade nas suas obras de arte
21.2 - As obras
de MAGLIANI e
o seu sentido.
Uma obra Maria Lídia dos Santos MAGLIANI é índice
das competências e dos limites estéticos, econômicos e sociais de sua época,
seu lugar e a sua origem.
Nestes limites Maria Lídia dos Santos MAGLIANI não
tomou como pretexto esta transição e quebra de paradigmas anteriores. Nesta derrocada dos antigos valores MAGLIANI não
transigiu, na sua obra e na sua carreira, do modo de ser ela mesma. Por esta
razão a sua obra se constitui em índice seguro das competências e dos limites
que a sua pessoa de artista plástica encontrou no Rio Grande do Sul no final do
século XX. É índice das realizações possíveis a uma artista sul-rio-grandense nos
primórdios de século XXI no Brasil.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) figura sentada 1987 in Renato ROSA, 2013
Fig. 04 – A obra pictórica de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI possui a singularidade
de uma linguagem própria e coerente com os meios visuais dos quais ela se vale..
Ao mesmo revela o olhar baixo da servidão e do hábito de não fixar o rosto do seu interlocutor que
pertence a um outro mundo social, político e econômico. O próprio rosto do
artista revela a atenção forçada e o tabu de não sorrir para quem a esta
observando,
Certamente teve de lutar contra a opinião geral e
seguir os passos e as pegadas de uma geração de artistas que tiveram se tornar
“estrangeiras” para completar o seu projeto. Projeto no qual se transfigurarem
em paradigmas, em juízes ou em referências nesta travessia para o grande mundo
nacional e internacional.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012), A PRAIA, 2004 in Renato ROSA 2013
Fig. 05 – A série de imagens que Maria Lídia dos
Santos MAGLIANI observou e experimento no praia recebem o tratamento industrial
da série em sequência típica da ERA
INDUSTRIAL. O rigoroso domínio
formal da superfície plana com o predomínio do uso das cores quentes e ausência
do verde compõe uma sinfonia cromática na qual a formas agitadas conferem o
movimento de algo fugaz da qual a arista consegue captar a essência do que ira
permanecer sob a forma de uma obra de arte.
Esta vida, projeto e obra produziram-se no âmbito
da passagem da ERA INDUSTRIAL para a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL. MAGLINI se
incorporou ao seleto grupo dos “príncipes” ou daqueles que principiam, instalam
e materializam novos e inesperados mundos estéticos, intelectuais e morais. O
preço desta temeridade é o enfrentamento dos rigores e das angústias que
acompanham todas as rupturas epistêmicas, técnicas e estéticas.
O campo das artes não se reduz a uma charqueada
cujo processo apenas expõe, aos gritos, corações,
entranhas e couros nos balcões do mundo
como produto final deste sistema industrial. Mesmo nas artes visuais vai
distante o tempo em que bastava demonstrar gritos e emoções - ou embarcar num frio
trem de um sistema - para ser aceito como inovador e fazer sentido para o seu
tempo, lugar e sociedade. A ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL necessita deste passado
recente ou remoto. Porém exigem do artista a sua compreensão, elaboração e
coerência na incorporação num novo TEMPO, num LUGAR diferente e numa SOCIEDADE
em constante metamorfose formal.
SOCIEDADE em profundo processo de modificação provocada pela apropriação
dos segredos do código genético, pela
ampliação do LUGAR pelo domínio do espaço externo e pelo TEMPO sob rigoroso
controle da Informática.
21.3 - A opção de MAGLIANI extrapola
os limites
sul-rio-grandenses.
Neste novo contexto continua verdadeiro a
observação de Tolstói “se queres ser
universal cante a sua aldeia”. As pessoas continuam nascerem nas suas
aldeias, províncias ou países. O caminho da aprendizagem sempre foi do próximo
para o remoto, do intuitivo para o e ideal e o abstrato. Alguns são rápidos e
sensíveis em perceber isto e velozes no caminhar e trabalhar. Maria Lídia dos
Santos MAGLIANI fez este caminho e se imbuiu desta origem e carregou nas
numerosas mudanças físicas mundo afora a bagagem do essencial.
O essencial era o seu ENTE e conhecimento
continuado e coerente com este ENTE. O seu modo de SER, no mundo, permitia, e
até necessitava, deste perambular constante dentro e fora dos limites do Rio
Grande do Sul.
Com o “ascetismo
da formação gaúcha” MAGLIANI
enfrentou os complicados ‘Nós Górdios’
do final do século XX e os primórdios de século XXI. Transcendeu a sua “aldeia
de origem” sul-rio-grandense e disseminou as suas realizações no Brasil e o Mundo
Pós-Industrial.
Restabeleceu a essência das coloridas, vibrantes e
multivariadas culturas de continente africano dos seus antepassados. As
técnicas e construtivas de sua obra pintada e desenhada navegam na lógica da
construção plástica a mais segura da pintura europeia de todos os tempos. As
conexões com a cultura norte-americana atualizaram a sua inteligência para a
Arte Pop e uma série de tendências da democratização do modo de agir de quem se
dedica à Arte.
21.4 – As obras de arte de MAGLIANI.
A obra de arte é primordial. Sem ela estaríamos na
metafísica ou no puro fazer e trabalhar a que estão condenadas todos os seres
vivos.
Na obra de Maria
Lídia dos Santos MAGLIANI a metafísica toma corpo físico e bem sensível. Os
sentidos humanos são convocados, por ela, a se defrontam com a cor, a textura,
as linhas e as formas plásticas. Este mundo, formal e perceptível, é rigorosamente
escolhido pela artista pintora com o objetivo de entregar o seu mundo
intelectual e propositivo sem ruídos, límpido
e sem excessos.
A escolha - tanto
dos elementos perceptíveis, como do mundo imaterial e próprio da artista
pintora – possuem coerência e se sustentam reciprocamente. Isto não quer
dizer que eles sejam agradáveis e nem
que estejam no caminho da mimese. Eles constituem uma ordem de outra natureza.
Outra natureza na qual o “esplendor da verdade” se evidencia e prescindem da
perspectiva, do claro escuro e do meramente fotográfico.
Obras que se configuram no ascetismo plástico de
tinta sobre uma superfície quando são pinturas. Quando são desenhos são linhas,
são superfícies recortadas e planas que se apoderam de toda a superfície que
lhes é oferecida.
O observador não pode se queixar do hermetismo, ou
de signos cabalísticos ou arbitrários. MAGLIANI conhece o repertório de signos,
de índices e de referenciais dos seus observadores. Ela é competente, como
professora, para oferecer para uma criança o seu mundo de faz de conta. Ao
adulto e ao intelectual não esconde o jogo ou se enclausura numa torre de
marfim hermética e superior.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) Cenário A LIBERTAÇÂO do DIRETOR Ivo
BENDER in Renato ROSA 2013
Fig. 06 – Os cenários de Maria Lídia dos Santos
MAGLIANI em cooperação de Elton MANHANELLI
para peças teatrais de Ivo BENDER tornaram-se antológicos. O teatro
de BENDER encontrou nas pesquisas em MAGLIANI
um universo carregado de sentido. A própria pintora encarnava
personagens das peças levadas aos palcos de Porto Alegre conferindo movimento,
expressões e figurinos carregados com a sua força pessoal .
21.5 – As
leituras iconológicas possíveis
nas obras de MAGLIANI.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI construiu a sua
obra com sólidas experiências plásticas e que mantém coerência do começo ao
final de sua obra. Uma moça que não sorria para o fotógrafo produziu uma obra
da qual não é possível esperar quadros para decorar paredes, transigir com
modismos passageiros ou pretensões de uma mimese de algo que não pertence ao
ENTE que a criou. A sua beleza é o esplendor da verdade sul-rio-grandense, brasileira
e afra universal.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) andando 1977
in Renato ROSA, 2013
Fig. 07– A máscara esteve presente em todas a s
civilizações e latitudes. Ela mostra e dissimula ao mesmo tempo. Mostra o
sonho, a intenção e a pessoa (persona).
Dissimula o ENTE que se esconde no seu modo de SER no mundo. Maria Lídia dos Santos MAGLIANI possui as
vertentes nas quais transita a máscara como no teatro, nos rituais
carnavalescas e nas profundas raízes dos rituais afro universais,
A máscara esconde o rosto e ao mesmo tempo revela
as intenções, o pensamento e a estética do seu criador e de quem a usa. Os
rostos, pintados por MAGLIANI, prescindem e escondem o cérebro para dar lugar
maior aos olhos e para a boca distorcida. A sua estrutura é a de um esqueleto
próximo dos crâneos das “vanitas” dos pintores de todo os
tempos e lugares. Porém não pertencem mais a um cenário ou natureza morta. As
mascaras de MAGLIANI são protagonistas e são a razão de ser da obra. Nesta direção do protagonismo estes rostos são
releituras das máscaras africanas reelaboradas para projetar sentimentos,
conhecimentos e rituais de identificação e pertencimento.
Maria lidai dos Santos MAGLIANI (1946-2012) FORMATURA 1966 - in Renato ROSA, 2013
Fig. 08 – Maria Lídia dos Santos MAGLIANI é a moça
que não sorri nem na hora da conquista de um graduação num superior concluído.
Ela pertence à geração dos jovens irritados e incomodados com o seu tempo, o
seu lugar e a sociedade. A foto é do ano de 1966 quando o golpe militar prometia,
mas todos sabiam que ele não podia oferecer para todos e manter o que ele
prometia. Este hábito da integridade intelectual estética e moral permitiram à
MAGLIANI não deixar-se enredar por caprichos e se desviar do seu projeto de
vida. Neste projeto ela não via nada risonho... .
21.6 – Competências, limites e
uma moça
uma moça
que não
sorri nas fotos.
Para se aproximar, entender e se apropriar do
sentido da obra Maria Lídia dos Santos MAGLIANI impõe-se conhecer os limites com
os quais ela se defrontou. Limites que evidenciam e ressaltam as competências
do que lhe foi possível realizar. Limites que ela transcendeu para doar a si
mesma com o objetivo de que a sua obra atingisse este sobre-humano que a inscreve
entre uma categoria dos notáveis.
Limites rigorosos dos quais estava consciente e que
ela faz entrever numa carta, do dia 03 de maio de 2006, para Renato ROSA[1].
Nesta carta na qual escreveu:
“Há anos não tenho mais como sustentar a pintura,
ultimamente não tenho como sustentar a
mim mesma. A São Paulo civilizada, da qual continuo gostando muito, ainda
existe, mas não é para minha bolsa. Não tenho saúde para esperar a esta altura
da globalização”
MAGLIANI encontrava-se num dos pontos chaves
brasileiros para receber e interagir com as redes mundiais das artes visuais. O
preço, para esta interação, era, no entanto, o salto para o sobre-humano descrito
por Nietzsche afirmar (2000, p.134)[2]
que:
“a arte não pode ter sua missão na cultura e
formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre passe a
humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido
mais temerário”
[1] - ROSA, Renato et
alii .MAGLIANI A solidão do corpo Porto Alegre : Pinacoteca Aldo
Locatelli-Prefeitura de Porto Alegre
2013 , s/p. il col.
Maria Lídia dos
Santos MAGLIANI (1946)-2012 TRINTA ANOS
da CRIAÇÂO de ISRAEL 1978, im Renato ROSA, 2013.
Fig. 09 – Maria Lídia dos Santos MAGLIANI nasceu um
ano após a II Guerra Mundial. Do fim do Estado Novo e dois anos antes da
criação do Estado de Israel. Ela colocou a Estrela de Davi sangrando a
atravessada por cravo ensanguentado colocado entre as máscaras (personas) da
DOR e da ALEGRIA.
A utilitária
metrópole de São Paulo reservou um generoso e efervescente espaço para as artes
visuais. Mas exige coerência, ortodoxia e subordinação à sua Bolsa de Valores
conectada à rede mundial. O Mercado de Arte que aceita, que difunde e que
compra obras de arte coerentes com o sistema de seus sucessivos descartes e
obsolescências programadas.
A pessoa e a obra de Maria Lídia MAGLIANI colocadas
nos limites do final do século XX e os primórdios de século XXI percebeu as
realizações possíveis neste novo tempo e lugar. No entanto passou distante dos
caprichos obsolescências programadas e dos sucessivos descartes para manter a
sua arte nos patamares mais elevados. Patamares
inerentes aos hábitos de integridade intelectual, estéticos e morais que
uma obra de arte exige de si mesma para escapar da entropia, do consumo e se
projetar como um índice aceitável do seu TEMPO, seu LUGAR e sua SOCIEDADE que a
origina. Evidente que o receptor desta mensagem está no direito de
desconsiderar, se desconectar e procurar outros caminhos. Isto não impede que a
assimilação da rede mundial seja lenta, seletiva e a espera de uma nova geração
com interesses semelhantes. MAGLIANI fez a sua parte, Cabe especialmente ao Rio
Grande do Sul buscar o conhecimento, a elaboração de narrativas e a sua
adequada formatação para continuar a fazê-los circular pelos caminhos abertos
pela artista com a sua obra, conceitos e seu pensamento.
Fig. 10 – A vida e a obra de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI transitou da ERA
INDUSTRIA e esteve presente e ativa nos albores da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL. Da
primeira aprendeu a disciplina do trabalho dentro de um projeto unívoco e
linear. Da segunda extraiu o pensamento, os conceitos e o cultivo da sua memória e que caminha para
receber narrativas adequadas para a redes mundiais
[ clique sobre o gráfico para ler ]
Com este feito de MAGLIANI uniu e moldou, na materialidade da sua
obra, sua origem do Rio Grande do Sul
com uma brasilidade autêntica que emergem dos fortes e inegáveis traços afro
universais. Nesta coerência de organização final, de sua obra de arte, estão
presentes e legíveis os percursos dos difíceis sofridos degraus da percepção do
seu próprio problema, da flexibilidade, as redefinições e os expurgos das
tentações daquilo que não fazia sentido e nem pertencia ao seu ENTE. ENTE legível
no seu modo de SER na sua obra que caminha, se move no mundo e representa quem
as criou.
Com estes atributos a obra de MAGLIANI
universalizou as circunstâncias de sua autora e do povo e lugar de origem.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) Retrato falados 1981 a
Renato ROSA, 2013
Fig. 11 – O grafismo- cultivado por Maria
Lídia dos Santos MAGLIAN é competente
para trazer ao mundo físico e social as pulsações provenientes da da sua
imaginação, silêncio e singularidade .
O seu ritmo das séries gráficas e plásticas respondem ao ritmo do ERA
INDUSTRIAL tanto na sua produção e consumo..
21.7– Uma
artista com obras
para mostrar
para mostrar
Uma obra Maria Lídia dos Santos MAGLIANI estava
consciente e com suficiente erudição para avaliar e medir a sua obra com a qual
não se confundir para conferir-lhe esta universalidade e funcionar como obra de
arte mesmo na sua ausência. Ela declarou, em 1987, para João Carlos Tibursky[1]
do jornal do MARGS
“Aparentemente é muito intuitivo, impulsivo mesmo,
principalmente agora, quando a figura aparece mais solta, a pincelada mais
livre. Acho que o racional aparece na elaboração da linguagem plástica, na
escolha dos materiais, na maneira de compor os elementos no espaço e na opção
por determinadas cores em detrimento de outras. O que aparece como espontâneo,
na minha pintura, é, na verdade, fruto de muita elaboração plástica e gráfica.
O psicológico, filosófico ou sociológico, em que muitos se prendem à primeira
vista. Não está para mim em primeiro plano, neste momento, apenas passa pelas
frestas da disciplina, o que considero muito bom, pois do contrário, o
resultado seria muito frio. Considero que o meu trabalho é muito aberto à
interpretação de cada espectador e que cada um vai encontrar nele, ou
acrescentar a ele as suas prioridades. Para alguns será importante a discussão
da linguagem em si. Para outros, a investigação da condição humana”.
Sem renunciar à sua autonomia, à primordialidade da
obra física e a sua rigorosa construção formal e estética a oferece pronta e
lógica para viajar para outros tempos, lugares e sociedades.
Neste trabalho possui um projeto no qual sabe e
distingue o que pode entrar e aquilo que não pode ser admitido numa determinada
obra que ela assina com toda coragem,
convicção e garantia de uma mensagem única, original e datada ao mundo.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) JANELA de SAMBA in Renato
ROSA, 2013.
Fig. 12 – O ritmo da sequência das nove imagens dos
passos do samba vistos de uma janela é acentuado pelo traçado de linhas diagonais
e pelas cores vibrantes dizem do trânsito que M
aria Lídia dos Santos MAGLIANI sofre no transitou pela ERA INDUSTRIAL Da um lado está a rigorosa construção plástica
de outro lado o jogo da inspiração e compulsão pelo trabalho para produzir uma imagem
pronta para viajar pelo mundo da ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL.
21.8 – MAGLIANI
transcende a linha de
montagem industrial e
retoma a essência do agir artístico.
retoma a essência do agir artístico.
Para o universo estético de Maria Lídia dos Santos
MAGLIANI vale a sentença “ENTE no SER” ou “a ARTE ESTÀ EM QUEM PRODUZ e NÃO no QUE PRODUZ”. A primordialidade
da obra arte se sustenta enquanto este objeto sensorial for competente para
entregar ao seu observador o ENTE HUMANO na sua essência ou ao menos o maior número
de informação e índices de sua origem.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) ZH em 1970 para conto de Renato ROSA,
2013
Fig. 13 – As séries de imagens gráficas, produzidas
por Maria Lídia dos Santos MAGLIANI, para ilustrar periódicos, livros e
cenários revelam o seu domínio da sua linguagem. A composição, as escolhas das proporções e a
eliminação de qualquer ruído visual tornam incontornáveis os resultados. Sem
cair na busca da narrativa visual e no mimetismo naturalista também guardam uma
respeitosa distância do texto que ela reforça mantendo a sua própria autonomia.
A sua obra funciona mesmo separada do texto que ilustra e reforça com a sua
presença.
O fazer artístico possui por meta e como projeto
esta fortuna de que a OBRA de ARTE, no seu MÍNIMO material, seja competente
para entregar, ao seu observador, o
MÁXIMO de seu autor, no momento da sua criação.
As circunstâncias da criação e da recepção da obra
de arte tornam-se determinantes na fortuna deste projeto. MAGLIANI viveu a
culminância da ERA INDUSTRIAL e transitou no primórdio da ERA PÓS-INDUSTRIAL.
Culminância da ERA INDUSTRIAL na qual ela semeou abundantes imagens múltiplas
na forma de ilustrações para periódicos e livros. Na ÈPOCA PÓS-INDUSTRIAL a sua
obra embarcou nos diversos suportes e meios da informação numérica digital.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) ANOS 1990 in Renato ROSA, 2013.
Fig. 14 – Os objetos, as vestimentas e acessório
produzidos por Maria Lídia dos Santos MAGLIANI formam um capitulo separado na
sua obra. Contudo está carregados com a mesma coerência formal de suas
pinturas, desenhos e ilustrações .
21.9 – A nova
disciplina da ÉPOCA INDUSTRIAL
e um PROJETO para TODA a VIDA.
O projeto de vida, a coerente preparação e a
prática continuada das artes visuais foi levado por Maria Lídia dos Santos
MAGLIANI até as últimas consequências. Esta coerência entre o plano ideal e o
mudo empírico indica as competências e os limites que a pessoa desta artista
plástica encontrou no Rio Grande do Sul no final do século XX e possibilitou as
suas realizações possíveis nos primórdios de século XXI no Rio Grande do Sul,
no Brasil e mundo afora.
Fig. 15 – Maria Lídia dos Santos MAGLIANI longe do Rio Grande do Sul reunindo
artistas de Minas Gerais na cidade de Tiradentes. Profissionalmente
preparada pelo seu Curso Superior em Artes Visuais e pela sua formação pedagógica no Colégio de Aplicação
da UFRGS sentia-se segura no exercício
de um projeto civilizatório no qual a ARTE era o núcleo e motor. O projeto era
sério demais para qualquer sorriso da parte.
21.10 – A defesa
de MAGLIANI do
seu projeto de vida
Maria Lídia
dos Santos MAGLIANI estava consciente do seu projeto de vida, de arte e das
suas circunstâncias. Numa pergunta do
repórter Tibursky, do jornal do MARGS
de1987, em relação à negritude,
ao feminismo, a ecologia frente a sua
obra a artista se pronunciou:
“Na
questão sobre a ideologia da negritude existe uma confusão grave: o movimento
não nega a cor branca nem qualquer outra, apenas afirma os direitos da raça
negra, ainda esquecidos, mesmo num país mestiço, e reivindica a igualdade para
todas as raças. Meu trabalho expressa, ou pretende expressar a mim como um todo. Logo, estão
incluídas nele todas as minhas
descobertas, dúvidas e preocupações – também o feminismo, a ecologia e a
negritude. Estão, incluídos com todas as coisas que me formaram até aqui, mas
não estou interessada em fazer panfleto
de nada, não sou militante de nenhum movimento específico. Pratico
minhas ideias, não gosto de proselitismo”.
Nas declarações, desta entrevista, MAGLIANI distingue e orienta naquilo que é essencial
na sua arte “expressar a mim como um todo” A ARTE sempre é EXPRESSÂO em bloco e pretende abranger a totalidade de
um instante sem fundo. A COMUNICAÇÃO necessita de narrativas lineares, unívocas,
planas e mensuráveis.
Este distanciamento de MAGLIANI do PROSELITISMO
também vale para ela no campo estético. Ela não se presta para levar um
alfinete nas costas e ser espetada num quadro teórica de uma tendência estética
ao gosto das intrigas e dos interesses externos à sua obra.
Maria
Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) ACUMULAÇÕES
2001 in Renato ROSA 2013.
Fig. 16 – Quando os objeto do quotidiano invadem a
pintura de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI eles estão colocadas no mesmo plano
e convidam o olhar a um percurso no qual não existe começo ou fim, mais ou
menos importante,. O exercício plástico convida o seu expectador ao que
ela mesmo declarou “meu trabalho é muito
aberto à interpretação de cada espectador e que cada um vai encontrar nele, ou
acrescentar a ele as suas prioridades”..
21.11– A memória da obra e da pessoa
de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI..
Na sua passagem de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI
pelo Instituto de Artes da UFRGS
um dos professores foi Fernando Corona (1895-1979). Este professor se apropriou de uma frase de
Winston Churchill ao elogiar o pilotos da RAF, na defesa de Londres, que serviu
de mote para Corona afirmar (1977, p. 166)
que:
“nunca tantos deverão ficar ignorantes de tão poucos, pois a história na seara das Artes, ainda está para ser contada desde Araújo Porto-alegre e Pedro Weingärtner até os últimos talentos que despertam nas artes plásticas e na arquitetura”. .
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI constitui uma
integrante deste pequeno grupo destas pioneiras a se fixar definitivamente no
campo das artes visuais do Rio Grande
do Sul. Mudança decidida ao
transferir todos os seus pertences,
energias e tempo para este campo de energias criativas.
Se a carreira e as obras de MAGLIANI ainda são
frutos da ERA INDUSTRIAL, de um lado, isto não nos autoriza a transformá-la em “mito”,
em “estrela” ou “gênio” para o consumo dos produtos desta ERA da MÀQUINAS. De
outro lado a sua memória e a sua obra correm o perigo do “descarte”, do
“segundo enterro” e da “entropia” que a ÉPOCA PÓS-INDUSTRIAL reduz tudo e a
todos ao mundo da NATUREZA e do igual.
Maria Lídia Santos MAGLIANI, (1946-2012) Pequena
História da Infância in Renato ROSA 2013
Fig. 17 – A acesse de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI-
de não sorrir para a câmera fotográfica
- inspirou uma das suas obras .
Seguindo o preceito de Wittgenstein de que “o que não deve ser dito deve
ser calado” ela a transfere para a fala e expressão fisionômica de mesma e dos
seus personagens..
Entre estes extremos cabe, às instituições, as pesquisadores
e aos agentes culturais do no Rio Grande do Sul, a tarefa de encontrar meios e recursos para descobrir,
estudar, sistematizar índices da memória Maria Lídia dos Santos MAGLIANI. No
tempo de impiedosos descartes, as obras e documentos necessitam migrar para as
plataformas digitais e físicas que mantenham vivo, por tempo indeterminado, este
bem material e simbólico único
dos sul-rio-grandenses.
Deve-se à Renato Rosa não só o destaque que conferiu
à MAGLIANI no seu Dicionário. Deve-se, a ele, também o magnifico gesto de
colocar integralmente na rede mundial [ https://issuu.com/zebrowski/docs/cata_magliani
] o catálogo da exposição exclusiva desta artista que
ele promoveu, em 2013, na Pinacoteca
Aldo Locatelli da Prefeitura de Porto Alegre.
Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012) figura
masculina a Renato ROSA 2013
Fig. 18 – A supressão do rosto dos personagens de Maria Lídia dos Santos MAGLIANI
não só os priva da fala fisionômica, como aumenta o mistério que cerca estes
personagens anônimos e sem face. Esta universalização sem etnia, destino e
sem identidade conferem à obra da pintura toda a liberdade para praticar do que
ela gosta de fato que é de desenhar, de pinar, de compor e se embriagar com as
cores.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
CORONA,
Fernando (1895-1979).. Caminhada nas Artes (1940-1979). Porto
Alegre : UFRGS/ IEL/ DAC/ SEC 1977, 247
ROSA, Renato et
alii .MAGLIANI A solidão do corpo Porto Alegre : Pinacoteca Aldo
Locatelli-Prefeitura de Porto Alegre
2013 , s/p. il col. https://issuu.com/zebrowski/docs/cata_magliani
ROSA, Renato et PRESSER, Décio .Dicionário das Artes Plásticas no Rio
Grande do Sul. (2ª ed r) Porto Alegre : UFRGS, 2000, 527 p. ISBN
85-7025-522-5
Maria
Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012)
ACUMULAÇÕES 2001 in Renato ROSA 2013.
Fig. 19 – Os objetos da ERA INDUSTRIAL
tomam conta da superfície plana das pinturas de Maria Lídia dos Santos
MAGLIANI,. Nestas composições
plásticas o repertório do seu
expectador emerge e entra em sintonia com as pesquisas da artista “para
alguns será importante a discussão da linguagem em si, para outros, a
investigação da condição humana” ,
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
EXPOSIÇÂO MAGLIANI – 2013
- Renato Rosa
http://www.lpm-blog.com.br/?p=21067
http://www.lpm-blog.com.br/?p=21067
O LIVRO “Magjiani a
solidão do corpo” 2013 PDF de RENATO ROSA
OMAR BARRROS FILHO
CRONOLOGOA de
MAGLIANI
PARECER SEC-LIC
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