A arte no Rio Grande do Sul
diante do projeto civilizatório
diante do projeto civilizatório
republicano.
01 – Um NOVO
REGIME e as suas MUDANÇAS
01.1
O REGIME REPUBLICANO
descentraliza o PODER NACIONAL
01.2. O REGIME REPUBLICANO como um PROJETO
NACIONAL
01.3 . O REGIME REPUBLICANO e o PROJETO
SUL-RIO-GRANDENSE
01.4 . O REGIME REPUBLICANO SEM PESSIMISMO e
SEM OTIMISMO
02 – Um NOVO REGIME e a sua
REPRODUÇÃO
02.1. O REGIME REPUBLICANO
BUSCA FORMAR AGENTES
para a sua REPRODUÇÃO
02.2. O REGIME REPUBLICANO BUSCA FORMAR
AGENTES
para a sua REPRODUÇÃO nas ARTES
03 – Uma ESTÉTICA para o NOVO REGIME
03.1. UMA ESTÉTICA adequada
ao NOVO REGIME POLÍTICA
03.2. A ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA e dos OFÍCIOS
03.3. O NOVO
REGIME POLÍTICO RENOVA o IMAGINÁRIO PÚBLICO
04 –
DIFICULDADES do NOVO REGIME
04.1 – GENERALIZAÇÃO APRESSADAS
sobre a ESTÉTICA do
NOVO REGIME POLÍTICO
04.2 – O NOVO
REGIME POLÍTICO INVESTE num VASTO PROGRAMA
PARA TODO TERRITÓRIO do RIO
GRANDE do SUL
04.3 – A DELEGAÇÃO de
PODER do NOVO REGIME POLÍTICO
05 – MATERIALIZAÇÕES do
IMAGINÁRIO do NOVO REGIME
05.1 – UM PALÁCIO PRESIDENCIAL para o
NOVO REGIME POLÍTICO.
05.2 –
O NOVO
REGIME POLÍTICO em BRONZE e GRANITO
Foto in LAGEMAN N 2010 p.46
Fig. 01 – O cenário do Monumento a Júlio de Castilhos pouco após a sua
inauguração e antes da demolição da
matriz colonial e que emprestou o seu nome popular à Praça até os dias
presentes. Os nomes de Praça Dom Pedro II e de Marechal Deodoro mostram o
Poder Originário em ação e que ultrapassa, age e se reproduz muito acima de
qualquer período administrativo. O que
um período governamental como o de Carlos Barbosa é interpretar e agir
coerentemente com estas energias em ação no âmbito da História da Longa
Duração.
01 – Um NOVO REGIME e as suas MUDANÇAS
01.1. O REGIME REPUBLICANO
descentraliza o PODER NACIONAL
Estuda-se aqui o contexto do projeto estético, que estava articulado ao
projeto político-sócio-econômico deflagrado durante a Primeira República
brasileira no Rio Grande do Sul. O regime republicano disseminou o poder antes
concentrado no Rio de Janeiro. Transformou as províncias imperiais em estados,
atribuindo-lhes inclusive a soberania[1] no
ambiente político nacional. Trabalhou para transformar o súdito imperial em cidadão
republicano. Esse projeto se refletiu na economia e na cultura.
Prossegue-se no estudo de como a arte se institucionalizou neste projeto e não
da institucionalização do Estado autônomo.
Fig. 02 – O evento da Proclamação da República, na manhã de 15 de novembro de
1889, foi longamente preparado e ensaiado.. Os Grêmios Republicanos, instalados
e funcionando em todas as Províncias Imperiais,
confluíam para solidificar e garantir esta mudança de Regime. Assim o Marechal
Deodoro tornou-se expressão militar e pública deste PODER ORIGINÀRIO e uma
garantia aos civis do movimento da paz nos quarteis.
01.2. O REGIME REPUBLICANO
como
um PROJETO NACIONAL
A região cultural, na qual ocorreu esse projeto
republicano, possui particularidades históricas, de formação, jurídicas e de
instituições, culminando com uma identidade própria[1].
Contudo em vez desta identidade própria separar o estado do Brasil, este
projeto civilizatório conectou o Rio Grande do Sul com o resto do país, sob a
inspiração da Primeira República Brasileira. Os objetivos republicanos
sul-rio-grandenses foram reforçados nas suas conexões com os ‘homens paulistanos do café’ cuja teleologia Celso Furtado tão bem
caracterizou (1999: 3)
“não é o
fato de que hajam controlado o governo que singulariza os homens do
café. E, sim, que hajam utilizado esse controle para alcançar objetivos
perfeitamente definidos de uma política. É por essa consciência clara de seus
próprios interesses que eles se diferenciaram de outros grupos dominantes
anteriores ou contemporâneos”[2].
O controle que os ‘homens do café’ necessitavam, para
implantar o novo regime republicano passava pelo espaço das leis. Entre estes ‘homens do café’ da Faculdade de Direito
do Largo São Francisco em São Paulo[3],
estudavam vários líderes republicanos do Rio Grande do Sul[4], como Júlio da Castilhos Estes homens das leis
presidiram sempre a realidade brasileira, como escreveu um dos formandos da
Faculdade de Direito de Porto Alegre, Raimundo
Faoro[5],
afirmando (1975, p. 149)
[1] As artes plásticas, até o
início do século XX, tiveram pouca expressão nesse meio, como demonstrou Athos Damasceno (1971). Na
falta destes índices, os estudiosos de
uma determinada região geográfica , segundo Featherstone (1997 p.153) necessitam estar atentas “as oscilações quanto as interpendências e
equilíbrio do poder intensificam a consciência das pessoas de uma localidade em
relação à fronteira simbólica que existe entre elas e os outros, ajudadas pela
mobilização e reconstrução de repertórios simbólicos com os quais a comunidade
pode pensar, e que formulam uma imagem unificada de sua diferença em relação ao
grupo oposto”.
[2] - In KLEBER, Klaus «Um
século entre a liberdade e a servidão» in Gazeta
Mercantil, ano LXXIX, nº 21.689, 15.10.1999.
Caderno Fim de Semana, p..3 .
[3] - Essa Faculdade de Direito
de S. Paulo foi palco, em dezembro de 1873, da fundação da Sociedade
Propagadora da Instrução Popular formada por 131 pessoas, e que iniciou as
aulas noturnas em fevereiro de 1874, dando origem em 1882 ao Liceu de Artes Ofícios de São Paulo e com a
República, à Escola Politécnica, em
1894. In LICEU de ARTES e OFÍCIOS de S. Paulo: missão de excelência[org.
Margarida Cintra Gordinho]. São Paulo : Marca D’Água. 2000, pp.21/26
[4] - Faoro registrou (1975, p. 452) que os líderes
sul-rio-grandenses vieram “da Faculdade
de Direito de São Paulo, de onde se irradiariam os republicanos de todas as
províncias, entre outros, João Pinheiro, Júlio de Castilhos, Assis Brasil,
Pinheiro Machado”. FAORO,
Raymundo. Os donos do poder: formação
do patronato político brasileiro Porto Alegre – São Paulo Globo e USP, 1975. 2v.
[5] - Faoro e Carlos Nejar são os sul-rio-grandenses que
ocupam , em 2002, uma cadeira na
Academia Brasileira de Letras. Para conhecer os sul-rio-grandeses que ocuparam
uma cadeira na Academia de Machado de Assis, consultar RAMIREZ, Hugo «Cem
anos de vida acadêmica no Rio Grande do Sul» RS letras, Porto Alegre, nos
9/10, Nov.dez 2001 e jan.fev. 2002, suplemento, 8 pp, texto que
infelizmente silencia o nome de Raimundo Faoro.
Fig. 03 – Dom Pedro II estava ciente e conformado com a mudança do Regime
Imperial para Regime Republicano no Brasil. Ao receber o ato formal nem ele nem a Regente Princesa Isabel não se
pronunciaram limitando-se a cumprir o que a nova junta governamental provisória
determinava.. Nem houve atos ou defesas publicas dos nobres imperiais cujas
titularidades pessoais eram suprimidas pelo Regime Republicano. O mesmo
fenômeno produziu-se na artes nas quais ao agraciados pelo Regime Imperial
migravam para o novo Regime como foi o caso do pintor Pedro Américo que se
tornou constituinte, em 1891, do Regime Republicano..
Estes decretos e alvarás são preventivos à circulação
do poder e dos reais interesses que movem uma sociedade concreta. Uma das
características de qualquer regime cartorial é "mudar para não mudar" e assim não entregar o seu poder ao seu
concorrente.
Fig. 04 – Júlio de Castilhos passou a
ocupar o trono e o poder estadual do Rio Grande do Sul como líder republicano,
constituinte e presidente difundia a sua imagem no moldes do Regime Imperial.
O poder imperial migrava para uma forma civil e reforçava-se, concentrava-se e reproduzia-se
nos mesmos moldes atualizados do Regime Colonial e Imperial. A Constituição de
14 de julho de 1891 concentrava - o
máximo possível e tolerável - o Poder
executivo, legislativo e judiciário nas mãos e nas deliberações e decisões
provenientes do Presidente do ESTADO do Rio Grande do Sul. Este foi declarado SOBERANO
pela interpretação do Decreto Nº 1 de 15 de novembro de 1889 que instalava o
Regime Republicano.
01.3. O REGIME REPUBLICANO e
o
PROJETO SUL-RIO-GRANDENSE
O projeto
civilizatório republicano sul-rio-grandense forçosamente tinha de ir muito além
da formulação de novas leis e da sua fundamentação no pensamento filosófico da
moda. As forças energias do Regime Colonial e Imperial estavam profundamente
arraigados na inteligência, vontade e sentimentos vigentes na época. Qualquer
vacilo ou quebra desta unidade monolítica, forjada por este hábito de
heteronomia, podia levantar suspeitas e ações que colocariam tudo a perder.
Este projeto se expressava em mitos[1]
como aquele que apareceu estampado num jornal local[2],
quando os fundadores do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul
afirmavam que o “resultado lógico do evoluir da civilização rio-grandense, o Instituto
pairava latente na ordem natural das cousas, só a espera que o fiat criador
trovejasse do alto, para que elle surgisse de baixo, aparelhado para os seus
lúcidos destinos”. Interpretam-se estas falas e expressões a autonomia que
os agentes republicanos tentaram gerar num espaço potencial no qual a nova
instituição poderia cultivar a teleologia imanente da arte e fazer fluir a sua
reprodução ao longo do tempo. Os fundadores concebiam um espaço para que esta
instituição, destinada, ao mesmo tempo
para a permanência e para a mudança, gerasse uma tensão
dialética entre o ideal da razão e da
expressão da vida natural. Os dois pontos eram formados pelo ideal ‘da civilização rio-grandense’ e a
realidade da ‘ordem natural das cousas’.
Esta tensão permitiu construir o arco[3] sob
o qual se gerou um espaço para criar e
circular a obra de arte (empírica) e as expressões de autonomia (ideal),
imanentes ao fazer artístico. À sombra deste espaço, gerado nesta oposição, era possível instaurar uma
instituição destinada à permanência no espaço físico. O trabalho nesta instituição era voltado, ao
mesmo tempo, ao ideal da transcendência das artes representado pela sua
autonomia. Autonomia alimentada por um
ideal inconformado com a vida e com o que a natureza lhe pode oferecer,
pois a natureza, em si mesma, é sem sentido[4] e
tende para a entropia permanente.
[1] - Rollo May afirmou (1992,
p. 297) “um mito é uma forma de dar sentido a um mundo que não o tem. Os mitos
são padrões normativos que dão significado à nossa existência. São como as
vigas de uma casa, não aparecem no exterior, são a estrutura que sustenta o edifício para que se possa viver
nele”
[2] - Correio do Povo 22.04.1908(cópia datilografada do Arquivo do
IA-UFRGS)
[3] - O arco arquitetônico
lítico é uma criação humana recente. Na arquitetura esta solução foi amplamente
usada e difundida pelos arquitetos romanos. Antes deles, a cultura grega e a
egípcia, valiam-se da arquitrave o que fazia com que os seus prédios de pedras
se transformassem numa floresta de colunas ou corredores estreitos , pois a
distância, entre duas colunas ou paredes, não podia ultrapassar o comprimento
de uma pedra (arquitrave). Com a solução
do arco lítico as duas pilhas de pequenas pedras (aduelas) podiam vencer
grandes vãos na forma de arcos, abóbadas e cúpulas . Espaço dialético no qual
existem surpreendentes possibilidades, semelhantes àquelas de um arco
arquitetônico, no qual a criatura humana combina forças criadoras contrárias e
capazes de oferecer, e perpetuar no tempo, ambiente propício para a criação
continuada.
[4] - ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition
de l’homme moderne. Londres : Calmann Lévy. 1983, ou, como escrevia Fernando Pessoas, “a natureza não é arte, pois não possui nada
por dentro”.
Fig. 05 – O artista
e pintor Oscar Boeira (1883-1943) plasmou esta imagem do pampa do Rio Grande do
Sul coerente com a dialética na qual ele e o Regime Republicano se debatiam
entre 1889 e 1930. De um lado a monotonia da realidade plana e do outro lado o
ideal imaginado do arco do triunfo otimista erguido sobre esta horizontalidade da
paisagem. Como artista coerente Boeira também agiu sem otimismo sem
pessimismo. Manteve-se otimista sem jamais transformar um quadro seu em valor
econômico . Manteve-se suficientemente pessimista a ponto de não admitir concluir e
assinar uma única obra que não tivesse a mais alta qualidade intrínseca da
Pintura e do Desenho.
01.4. O REGIME REPUBLICANO SEM
PESSIMISMO e SEM OTIMISMO.
Neste
projeto republicano os agentes da arte explicitaram uma representação
homeostática entre o ideal da razão humana e da realidade local. Esta realidade
republicana abria a cultura local ao mundo todo:
“para a Europa, Rio da Prata e todo o Brasil, onde
existem estabelecimentos desta ordem, foram pedidos prospectos, programas,
regulamentos etc., bem como pedidos de preços de materiais absolutamente
necessários ao funcionamento do Instituto, afim de se fazerem os cálculos
todos, sem pessimismo ou otimismo”[1].
No texto
acima é possível aferir o dilatado olhar dos fundadores do Instituto. Olhar que
abrangia os dois extremos, entre o seu mundo material e os recursos para
atingir os seus objetivos ideais dos seus fins, que se traduzem, aqui, como “teleologia imanente à instituição”. Ao
escreverem esta frase, os fundadores do Instituto sabiam que se situavam entre
os contrários do regional e do universal. Entendiam e expressavam a dialética
entre um projeto intencional de uma civilização e a natureza entrópica, ou
ainda, entre o abstrato do pensamento e
o empírico de uma obra de arte concreta.
No
recente regime republicano o ILBA-RS não era a primeira tentativa para dotar o
estado sulino de uma instituição de destinado as artes[2]. É
possível associar estes fracassos aos interesses e à persistência de hábitos
seculares gerados pela política concentradora do período colonial e imperial
brasileiro[3]
e que, desde a sua origem, era centrada na figura do rei ou do Imperador[4].
Na política imperial não houve
incentivos institucionais na província periférica do Rio Grande do Sul muito
menos para instituições de artes.
[1] - A Federação 04.04.1908 (cópia datilografada do Arquivo do
IA-UFRGS)
[2] - Existe em Porto Alegre, na primeira fase
republicana, uma abundante emergência de instituições voltadas ao ensino da
música. O tema foi objeto de pesquisa de
Cláudia Maria Rodrigues sob a orientação da Drª Maria Elizaberh Lucas. O próprio Olímpio Olinto de Oliveira havia
ajudado a ciar o ‘Instituto Musical de Porto Alegre’ em 1897 e que se irá
transformar no Clube Haydn (1897-1968) (Corte Real, 1980 pp.29 – 40 e
Cavalheiro Lima, 1956 p.35). O mesmo vale para as principais cidades do Rio
Grande do Sul, com especial destaque para Pelotas e Rio Grande. RODRIGUES, Cláudia Maria Leal.
Institucionalizando o ofício de ensinar: um estudo histórico sobre a
educação musical em Porto Alegre (1877-1918). Porto Alegre : Departamento de Música IA-UFRGS, dissertação, 2000. 236 fls.
[3] - Faoro constatou (1975, p. 366) “a
influência política, depois do breve período da Independência e da indefinição
regencial, será cada vez mais irradiada do centro para a periferia, numa obra
de compressão centralizadora”. Raimundo Faoro é referência constante na
presente texto, e que se justifica pelo fato de ser antigo aluno da Faculdade
de Direto de Porto Alegre, portanto fruto do projeto civilizatório republicano
sul-rio-grandense, membro ativo da
abertura política brasileira (1979-1985), na sua ação decisiva na OAB e
autor de ‘Donos do Poder’ obra
fundamental, que considera a totalidade
luso-brasileira e o papel das leis na ótica de Max Weber,.
[4] - Segundo Gauer (2001: p.
248) “O Imperador (em 01 de dezembro de 1822) procurou instituir o vínculo
político, fora do qual não poderia dar-se o vínculo social, isto é, à sociedade
civil seria representada por ele. Com essa posição vinculava-se a sociedade e
Estado: o Imperador era a nação”. GAUER, Ruth Maria Chittó. A construção do Estado-nação no Brasil: a
contribuição dos egressos de Coimbra . Curitiba : Juruá. 2001. 336 p
Fig. 06 – O Regime
Republicano entrou num franco processo de propaganda e sustentação do seu
ideário. O jovem gaúcho colocado no cenário do Monumento a Júlio de Castilhos é
uma tantas amostras deste projeto levado e sustentado no ideário do Novo Regime.
As sangrentas revoluções de 1893 e de 1923 são índices da reação a esta
propaganda, marketing e efetiva distribuição de cargos a quem entrava e
concordava com neste encilhamento ideológico..
02 – Um NOVO REGIME e a sua REPRODUÇÃO
02.1. O REGIME REPUBLICANO
BUSCA
FORMAR AGENTES para a sua REPRODUÇÃO
O novo
regime republicano aproveitou este vazio institucional da política
concentradora no trono imperial brasileiro, para revertê-lo, rendendo
dividendos políticos aos novos agentes. As iniciativas particulares, ocorridas
durante o período imperial, não tiveram continuidade institucional, mesmo as de
inspiração republicana, como foi o Parthenon Literário de 1868[1].
O ideal republicano tomou forma política
mais consistente na criação do Partido Republicano Rio-grandense na sua
convenção de 23.02.1882 e, dois anos depois, na fundação do jornal A Federação (1884-1935)[2].
As representações da exótica filosofia positivista continuaram a alimentar o
discurso e a legislação do primeiro regime republicano após este empolgar o poder, em 1889. Olinto de
Oliveira, o principal líder da fundação do Instituto, não aceitava esta
doutrina. Ele estava atento ao campo
erudito, não admitia que os seus colegas médicos se dobrassem às doutrinas e
aos compromissos políticos estranhos à autonomia profissional da classe[3].
Olinto distinguiu claramente o comtismo do positivismo[4].
O corpo maior da legislação, que autorizava a
criação dos cursos superiores livres, provinha da lei federal nº 1.232, de 02 de
janeiro de 1891. A sociedade civil recebeu a incumbência de acompanhar a
criação e o controle das mantenedoras das instituições republicanas. Esta
concepção era expressa na Constituição, promulgada em 24 de fevereiro de 1891[5]
e em especial no artigo 73, § 3º. Este artigo foi regulamentado, pela lei nº
173[6],
assinada na data de 10 de setembro de 1893 em plena ‘Revolta da Armada’. Esta lei desvinculava as associações do
controle estatal, ao estilo do regime imperial decaído, delegando , em 18
artigos, o espaço para a sociedade civil exercer este papel utilizando um
contrato público. Assim, o seu Artigo 1º determinava que ‘as associações que se fundarem [...] poderão adquirir individualidade
jurídica inscrevendo o contrato social no registro civil da circunscrição onde
se estabelecer a sua sede’. O Artigo 2º artigo prescrevia que ‘a inscrição far-se-á à vista do contrato
social, compromisso ou estatutos devidamente autenticados, os quais ficarão
arquivados no registro civil’. O seu caput ‘A organização das associações que se fundarem para fins religiosos,
morais, científicas, artísticas, políticas ou de simples recreio“, foi
literalmente citado quando se realizou a primeira reunião ordinária da Comissão
Central do ILBA-RS[7].
A Carta Constitucional do Estado do Rio Grande do Sul, promulgada no dia
14.07.1891, intercalou-se entre essas
duas legislações federais. É uma peça jurídica
singular, um verdadeiro Estado sulino dentro do Estado nacional e com a
marca absolutamente pessoal de Júlio de Castilhos[8]. A Constituição
castilhista teve influências muito mais duradouras, do que a doutrina
positivista, projetando-se para além da Revolução de 1930. Ao mesmo tempo gerou
sangrentos conflitos, em 1893 e 1923, entre os que a sustentavam e aqueles que
divergiam das diretivas de Júlio de Castilhos. Durante a Primeira República o
poder político esteve nas mãos das oligarquias regionais, conforme estudo de
Noll (1980: 21). No final, estas
oligarquias regionais, uniram-se ao redor da imagem de Getúlio Vargas para dar
corpo à Revolução de 1930[9].
[1] - MACHADO, Antônio Carlos
«Breve História do Partenon Literário » in Revista do Museu Júlio de Castilhos e Arquivo Histórico
do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Secretaria de Educação e
Cultura, 1956, pp. 111/125.
[2] - O duas vezes prefeito
eleito de Porto Alegre, Tasso Genro, caracterizou (1996, p. 103), “o
jornal A Federação como um órgão de combate político e um divulgador de idéias.
Através dele são vertidos os princípios políticos que são sustentados por
Castilhos e mais tarde por Borges de Medeiros. A função divulgadora de A
Federação e o papel de propaganda republicana e de defesa do castilhismo, que
ela exerce, mostram que não era por mero caudilhismo que o castilhismo-borgista
sensibilizava enormes contingentes humanos”.
[3] - Em dois artigos publicados
no Correio do Povo, com as datas de 20.10.1898 e 05.11.11.1898, ele insurge-se
contra o sectarismo positivista do jornal semi-oficial A Federação, deixando claro, sem pseudônimo, as suas desconfianças
e as suas descrenças naqueles que desejavam transformar o positivismo em seita
dogmática. Enfrentou a classe médica, que se havia rendido a esse dogmatismo,
na pessoa de Protásio Alves, seu colega de profissão e escola, que depois irá
ser figura de relevo na administração de Borges de Medeiros. “Dou-me por feliz, eminente patrício, de ter
minha boa estrela me preservado sempre das imposições dogmáticas de quem quer
que seja, assim como do espírito de seita, uma das causas mais funestas, no
dizer de Turgot dos desvirtuamentos a que podem sucumbir as melhores
inteligências e os melhores caracteres”. Esse embate direto com Júlio de
Castilhos, redator na época da A
Federação, foi estudado pelo seu cunhado e também médico, Gonçalves Vianna
em texto de 1945.
Olinto de
Oliveira, Correio do Povo, 20.10. 1898
e in Gonçalves Vianna, 1945, p.36
[4] - Olinto de Oliveira
distinguiu claramente o poder fluindo e a mitificação dessa doutrina na
periferia cultural “A palavra positivismo
tem evoluído e já não se apoia somente no ponto de vista exclusivo de Augusto
Comte. Ela abrange os esforços de todas as escolas empíricas modernas, em
contraposição as do idealismo e forma com esta a dupla corrente das
especulações filosóficas modernas, cuja tendência convergente se torna cada vez
mais acentuada apesar da aparente oposição em que se acham”.
Correio do Povo, 05.11. 1898 e in Gonçalves Vianna, 1945, pp.44/5
Esses dois artigos de Olinto, o
contexto que os geraram e as repercussões, foram amplamente analisados pelo o
doutor Gonçalves Vianna seu discípulo, cunhado, médico e confrade na Comissão
Central no Instituto. (Gonçalves Vianna,
1945: 21-49).
[4] - O pensamento e as crônicas
de Olímpio Olinto de Oliveira estão sendo resgatados e sistematizados pela
pesquisadora Cláudia Maria Gonçalves, do programa de pós-graduação de Música do
Instituto de Artes da UFRGS sob a orientação da Profª Drª Maria Elizabeth
Lucas.
[5] - A Primeira Constituinte
Republicana Brasileira esteve reunida entre os dias 15 de novembro de 1890 até
24 de fevereiro de 1891 quando foi proclamada a primeira Carta Magna
Republicana Brasileira. A República procurava, nessa Constituinte, demarcar
fronteiras claras entre o governo, o Estado Brasileiro e a sociedade civil.
Como instrumento dessa política de transferência das responsabilidades
educativas do Estado brasileiro republicano, foi regulamentado o artigo 73 dessa Constituição pela Lei Federal no 173 de 10.09.1893. O Decreto Lei no
1232 de 02.01.1891, que criava essas Escolas
Livres, foi editado, portanto, durante o período da constituinte. O pintor
paraibano Pedro Américo estava entre os constituintes republicanos,
representando o seu valente e orgulhoso estado natal. Sobre as razões da
presença e ação desse pintor no seio da Constituinte não se localizaram dados.
Acredita-se que as questões relativas às escolas livres e o ensino das artes
não lhe deveriam ser indiferentes. O quadro ‘Justiça e Concórdia’, que
pintou em 1895, pode ser lido como um dos índices dos sentimentos que se
passavam na alma desse artista.
[6] - A Lei nº 173 de 17.09.1893 “regula
a organização das associações que se fundarem para fins religiosos, morais,
científicos e artísticos”. Essa lei
republicana inverte a direção apontada no regime imperial pelo Decreto n. º
2.711 de 19 de dezembro de 1860 que segundo
Bastos criava “uma vasta rede de
prevenções contra as sociedades anônimas, assim, mercantis como civis (art.
dois. º, pr., da Lei), assim religiosas como profanas, assim literárias como
políticas (art. 27, 33 e outros do citado Decreto). E para que não reste dúvida alguma acerca dos
poderes de que investiram o já poderosíssimo Estado, o Decreto repete com a Lei
que a ele pertence, primeiro que tudo decidir se o objeto ou fim da companhia é
lícito e de utilidade pública” (in
Faoro, 1975 p. 430).
[7] - Livro nº I das atas da
Comissão Central, f. 4v, em 01.105.1908.
[8] - Love descreveu (1975, p. 49) a origem e a
estrutura da 1a Constituição
Republicana, que segundo ele “o
documento foi obra inteira de Castilhos, como Assis testemunhou poucos meses
após tê-lo visto pela primeira vez.. Levando em consideração a Constituição
proposta, a Assembléia Constituinte limitou-se basicamente a debater medidas
que fariam o Executivo ainda mais poderoso do que o projeto original. Quando
saiu a Constituição, uma versão quase inalterada do original de Castilhos, suas
provisões importantes eram: 1- Legislativo unicameral com autoridade restrita a
questões orçamentárias; 2- Executivo com mandato de cinco anos e com poderes de
legislar por decreto sobre questões não financeiras,, a menos que a maioria das
Câmaras Municipais rejeitasse uma lei determinada;3- Nomeação do
Vice-Governador, pelo próprio Governador; 4-
Reeleição consecutiva do Governador, contanto que obtivesse três quartos
da votação total; e 5-ampla e estrita separação dos poderes ‘espirituais’ e
‘temporais’ ”. Castilhos pessoalmente provocara, como constituinte republicano,
grande celeuma na capital federal com a sua tese que “os Estados, como garantia de sua
independência, socorreriam a União, nas suas necessidades”. (Faoro, 1975:
466).
LOVE, Joseph L. O regionalismo gaúcho. São Paulo :
Perspectiva, 1975. 282 p.
[9] - Maurício Lacerda, na década
de 1920, declarava que “o maior inimigo da revolução não eram as elites,
como se pensava, mas as lideranças civis que mudaram de lado”. in
Meirelles, 2005, p.245.
MEIRELLES,
Domingos. 1930: os órfãos da Revolução. Rio de Janeiro :
Record 2005, 761 p.
Fig. 07 – O Rio
Grande do Sul atualizou a sua inteligência, suas modas e sua tecnologia ao
longo do Primeiro Período Republicano. Porém sem indústria efetiva, sem
pesquisa e sem um pacto social coerente tornou-se incapaz de sustentar
um nutrido comércio econômico, cultural e social com os países e as regiões
hegemônicas da época. O Rio Grande do Sul era, e continua sendo, condenado a CONSUMIR o que JÁ foi CONSUMIDO
em outras culturas sem gozar do direito à uma pesquisa própria e com sustento
eficiente para a sua reprodução permanente. As manifestações estéticas são índices da inteligência, porém sem uma pesquisa sustentável e própria.
Nestas circunstâncias é impensável uma memória coletiva e própria para fundamento de um efetivo e coerente pacto
social, político e econômico.
[clique sobre o gráfico para ler]
Graças à
Carta de Júlio de Castilhos o Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do
Sul tornou-se possível, e se constituiu, como um fractal da sociedade civil
local, formando uma verdadeira micro república. A ênfase na figura do
Presidente, materializava-se nesta micro república do Instituto com a mesma
ênfase da figura do Presidente do Estado do Rio Grande do Sul. O espaço
institucional era autônomo de qualquer intervenção externa, mesmo oficial. Essa
autonomia foi louvada no Correio do Povo[1], no
dia da fundação do ILBA-RS.
“A intervenção do Estado não é lógica senão quando estritamente, se
limita a garantia, ao cultivo das ciências, liberdade e independência completa,
emancipando-o de qualquer contraste oficial, não fazendo depender de dogma
algum, de doutrina alguma, de interesse algum, em suma, libertado-o de todos os
óbices desta espécie inteiramente estranho à ação da lei”.
Helios
SEELINGER – “Pelo Rio Grande Pelo Brasil”
Museu de Piratini-RS
Fig. 08– O carioca Helios Seelinger (1878-1965) era visita constante em Porto
Alegre. Foi um dos organizadores do Carnaval de Porto Alegre em 1925 e um dos incentivadores do Salão de
Outono de junho de 1925. Nestas visitas colheu sentimentos, vontades e
concepções que ganharam forma militar em 1930. Sintomática o título do seu quadro “PELO RIO GRANDE - PELO BRASIL” cujo esboço foi publicado na revista
Máscara no mesmo numero que resenhava o
Salão de Outono de 1925, coincide com o lema da Revolução de 1930. Este quadro
foi pintado para o palácio do Governo do Rio Grande do Sul. Porém foi destinado
depois ao museu da cidade de Piratini uma das capitais farroupilhas.
02.2. O REGIME REPUBLICANO
BUSCA FORMAR
AGENTES para a sua REPRODUÇÃO nas ARTES.
O jornal A
Federação, no dia 10 de abril de 1908 e no dia seguinte o Correio do Povo publicavam a lista dos
agentes centrais na fundação, da organização e na reprodução do Instituto Livre
de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
“As comissões
que o dr. Carlos Barbosa escolheu para, na capital, fazerem parte da fundação
da academia, ficaram assim constituídas: pelo sexo gentil, dd. Olinta Braga, Amalia Iracema e Julieta Felizardo;
pelos médicos, Drs. Olinto de
Oliveira e João Birnefeld; pelos engenheiros, Rodolpho Ahrons; pelos advogados Plinio Alvim pelos dentistas
e pharmaceuticos, Cirne Lima; pelo município, dr. Montaury; pelos industriais, dr. Possidonio Cunha; pela
magistratura, dr. Joaquim Birnfeld;
pela imprensa,Gonçalves de Almeida e
Caldas Junior; pelo exército, Cel
Carlos Campos; pela brigada, cel
Carlos Pinto; pela armada,cap.tte.
Otávio de Lima e Silva; pelo commércio,
José Gertum; pelos operários, João
Petersen; pelos estrangeiros,
Ambrosio Archer, José Morini, G. Pfeifer; pelos maestros, Araújo Vianna ; pelos pintores, Libindo Ferrás, pelos funccionarios, tte-cel Aurelio Bittencourt e pelos acadêmicos, Ezequiel Ubatuba.
Nesta lista de nomes percebem-se as lideranças dos
segmentos do Poder Originário e partir dos quais se erguia a administração do
Rio Grande do Sul pelo governo de Carlos Barbosa entre os anos de 1908 e 1913.
Destacam-se os méritos do ocupante do cargo e não eleição ou os votos dos
pares. É a vitória republicana do
“self-made-man” e não os méritos nobiliárquicos, imperiais ou hereditários de
uma casta.
Existem duas listam são índices das esperanças para
dar apoio moral, simbólico e material para colocar no mundo prático também o
monumento a Júlio de Castilhos, Em cada nome e cada local há necessidade de
descobrir a origem e as obras e memória cultivada de cada destes agentes.
Comunidades e lideranças, não só dedicadas à este governo passageiro, mas
agentes ativos para bem coletivo do município e das corporações. Este universo
imaterial soma-se ao mundo material onde ganhava corpo esta obra de arte.
Universos solidamente moldados num projeto civilizatório coletivo e que buscava
também formas para financiá-lo. Projeto que permitia num primeiro momento este
projeto permitia o acompanhamento de sua elaboração a sua colocação no mundo
físico e depois garantia a sua conservação. Nesta conservação este mesmo
PROJETO permite, acima de tudo,
constituir e manter uma PAUTA permanente
e final de sua AVALIAÇÃO.
Fig. 09 – Enquanto não se completava a construção do Palácio do Governo, iniciado
na presidência de Carlos Barbosa, o presidente Antônio Borges de Medeiros
despachava numa das salas da Biblioteca Pública. O seu retrato ocupa o eixo
central desta sala de despachos presidenciais..
03 – Uma ESTÉTICA para o NOVO
REGIME
03.1. UMA ESTÉTICA adequada
ao
NOVO REGIME POLÍTICO
O Rio Grande do Sul
aproveitou o período da primeira euforia republicana, para criar os cursos
superiores como de Engenharia (1896), de Medicina (1898) e de Direito (1900).
Nesta euforia republicana a arte não foi esquecida. Na prática ela estava
presente na mentalidade de todos e se materializava na renovação urbanística
arquitetônica e escultórica[1],
não só na capital, mas no interior do estado[2].
Criou-se um ambiente favorável para implementar o Instituto Livre de Belas
Artes do Rio Grande do Sul, o que aconteceu no dia 22 de abril de 1908[3]. O Instituto incorporou as condições de uma
célula viva que estabelecia e administrava as suas próprias leis aplicando esta
autonomia ao espaço local. O convite para dar corpo a essa célula institucional
autônoma na criação do ILBA-RS, foi dirigido para toda a população do estado.
Este convite foi realizado pelos jornais, de forma aberta e transparente para o
engajamento coletivo
[1] - DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. Porto
Alegre (1898-1920): estatuária fachadista e monumental, ideologia e sociedade. Porto
Alegre : PUC-IFCH, 1988, 208 f. Dissert.
____.
Porto Alegre 1900-1920: estatuária e ideologia. Porto Alegre : Secretaria
Municipal de Cultura, 1992. 102p.
____. Rio Grande do Sul (1920-1940): estatuária,
catolicismo e gauchismo. Porto Alegre : PUC-Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, 1999. 377f.
[2] - SILVA,
Ursula Rosa da et SILVA LORETO, Mari Lúcie. História da arte em Pelotas: a pintura
de 1870 a 1980. Pelotas :
EDUCAT, 1996 180 p.
[3] - TREVISAN, Armindo, «O Instituto de Artes da
UFRGS». Veritas.: Porto Alegre,
PUCRS Vol. 39, nº 156, pp. 687-696
dez. 1994.
Fig. 10 – As mais expressivas e progressistas comunidades sul-rio-grandenses seguiam
a renovação estética do novo Regime
Republicano. O centro da cidade de Cachoeira do Sul transformou a sua tirre
da hidráulica num monumento de evidentes influências historicistas franceses de
moda na época. Nem a mesmo podia faltar a designação de “Château d’eau”[1] conferido a este equipamento público.
03.2. A ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA
e dos OFÍCIOS
O Rio Grande do Sul não foi poupado esteticamente
dos mais diversos ‘revivals’ das
tipologias artísticas desenvolvidas no final do século XIX e no início do novo.
Por meio destes ‘revivals’
retornou-se ao artesanato, ao modelo do trabalho em guildas, em especial na
categoria dos arquitetos, escultores, decoradores e moveleiros. As lições
desenvolvidas na Inglaterra, no
movimento `Arts and Crafts´
(1880-1910) de William Morris (1834-1896) e de John Ruskin (1819-1900), não
foram estudadas explicitamente em Porto Alegre. Contudo existem, no Rio Grande
do Sul, vestígios claros desta estética sustentada pelo apogeu mundial da era
vitoriana. Estes vestígios podem ser acompanhados nos prédios, nas fachadas,
nas estátuas e no mobiliário desta época. O novo burguês estava ávido de
mostrar e exibir a sua nova condição. Para ele interessava abrir a História da
Arte e de retirar dali aquilo que reforçava a visibilidade de sua nova
condição. As cidades sulinas ganharam sobrados e ruas, antes marcadas por
séculos de pequenas e mesquinhas “casas
coloniais em fita”, nas quais a metrópole condenara viver a gente da
Colônia. Sobrados e ruas que agora
mostravam o triunfo da vida artística internacional modelados pelos
ideais da burguesia que se apropriou, e, modelou a economia, a cultura e a arte
para os seus interesses.
Porto
Alegre, na condição de capital do Rio
Grande do Sul, se “decorava como sala de visita”
no início de século XX. Este esforço foi demonstrado no estudo de Bakos
(1994: 144-151). Reforçava a sua condição com a emergência de novos atores
sociais que foram estudados por Charles
Monteiro (1995: 39/48). Contudo a lógica da concentração de capitais,
preferiu, no plano nacional, a região
sudeste do país.
Inauguração
do monumento do Centenário da Imigração em 1924 - Imagem in TUBINO 2007 p.133b
Fig. 11 – Não é possível defender a unidade e uma única matriz na estética do
primeiro regime republicano, mesmo num estado singular com o Rio Grande do Sul.
O mesmo pode ser constatado na dessincronia dos imigrantes com a estética e
projeto da pátria da sua origem. Enquanto o imigrante alemão imaginava e celebrava
um “Heimatland” esta mesma “terra do seu lar” já não era cultivada na origem.
As frequentes e abruptas mudanças dos regimes políticos nas pátrias de origem
eram impossíveis de assimilar e justificar
pelo imigrante na sua nova pátria de adoção
03.3. O NOVO REGIME POLÍTICO RENOVA
o IMAGINÁRIO PÚBLICO
O monumento[1]
a Júlio Prates de Castilhos (1860-1903) -colocado na Praça da Matriz (Marechal
Deodoro) na área nobre e do prestigio oficial da capital do Rio Grande do
Sul - possui múltiplas e variadas
leituras. No presente texto iremos contornar a sua descrição iconográfica e
iconológica. O objetivo é lançar a atenção e olhar de retorno para o tempo e as
circunstâncias de sua concepção, elaboração e entrega ao público no dia 25 de
janeiro de 1913. Este momento carrega, apesar da sua visibilidade, o seu peso e
no seu tamanho, numerosos índices que ultrapassam seu tempo e lugar.
Envereda-se, pois, no que Alves escreveu (2004, p.55) reconhecendo que “esta obra é o marco de uma época do Rio
Grande do Sul”. O presente texto e nas imagens irão explorar o monumento a
Júlio de Castilhos como marco de sua época.
Como marco físico ele portador de um gigantesco universo de
significados, índices e símbolos como é da natureza da obra de Arte. Esta obra
também ultrapassa tudo aquilo que é possível perceber numa visita física, num
texto descritivo ou em imagens físicas. Não se renuncia às palavras e nem as
imagens pois estas guiam a mente e olhar de quem quiser conferir fisicamente, num determinado
momento, experimentar fisicamente esta obra e tirar as próprias conclusões.
O Monumento a Júlio de Castilhos é portador e um
dos índices dos portentosos cinco anos que coincidem e se expressam num período
administrativo exemplar do governo de Carlos Barbosa Gonçalves. Esta
administração concebeu, fez executar e entregou esta obra no último dia do seu
quinquênio de governo. A administração estadual do Rio Grande do Sul incarnou
uma época na qual tiveram oportunidades novas mentalidades. Mentalidades que
criaram obras físicas gerando outra imagem física coerentes com projetos, e
expressões de uma nova concepção do exercício do poder. Pode-se falar mesmo de
um período anterior a 1908 e após 1913. O Monumento a Júlio de Castilhos está
colocado neste contexto amplo constituindo um índice físico e mental
abrangente, como sugere o nome deste Estado.
O interior do prédio da Biblioteca Púbica do Rio
Grande do Sul construído ao longo dos
quatro anos do Governo Carlos Barbosa serviu de palácio governamental para o
governo de Borges de Medeiros enquanto continuavam as obras daquele que seria
denominado depois Palácio Piratini. As decorações pictóricas de Ferdinand
Schlatter[2].
Contudo os objetos, móveis, molduras e lustres e tapetes inscrevem nas
tendências estéticas que regem as formas
plásticas do Monumento a Júlio de
Castilhos
Numa cultura, ainda muito próximo da Natureza,
evidencia-se em 2015, que esta obra física e mental do Monumento a Júlio de
Castilhos também se naturalizou, corre para a entropia universal e até desliza
para as depredações as mais grosseiras, abjetas e agressivas.
O preço físico e simbólico, destas depredações, é incalculável e de
abrangências devastadoras para qualquer cultura ou civilização que se deseja
ver presente e apreciada no âmbito mundial.
O projeto do Monumento a Júlio de Castilhos é do
artista Décio Villares (1851-1931) autor da reelaboração visual do desenho da
bandeira brasileira.
Os bronzes foram confeccionados e fundidos na
França conforme este projeto. Estrutura
da elevada pirâmide central e a plataforma da base e escadarias foram
elaboradas com o granito rosa dos morros de Porto Alegre nas oficinas de
escultura de Aloys da capital.
[1] Monumento 1908-1913 a Júlio de Castilhos - http://profciriosimon.blogspot.com.br/2013/01/057-o-que-e-arte.html
[2] BIBLIOTECA
PÚBLICA do RIO GRANDE do SUL http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/vivaocentro/default.php?p_secao=54
BORGES de MEDEIROS
1863-1961 - JÚLIO de CASTILHOS 1860-1903 - GETÚLIO VARGAS 1882-1954
Fig. 12 – Na prática o hábito imperial rebrotava
por meio do cultivo de um personalismo exacerbado do líder sem trono e cetro. Porém esta figura continuava a exercer, de fato, o
mesmo poder imperial, monocrático e centralista. Os articulistas da revista Madrugada[1] escreveram em 1926 que “a mudança do regime monárquico foi apenas,
entre nós, uma substituição de acento grave por agudo, na personagem
governativa, o que vale dizer uma pura questão gramatical”[...] passamos do governo dos reis ao império dos
reis para entidades perfeitamente concretas, bem soantes, amadas e poderosas”.
A culpa deste culto imperial não eram as personagens, em si mesmas, mas o
hábito colonial de uma população servil.
04 – DIFICULDADES do NOVO REGIME
04.1 – GENERALIZAÇÕES APRESSADAS sobre
a ESTÉTICA do NOVO REGIME POLÍTICO
Alguns temerários generalizam estes símbolos
nacionais e todo o Monumento à Júlio da Castilhos, encobrem todo este período e
o monumento com as doutrinas positivistas[2].
Contra a generalização indiscriminada das doutrinas positivistas Olinto de Oliveira médico e doutor em pediatria
já havia escrito dois artigos e publicados em 1898[3].
E verdade que o positivismo para
efeito de propaganda e marketing era um prato popular, pronto e disponível para
qualquer orador, político ou jornalista quisesse agradar o público e
principalmente mostrar o seu vínculo com a França e com toda a sua cultura.
Isto era outro equívoco, pois a cultura, a arte e pensamento francês nunca se
reduziram e nem se pautaram pelo pensamento do seu cidadão Isodore Auguste Marie François Xavier Comte
(1798-1852).
O Vice Presidente do Estado do Rio
Grande do Sul escreveu no dia 22 de abril de 1908, primeiros dias do governo
Carlos Barbosa.
“Tinhamos já a escola de engenharia, a faculdade de medicina e mais a de
direito. Quer dizer: sem possuirmos felizmente uma sciencia official, onde os
conhecimentos humanos se debatem na estreiteza de programmas que os deformam e
desfiguram, entretanto dispunhamos, graças a iniciativas benemeritas - de todas
as academias scientíficas indispensaveis as expansões sadias e fecundas de um
meio culto como o nosso. E o
complemento necessário das sciencias, como é sabido, são as lettras e as bellas
artes”.
Esta forma desassombrada de se expressar e declarar
publicamente os seus ideias, em 1908, era lastreado e provinha do âmbito das
energias de um Estado Regional que havia sido declarado “SOBERANO” pelo artigo
3º do Decreto nº 1, que instituía ao Regime Republicano no dia 15 de novembro
de 1889[4].
A revolução de 1930 e depois o Estado Novo irão reagir a expansão destas
energias das mentalidades provenientes da “SOBERANIA” estadual e restringi-las
para a “AUTONOMIA”. Nestas restrições o ESTADO NACIONAL nomeou o seu interventor e queimou
publicamente a bandeira sul-rio-grandense. entre as dos demais estados.
[1] Revista Madrugada
Porto Alegre, ano 1, nº 5. Dia
04 de Dezembro 1926 (sem paginação).
[2] -
Décio Villares foi discípulo, em Florença, de Pedro Américo de Mello Figueiredo
(1843-1905). Este escreveu e defendeu publicamente, em 1867, a sua tese de doutorado: “Os
Sistemas das Ciências” procurando distância das tendências positivistas que
buscavam abrigo na Universidade Livre de Bruxelas. Assim no autor do Monumento
a Júlio de Castilhos mais os signos, técnicas e temas da Belle Époque (Art.
Nouveau) triunfantes na época da concepção e elaboração formal deste monumento
da capital sul-rio-grandense. Para quem tiver dúvidas na conexão entre o
monumento a Júlio da Castilhos e a
doutrina positivista é bom retornar à fonte original de Isodore Auguste Marie François Xavier Comte
(1798-1852) e verificar coincidências e aquelas que não são tão coincidentes
assim com o Monumento a Júlio de Castilhos.
[3] Ver Correio do Povo,
20.10.1898 e 05.11.1898. (microfilme Museu Hipólito da Costa).
[4] Decreto nº.1 de 15.11.1889 do Governo Provisório “proclama a republica e dá outras
providências”,
ERECHIM-RS – Castelinho
de Madeira da Companhia de Colonização
Fig. 13 – O primeiro regime republicano empreendeu um estorço e uma determinação
focada na ocupação territorial do Rio Grande do Sul que se refletiu
especialmente na ocupação das férteis terras do Alto Uruguai. Entregues a
companhias de colonização estas traçavam linhas de ocupação nas quais se
alternavam as diversas etnias para não repetir o erro do Regime Imperial de
concentrar pequenas pátrias estrangeiras e sem comando político além daquele de
sua origem. Ao mesmo tempo permaneceram reservas indígenas, toldos e eventuais
quilombolas
04.2 – O NOVO
REGIME POLÍTICO INVESTE num
VASTO PROGRAMA PARA TODO TERRITÓRIO do
RIO
GRANDE do SUL.
Seria um erro a fixação da atenção apenas sobre o monumento
a Júlio de Castilhos ou sobre as obras realizadas na capital do Estado da
administração Carlos Barbosa. Ela projetou e esteve ativa em todo território
sul-rio-grandense. Haveria necessidade de buscar os índices e escrever o que
significou o período de 1908 até 1913 em cada uma das administrações municipais
das comunidades espalhadas pelo território do Rio Grande do Sul. Porém ali
reside outro equívoco e tabu. A História dos municípios e as comunidades,
espalhadas pelo território do Rio Grande do Sul, é considerada menor. Se por
acaso ganha algum vulto é esquecida. Os
seus documentos e arquivos considerados velharias, coisas esquisitas e coisa de
quem nada tem a fazer. Ou então são mitificados e fonte de fantásticos lucros
que nunca se confirmam. È necessário recorrer aos arquivos norte-americanos
para ter acesso aos relatórios anuais dos presidentes da Província e do Estado
do Rio Grande do Sul.
O prédio do Arquivo Público do Rio Grande dos sul
reflete a preocupação profissional do
Governo Carlos Barbosa com o trato da “coisa pública” e com a responsabilidade fiscal. O secretário
simultâneo das Obras Públicas e da Fazenda Cândido José de Godoy tinha por
princípio o equilíbrio financeiro entre o projeto da receita aprovada pela Assembleia dos
Representes do Estado e as despesas sem manter estoques. Este fluxo tinha de
possuir um rígido controle profissional,
mas permitia empreender obras de toda natureza pelo Estado afora. Godoy,
com experiência teórica e prática na construção e manutenção das conexões
ferroviárias, tinha empenho para que as locomotivas chegassem aos pontos mais
dinâmicos do território e fizessem fluir as riquezas do Rio Grande do Sul.
Fig. 14 – O prédio do Museu e
Fundação Carlos Barbosa em JAGUARÃO-RS[1].
Residência deste médico e presidente do Rio Grande do Sul, no período de 1908
até 1913, foi preservado como bem público e um referencial de uma etapa
significativa e única do Primeiro Regime
Republicano sul-rio-grandense. A arquitetura jurídica e as fontes
orçamentarias desta fundação para a sua manutenção também são exemplares e
coerentes com os bens a preservar
04.3 – A DELEGAÇÃO de
PODER do NOVO REGIME POLÍTICO
Na criação e manutenção do Instituto Livre de Belas
Artes do Rio Grande do Sul a
administração da presidência do Estado delegava a sua autoridade para sessenta e cinco nomes e como representantes
para a constituição das comissões municipais como bases locais [ver ANEXO].
Cada nome desta lista possui profundo significado em cada município atual.
Muitos deles são cultivados pela memória local, com monumentos e os seus nomes dados
à espaços públicos.
Da relação destes nomes, de comunidades e de
encargos é possível perceber as concepções que a administração Carlos Barbosa
possuía da verticalização e concentração do Poder Originário num único agente
político. Na mão contrária são índices da imediata e prudente delegação deste
poder central para nomes, comunidades e encargos com vínculos diretos e
próximos com o poder Originário. Delegação de autoridades e de competências que
permitiram realizar - num único período
administrativo e sem reeleição
- esta soma de obras em todo território sul-rio-grandense. Obras entre as quais
o Monumento a Júlio de Castilhos é um dos índices.
O Projeto e o início das obras do Palácio do
Governo (Piratini) foi aprovado e
iniciado no mesmo Governo Carlos Barbosa que conduziu o projeto, a execução e a
conclusão do Monumento a Júlio de Castilhos. Com tendências estéticas
contemporâneas entre si, as duas obras enfatizam o mesmo índice da propaganda e
marketing de um ESTADO declarado SOBERANO. Propaganda e marketing proveniente
de uma ideologia, de um partido hegemônico e de uma carta constitucional
presidencial e que necessitavam uma casa de governo digna destes projetos.
Carlos Barbosa era originário de Jaguarão e para
onde retornou após a sua administração. Manteve-se neutro após este período e
as sua memória é cultivada por uma fundação. No conjunto é possível perceber
uma preocupação é um respeito continuado com o Poder Originário. Evidente que
seguia a Carta Constitucional de 14 de
julho de 1891 de Júlio de Castilhos. No entanto foi muito cuidadoso e coerente
na delegação da sua autoridade para competências competentes com o objetivo de
expressar os sentimentos e colocar em obras as vontades da sociedade
organizada. Assim escolheu e delegou par uma Comissão Central que iria dirigir o Instituto de Belas
Artes do Rio Grande do Sul. Nesta escolha da delegação da sua autoridade
presidencial teve por referência nomes significativos e lideranças reconhecidas
das profissões e legitimadas pelo Estado.
Fig. 15 – O cenário dos palácios e os seus
jardins previstos pelo arquiteto francês Maurice Grass para o palácio do
Governo do Rio Grande do Sul[1],
constituem índices do poder simbólico e imaginado para a sede do governo do
ESTADO SOBERANO do RIO GRANDE do SUL e coerente com o Decreto nº 1 as
Proclamação da Republica Brasileira, Mesmo que estes projeto não tenha sido
levado literalmente ao mundo real, o que chegou a ser construído não desmente
este poder imaginado.
05 – MATERIALIZAÇÕES do IMAGINÁRIO do NOVO REGIME
05.1 – UM PALÁCIO PRESIDENCIAL
para o
NOVO REGIME POLÍTICO.
A face Sul
do Palácio do Governo com os seus jardins abriram um enorme espaço urbano para
os padrões da primitiva cidade açoriana ocupando toda uma quadra. Espaço urbano conquistado por este projeto
impede de ignorar a propaganda e o marketing de uma ideologia, de um partido
hegemônico e de uma carta constitucional presidencial. Neste aspecto é possível
ignorar o Monumento a Júlio de Castilhos em relação à Praça da Matriz. Nas obras do Governo Carlos Barbosa como no
Monumento e no Palácio do Piratini paira
a imagem do poder estatal acima de
qualquer agente individual e passageiro e preparadas para cumprirem o se papal
simbólico por tempo indeterminado.
[1] - Palácio do Governo do Rio Grande do Sul – Palácio
Piratini https://pt.wikipedia.org/wiki/Palácio_Piratini
Fig. 16 – Os três poderes do Regime Republicano Brasileiro estão próximos entre
si em Porto Alegre. Os seus respectivos prédios se encontram na mesma colina. Porem
não estão isolados ou desamparados do PODER
ORIGINÀRIO do Estado do Rio Grande do Sul. Este possui também espaço e equipamentos que o representam tão
bem como o imaginário e a cultura simbólica que dá sentido e função do
exercício do poder estatal de um governo de origem e voltado para a sua própria
fonte.
05.2 – O NOVO
REGIME POLÍTICO em BRONZE e GRANITO
O Monumento
a Júlio de Castilhos coloca-se como ponto de equilíbrio homeostático entre os
Poderes Legislativos, Executivo e do Judiciário do Rio Grande do Sul que cercam
a Praça da Matriz de Porto Alegre. A
figura do jovem gaúcho busca a vinculação
simbólica que estes três poderes formais e consagrados do Estado possuem
com o Poder Originário. A
produção agropastoril continuava, ao longo do Governo de Carlos Barbosa, uma
longa tradição de ocupação e desenvolvimento rural e urbano do território do
Rio Grande do Sul e que continua a projetar-se até o presente.
Diante de alguns destes poucos dados chega-se à conclusão de que o Monumento
a Júlio de Castilhos é um índice das expressões de um amplo leque conexões políticas, econômicas e culturais.
Ele não se basta a si mesmo e constitui uma peça isolada e cujo sentido se
esgota no seu próprio sentido. Ele cria
forma legível para uma época onde mentalidades e obras físicas criaram uma
outra imagem e um nova concepção de governar.
A figura do jovem gaúcho colocado na face Sul do
Monumento a Júlio de Castilhos vestido a caráter traz para o bronze a mesma
ênfase literária da obras Contos Gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913)
de João Simões Lopes Neto (1865-1916)
ou do republicano João Cezimbra Jaques (1848-1922). Esta figura é uma primeira
obra em bronze desta figura do gaúcho. Representação que será contornada e seus
símbolos banidos durante o Estado Novo. A reação posterior e contrária a esta
tabu do totalitarismo estatal e nacionalista unitário irá transforma esta representação em totem e
divulgado no Brasil e mundo pelos Centros de Tradições Gaúchas e cuja matriz foi apropriada novamente do
Uruguai.
05.3– O TÉRMINO de um TEMPO de SONHOS e EUFORIAS
A inauguração do Monumento a Júlio da Castilhos no
dia 25 de janeiro de 1913 marcava não só o fim de uma administração e de um
modo de governar. Na atmosfera cultural da humanidade se acumulavam mais uma
vez as altas energias da destruição, da morte e da entropia. A centelha do tiro
deflagrado em Saravejo, no verão de 1914
no dia 28 de junho, que
vitimava o Arquiduque da Áustria, foi a senha, há muito aguardada, para
devastar uma civilização pelos fogos, sangue derramado e mortes industrialmente
planejadas e executadas como jamais a humanidade sonhara ou tinha visto até
aquele momento. O que sobrou em Porto Alegre - do período de 1908 até 1913 -
perdeu as suas raízes culturais europeias e passou a significar muito pouco
diante da barbárie da qual a humanidade s e mostrou capaz de 1914 até 1918. O
esquecimento, a naturalização e as agressões físicas que o Monumento a Júlio de
Castilhos sofre é um índice desta barbárie, deste esquecimento e deste desprezo
por uma época, pela sua mentalidade e por suas obras.
http://www.correiodopovo.com.br/Noticias/561463/Pelotas-investe-na-preservacao-do-predios-historicos
Fig. 17 – A cidade de Pelotas- RS produziu, no inicio do Regime Republicano, um
rico e variado imaginário regional, estadual nacional do qual a obra de Simões
Lopes Neto é uma das muitas expressões simbólicas. Na era Pós-Industrial a mesma cidade, estuda, recupera e a preserva os BENS MATERIAS
do seu PASSADO. Neste projeto prolonga as
FUNÇÕES PRÁTICAS deste seu patrimônio. Politicamente este projeto possui um potencial ECONÔMICO, ESTÉTICO e SOCIAL único. Potencial politico na forma de bens do
PODER ORIGINÁRIO. Bens, espaço e equipamentos voltados para a própria
fonte do imaginário e da cultura simbólica do poder estatal que se expressa e
confere sentido ao exercício do Estado do Rio Grande do Sul.
ANEXO
Nomes dos
agentes mais significativos dos municípios do Rio Grande do Sul foram nomeados
no Correio do Povo no dia 11 de abril
de 1908 como apoiadores e presidentes das Comissões Regionais do Instituto de
Belas Artes do Rio Grande do Sul.
“Alegrete,
Coronel Ortiz, cel Freitas Valle Filho, dr. Lauro Dornelles e dr João Benício
da Silva; Alfredo Chaves, cel
Peregrino Guzzo; Antonio Prado,
Innocencio Müller; Arroio Grande, Manoel Antonio Maciel; Bagé, cel José Octavio Gonçalves, visconde Ribeiro Magalhães,
Emilio Guillayan e dr. Figueiredo Teixeira;
Bento Gonçalves.cel.Balthazar
de Bem ; Cachoeira, tte, cel.
Isidoro Neves da Fontoura, cap. Antunes Araujo e dr. Balthazar de Bem; Cacimbinhas, cel Avelino Goulart; Cangussu,
coronel Genes G. Bento e dr. Cezar Dias;Caxias, tte, cel. Vicente Rovêa e cap. Abreu Lima; Conceição do Arroio, cel. Manoel
Marques Rosa; Cruz Alta, Gen.
Firmino Paula, drs. Cândido Machado e Augusto Guarita ; Dom Pedrito,Cel Longuinho Costa; Dores do Camaquam, cel. Manoel da Cunha Vasconcellos ; Encruzilhada,dr. Ulisses de Carvalho e
tte cel Juvencio Fontoura; Estrella, cel. Francisco Brito, Manoel
Pontos Filho, Antonio Porto; Garibaldi,cel. Jacob Ely e padre
Franchetti ; Gravatahy, cel. Horacio
Gomes ; Guaporé, Lucano Conero ; Herval, Luiz Avila Siqueira; Itaquy,
cel Euclides Aranha, drs Tito Lopes e Galdino Santiago; Jaguarão, barão de Tavares Leite, dr, Fautino Corrêa, cel. Gabriel
Gonçalves e cel. João B. Machado; Julio de Castilhos, cel Azevedo ; Lageado, cel Oscar Karnal, tte cel. J.
M. Mello, João Oliveira e Fritz Jaeger; Lagoa
Vermelha, cel. Heleodoro Branco, dr. Antonino Machado; Lavras, cel. Galvão José de Souza, intendente Samuel
Souza; Livramento, cel João
Francisco, dr. Moyses Vianna e Dr. Augusto Pereira; Montenegro, cel. Alvaro
Moraes e Frederico Lampert; Palmeira,
cel Julio Pereira dos Santos e major Nabuco; Passo Fundo, cel. Gervasio
Annes e dr. Dario de Vasconcellos; Pelotas, cel. Pedro Osório, dr. Joaquim
Osorio, Joaquim Assumpção, Edmundo Berchom e cel. Alberto Rosa; Piratiny, Francisco Spindola; Quarahy, cel. Miguel Correia, cel Olavo Saldanha,
cel.João Maximo dos Santos e major Bento Lima; Rio Grande, dr. Juvenal
Müller, cel. Virgilio Porciuncula Junior e dr. Trajano Lopes; Rio Pardo, cel. Francisco Alves de
Azambuja; Rosário dr. Arnaldo Ferreira
e cel. Belarmino Franco; Santa Cruz, coroneis Galvão Costa e Vsco de Azevedo e
Souza; Santa Maria, dr. Vauthier e cel Dutra Villa; Santa Vitória, coroneis Manoel de Deus Dias, Francisco
Azambuja e dr. Manoel Vicente do Amaral; Santo
Amaro, Cel. Camilo Pereira; Santo Angelo, cel Braulio Oliveira ; Santo Antonio, cel. José Maciel ; São Borja, general Vargas e Lima,
coronel Trois, Antonio Sarmanho e dr. Florêncio Abreu; São Francisco de Assis, cel. Manoel Pereira Vianna ; São Francisco de Paula, cel José de Moraes Serrano; São
Gabriel, intendente Menna Barreto,
cel Francisco Hermenegildo, capitão Zozimo e dr. Diocleciano Azambuja; São Jerônimo, dr. Francisco Flores e cel. Antonio
Carvalho; São João do Camaquam, dr.
Donario Lopes e Ludgero Ferreira; São
José do Norte, Alberto de Sá e
Francisco Pereira; São Leopoldo, cel
Goelzer Netto, Ernesto Silva e padre Lutzen; São Lourenço, cel Crespo; São Luis Gonzaga, gen. Salvador Pinheiro; São Sebastião do Cahy, Pedro Carvalho, Orestes Lucas e Arthur
Candal Junior; São Sepé, Virgílio
Silva, Antonio Manoel e Emiliano Brum; São
Thiago do Boqueirão, coroneis Eloy
Tuca e Jeronimo Oliveira; São Vicente, cel. Severiano, José João e dr. Armando
Prates; Soledade, cel Antonil Ferreira e major Julio Cardoso; Taquara, coroneis Diniz Rangel e Julio Petersen; Taquary, cel João Pereira e cap. Franklin Praia; Torres, cel Julio Pacheco; Triunpho, cel Bibiano Castro e Ribeiro Tacques; Uruguaiana, drs. Sergio de Oliveira,
Romaguera Correa e Rego Lima e Segismundo Kraemer; Vacaria, cel Abelino Paim,
dr, Firmino Paim e cel. Theodoro Camargo; Venancio
Ayres, cel. Thoman Pereira ; Viamão,intendente
e cel. Marcos de Andrade” .
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História, contexto e significado – Porto Alegre : Artfólio, 2004 246 p.
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FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ADMINISTRAÇÃO (15.01.1908-14.01.1913) CARLOS BARBOSA GONÇALVES
A FEDERAÇÂO – 1º
número do 01.01.1884 criado ,em 21.03.1883,
pelo 2º Congresso Republicano
BIBLIOTECA PÙBLICA do RIO GRANDE do SUL
BORGES de MEDEIROS (1863-1961)
CAIS de PORTO ALEGRE
Ao
longo da administração Carlos Barbosa e sob a supervisão de Cândido José de
Godói – formado pela École de Ponts et
Chaussées com especialização em rios e canais -
a empresa de engenharia de Rodolfo Ahrons iniciou em 1911 as obras do
cais do porto capital e que em 1913 atingiu 146 metros com uma profundidade de
4 metros
Cândido
José de Godói era formado pela École de
Ponts et Chaussées da França
CAMPUS HISTÓRICO UFRGS
Ao
longo da administração Carlos Barbosa foram construídos o Chateau – Faculdade
de Direito e iniciada a construção da Faculdade de Medicina (1911)
CENTRO HISTÒRICO de PORTO ALEGRE
CEZIMBRA Jacques
Décio VILLARES
CÂNDIDO JOSÈ de GODOY (1858-1946)
MONUMENTO a JÙLIO de CASTILHOS
PARTIDO REPUBLICANO SULRIOGRANDENSE
O jornal A Federação[2] 1º número do 01.01.1884 criado ,em
21.03.1883, pelo 2º Congresso
Republicano
Quadro da
proclamação de República 15.11.1889
PEDRO AMÉRICO FIGUEIREDO
Proclamação de República
15.11.1889
Revista O CRUZEIRO
SÉRIE
de POSTAGENS ARTE no RIO GRANDE do SUL
[esta série desenvolve o tema “ARTE no RIO
GRANDE do SUL” disponível em http://www.ciriosimon.pro.br/his/his.html ]
123 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 01
GUARDIÕES das SEMENTES das ARTES
VISUAIS do RIO GRANDE do SUL
124 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 02
DIACRONIA e SINCRONIA das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL nos seus
ESTÁGIOS PRODUTIVOS.
PRIMEIRA PARTE
125 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 03
Artes visuais indígenas sul-rio-grandenses
126 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 04
O projeto civilizatório jesuítico e a Contrarreforma
no Rio Grande do Sul
127 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 05
Artes visuais afro--sul-rio-grandenses
128 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 06
O projeto iluminista contrapõe-se ao projeto da
Contrarreforma no Rio Grande do Sul.
129 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 07
A província sul-rio-grandense diante do projeto imperial brasileiro
130 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 08
A arte no Rio Grande do Sul diante de projeto
republicano
131 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 09
Dos primórdios do ILBA-RS e a sua Escola de Artes até a Revolução de 1930
132 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 10
A ARTE no RIO
GRANDE do SUL entre 1930 e 1945
133 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 11
O projeto da
democratização da arte após 1945.
134 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 12
A ARTE e a ARQUITETURA em AUTONOMIA no RIO GRANDE do SUL
135 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 13
A ARTE no RIO
GRANDE do SUL entre 1970 e 2000
SEGUNDA PARTE
Iconografia e Iconologia das artes visuais de diferentes projetos políticos do
Rio Grande do Sul.
136– ARTE no RIO GRANDE do SUL - 13
As obras das artes visuais indígena do atual
território do o Rio Grande do Sul.
137 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 14
Obras das artes visuais afro-sul-rio-grandense
138 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 15
Obras de arte dos Sete Povos das Missões Jesuíticas
como metáfora da Contrarreforma
139 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 16
A “casa
do cachorro-sentado” como índice açoriano no meio cultural do Rio Grande do Sul .
140 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 17
Obras de Manuel Araújo Porto-alegre
141 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 18
Obras de Pedro Weingärtner
142 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 19
Obras de Libindo Ferrás
143 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 20
Obras de Francis Pelichek
144 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 21
Obras de Fernando Corona
145 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 22
Obras de Ado Malagoli
146 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 23
Obras de Iberê Camargo
[1] Vice Presidente do Estado do Rio Grande do Sul no dia da
fundação do Instituto de Bellas Artes do Rio Grande do Sul
[2] - «A Federação» In Letras
& Livros Correio do Povo ano III, n.121,
Porto Alegre 07.01.1984
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