domingo, 12 de julho de 2015

ARTE no RIO GRANDE do SUL - 08

A arte no Rio Grande do Sul 
diante do projeto civilizatório 
republicano.

01 – Um NOVO REGIME e as suas MUDANÇAS
01.1           O REGIME REPUBLICANO descentraliza o PODER NACIONAL
01.2.      O REGIME REPUBLICANO como um PROJETO NACIONAL
 01.3     . O REGIME REPUBLICANO e o PROJETO SUL-RIO-GRANDENSE
01.4     . O REGIME REPUBLICANO SEM PESSIMISMO e SEM  OTIMISMO

02 – Um NOVO REGIME e a sua REPRODUÇÃO
02.1. O REGIME REPUBLICANO BUSCA FORMAR AGENTES 
para a sua REPRODUÇÃO
02.2. O REGIME REPUBLICANO BUSCA FORMAR AGENTES 
para a sua REPRODUÇÃO nas ARTES

03 – Uma ESTÉTICA para o  NOVO REGIME
03.1. UMA ESTÉTICA adequada ao NOVO  REGIME POLÍTICA
03.2. A ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA e dos OFÍCIOS
03.3. O NOVO  REGIME POLÍTICO RENOVA o IMAGINÁRIO PÚBLICO

04 – DIFICULDADES do  NOVO REGIME
04.1 – GENERALIZAÇÃO APRESSADAS sobre a ESTÉTICA do
 NOVO REGIME POLÍTICO
04.2 – O NOVO  REGIME POLÍTICO INVESTE num VASTO PROGRAMA
 PARA TODO TERRITÓRIO do RIO GRANDE do SUL
04.3 – A DELEGAÇÃO de PODER  do NOVO  REGIME POLÍTICO

05 – MATERIALIZAÇÕES do IMAGINÁRIO do NOVO REGIME
05.1 – UM PALÁCIO PRESIDENCIAL  para o  NOVO  REGIME POLÍTICO.
05.2 – O  NOVO  REGIME POLÍTICO em BRONZE e GRANITO






Foto in LAGEMAN N 2010 p.46 
Fig. 01 –  O cenário do Monumento a Júlio de Castilhos pouco após a sua inauguração e antes da demolição da  matriz colonial e que emprestou o seu nome popular à Praça até os dias presentes. Os nomes de Praça Dom Pedro II e de Marechal Deodoro mostram o Poder Originário em ação e que ultrapassa, age e se reproduz muito acima de qualquer período administrativo.  O que um período governamental como o de Carlos Barbosa é interpretar e agir coerentemente com estas energias em ação no âmbito da História da Longa Duração.

01 – Um NOVO REGIME e as suas MUDANÇAS
01.1. O REGIME REPUBLICANO descentraliza o PODER NACIONAL
Estuda-se aqui o contexto do projeto estético, que estava articulado ao projeto político-sócio-econômico deflagrado durante a Primeira República brasileira no Rio Grande do Sul. O regime republicano disseminou o poder antes concentrado no Rio de Janeiro. Transformou as províncias imperiais em estados, atribuindo-lhes inclusive a soberania[1] no ambiente político nacional. Trabalhou para transformar o súdito imperial em cidadão republicano. Esse projeto se refletiu na economia e na cultura. Prossegue-se no estudo de como a arte se institucionalizou neste projeto e não da institucionalização do Estado autônomo.



[1] -  Decreto nº 1, de 15.11.1889, proclama a República Brasileira.

Fig. 02 –  O evento da Proclamação da República, na manhã de 15 de novembro de 1889, foi longamente preparado e ensaiado.. Os Grêmios Republicanos, instalados e funcionando em todas as Províncias Imperiais,  confluíam para solidificar e garantir esta mudança de Regime. Assim o Marechal Deodoro tornou-se expressão militar e pública deste PODER ORIGINÀRIO e uma garantia aos civis do movimento da paz nos quarteis.
  
01.2. O REGIME REPUBLICANO como
 um PROJETO NACIONAL
A região cultural, na qual ocorreu esse projeto republicano, possui particularidades históricas, de formação, jurídicas e de instituições, culminando com uma identidade própria[1]. Contudo em vez desta identidade própria separar o estado do Brasil, este projeto civilizatório conectou o Rio Grande do Sul com o resto do país, sob a inspiração da Primeira República Brasileira. Os objetivos republicanos sul-rio-grandenses foram reforçados nas suas conexões com os homens paulistanos do café’  cuja teleologia Celso Furtado tão bem caracterizou  (1999: 3)
“não é o  fato de que hajam controlado o governo que singulariza os homens do café. E, sim, que hajam utilizado esse controle para alcançar objetivos perfeitamente definidos de uma política. É por essa consciência clara de seus próprios interesses que eles se diferenciaram de outros grupos dominantes anteriores ou contemporâneos[2].
O controle que os ‘homens do café’ necessitavam, para implantar o novo regime republicano passava pelo espaço das leis. Entre estes ‘homens do café’ da Faculdade de Direito do Largo São Francisco em São Paulo[3], estudavam vários líderes republicanos do Rio Grande do Sul[4],  como Júlio da Castilhos Estes homens das leis presidiram sempre a realidade brasileira, como escreveu um dos formandos da Faculdade de Direito de Porto Alegre, Raimundo  Faoro[5], afirmando (1975, p. 149)



[1] As artes plásticas, até o início do século XX, tiveram pouca expressão nesse meio,  como demonstrou Athos Damasceno (1971). Na falta destes índices, os estudiosos  de uma determinada região geográfica , segundo Featherstone  (1997 p.153) necessitam estar atentas “as oscilações quanto as interpendências e equilíbrio do poder intensificam a consciência das pessoas de uma localidade em relação à fronteira simbólica que existe entre elas e os outros, ajudadas pela mobilização e reconstrução de repertórios simbólicos com os quais a comunidade pode pensar, e que formulam uma imagem unificada de sua diferença em relação ao grupo oposto”.

[2] - In KLEBER, Klaus «Um século entre a liberdade e a servidão» in Gazeta Mercantil, ano LXXIX,  nº 21.689,  15.10.1999.  Caderno  Fim de Semana, p..3 .
[3] - Essa Faculdade de Direito de S. Paulo foi palco, em dezembro de 1873, da fundação da Sociedade Propagadora da Instrução Popular formada por 131 pessoas, e que iniciou as aulas noturnas em fevereiro de 1874, dando origem em 1882 ao Liceu  de Artes Ofícios de São Paulo e com a República, à Escola Politécnica,  em 1894. In LICEU de ARTES e OFÍCIOS de S. Paulo: missão de excelência[org. Margarida Cintra Gordinho]. São Paulo : Marca D’Água. 2000,  pp.21/26

[4] - Faoro  registrou (1975, p. 452) que os líderes sul-rio-grandenses vieram “da Faculdade de Direito de São Paulo, de onde se irradiariam os republicanos de todas as províncias, entre outros, João Pinheiro, Júlio de Castilhos, Assis Brasil, Pinheiro Machado”. FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro Porto Alegre – São Paulo  Globo e USP, 1975.  2v.

[5] - Faoro  e Carlos Nejar são os sul-rio-grandenses que ocupam , em 2002,  uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Para conhecer os sul-rio-grandeses que ocuparam uma cadeira na Academia de Machado de Assis, consultar RAMIREZ, Hugo «Cem anos de vida acadêmica no Rio Grande do Sul» RS letras, Porto Alegre, nos 9/10, Nov.dez 2001 e jan.fev. 2002, suplemento, 8 pp, texto que infelizmente silencia o nome de Raimundo Faoro.
Fig. 03 –  Dom Pedro II estava ciente e conformado com a mudança do Regime Imperial para Regime Republicano no Brasil. Ao receber o ato formal  nem ele nem a Regente Princesa Isabel não se pronunciaram limitando-se a cumprir o que a nova junta governamental provisória determinava.. Nem houve atos ou defesas publicas dos nobres imperiais cujas titularidades pessoais eram suprimidas pelo Regime Republicano. O mesmo fenômeno produziu-se na artes nas quais ao agraciados pelo Regime Imperial migravam para o novo Regime como foi o caso do pintor Pedro Américo que se tornou constituinte, em 1891, do Regime Republicano..
Estes decretos e alvarás são preventivos à circulação do poder e dos reais interesses que movem uma sociedade concreta. Uma das características de qualquer regime cartorial é "mudar para não mudar" e assim não entregar o seu poder ao seu concorrente.
Fig. 04 –  Júlio de Castilhos  passou a ocupar o trono e o poder estadual do Rio Grande do Sul como líder republicano, constituinte e presidente difundia a sua imagem no moldes do Regime Imperial. O poder imperial migrava para uma forma civil e reforçava-se, concentrava-se e reproduzia-se nos mesmos moldes atualizados do Regime Colonial e Imperial. A Constituição de 14 de julho de 1891 concentrava -  o máximo possível e tolerável -  o Poder executivo, legislativo e judiciário nas mãos e nas deliberações e decisões provenientes do Presidente do ESTADO do Rio Grande do Sul. Este foi declarado SOBERANO pela interpretação do Decreto Nº 1 de 15 de novembro de 1889 que instalava o Regime Republicano.

01.3. O REGIME REPUBLICANO e 
o PROJETO SUL-RIO-GRANDENSE

O projeto civilizatório republicano sul-rio-grandense forçosamente tinha de ir muito além da formulação de novas leis e da sua fundamentação no pensamento filosófico da moda. As forças energias do Regime Colonial e Imperial estavam profundamente arraigados na inteligência, vontade e sentimentos vigentes na época. Qualquer vacilo ou quebra desta unidade monolítica, forjada por este hábito de heteronomia, podia levantar suspeitas e ações que colocariam tudo a perder.
 Este projeto se expressava em mitos[1] como aquele que apareceu estampado num jornal local[2], quando os fundadores do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul afirmavam  que o “resultado lógico do evoluir da civilização rio-grandense, o Instituto pairava latente na ordem natural das cousas, só a espera que o fiat criador trovejasse do alto, para que elle surgisse de baixo, aparelhado para os seus lúcidos destinos”. Interpretam-se estas falas e expressões a autonomia que os agentes republicanos tentaram gerar num espaço potencial no qual a nova instituição poderia cultivar a teleologia imanente da arte e fazer fluir a sua reprodução ao longo do tempo. Os fundadores concebiam um espaço para que esta instituição,  destinada, ao mesmo tempo para a permanência e para a mudança, gerasse uma tensão dialética  entre o ideal da razão e da expressão da vida natural. Os dois pontos eram formados pelo ideal ‘da civilização rio-grandense’ e a realidade da ‘ordem natural das cousas’. Esta tensão permitiu construir o arco[3] sob o qual se gerou um espaço para criar  e circular a obra de arte (empírica) e as expressões de autonomia (ideal), imanentes ao fazer artístico. À sombra deste espaço, gerado nesta  oposição, era possível instaurar uma instituição destinada à permanência no espaço físico.  O trabalho nesta instituição era voltado, ao mesmo tempo, ao ideal da transcendência das artes representado pela sua autonomia. Autonomia alimentada por um  ideal inconformado com a vida e com o que a natureza lhe pode oferecer, pois a natureza, em si mesma, é sem sentido[4] e tende para a entropia permanente.



[1] - Rollo May afirmou (1992, p. 297)  “um mito é uma forma de dar sentido a um mundo que não o tem. Os mitos são padrões normativos que dão significado à nossa existência. São como as vigas de uma casa, não aparecem no exterior, são a estrutura que  sustenta o edifício para que se possa viver nele
[2] - Correio do Povo 22.04.1908(cópia datilografada do Arquivo do IA-UFRGS)
[3] - O arco arquitetônico lítico é uma criação humana recente. Na arquitetura esta solução foi amplamente usada e difundida pelos arquitetos romanos. Antes deles, a cultura grega e a egípcia, valiam-se da arquitrave o que fazia com que os seus prédios de pedras se transformassem numa floresta de colunas ou corredores estreitos , pois a distância, entre duas colunas ou paredes, não podia ultrapassar o comprimento de uma pedra (arquitrave).  Com a solução do arco lítico as duas pilhas de pequenas pedras (aduelas) podiam vencer grandes vãos na forma de arcos, abóbadas e cúpulas . Espaço dialético no qual existem surpreendentes possibilidades, semelhantes àquelas de um arco arquitetônico, no qual a criatura humana combina forças criadoras contrárias e capazes de oferecer, e perpetuar no tempo, ambiente propício para a criação continuada.

[4] - ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres : Calmann Lévy. 1983, ou, como escrevia Fernando Pessoas, “a natureza não é arte, pois não possui nada por dentro”.

Fig. 05 –  O artista e pintor Oscar Boeira (1883-1943) plasmou esta imagem do pampa do Rio Grande do Sul coerente com a dialética na qual ele e o Regime Republicano se debatiam entre 1889 e 1930. De um lado a monotonia da realidade plana e do outro lado o ideal imaginado do arco do triunfo otimista erguido sobre esta horizontalidade da paisagem. Como artista coerente Boeira também agiu sem otimismo sem pessimismo. Manteve-se otimista sem jamais transformar um quadro seu em valor econômico . Manteve-se suficientemente  pessimista a ponto de não admitir concluir e assinar uma única obra que não tivesse a mais alta qualidade intrínseca da Pintura e do Desenho.

01.4. O REGIME REPUBLICANO SEM PESSIMISMO e SEM  OTIMISMO.

Neste projeto republicano os agentes da arte explicitaram uma representação homeostática entre o ideal da razão humana e da realidade local. Esta realidade republicana abria a cultura local ao mundo todo:
“para a Europa, Rio da Prata e todo o Brasil, onde existem estabelecimentos desta ordem, foram pedidos prospectos, programas, regulamentos etc., bem como pedidos de preços de materiais absolutamente necessários ao funcionamento do Instituto, afim de se fazerem os cálculos todos, sem pessimismo ou otimismo[1].
No texto acima é possível aferir o dilatado olhar dos fundadores do Instituto. Olhar que abrangia os dois extremos, entre o seu mundo material e os recursos para atingir os seus objetivos ideais dos seus fins, que se traduzem, aqui, como teleologia imanente à instituição”. Ao escreverem esta frase, os fundadores do Instituto sabiam que se situavam entre os contrários do regional e do universal. Entendiam e expressavam a dialética entre um projeto intencional de uma civilização e a natureza entrópica, ou ainda,   entre o abstrato do pensamento e o empírico de uma obra de arte concreta. 
No recente regime republicano o ILBA-RS não era a primeira tentativa para dotar o estado sulino de uma instituição de destinado as artes[2]. É possível associar estes fracassos aos interesses e à persistência de hábitos seculares gerados pela política concentradora do período colonial e imperial brasileiro[3] e que, desde a sua origem, era centrada na figura do rei ou do Imperador[4]. Na política imperial não houve  incentivos institucionais na província periférica do Rio Grande do Sul muito menos para instituições de artes.



[1] - A Federação 04.04.1908 (cópia datilografada do Arquivo do IA-UFRGS)
[2]  - Existe em Porto Alegre, na primeira fase republicana, uma abundante emergência de instituições voltadas ao ensino da música.  O tema foi objeto de pesquisa de Cláudia Maria Rodrigues sob a orientação da Drª Maria Elizaberh Lucas.  O próprio Olímpio Olinto de Oliveira havia ajudado a ciar o ‘Instituto Musical de Porto Alegre’ em 1897 e que se irá transformar no Clube Haydn (1897-1968) (Corte Real, 1980 pp.29 – 40 e Cavalheiro Lima, 1956 p.35). O mesmo vale para as principais cidades do Rio Grande do Sul, com especial destaque para Pelotas e Rio Grande. RODRIGUES, Cláudia Maria Leal.  Institucionalizando o ofício de ensinar: um estudo histórico sobre a educação musical em Porto Alegre (1877-1918). Porto Alegre : Departamento de Música IA-UFRGS, dissertação,  2000. 236 fls.
[3] -  Faoro constatou (1975, p. 366)  “a influência política, depois do breve período da Independência e da indefinição regencial, será cada vez mais irradiada do centro para a periferia, numa obra de compressão centralizadora”. Raimundo Faoro é referência constante na presente texto, e que se justifica pelo fato de ser antigo aluno da Faculdade de Direto de Porto Alegre, portanto fruto do projeto civilizatório republicano sul-rio-grandense,  membro ativo da abertura política brasileira (1979-1985), na sua ação decisiva na OAB e autor  de ‘Donos do Poder’ obra fundamental, que considera a  totalidade luso-brasileira e o papel das leis na ótica de Max Weber,.
[4] - Segundo Gauer (2001: p. 248) “O Imperador (em 01 de dezembro de 1822) procurou instituir o vínculo político, fora do qual não poderia dar-se o vínculo social, isto é, à sociedade civil seria representada por ele. Com essa posição vinculava-se a sociedade e Estado: o Imperador era a nação”.  GAUER, Ruth Maria Chittó. A construção do Estado-nação no Brasil: a contribuição dos egressos de Coimbra . Curitiba : Juruá. 2001. 336 p

Fig. 06 –  O Regime Republicano entrou num franco processo de propaganda e sustentação do seu ideário. O jovem gaúcho colocado no cenário do Monumento a Júlio de Castilhos é uma tantas amostras deste projeto levado e sustentado no ideário do Novo Regime. As sangrentas revoluções de 1893 e de 1923 são índices da reação a esta propaganda, marketing e efetiva distribuição de cargos a quem entrava e concordava com neste encilhamento ideológico..

02 – Um NOVO REGIME e a sua REPRODUÇÃO

02.1. O REGIME REPUBLICANO BUSCA 
FORMAR AGENTES para a sua REPRODUÇÃO

O novo regime republicano aproveitou este vazio institucional da política concentradora no trono imperial brasileiro, para revertê-lo, rendendo dividendos políticos aos novos agentes. As iniciativas particulares, ocorridas durante o período imperial, não tiveram continuidade institucional, mesmo as de inspiração republicana, como foi o Parthenon Literário de 1868[1]. O ideal republicano  tomou forma política mais consistente na criação do Partido Republicano Rio-grandense na sua convenção de 23.02.1882 e, dois anos depois, na fundação do jornal A Federação (1884-1935)[2]. As representações da exótica filosofia positivista continuaram a alimentar o discurso e a legislação do primeiro regime republicano após este  empolgar o poder, em 1889. Olinto de Oliveira, o principal líder da fundação do Instituto, não aceitava esta doutrina.  Ele estava atento ao campo erudito, não admitia que os seus colegas médicos se dobrassem às doutrinas e aos compromissos políticos estranhos à autonomia profissional da classe[3]. Olinto distinguiu claramente o comtismo do positivismo[4].
O corpo maior da legislação, que autorizava a criação dos cursos superiores livres,  provinha da lei federal nº 1.232, de 02 de janeiro de 1891. A sociedade civil recebeu a incumbência de acompanhar a criação e o controle das mantenedoras das instituições republicanas. Esta concepção era expressa na Constituição, promulgada em 24 de fevereiro de 1891[5] e em especial no artigo 73, § 3º. Este artigo foi regulamentado, pela lei nº 173[6], assinada na data de 10 de setembro de 1893 em plena ‘Revolta da Armada’. Esta lei desvinculava as associações do controle estatal, ao estilo do regime imperial decaído, delegando , em 18 artigos, o espaço para a sociedade civil exercer este papel utilizando um contrato público. Assim, o seu Artigo 1º determinava que as associações que se fundarem [...] poderão adquirir individualidade jurídica inscrevendo o contrato social no registro civil da circunscrição onde se estabelecer a sua sede. O Artigo 2º artigo prescrevia que ‘a inscrição far-se-á à vista do contrato social, compromisso ou estatutos devidamente autenticados, os quais ficarão arquivados no registro civil. O seu caput A organização das associações que se fundarem para fins religiosos, morais, científicas, artísticas, políticas ou de simples recreio“, foi literalmente citado quando se realizou a primeira reunião ordinária da Comissão Central do ILBA-RS[7]. A Carta Constitucional do Estado do Rio Grande do Sul, promulgada no dia 14.07.1891, intercalou-se entre essas duas legislações federais. É uma peça jurídica  singular, um verdadeiro Estado sulino dentro do Estado nacional e com a marca absolutamente pessoal de Júlio de Castilhos[8]. A Constituição castilhista teve influências muito mais duradouras, do que a doutrina positivista, projetando-se para além da Revolução de 1930. Ao mesmo tempo gerou sangrentos conflitos, em 1893 e 1923, entre os que a sustentavam e aqueles que divergiam das diretivas de Júlio de Castilhos. Durante a Primeira República o poder político esteve nas mãos das oligarquias regionais, conforme estudo de Noll (1980: 21). No final,  estas oligarquias regionais, uniram-se ao redor da imagem de Getúlio Vargas para dar corpo à Revolução de 1930[9].



[1] - MACHADO, Antônio Carlos «Breve História do Partenon Literário » in Revista do Museu  Júlio de Castilhos e Arquivo Histórico   
                do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Secretaria de Educação e Cultura, 1956,  pp. 111/125.

[2] - O duas vezes prefeito eleito de Porto Alegre, Tasso Genro, caracterizou  (1996, p. 103),  “o jornal A Federação como um órgão de combate político e um divulgador de idéias. Através dele são vertidos os princípios políticos que são sustentados por Castilhos e mais tarde por Borges de Medeiros. A função divulgadora de A Federação e o papel de propaganda republicana e de defesa do castilhismo, que ela exerce, mostram que não era por mero caudilhismo que o castilhismo-borgista sensibilizava enormes contingentes humanos”.
[3] - Em dois artigos publicados no Correio do Povo, com as datas de 20.10.1898 e 05.11.11.1898, ele insurge-se contra o sectarismo positivista do jornal semi-oficial A Federação, deixando claro, sem pseudônimo, as suas desconfianças e as suas descrenças naqueles que desejavam transformar o positivismo em seita dogmática. Enfrentou a classe médica, que se havia rendido a esse dogmatismo, na pessoa de Protásio Alves, seu colega de profissão e escola, que depois irá ser figura de relevo na administração de Borges de Medeiros. “Dou-me por feliz, eminente patrício, de ter minha boa estrela me preservado sempre das imposições dogmáticas de quem quer que seja, assim como do espírito de seita, uma das causas mais funestas, no dizer de Turgot dos desvirtuamentos a que podem sucumbir as melhores inteligências e os melhores caracteres”. Esse embate direto com Júlio de Castilhos, redator na época da A Federação, foi estudado pelo seu cunhado e também médico, Gonçalves Vianna em texto de 1945.
                              Olinto de Oliveira, Correio do Povo, 20.10. 1898 e in Gonçalves Vianna, 1945, p.36
[4] - Olinto de Oliveira distinguiu claramente o poder fluindo e a mitificação dessa doutrina na periferia cultural “A palavra positivismo tem evoluído e já não se apoia somente no ponto de vista exclusivo de Augusto Comte. Ela abrange os esforços de todas as escolas empíricas modernas, em contraposição as do idealismo e forma com esta a dupla corrente das especulações filosóficas modernas, cuja tendência convergente se torna cada vez mais acentuada apesar da aparente oposição em que se acham”.
                                 Correio do Povo, 05.11. 1898 e in Gonçalves Vianna, 1945, pp.44/5
        Esses dois artigos de Olinto, o contexto que os geraram e as repercussões, foram amplamente analisados pelo o doutor Gonçalves Vianna seu discípulo, cunhado, médico e confrade na Comissão Central no Instituto.  (Gonçalves Vianna, 1945: 21-49).
[4] - O pensamento e as crônicas de Olímpio Olinto de Oliveira estão sendo resgatados e sistematizados pela pesquisadora Cláudia Maria Gonçalves, do programa de pós-graduação de Música do Instituto de Artes da UFRGS sob a orientação da Profª Drª Maria Elizabeth Lucas.
[5] - A Primeira Constituinte Republicana Brasileira esteve reunida entre os dias 15 de novembro de 1890 até 24 de fevereiro de 1891 quando foi proclamada a primeira Carta Magna Republicana Brasileira. A República procurava, nessa Constituinte, demarcar fronteiras claras entre o governo, o Estado Brasileiro e a sociedade civil. Como instrumento dessa política de transferência das responsabilidades educativas do Estado brasileiro republicano, foi regulamentado o  artigo 73 dessa Constituição  pela Lei Federal no  173 de 10.09.1893. O Decreto Lei no 1232 de 02.01.1891, que criava essas Escolas Livres, foi editado, portanto, durante o período da constituinte. O pintor paraibano Pedro Américo estava entre os constituintes republicanos, representando o seu valente e orgulhoso estado natal. Sobre as razões da presença e ação desse pintor no seio da Constituinte não se localizaram dados. Acredita-se que as questões relativas às escolas livres e o ensino das artes não lhe deveriam ser indiferentes. O quadro ‘Justiça e Concórdia’,  que pintou em 1895, pode ser lido como um dos índices dos sentimentos que se passavam  na alma desse artista.
[6] - A Lei nº 173 de 17.09.1893  regula a organização das associações que se fundarem para fins religiosos, morais, científicos e artísticos”.  Essa lei republicana inverte a direção apontada no regime imperial pelo Decreto n. º 2.711 de 19 de dezembro de 1860 que segundo  Bastos criava “uma vasta rede de prevenções contra as sociedades anônimas, assim, mercantis como civis (art. dois. º, pr., da Lei), assim religiosas como profanas, assim literárias como políticas (art. 27, 33 e outros do citado Decreto).  E para que não reste dúvida alguma acerca dos poderes de que investiram o já poderosíssimo Estado, o Decreto repete com a Lei que a ele pertence, primeiro que tudo decidir se o objeto ou fim da companhia é lícito e de utilidade pública”   (in  Faoro, 1975 p. 430).
[7] - Livro nº I das atas da Comissão Central, f. 4v, em 01.105.1908.
[8]  - Love descreveu (1975, p. 49) a origem e a estrutura da 1a  Constituição Republicana, que segundo ele  “o documento foi obra inteira de Castilhos, como Assis testemunhou poucos meses após tê-lo visto pela primeira vez.. Levando em consideração a Constituição proposta, a Assembléia Constituinte limitou-se basicamente a debater medidas que fariam o Executivo ainda mais poderoso do que o projeto original. Quando saiu a Constituição, uma versão quase inalterada do original de Castilhos, suas provisões importantes eram: 1- Legislativo unicameral com autoridade restrita a questões orçamentárias; 2- Executivo com mandato de cinco anos e com poderes de legislar por decreto sobre questões não financeiras,, a menos que a maioria das Câmaras Municipais rejeitasse uma lei determinada;3- Nomeação do Vice-Governador, pelo próprio Governador; 4-  Reeleição consecutiva do Governador, contanto que obtivesse três quartos da votação total; e 5-ampla e estrita separação dos poderes ‘espirituais’ e ‘temporais’ ”. Castilhos pessoalmente provocara, como constituinte republicano, grande celeuma na capital federal com a sua tese que  “os Estados, como garantia de sua independência, socorreriam a União, nas suas necessidades”. (Faoro, 1975: 466).  
LOVE, Joseph L. O regionalismo gaúcho. São Paulo : Perspectiva, 1975.  282 p.             
[9]  - Maurício Lacerda, na década de 1920,  declarava que “o maior inimigo da revolução não eram as elites, como se pensava, mas as lideranças civis que mudaram de lado”. in Meirelles, 2005, p.245.
 MEIRELLES, Domingos. 1930:  os órfãos da Revolução. Rio de Janeiro : Record 2005, 761 p.


Fig. 07 –  O Rio Grande do Sul atualizou a sua inteligência, suas modas e sua tecnologia ao longo do Primeiro Período Republicano. Porém sem indústria efetiva, sem pesquisa e sem um pacto social coerente tornou-se incapaz de sustentar um nutrido comércio econômico, cultural e social com os países e as regiões hegemônicas da época. O Rio Grande do Sul era, e continua sendo,  condenado a CONSUMIR o que JÁ foi CONSUMIDO em outras culturas sem gozar do direito à uma pesquisa própria e com sustento eficiente para a sua reprodução permanente. As manifestações estéticas  são índices da inteligência,  porém sem uma pesquisa sustentável e própria. Nestas circunstâncias é impensável uma memória coletiva e própria para  fundamento de um efetivo e coerente pacto social, político e econômico.
[clique sobre o gráfico para ler]

Graças à Carta de Júlio de Castilhos o Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul tornou-se possível, e se constituiu, como um fractal da sociedade civil local, formando uma verdadeira micro república. A ênfase na figura do Presidente, materializava-se nesta micro república do Instituto com a mesma ênfase da figura do Presidente do Estado do Rio Grande do Sul. O espaço institucional era autônomo de qualquer intervenção externa, mesmo oficial. Essa autonomia foi  louvada no Correio do Povo[1], no dia da fundação do ILBA-RS.
“A intervenção do Estado não é lógica senão quando estritamente, se limita a garantia, ao cultivo das ciências, liberdade e independência completa, emancipando-o de qualquer contraste oficial, não fazendo depender de dogma algum, de doutrina alguma, de interesse algum, em suma, libertado-o de todos os óbices desta espécie inteiramente estranho à ação da lei”.



[1] - Correio do Povo, 22.04.1908 (cópia do arquivo do IA-UFRGS).
Helios SEELINGER – “Pelo Rio Grande Pelo Brasil” Museu de Piratini-RS
Fig. 08–  O carioca Helios Seelinger (1878-1965) era visita constante em Porto Alegre. Foi um dos organizadores do Carnaval de Porto Alegre em  1925 e um dos incentivadores do Salão de Outono de junho de 1925. Nestas visitas colheu sentimentos, vontades e concepções que ganharam forma militar em 1930. Sintomática o título  do seu quadro “PELO RIO GRANDE - PELO BRASIL” cujo esboço foi publicado na revista Máscara no mesmo numero que resenhava  o Salão de Outono de 1925, coincide com o lema da Revolução de 1930. Este quadro foi pintado para o palácio do Governo do Rio Grande do Sul. Porém foi destinado depois ao museu da cidade de Piratini uma das capitais farroupilhas.

02.2. O REGIME REPUBLICANO BUSCA FORMAR 
AGENTES para a sua REPRODUÇÃO nas ARTES.

O jornal A Federação, no dia 10 de abril de 1908 e no dia seguinte o Correio do Povo publicavam a lista dos agentes centrais na fundação, da organização e na reprodução do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
“As comissões que o dr. Carlos Barbosa escolheu para, na capital, fazerem parte da fundação da academia, ficaram assim constituídas: pelo sexo gentil, dd. Olinta Braga, Amalia Iracema e Julieta Felizardo; pelos médicos, Drs. Olinto de Oliveira e João Birnefeld;  pelos engenheiros, Rodolpho Ahrons; pelos advogados Plinio Alvim  pelos dentistas e pharmaceuticos, Cirne Lima; pelo município, dr. Montaury; pelos industriais, dr. Possidonio Cunha; pela magistratura, dr. Joaquim Birnfeld; pela imprensa,Gonçalves de Almeida e Caldas Junior; pelo exército, Cel Carlos Campos; pela brigada, cel Carlos Pinto; pela armada,cap.tte. Otávio de Lima e Silva; pelo commércio, José Gertum; pelos operários, João Petersen; pelos estrangeiros, Ambrosio Archer, José Morini, G. Pfeifer; pelos maestros, Araújo Vianna ; pelos pintores, Libindo Ferrás, pelos funccionarios, tte-cel Aurelio Bittencourt e pelos acadêmicos, Ezequiel Ubatuba.
Nesta lista de nomes percebem-se as lideranças dos segmentos do Poder Originário e partir dos quais se erguia a administração do Rio Grande do Sul pelo governo de Carlos Barbosa entre os anos de 1908 e 1913. Destacam-se os méritos do ocupante do cargo e não eleição ou os votos dos pares.  É a vitória republicana do “self-made-man” e não os méritos nobiliárquicos, imperiais ou hereditários de uma casta.
Existem duas listam são índices das esperanças para dar apoio moral, simbólico e material para colocar no mundo prático também o monumento a Júlio de Castilhos, Em cada nome e cada local há necessidade de descobrir a origem e as obras e memória cultivada de cada destes agentes. Comunidades e lideranças, não só dedicadas à este governo passageiro, mas agentes ativos para bem coletivo do município e das corporações. Este universo imaterial soma-se ao mundo material onde ganhava corpo esta obra de arte. Universos solidamente moldados num projeto civilizatório coletivo e que buscava também formas para financiá-lo. Projeto que permitia num primeiro momento este projeto permitia o acompanhamento de sua elaboração a sua colocação no mundo físico e depois garantia a sua conservação. Nesta conservação este mesmo PROJETO permite,  acima de tudo, constituir e manter  uma PAUTA permanente e final de sua AVALIAÇÃO.
Fig. 09 –  Enquanto não se completava a construção do Palácio do Governo, iniciado na presidência de Carlos Barbosa, o presidente Antônio Borges de Medeiros despachava numa das salas da Biblioteca Pública. O seu retrato ocupa o eixo central desta sala de despachos presidenciais..

03 – Uma ESTÉTICA para o  NOVO REGIME

03.1. UMA ESTÉTICA adequada 
ao NOVO  REGIME POLÍTICO

O Rio Grande do Sul aproveitou o período da primeira euforia republicana, para criar os cursos superiores como de Engenharia (1896), de Medicina (1898) e de Direito (1900). Nesta euforia republicana a arte não foi esquecida. Na prática ela estava presente na mentalidade de todos e se materializava na renovação urbanística arquitetônica e escultórica[1], não só na capital, mas no interior do estado[2]. Criou-se um ambiente favorável para implementar o Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul, o que aconteceu no dia 22 de abril de 1908[3].  O Instituto incorporou as condições de uma célula viva que estabelecia e administrava as suas próprias leis aplicando esta autonomia ao espaço local. O convite para dar corpo a essa célula institucional autônoma na criação do ILBA-RS, foi dirigido para toda a população do estado. Este convite foi realizado pelos jornais, de forma aberta e transparente para o engajamento coletivo




[1]  - DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. Porto Alegre (1898-1920): estatuária fachadista e monumental, ideologia e sociedade. Porto  
                Alegre : PUC-IFCH, 1988, 208 f. Dissert.
 ____. Porto Alegre 1900-1920: estatuária e ideologia. Porto Alegre : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. 102p.
____. Rio Grande do Sul (1920-1940): estatuária, catolicismo e gauchismo. Porto Alegre : PUC-Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 1999. 377f.

[2]  - SILVA, Ursula Rosa da et  SILVA LORETO, Mari Lúcie. História da arte em Pelotas: a pintura de 1870 a 1980. Pelotas : 
              EDUCAT, 1996 180 p.

[3]  - TREVISAN, Armindo, «O Instituto de Artes da UFRGS». Veritas.: Porto Alegre, PUCRS Vol. 39, nº 156, pp. 687-696 dez. 1994.

Fig. 10 –  As mais expressivas e progressistas comunidades sul-rio-grandenses seguiam a renovação estética  do novo Regime Republicano. O centro da cidade de Cachoeira do Sul transformou a sua tirre da hidráulica num monumento de evidentes influências historicistas franceses de moda na época. Nem a mesmo podia faltar a designação de “Château d’eau[1]  conferido a este equipamento público.


03.2. A ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA e dos OFÍCIOS

O Rio Grande do Sul não foi poupado esteticamente dos mais diversos ‘revivals’ das tipologias artísticas desenvolvidas no final do século XIX e no início do novo. Por meio destes ‘revivals’ retornou-se ao artesanato, ao modelo do trabalho em guildas, em especial na categoria dos arquitetos, escultores, decoradores e moveleiros. As lições desenvolvidas na Inglaterra,  no movimento `Arts and Crafts´ (1880-1910) de William Morris (1834-1896) e de John Ruskin (1819-1900), não foram estudadas explicitamente em Porto Alegre. Contudo existem, no Rio Grande do Sul, vestígios claros desta estética sustentada pelo apogeu mundial da era vitoriana. Estes vestígios podem ser acompanhados nos prédios, nas fachadas, nas estátuas e no mobiliário desta época. O novo burguês estava ávido de mostrar e exibir a sua nova condição. Para ele interessava abrir a História da Arte e de retirar dali aquilo que reforçava a visibilidade de sua nova condição. As cidades sulinas ganharam sobrados e ruas, antes marcadas por séculos de pequenas e mesquinhas “casas coloniais em fita”, nas quais a metrópole condenara viver a gente da Colônia. Sobrados e ruas que agora  mostravam o triunfo da vida artística internacional modelados pelos ideais da burguesia que se apropriou, e, modelou a economia, a cultura e a arte para os seus interesses.
 Porto Alegre, na condição de capital  do Rio Grande do Sul,  se “decorava como sala de visita”  no início de século XX. Este esforço foi demonstrado no estudo de Bakos (1994: 144-151). Reforçava a sua condição com a emergência de novos atores sociais que foram estudados por Charles  Monteiro (1995: 39/48). Contudo a lógica da concentração de capitais, preferiu, no plano nacional,  a região sudeste do país.
Inauguração do monumento do Centenário da Imigração em 1924 - Imagem  in TUBINO 2007 p.133b
Fig. 11 –  Não é possível defender a unidade e uma única matriz na estética do primeiro regime republicano, mesmo num estado singular com o Rio Grande do Sul. O mesmo pode ser constatado na dessincronia dos imigrantes com a estética e projeto da pátria da sua origem. Enquanto o imigrante alemão imaginava e celebrava um “Heimatland” esta mesma “terra do seu lar” já não era cultivada na origem. As frequentes e abruptas mudanças dos regimes políticos nas pátrias de origem eram impossíveis de assimilar e justificar  pelo imigrante na sua nova pátria de adoção

03.3. O NOVO  REGIME POLÍTICO RENOVA 
o IMAGINÁRIO PÚBLICO

O monumento[1] a Júlio Prates de Castilhos (1860-1903) -colocado na Praça da Matriz (Marechal Deodoro) na área nobre e do prestigio oficial da capital do Rio Grande do Sul  - possui múltiplas e variadas leituras. No presente texto iremos contornar a sua descrição iconográfica e iconológica. O objetivo é lançar a atenção e olhar de retorno para o tempo e as circunstâncias de sua concepção, elaboração e entrega ao público no dia 25 de janeiro de 1913. Este momento carrega, apesar da sua visibilidade, o seu peso e no seu tamanho, numerosos índices que ultrapassam seu tempo e lugar. Envereda-se, pois, no que Alves escreveu (2004, p.55) reconhecendo que “esta obra é o marco de uma época do Rio Grande do Sul”. O presente texto e nas imagens irão explorar o monumento a Júlio de Castilhos como marco de sua época.  Como marco físico ele portador de um gigantesco universo de significados, índices e símbolos como é da natureza da obra de Arte. Esta obra também ultrapassa tudo aquilo que é possível perceber numa visita física, num texto descritivo ou em imagens físicas. Não se renuncia às palavras e nem as imagens pois estas guiam a mente e olhar de quem quiser  conferir fisicamente, num determinado momento, experimentar fisicamente esta obra e tirar as próprias conclusões.
O Monumento a Júlio de Castilhos é portador e um dos índices dos portentosos cinco anos que coincidem e se expressam num período administrativo exemplar do governo de Carlos Barbosa Gonçalves. Esta administração concebeu, fez executar e entregou esta obra no último dia do seu quinquênio de governo. A administração estadual do Rio Grande do Sul incarnou uma época na qual tiveram oportunidades novas mentalidades. Mentalidades que criaram obras físicas gerando outra imagem física coerentes com projetos, e expressões de uma nova concepção do exercício do poder. Pode-se falar mesmo de um período anterior a 1908 e após 1913. O Monumento a Júlio de Castilhos está colocado neste contexto amplo constituindo um índice físico e mental abrangente, como sugere o nome deste Estado.

O interior do prédio da Biblioteca Púbica do Rio Grande do Sul  construído ao longo dos quatro anos do Governo Carlos Barbosa serviu de palácio governamental para o governo de Borges de Medeiros enquanto continuavam as obras daquele que seria denominado depois Palácio Piratini. As decorações pictóricas de Ferdinand Schlatter[2]. Contudo os objetos, móveis, molduras e lustres e tapetes inscrevem nas tendências  estéticas que regem as formas plásticas do  Monumento a Júlio de Castilhos
Numa cultura, ainda muito próximo da Natureza, evidencia-se em 2015, que esta obra física e mental do Monumento a Júlio de Castilhos também se naturalizou, corre para a entropia universal e até desliza para as depredações as mais grosseiras, abjetas e  agressivas.  O preço físico e simbólico, destas depredações, é incalculável e de abrangências devastadoras para qualquer cultura ou civilização que se deseja ver presente e apreciada no âmbito mundial.
O projeto do Monumento a Júlio de Castilhos é do artista Décio Villares (1851-1931) autor da reelaboração visual do desenho da bandeira brasileira.
Os bronzes foram confeccionados e fundidos na França conforme este projeto.  Estrutura da elevada pirâmide central e a plataforma da base e escadarias foram elaboradas com o granito rosa dos morros de Porto Alegre nas oficinas de escultura de Aloys da capital.
BORGES de MEDEIROS 1863-1961   -   JÚLIO de CASTILHOS 1860-1903       - GETÚLIO VARGAS 1882-1954
Fig. 12 –  Na prática o hábito imperial  rebrotava por meio do cultivo de um personalismo exacerbado do líder sem trono e cetro. Porém  esta figura continuava a exercer, de fato, o mesmo poder imperial, monocrático e centralista. Os articulistas da revista Madrugada[1] escreveram em 1926 que “a mudança do regime monárquico foi apenas, entre nós, uma substituição de acento grave por agudo, na personagem governativa, o que vale dizer uma pura questão gramatical”[...] passamos do governo dos reis ao império dos reis para entidades perfeitamente concretas, bem soantes, amadas e poderosas”. A culpa deste culto imperial não eram as personagens, em si mesmas, mas o hábito colonial de uma população servil.


04 – DIFICULDADES do  NOVO REGIME

04.1 – GENERALIZAÇÕES APRESSADAS sobre 
a ESTÉTICA do NOVO  REGIME POLÍTICO

Alguns temerários generalizam estes símbolos nacionais e todo o Monumento à Júlio da Castilhos, encobrem todo este período e o monumento com as doutrinas positivistas[2]. Contra a generalização indiscriminada das doutrinas positivistas Olinto de Oliveira médico e doutor em pediatria já havia escrito dois artigos e publicados em 1898[3].
E verdade que o positivismo para efeito de propaganda e marketing era um prato popular, pronto e disponível para qualquer orador, político ou jornalista quisesse agradar o público e principalmente mostrar o seu vínculo com a França e com toda a sua cultura. Isto era outro equívoco, pois a cultura, a arte e pensamento francês nunca se reduziram e nem se pautaram pelo pensamento do seu cidadão  Isodore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1852).

O Vice Presidente do Estado do Rio Grande do Sul escreveu no dia 22 de abril de 1908, primeiros dias do governo Carlos Barbosa.
“Tinhamos já a escola de engenharia, a faculdade de medicina e mais a de direito. Quer dizer: sem possuirmos felizmente uma sciencia official, onde os conhecimentos humanos se debatem na estreiteza de programmas que os deformam e desfiguram, entretanto dispunhamos, graças a iniciativas benemeritas - de todas as academias scientíficas indispensaveis as expansões sadias e fecundas de um meio culto como o nosso.   E o complemento necessário das sciencias, como é sabido, são as lettras e as bellas artes”.
Esta forma desassombrada de se expressar e declarar publicamente os seus ideias, em 1908, era lastreado e provinha do âmbito das energias de um Estado Regional que havia sido declarado “SOBERANO” pelo artigo 3º do Decreto nº 1, que instituía ao Regime Republicano no dia 15 de novembro de 1889[4]. A revolução de 1930 e depois o Estado Novo irão reagir a expansão destas energias das mentalidades provenientes da “SOBERANIA” estadual e restringi-las para a “AUTONOMIA”. Nestas restrições o ESTADO NACIONAL  nomeou o seu interventor e queimou publicamente a bandeira sul-rio-grandense. entre as dos demais estados.



[1]  Revista Madrugada Porto Alegre, ano 1, nº 5. Dia 04 de Dezembro 1926 (sem paginação).
[2] - Décio Villares foi discípulo, em Florença, de Pedro Américo de Mello Figueiredo (1843-1905). Este escreveu e defendeu publicamente,  em 1867, a sua tese de doutorado:  “Os Sistemas das Ciências” procurando distância das tendências positivistas que buscavam abrigo na Universidade Livre de Bruxelas. Assim no autor do Monumento a Júlio de Castilhos mais os signos, técnicas e temas da Belle Époque (Art. Nouveau) triunfantes na época da concepção e elaboração formal deste monumento da capital sul-rio-grandense. Para quem tiver dúvidas na conexão entre o monumento a Júlio da Castilhos  e a doutrina positivista é bom retornar à fonte original de Isodore Auguste Marie François Xavier Comte (1798-1852) e verificar coincidências e aquelas que não são tão coincidentes assim com o Monumento a Júlio de Castilhos.

[3] Ver Correio do Povo, 20.10.1898 e 05.11.1898. (microfilme Museu Hipólito da Costa).

[4] Decreto nº.1  de 15.11.1889 do Governo Provisório “proclama a republica e dá outras providências”,
ERECHIM-RS – Castelinho de Madeira da Companhia de Colonização
Fig. 13 –  O primeiro regime republicano empreendeu um estorço e uma determinação focada na ocupação territorial do Rio Grande do Sul que se refletiu especialmente na ocupação das férteis terras do Alto Uruguai. Entregues a companhias de colonização estas traçavam linhas de ocupação nas quais se alternavam as diversas etnias para não repetir o erro do Regime Imperial de concentrar pequenas pátrias estrangeiras e sem comando político além daquele de sua origem. Ao mesmo tempo permaneceram reservas indígenas, toldos e eventuais quilombolas

04.2 – O  NOVO  REGIME POLÍTICO INVESTE num 
VASTO PROGRAMA PARA TODO TERRITÓRIO do 
RIO GRANDE do SUL.

Seria um erro a fixação da atenção apenas sobre o monumento a Júlio de Castilhos ou sobre as obras realizadas na capital do Estado da administração Carlos Barbosa. Ela projetou e esteve ativa em todo território sul-rio-grandense. Haveria necessidade de buscar os índices e escrever o que significou o período de 1908 até 1913 em cada uma das administrações municipais das comunidades espalhadas pelo território do Rio Grande do Sul. Porém ali reside outro equívoco e tabu. A História dos municípios e as comunidades, espalhadas pelo território do Rio Grande do Sul, é considerada menor. Se por acaso  ganha algum vulto é esquecida. Os seus documentos e arquivos considerados velharias, coisas esquisitas e coisa de quem nada tem a fazer. Ou então são mitificados e fonte de fantásticos lucros que nunca se confirmam. È necessário recorrer aos arquivos norte-americanos para ter acesso aos relatórios anuais dos presidentes da Província e do Estado do Rio Grande do Sul.
O prédio do Arquivo Público do Rio Grande dos sul reflete  a preocupação profissional do Governo Carlos Barbosa com o trato da “coisa pública”  e com a responsabilidade fiscal. O secretário simultâneo das Obras Públicas e da Fazenda Cândido José de Godoy tinha por princípio o equilíbrio financeiro entre o projeto da  receita aprovada pela Assembleia dos Representes do Estado e as despesas sem manter estoques. Este fluxo tinha de possuir um rígido controle profissional,  mas permitia empreender obras de toda natureza pelo Estado afora. Godoy, com experiência teórica e prática na construção e manutenção das conexões ferroviárias, tinha empenho para que as locomotivas chegassem aos pontos mais dinâmicos do território e fizessem fluir as riquezas do Rio Grande do Sul. 
Fig. 14 – O prédio do Museu e Fundação Carlos Barbosa em JAGUARÃO-RS[1]. Residência deste médico e presidente do Rio Grande do Sul, no período de 1908 até 1913, foi preservado como bem público e um referencial de uma etapa significativa e única do Primeiro  Regime Republicano sul-rio-grandense. A arquitetura jurídica e as fontes orçamentarias desta fundação para a sua manutenção também são exemplares e coerentes com os bens a preservar

04.3 – A DELEGAÇÃO de PODER  do NOVO  REGIME POLÍTICO

Na criação e manutenção do Instituto Livre de Belas Artes  do Rio Grande do Sul a administração da presidência do Estado delegava a sua autoridade para  sessenta e cinco nomes e como representantes para a constituição das comissões municipais como bases locais [ver ANEXO]. Cada nome desta lista possui profundo significado em cada município atual. Muitos deles são cultivados pela memória local, com monumentos e os seus nomes dados à espaços públicos.
Da relação destes nomes, de comunidades e de encargos é possível perceber as concepções que a administração Carlos Barbosa possuía da verticalização e concentração do Poder Originário num único agente político. Na mão contrária são índices da imediata e prudente delegação deste poder central para nomes, comunidades e encargos com vínculos diretos e próximos com o poder Originário. Delegação de autoridades e de competências que permitiram realizar -  num único período administrativo e sem reeleição - esta soma de obras em todo território sul-rio-grandense. Obras entre as quais o Monumento a Júlio de Castilhos é um dos índices.

O Projeto e o início das obras do Palácio do Governo (Piratini)  foi aprovado e iniciado no mesmo Governo Carlos Barbosa que conduziu o projeto, a execução e a conclusão do Monumento a Júlio de Castilhos. Com tendências estéticas contemporâneas entre si, as duas obras enfatizam o mesmo índice da propaganda e marketing de um ESTADO declarado SOBERANO. Propaganda e marketing proveniente de uma ideologia, de um partido hegemônico e de uma carta constitucional presidencial e que necessitavam uma casa de governo digna destes projetos.  
Carlos Barbosa era originário de Jaguarão e para onde retornou após a sua administração. Manteve-se neutro após este período e as sua memória é cultivada por uma fundação. No conjunto é possível perceber uma preocupação é um respeito continuado com o Poder Originário. Evidente que seguia a Carta Constitucional  de 14 de julho de 1891 de Júlio de Castilhos. No entanto foi muito cuidadoso e coerente na delegação da sua autoridade para competências competentes com o objetivo de expressar os sentimentos e colocar em obras as vontades da sociedade organizada. Assim escolheu e delegou par uma Comissão  Central que iria dirigir o Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Nesta escolha da delegação da sua autoridade presidencial teve por referência nomes significativos e lideranças reconhecidas das profissões e legitimadas pelo Estado.
Fig. 15 –  O cenário dos palácios e os seus  jardins previstos pelo arquiteto francês Maurice Grass para o palácio do Governo do Rio Grande do Sul[1], constituem índices do poder simbólico e imaginado para a sede do governo do ESTADO SOBERANO do RIO GRANDE do SUL e coerente com o Decreto nº 1 as Proclamação da Republica Brasileira, Mesmo que estes projeto não tenha sido levado literalmente ao mundo real, o que chegou a ser construído não desmente este poder imaginado.

05 – MATERIALIZAÇÕES do IMAGINÁRIO do NOVO REGIME

05.1 – UM PALÁCIO PRESIDENCIAL  para o 
NOVO  REGIME POLÍTICO.

  A face Sul do Palácio do Governo com os seus jardins abriram um enorme espaço urbano para os padrões da primitiva cidade açoriana ocupando toda uma quadra.  Espaço urbano conquistado por este projeto impede de ignorar a propaganda e o marketing de uma ideologia, de um partido hegemônico e de uma carta constitucional presidencial. Neste aspecto é possível ignorar o Monumento a Júlio de Castilhos em relação  à Praça da Matriz. Nas  obras do Governo Carlos Barbosa como no Monumento e no Palácio do Piratini  paira a imagem do poder estatal  acima de qualquer agente individual e passageiro e preparadas para cumprirem o se papal simbólico por tempo indeterminado.



[1] - Palácio do Governo do Rio Grande do Sul – Palácio Piratini https://pt.wikipedia.org/wiki/Palácio_Piratini
Fig. 16 –  Os três poderes do Regime Republicano Brasileiro estão próximos entre si em Porto Alegre. Os seus respectivos prédios se encontram na mesma colina. Porem não estão isolados ou desamparados do  PODER ORIGINÀRIO do Estado do Rio Grande do Sul. Este possui também  espaço e equipamentos que o representam tão bem como o imaginário e a cultura simbólica que dá sentido e função do exercício do poder estatal de um governo de origem e voltado para a sua própria fonte.

05.2 – O  NOVO  REGIME POLÍTICO em BRONZE e GRANITO
  O Monumento a Júlio de Castilhos coloca-se como ponto de equilíbrio homeostático entre os Poderes Legislativos, Executivo e do Judiciário do Rio Grande do Sul que cercam a Praça da Matriz de Porto Alegre.   A figura do jovem gaúcho busca a vinculação  simbólica que estes três poderes formais e consagrados do Estado  possuem  com o Poder Originário.   A produção agropastoril continuava, ao longo do Governo de Carlos Barbosa, uma longa tradição de ocupação e desenvolvimento rural e urbano do território do Rio Grande do Sul e que continua a projetar-se até o presente.
Diante de alguns destes poucos  dados chega-se à conclusão de que o Monumento a Júlio de Castilhos é um índice das expressões de um amplo leque  conexões políticas, econômicas e culturais. Ele não se basta a si mesmo e constitui uma peça isolada e cujo sentido se esgota no seu próprio sentido.  Ele cria forma legível para uma época onde mentalidades e obras físicas criaram uma outra imagem e um nova concepção de governar.
A figura do jovem gaúcho colocado na face Sul do Monumento a Júlio de Castilhos vestido a caráter traz para o bronze a mesma ênfase literária da obras Contos Gauchescos (1912) e Lendas do Sul (1913) de   João Simões Lopes Neto (1865-1916) ou do republicano João Cezimbra Jaques (1848-1922). Esta figura é uma primeira obra em bronze desta figura do gaúcho. Representação que será contornada e seus símbolos banidos durante o Estado Novo. A reação posterior e contrária a esta tabu do totalitarismo estatal e nacionalista unitário  irá transforma esta representação em totem e divulgado no Brasil e mundo pelos Centros de Tradições Gaúchas  e cuja matriz foi apropriada novamente do Uruguai.

05.3– O TÉRMINO de um  TEMPO de SONHOS e  EUFORIAS
A inauguração do Monumento a Júlio da Castilhos no dia 25 de janeiro de 1913 marcava não só o fim de uma administração e de um modo de governar. Na atmosfera cultural da humanidade se acumulavam mais uma vez as altas energias da destruição, da morte e da entropia. A centelha do tiro deflagrado  em Saravejo, no verão de 1914 no dia 28 de junho, que vitimava o Arquiduque da Áustria, foi a senha, há muito aguardada, para devastar uma civilização pelos fogos, sangue derramado e mortes industrialmente planejadas e executadas como jamais a humanidade sonhara ou tinha visto até aquele momento. O que sobrou em Porto Alegre - do período de 1908 até 1913 - perdeu as suas raízes culturais europeias e passou a significar muito pouco diante da barbárie da qual a humanidade s e mostrou capaz de 1914 até 1918. O esquecimento, a naturalização e as agressões físicas que o Monumento a Júlio de Castilhos sofre é um índice desta barbárie, deste esquecimento e deste desprezo por uma época, pela sua mentalidade e por suas obras.
Fig. 17 –  A cidade de Pelotas- RS produziu, no inicio do Regime Republicano, um rico e variado imaginário regional, estadual nacional do qual a obra de Simões Lopes Neto é uma das muitas expressões simbólicas.  Na era Pós-Industrial a mesma cidade,  estuda, recupera e a preserva os BENS MATERIAS do seu PASSADO. Neste projeto  prolonga as FUNÇÕES PRÁTICAS deste seu patrimônio. Politicamente este projeto possui um  potencial ECONÔMICO, ESTÉTICO e SOCIAL único.  Potencial politico na forma  de  bens do  PODER ORIGINÁRIO. Bens, espaço e equipamentos voltados para a própria fonte do imaginário e da cultura simbólica do poder estatal que se expressa e confere sentido ao exercício do Estado do Rio Grande do Sul.

ANEXO
Nomes dos agentes mais significativos dos municípios do Rio Grande do Sul foram nomeados no Correio do Povo no dia 11 de abril de 1908 como apoiadores e presidentes das Comissões Regionais do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul.
Alegrete, Coronel Ortiz, cel Freitas Valle Filho, dr. Lauro Dornelles e dr João Benício da Silva; Alfredo Chaves, cel Peregrino Guzzo; Antonio Prado, Innocencio Müller; Arroio Grande,  Manoel Antonio Maciel; Bagé, cel José Octavio Gonçalves, visconde Ribeiro Magalhães, Emilio Guillayan e dr. Figueiredo Teixeira;  Bento Gonçalves.cel.Balthazar de Bem ; Cachoeira, tte, cel. Isidoro Neves da Fontoura, cap. Antunes Araujo e dr. Balthazar de Bem;   Cacimbinhas, cel Avelino Goulart;  Cangussu, coronel Genes G. Bento e dr. Cezar Dias;Caxias,  tte, cel. Vicente Rovêa e cap. Abreu Lima; Conceição do Arroio, cel. Manoel Marques Rosa; Cruz Alta, Gen. Firmino Paula, drs. Cândido Machado e Augusto Guarita ; Dom Pedrito,Cel Longuinho Costa; Dores do Camaquam, cel. Manoel da Cunha Vasconcellos ; Encruzilhada,dr. Ulisses de Carvalho e tte cel Juvencio Fontoura;  Estrella, cel. Francisco Brito, Manoel Pontos Filho, Antonio Porto;  Garibaldi,cel. Jacob Ely e padre Franchetti ;   Gravatahy, cel. Horacio Gomes ;  Guaporé, Lucano Conero  ; Herval, Luiz Avila Siqueira;  Itaquy, cel Euclides Aranha, drs Tito Lopes e Galdino Santiago; Jaguarão, barão de Tavares Leite, dr, Fautino Corrêa, cel. Gabriel Gonçalves e cel. João B. Machado;  Julio de Castilhos, cel Azevedo ; Lageado, cel Oscar Karnal, tte cel. J. M. Mello, João Oliveira e Fritz Jaeger; Lagoa Vermelha, cel. Heleodoro Branco, dr. Antonino Machado;  Lavras,  cel. Galvão José de Souza, intendente Samuel Souza;  Livramento, cel   João Francisco, dr. Moyses Vianna e Dr. Augusto Pereira; Montenegro,  cel. Alvaro Moraes e Frederico Lampert; Palmeira, cel Julio Pereira dos Santos e major Nabuco; Passo Fundo,  cel. Gervasio Annes e dr. Dario de Vasconcellos;  Pelotas, cel. Pedro Osório, dr. Joaquim Osorio, Joaquim Assumpção, Edmundo Berchom e cel. Alberto Rosa;  Piratiny, Francisco Spindola; Quarahy,  cel. Miguel Correia, cel Olavo Saldanha, cel.João Maximo dos Santos e major Bento Lima; Rio Grande,  dr. Juvenal Müller, cel. Virgilio Porciuncula Junior e dr. Trajano Lopes; Rio Pardo, cel. Francisco Alves de Azambuja;  Rosário  dr. Arnaldo Ferreira e cel. Belarmino Franco; Santa Cruz,  coroneis Galvão Costa e Vsco de Azevedo e Souza;   Santa Maria,  dr. Vauthier e cel Dutra Villa; Santa Vitória,  coroneis Manoel de Deus Dias, Francisco Azambuja e dr. Manoel Vicente do Amaral; Santo Amaro,  Cel. Camilo Pereira; Santo Angelo, cel Braulio Oliveira ; Santo Antonio, cel. José Maciel ; São Borja, general Vargas e Lima, coronel Trois, Antonio Sarmanho e dr. Florêncio Abreu; São Francisco de Assis, cel. Manoel Pereira Vianna ; São Francisco de Paula,  cel José de Moraes Serrano;  São Gabriel,  intendente Menna Barreto, cel Francisco Hermenegildo, capitão Zozimo e dr. Diocleciano Azambuja; São Jerônimo,  dr. Francisco Flores e cel. Antonio Carvalho;  São João do Camaquam,  dr. Donario Lopes e Ludgero Ferreira; São José do Norte,  Alberto de Sá e Francisco Pereira; São Leopoldo, cel Goelzer Netto, Ernesto Silva e padre Lutzen; São Lourenço,  cel Crespo; São Luis Gonzaga,  gen. Salvador Pinheiro; São Sebastião do Cahy, Pedro Carvalho, Orestes Lucas e Arthur Candal Junior; São Sepé, Virgílio Silva, Antonio Manoel e Emiliano Brum; São Thiago do Boqueirão,  coroneis Eloy Tuca e Jeronimo Oliveira;  São Vicente,  cel. Severiano, José João e dr. Armando Prates; Soledade,  cel Antonil Ferreira e major Julio Cardoso; Taquara,  coroneis Diniz Rangel e Julio Petersen; Taquary,  cel João Pereira e cap. Franklin Praia; Torres, cel Julio Pacheco;  Triunpho,  cel Bibiano Castro e Ribeiro Tacques; Uruguaiana, drs. Sergio de Oliveira, Romaguera Correa e Rego Lima e Segismundo Kraemer; Vacaria,  cel Abelino Paim, dr, Firmino Paim e cel. Theodoro Camargo; Venancio Ayres, cel. Thoman Pereira ; Viamão,intendente e cel. Marcos de Andrade” .

FONTES BIBLIOGRÀFICA
ALVES de Almeida, José Francisco (1964).  A Escultura pública de Porto Alegre – História, contexto e significado – Porto Alegre : Artfólio, 2004  246 p.
.
ARENDT, Hannah (1907-1975). Condition de l’homme moderne. Londres: Calmann Lévy. 1983,

CINTRA GORDINHO Margarida LICEU de ARTES e OFÍCIOS de S. Paulo: missão de excelência [org. Margarida Cintra Gordinho]. São Paulo: Marca D’Água. 2000,  pp.21/26

COMTE, Augusto (1789-1857).  Opúsculos de Filosofia Social.  Trad. Ivan Martins. Porto Alegre : Globo. São Paulo : USP, 1972. 230p

Decreto nº.1  de 15.11.1889 do Governo Provisório “proclama a republica e dá outras providências”, Composto de 11 artigos  In Decretos do Governo Provisório. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1889, pp. 612 - 613.

DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. Porto Alegre (1898-1920): estatuária fachadista e monumental, ideologia e sociedade. Porto  
                Alegre : PUC-IFCH, 1988, 208 f. Dissert.
 ____. Porto Alegre 1900-1920: estatuária e ideologia. Porto Alegre : Secretaria Municipal de Cultura, 1992. 102p.
____. Rio Grande do Sul (1920-1940): estatuária, catolicismo e gauchismo. Porto Alegre : PUC-Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, 1999. 377f.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro Porto Alegre – São Paulo  Globo e USP, 1975.  2v.
GAUER, Ruth Maria Chittó. A construção do Estado-nação no Brasil: a contribuição dos egressos de Coimbra . Curitiba : Juruá. 2001. 336 p
GODOY, Cândido José de - Relatório da Secretaria de Estado dos Negócios das Obras Públicas - Rio Grande do Sul - Porto Alegre: Livraria do Globo 1911, 380 p. il.

GONÇALVES VIANNA (Raymundo).Olinto de Oliveira. Porto Alegre: Globo,1945. 161p.

KLEBER, Klaus «Um século entre a liberdade e a servidão» in Gazeta Mercantil, ano LXXIX,  nº 21.689,  15.10.1999.  Caderno  Fim de Semana, p..3

LEAL, Cláudia Maria.  Institucionalizando o ofício de ensinar: um estudo histórico sobre a educação musical em Porto Alegre (1877-1918). Porto Alegre : Departamento de Música IA-UFRGS, dissertação,  2000. 236 fls.
LAGEMANN Eugênio et  BONI Flávia – Palácio Piratini -  Porto Alegre : IEL, 2010, 144 p. il, col

LOVE, Joseph L. O regionalismo gaúcho. São Paulo : Perspectiva, 1975.  282 p.   
         
MACHADO, Antônio Carlos «Breve História do Partenon Literário » in Revista do Museu  Júlio de Castilhos e Arquivo Histórico   
                do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Secretaria de Educação e Cultura, 1956,  pp. 111/125
MARCHIORI BAKOS Margaret – Marcas do positivismo no governo municipal de Porto Alegre in Estudos Avançados  12(33) 1998 pp.213-226)

MAY, Rollo.  La necesidad del mito: la influencia de los modelos culturales en el mundo  contemporáneo. Barcelona: Paidos Contextos, 1992. 297p.

MEIRELLES, Domingos. 1930:  os órfãos da Revolução. Rio de Janeiro : Record 2005, 761 p.

MILLER,  Juvenal Octaviano  ( 1866 -1909)[1]O Rio Grande do Sul vae ter o seu Instituto de Bellas Artes Porto Alegre: Correio do Povo de 22 de abril de 1908   TOPICOS  DO  DIA

Olinto de Oliveira, Correio do Povo, 20.10. 1898 e in Gonçalves Vianna, 1945, p.36
SILVA, Ursula Rosa da et  SILVA LORETO, Mari Lúcie. História da arte em Pelotas: a pintura de 1870 a 1980. Pelotas:   EDUCAT, 1996 180 p.

TREVISAN, Armindo, «O Instituto de Artes da UFRGS». Veritas.: Porto Alegre, PUCRS Vol. 39, nº 156, pp. 687-696 dez. 1994.

TUBINO, Nina A germanidade no Brasil  Porto Alegre: Sociedade Germânia, 2007, 208, il

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ADMINISTRAÇÃO (15.01.1908-14.01.1913) CARLOS BARBOSA GONÇALVES

A FEDERAÇÂO – 1º número do 01.01.1884 criado ,em 21.03.1883,  pelo 2º Congresso Republicano

BIBLIOTECA PÙBLICA do RIO GRANDE do SUL

BORGES de MEDEIROS (1863-1961)

CAIS de PORTO ALEGRE
Ao longo da administração Carlos Barbosa e sob a supervisão de Cândido José de Godói – formado pela École de  Ponts et Chaussées com especialização em rios e canais -  a empresa de engenharia de Rodolfo Ahrons iniciou em 1911 as obras do cais do porto capital e que em 1913 atingiu 146 metros com uma profundidade de 4 metros
Cândido José de Godói era formado pela École de  Ponts et Chaussées da França

CAMPUS HISTÓRICO UFRGS
Ao longo da administração Carlos Barbosa foram construídos o Chateau – Faculdade de Direito e iniciada a construção da Faculdade de Medicina (1911)

CENTRO HISTÒRICO de PORTO ALEGRE

CEZIMBRA Jacques

Décio VILLARES

CÂNDIDO JOSÈ de GODOY (1858-1946)

MONUMENTO a JÙLIO de CASTILHOS

PARTIDO REPUBLICANO SULRIOGRANDENSE
O jornal A Federação[2]  1º número do 01.01.1884 criado ,em 21.03.1883,  pelo 2º Congresso Republicano
Quadro da proclamação de República 15.11.1889

 PEDRO AMÉRICO FIGUEIREDO
FIGUEREDO e MELO, Pedro Américo de – LA SCIENCE et les SYSTÈMES: questions d´histoire et de philosophie naturelle. Bruxelles : Gustave Mayolez, 1869, 169 p.
A CIÊNCIA e os SISTEMAS: questões de história e de Filosofia Natural (4ª ed) tradução de Gabriel Alves de Oliveira. João Pessoa PB : Edição Universitária/UFPB, 2001, 279 p.
Cartas de Pedro Américo:

Proclamação de República 15.11.1889

Revista O CRUZEIRO


SÉRIE de  POSTAGENS ARTE no RIO GRANDE do SUL

[esta série desenvolve o tema “ARTE no RIO GRANDE do SUL” disponível em http://www.ciriosimon.pro.br/his/his.html  ]

123 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 01
GUARDIÕES das  SEMENTES das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL



124 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 02

DIACRONIA e SINCRONIA das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL nos seus ESTÁGIOS PRODUTIVOS.




PRIMEIRA PARTE

125 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 03

Artes visuais indígenas sul-rio-grandenses




126 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 04

O projeto civilizatório jesuítico e a Contrarreforma no Rio Grande do Sul




127 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 05

Artes visuais afro--sul-rio-grandenses




128 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 06

O projeto iluminista contrapõe-se ao projeto da Contrarreforma no Rio Grande do Sul.




129 – ARTE no RIO GRANDE do SUL – 07

A província sul-rio-grandense  diante do projeto imperial brasileiro




130 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 08

A arte no Rio Grande do Sul diante de projeto republicano




131 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 09

Dos primórdios do ILBA-RS e  a sua Escola de Artes até a Revolução de  1930




132 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 10

A ARTE no RIO GRANDE do SUL  entre 1930 e 1945




133 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 11

O  projeto da democratização da arte após 1945.




134  – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 12

A ARTE e a ARQUITETURA em AUTONOMIA no RIO GRANDE do SUL




135  – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 13

A ARTE no RIO GRANDE do SUL entre 1970 e 2000



  
SEGUNDA  PARTE 
Iconografia e Iconologia das artes  visuais de diferentes projetos políticos do Rio Grande do Sul.

136– ARTE no RIO GRANDE do SUL - 13
As obras das artes visuais indígena do atual território do o Rio Grande do Sul.

137 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 14
Obras das artes visuais afro-sul-rio-grandense

138 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 15
Obras de arte dos Sete Povos das Missões Jesuíticas como metáfora da Contrarreforma

139 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 16
A “casa do cachorro-sentado” como índice açoriano no meio  cultural do Rio Grande do Sul .

140 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 17
Obras de Manuel Araújo Porto-alegre

141 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 18
Obras de Pedro Weingärtner

142 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 19
Obras de Libindo Ferrás

143 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 20
Obras de Francis Pelichek

144 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 21
Obras de Fernando Corona

145 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 22
Obras de Ado Malagoli

146 – ARTE no RIO GRANDE do SUL - 23
Obras de Iberê Camargo



[1] Vice Presidente do Estado do Rio Grande do Sul no dia da fundação do Instituto de Bellas Artes do Rio Grande do Sul

[2] - «A Federação» In Letras & Livros  Correio do Povo ano III, n.121, Porto Alegre 07.01.1984
Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários
Este material é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a formação histórica deste idioma.

ASISITÊCIA TECNICA e DIGITAL de  CÌRIO JOSÉ SIMON

Referências para Círio SIMON
E-MAIL
SITE desde 2008
FACE- BOOK
BLOG de ARTE
BLOG de FAMÌLIA
BLOG  CORREIO BRAZILENSE 1808-1822
BLOG PODER ORIGINÁRIO 01
BLOG PODER ORIGINÁRIO 02 ARQUIVO
VÌDEO

Nenhum comentário:

Postar um comentário