ARTE
e FOLCLORE.
Um Estado Nacional é sempre
uma construção artificial. Enquanto isto a Natureza continua a fluir livremente
e de forma gratuita. Neste fluxo contínuo e gratuito, da Natureza, o amor
e o povo não conhecem fronteiras políticas, econômicas ou culturais. As
energias do povo e do amor circulam como o ar, a água e o magnetismo. Sem qualquer
fronteira geográfica, do tempo ou da língua se interpenetram e reproduzem para
além do lugar e do tempo. Os chibeiros encarregam-se de manter aberta esta
circulação de bens materiais e simbólicos. Na sua construção artificial o Rio Grande
do Sul necessita prestar atenção ao seu contexto amplo ao seu próprio cenário histórico
[ZEITGEIST], material [WELTGEIST] e
populacional [VOLKSGEIST]. Esta
atenção precede qualquer conhecimento particular do seu recorte geográfico,
cronológico e étnico -
Fig. 01 Conectado
às redes mundiais de comunicações, jogando futebol herdado do ingleses e sem
esquecer a bebida indígena do chimarrão.- A acima sintetiza as três
manifestações culturais do Uruguai que costuram o seu tempo e espaço cultural. O Uruguai exprimido entre os gigantes
territoriais soube criar uma cultura, educação e uma identidade nacional que
compensa amplamente a desvantagem física. Na metade do século XX não só venceu
o Brasil no Maracanã, mas exportou ao
Rio Grande do Sul as formas de cultivo de sua tradição popular e que foram a
“sementes transgênica” dos CTGs
A cena de alguém manejando simultaneamente o
aparelho telefônico celular, a cuia e a garrafa térmica da água faz parte do
cotidiano da cidade e dos campos. Neste hábito descobrem-se uma das numerosas
expressões de projeto de identidade coletiva sul-rio-grandense cultivada num
tumultuado presente.
Fig. 02 - O mundo
material e imaterial do Paraguai possui a mesma garra do Uruguai na busca de su
identidade própria. Um país bilíngue preserva uma indestrutível identidade
do seu PODER ORIGINÁRIO. Desde a turbulenta passagem (1540-1545) de Alvar Nuñez
CABEÇA de VACA (c.1492-c.1560)
a sua
capital Assunção recebe e irradia esta energia
que toma as formas as mais variáveis
As raízes deste hábito se perderam no tempo e no
espaço. Num olhar pelo retrovisor encontra-se um texto datado de agosto de
1896 de ALFREDO FERREIRA RODRIGUES
(1865-1942). Este texto traça um panorama de traços de uma cultura que estava
desaparecendo com século XIX, aqueles que estavam vigentes no seu tempo e
aqueles que ele se imaginava que iriam permanecer como hábito vivo. Este texto constitui, no presente, um sólido
pilar para esta fluida e imprevisível memória humana que busca elementos
logísticos e objetos físicos para saber a sua origem.
Como representante comercial da Livraria
Americana ALFREDO FERREIRA RODRIGUES editou o ALMANAQUE LITERÁRIO e ESTATÍSTICO do RIO GRANDE do SUL (1889- 1917). Nesta fonte se encontra, no ano de 1907, o
texto produzido, por ele, em 1896. Estes resultaram da coleta de documentos
primários de acontecimentos da história regional sem perder de vista o contato
direto e profundo com homem da campanha sul-rio-grandense. Porém a sua visão
era universal na medida em que conhecia o inglês em profundidade. Fez cinco
traduções do CORVO de Allan Poe.
Fig. 03 - A
Argentina é uma síntese, em ponto maior, da construção artificial de um Estado
Nacional em permanente tensão com a gratuidade e liberdade o amor e o povo não
conhecem fronteiras políticas, econômicas ou culturais. O seu rico território é trabalhado desde
tempos imemoriais pelas tribos pré-incaicas aos quais se somaram levas sobre
levas de imigrantes. As fortes tradições literárias argentinas atingiram o
plano mundial como é universal o tango. A bebida nacional do mate, o folclore e
as tradições somaram-se às expressões religiosas que culminaram na eleição do
primeiro papa latino americano que não esquece ou renega as suas origens.
Certamente a tentativa de “exportação
de poesia brasileira”, no conceito de Oswald de Andrade e conhecido por
todos. Alfredo Ferreira
Rodrigues dominava os mecanismos teóricos práticos da importação e exportação.
Como profundo conhecedor da língua inglesa - devido às suas funções comerciais
- estava ciente das lacunas do idioma britânico e norte-americano de textos
provenientes do Rio Grande do Sul. Para estes estrangeiros eram muito bem vindo
para quem desejava fornecer informações confiáveis sobre a gente e alma
daqueles a quem destinavam os seus produtos industriais. Vale, como exemplo,
que a bombacha foi um dos produtos de importação um produto da era industrial
inglesa para os soldados turcos envolvidos na guerra da Crimeia. Como esta
terminou o produto foi posto a venda em Montevideo. Era uma das aplicações
práticas do poderoso instrumento teórico, prático e econômico da “Ciência do
FOLCLORE” apresentada por William Thoms em Londres no dia 22 de agosto de 1846 e
motor do marketing da Indústria Britânica.
Fig. 04 - O território
do Rio Grande do Sul continua sendo “o
mundo sem porteira” de um dos personagens da obra “Tempo e Vento” de Érico Veríssimo. No plano material sem
porteira para satélites espaciais que o varrem constantemente, recebendo e
enviando energia elétrica e a reboque de pesquisas de produtos de seres
manipulados biologicamente e transgênicos (fig.) No plano imaterial o Rio
Grande do Sul ainda não conta a porteira de um pacto social político, cultural
e econômico crível, seguro e continuado.
Um texto publicado ALFREDO FERREIRA RODRIGUES em agosto de 1896 no seu ALMANAQUE ele registrou
as circunstâncias que estavam se alterando e eram remetidas ou para a naturalização ou para a mitificação.
Ambos escancaravam as portas para a politização ou mercantilização da cultura.
Fig. 05 - No
texto - reproduzido a seguir - de ALFREDO FERREIRA RODRIGUES (1865-1942) possui a fortuna literária de
realizar uma síntese do mundo material e imaterial que ele vinha pesquisando
com amplo material logístico que conseguiu reunir, estudar e com qual ele
elaborou uma narrativa com aquilo que produziu no território do Rio Grande do
Sul ao longo do século XIX. O exemplo que permanece é esta sua segurança
logística em documentos fidedignos e construção de um cuidadoso texto produzido
a partir dos elementos materiais do seu tempo e lugar.
FOLCLORE
Extratos
transcritos do ALMANAQUE LITERÁRIO E ESTATÍSTICO do RIO GRANDE DO SUL para 1907
pp. 221 - 262 ..
In MORO MARIANTE Hélio (1915-2005) Alfredo
Ferreira Rodrigues. Antologia dos patronos da Academia Rio-grandense de
Letras. Porto Alegre: Martins Livreiro,
1982 pp.91-. 95p.
Apesar
de não estar difundida no Estado a instrução popular, o rio-grandense não se
pode considerar um povo atrasado.; O que
há é uma distribuição muito desigual de instrução. As principais cidades têm
uma aparência pela edificação, movimento, trajos e costumes.
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 06 - A
indumentária e os instrumentos foram modelados pelos enormes espaços abertos e
sem cercas ou alambrados. Permaneceu no inconsciente coletivo esta
mobilidade oferecida e que se materializa na pós-modernidade. De outra parte
marcou a individualidade, a honradez e a busca do pertencimento daqueles que se
embrenhavam neste mundo imenso e plano onde nada se esconde da luz do sol. .
O
rio-grandense, sobretudo da campanha, que representa o verdadeiro tipo
nacional, é franco, leal, hospitaleiro em extremo, afável, frugal, atilado,
valente e robusto. No interior há homens que até uma idade avançada, 80 e 90
anos, passam dias e dias a cavalo, suportando as intemperier4s e a fadiga de
modo admirável. O manejo constante do cavalo faz deles verdadeiros centauros.
Afeitos aos mais rudes labores, os campeiros são homens de uma
construção excepcional, capazes dos maiores excessos, como se se fossem a coisa
mais natural do mundo. A sua frugalidade é proverbial. Bastam-lhe para a sua
alimentação um pouco de mate e um churrasco (pedaço de carne assado
sobre brasas e temperada unicamente com sal).
Fig. 07 - O
churrasco continuou a tradição do “moquém” indígena. Com a intruduçõao do gado
domesticado e antes das indústruas do charque a carne aluimentava o pobre, o
andarilho. Associado à erva mate ativa garantia uma alimentação autóctone -. A mobilidade oferecida pelo
pós-0modernidade permite cultivar acampamentos, feiras e congressos que
preservam e cultivam estes traços do nomadismo primitivo.
Nas
suas lutas civis e nas guerras com o estrangeiro, o rio-grandense revelou-se sempre soldado
valente e sofredor de todas as privações e fadigas. Pode-se dizer que toda a
força de cavalaria foi sempre fornecida pelo Rio Grande e, na guerra doo
Paraguai, o papel que a cavalaria representou foi o mais brilhante e gloriosa.
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 08 - O
hábitos e a cultura material do gaúcho
reflete índices da transição entre o nomadismo e o sedentarismo. A
mobilidade oferecida pelo pós-0modernidade permite cultivar acampamentos,
feiras e congressos que preservam e cultivam estes traços do nomadismo
primitivo.
A nota
discordante das belas qualidades do gaúcho é o espírito sanguinário,
infelizmente comum no interior em certas classes. Acostumado a lidar com o boi
desde pequeno, a ver correr com indiferença o sangue nos enormes matadouros das
charqueadas, com facilidade endurecemos corações. Daí a prática do homicídio.
Muitas vezes pouca distância vai. Em todas
as guerras civis, esse espírito sanguinário, incitado pelo ódio de partido e
mais ainda pela sede de vingança. Mais se acentuou, dando lugar para horrores
sem nome, a barbaridade de toda sorte, que tocam as raias da selvageria.. Para
honra dos gaúchos, esses fatos sã exceções, pois que a maioria da
população repele tais excessos, infelizmente consequências natuirais do meio,
porém não vício da educação e muito menos da índole do povo.
Fig. 09 - O “peão à cavalo” não é só uma transgressão
semântica mas também dos hábitos e a
cultura material da cavalaria europeia.
O gaúcho e sua montaria refletem
índices da transição entre o nomadismo e o sedentarismo. A mobilidade do
gaúcho fazia que todo o seu investimento suntuário, luxos e apetrechos de
trabalho coubessem em cima do lombo do
cavalo. .
O traje
característico do gaúcho, hoje muito modificado do tipo primitivo e do gaúcho
oriental e argentino. Consiste em calças
muito largas (bombachas), cuja extremidade inferior, apertada na perna,
introduz-se na bota; poncho, grande capote em forma circular, sem mangas,
de fazenda de lã encorpada, que cobre o corpo até os joelhos; e no pala, poncho mais leve, de feitio
quadrangular com extremidades franjadas. Há palas de finíssimo tecido de
seda, de valor muito alto. O poncho de pano trazem-no quase sempre
enrolado, preso na cabeça posterior do lombilho e só o usam em ocasiões
de chuva ou grandes frios. Usam um grande lenço de seda, de cores vivas atado
no pescoço, com as pontas pendentes nas costas.
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 10 - Os
ranchos precários e despojados transformam-se rapidamente em taperas
abandonadas pelo gaúcho nômade. A
lenta e variada passagem entre o nomadismo do indígena pampiano e o
sedentarismo deixou frágeis índice materiais além do investimento suntuário,
luxos e apetrechos de trabalho coubessem em cima do lombo do cavalo. Nas
fazendas o seu destino e abrigo eram os galpões dos trabalhadores. Enquanto o
escravo era recolhido aos porões e senzalas das casas grandes da fazenda.. .
Trazem
chapéu mole, de feltro. De grandes abas, preso por baixo do queixo por um
cordão de seda ou lã trançada (barbicacho) e grandes esporas (chilenas)
com enormes rosetas de aço. Os arreios de que usam são complicados e compostos de
muitas peças e servem-lhes de cômoda cama quando pernoitam no campo. No geral
trazem, além de uma ou duas compridas pistolas de dois canos, um grande facão,
de palmo e meio ou mais com bainha de couro, simples ou chapeada de prata, lisa
ou lavrada, conforme as suas posses. Não se encontra um gaúcho em
serviço sem o laço (grande correia de couro trançado, de 20 a 25 metros,
com argola de metal numa das extremidades para formar laçada), e sem bolas,
formadas de três pernas de couro
trançado reunidas numa das extremidades e tendo em cada uma das outras uma bola
de pedra ou de metal forrada de couro (retovada).
Obra de Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Fig. 11 – Os raros momentos de lazer - numa vida do
andarilho gaudério - eram gastos em alimentar romances e cuja continuidade era
improvável e problemática O que é possível afirmar que estes romances eram
um pouco mais consequentes do que a mera reprodução do escravo africano.
O laço
serve-lhes para agarrar a cavalo qualquer animal no campo. Armam a laçada
e dobram o laço em muitas voltas menores (rodilhas), seguram com
a mão direita a laçada e as rodilhas que têm comprimento bastante
para alcançar o alvo, conservando-a na mão esquerda as rodilhas
restantes, para evitar que o laço distendido bruscamente dê um tirão
muito forte; depois fazem girar as laçada rapidamente acima da cabeça e
lançam-na em direção ao animal que perseguem. Raramente erram a pontaria ainda
na maior carreira, tão bem calculam a distância e tal é a destreza que adquirem
nesse exercício. O laço fica preso pela outra cincha (espécie de cilha
fortíssima feita de corda trançada) do cavalo, que, pacientemente adestrado,
inclina-se para o lado oposto a fim de aguentar o tirão. Há campeiros
tão hábeis no manejo do laço que agarram o novilho em disparada por onde
querem, pelas aspas, pelas partas dianteiras ou traseiras.
Fig. 12 - A imagem reúne várias técnicas artesanais
que ALFREDO FERREIRA RODRIGUES registrou. em 1897 e publicou depois no
ALMANAQUE LITERÀRIO e ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do Sul. As boleadeiras ou
as “Três Marias” , engastadas em prataria e unidas por primorosas laços tecidos
com tentos de couro mostram tanto o requinte de quem elaborou e de quem as encomendou e
adquiriu.
As
bolas jogam segurando-as pela menor (manícula) e fazendo-as girara acima da
cabeça para tomarem impulso. Soltas no ar, dão algumas voltas e enroscam-se nas
pernas do animal contra que foram lançadas, fazendo-o cair. Como é fácil
compreender, são nas mãos de um atirador
destro uma arma terrível. O gaúcho perseguido por outro que se serve das bolas,
para defender-se, deixa cair o poncho de pano pela anca do cavalo até arrastar
no chão, de modo que as bolas, batendo nele, não sacham onde se enroscar e caem
sem fazer mal algum.
AGRICULTURA
Na zona
norte, cuida-se muito da plantação da erva-mate (ilex pararaguayense),
cujas folhas reduzidas a pó toma-se em infusão, à guisa de chá. É especial o
modo por que se toma o mate. Em pequena cabaça (cuia) faz a infusão, com
água fervendo, no geral sem açúcar (mate chimarrão), que chupada por uma
bomba de metal, cuja cabeça cheia de pequenos de pequeníssimos buracos enterra-se na erva até
quase o fundo da cuia. À proporção que se esvaziam os mates, enchem-se os
outros (com a mesma erva), par o que há sempre ao pé dos tomadores uma chaleira
com água fervendo. A cuia vai correndo à roda de mão em mão, e nenhum
rio-grandense da campanha deixa de obsequiar o visitante com a tradicional
bebida.
A erva
depois de colhida e reduzida a pó, é acondicionada em grandes sacos (surrões)
e assim exportada.
Não se
pode calcular a quantidade de erva consumida no Estado, pois o seu uso, além de
espalhado por toda parte, é diário, quase que todas as horas, e nenhum gaúcho
viaja sem a sua provisão de erva.
Tela ORIGINAL
exposta no Salão de novembro de 1929 da Escola de Artes do Instituto de Belas Artes do RS capa da REVISTA da GLOBO -Ano I - nº 23 14.12.1929.; Pertence ao acervo da Pinacoteca
da Prefeitura de Porto Alegre
Fig.
13 - O estrangeiro Francis PELICHEK (1896-1937) percebeu e registrou no
final da década de 1920 a permanência do hábito da hospitalidade cultivada pela
forma material do chimarrão desde as origens da cultura sul-rio-grandense O
olhar, o lápis e os pinceis deste artista tcheco foram desafiados e registraram
a permanência destas figuras e outras
populares e que ele ajudou a universalizar em produção gráfica
continuada para revistas, livros e exposições públicas.
INDÚSTRIA.
Como
manifestações da arte nacional, há duas indústrias que merecem especial menção.
São os trabalhos de prata lavrada e couro lavrado ou trançado.
Quase
todas as peças dos arreios usados pelos rio-grandenses são mais ou menos
ornadas de prata lavrada; freio, rédeas, peitoral, rabicho, estribos, esporas,
as cabeças do lombilho (sela de forma particular) as pontas da carona (
espécie de manta de couro que se usa por baixo do lombilho), o rebenque
(pequeno chicote) são em gera no geral carregados de prata.
Fig. 14 - Os
objetos de metalurgia foram os presentes e a moeda de troca que o europeu ofereciam
ao indígena dono da terra. O consumo destes produtos de ferro, prata e ouro
atraiu artesões europeus vindos das mais variadas procedências como Leandro
Antônio de Andrade considerado o PRIMEIRO PRATEIRO de PORTO ALEGRE A
atividade metalúrgica se intensificou e se mudou para a Serra Gaúcha com a
chegada da cultura italiana a partir de 1875
Além disso a faca que habitualmente trazem tem
o cabo e às vezes a bainha de prata, as cuias de mate têm o bocal de prata e as
bombas são todas desse metal. Todas são peças são finamente cinzeladas e
revelam um gosto artístico muito
apurado. Atualmente a importação de artigos semelhantes estrangeiros, de metal
branco estampado, está fazendo enorme concorrência aos produtos nacionais, que
vão perdendo terreno. Mas, ainda assim, em alguns lugares, sobretudo em
Pelotas, as casas de ourives trabalham em grande escala.
Fig. 15 – A cutelaria das cidades de Rio Grande e
Pelotas como o da ilustração acima e a subsequente Livraria Americana da
qual ALFREDO FERREIRA RODRIGUES era um dos funcionários graduados. Como tal
editou e dirigiu o ALMANAQUE LITERÀRIO e
ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do SUL (1889- 1917) pertencia a uma série de casas
comerciais de importação e exportação das
O
trabalho de couro lavrado e trançado tem igualmente um cunho artístico bem
acentuado e original. O couro lavrado é todo trabalhado a martelo e há neste
gênero obras da mais delicada e perfeita execução, sobretudo caronas.
Algumas há cobertas dos mais complicados desenhos e arabescos finamente
executados.
Os chicotes
cobertos de uma finíssima teia de fios de couro trançado são uma verdadeira
maravilha de gosto, de paciência e de arte. É o próprio camponês quem prepara o
couro e o corta em delgadíssimos fios,
tendo por única ferramenta uma faca. Há trabalhos desses que são verdadeiras
obras de arte, únicas em seu gênero, inimitáveis, de uma execução tão delicada
e de uma perfeição tão completa que mais
parecem uma trança de cabelo.
Agosto
de 1896
Alfredo
F. Rodrigues (RIO GRANDE)
Fig. 16 - A Livraria Americana da qual ALFREDO
FERREIRA RODRIGUES era um dos funcionários graduados. Como tal editou e
dirigiu o ALMANAQUE LITERÀRIO e ESTATÌSTICO
do Rio GRANDE do SUL (1889- 1917) pertencia a uma série de casas comerciais de
importação e exportação das cidades de Rio Grande e Pelotas como o da
ilustração acima. Estas casas tinham o papel das atuais lojas virtuais e
redes de abastecimento comercial, agrícola e industrial.
A “Ciência do FOLCLORE” - apresentada por
William Thoms em Londres no dia 22 de agosto de 1846 – revelou-se um poderoso
instrumento teórico, prático e econômico para o marketing da Indústria
Britânica. Esta reinventava trajes em nome de tradições inventadas e impondo
modas nas quais o consumo dos tecidos das fábricas britânicas mantinha um
permanente superávit para comercio inglês.
Fig. 17 – O filme Uruguaio “ARTIGAS: la Redota” traçou um amplo painel de um dos momentos
iniciais e contraditórios da soberania deste pais Oriental da Bacia do Rio da
Prata. Ressaltam-se o aproveitamento de estudos de pesquisadores, de tradições
cultivadas e de práticas populares de diversas etnias que figuraram na
composição deste audiovisual rodado entre 2010-2012. Ambientado
nos cenários naturais ganhou dimensões épicas com as intervenções de
profissionais da indústria cinematográfica sul-americana
O que é condenável é não só o discurso por cima e
por fora proveniente de uma classe que se julga superior, onipotente e juiz. A
transformação do SABER POPULAR é uma apropriação indevida daquilo que pertence
a OUTROS. Este SABER é desqualifica como OBJETO de juízo e de MITO.
Esta apropriação transforma os intrusos em MISSIONÁRIO daquilo que estes
estranhos não conhecem e muito menos praticam. Luís Rodolfo.
VILHENA, apesar de desaparecido precocemente, percebeu e descreveu
esta “MISSÂO” desta classe intelectual e o seu projeto de “civilizar”,
estetizar e normatizar este saber popular. No Rio Grande do Sul Dante Laytano
sistematizou e publicou parcelas significativas deste mesmo projeto.
Apesar desta base material da concretização tanto
da mercantilização como da politização
da cultura no âmbito do Rio Grande do Sul é inegável, ao final de 2014,
que existem traços e expressões de transcendência de um ânimo que beira até um
projeto. Ao ler, buscar entender, no presente, aquilo redigido no texto em agosto
de 1896 e publicado por Alfredo Ferreira Rodrigues em no
seu ALMANAQUE e percebe-se um contínuo destes traços e expressões de
transcendência de um projeto de identidade coletiva. Contínuo no tempo em
expansão perene através de novos espaços geográficos e que não se estancou de
fluir apesar de barreiras de toda ordem..
Flui uma identidade, uma forma singular de ver o mundo a partir da província.
Fig. 18 - HÉLIO
MORO MARIANTE comprovou que “o que
permanece é o pensamento”. Foi
buscar e reavivou a chama do pensamento de
ALFREDO FERREIRA RODRIGUES e no que publicou no seu ALMANAQUE LITERÀRIO
e ESTATÌSTICO do Rio GRANDE do SUL (1889- 1917). Ali estava vivo, não só o
pensamento deste escritor, como o que era vigente nas cidades de Rio Grande e Pelotas na época do
seu autor. Pensamento que outros naturalizaram, mitificaram e transferiram para
outros tempos e lugares sem reverter para a origem deste pensamento. .
A plasticidade dos hábitos, costumes e a vida
material em constante mutação exigem a renovação constante e atualizada dos registrou
as circunstâncias.
O mérito de ALFREDO FERREIRA RODRIGUES foi a de ter
registrado, em agosto de 1896, um destes instantes passageiros. O retomou no
seu ALMANAQUE que estava atento aos novos instantes industriais e culturais. Se
este registro serve de lição é para guardar a ATENÇÃO deste narrador ao seu
próprio momento e lugar. Serve de aviso para não misturar o repertório antigo e
alheio com o atual e o seu
próprio sob pena de alterar e desqualificar ambos. Quando esta
construção monstruosa é transformada em projeto corrompe-se e se propaga qual
peste na forma de ídolos incontroláveis e ocos. Quando o projeto é de sua
naturalização esta narrativa é devorada pela entropia e pelo caos num banquete
de Saturno.
FONTES BIBLIOGRÀFICAS
LAYTANO, Dante (1908-2000) FOLCLORE do RIO GRANDE do SUL:
levantamento dos costumes e tradições gaúchas (2ª ed) Porto Alegre: escola
Superior de Teologia São Lourenço de Brides – 1987, 350 p ISBN 8570610718
MORO MARIANTE Hélio (1915-2005) Alfredo
Ferreira Rodrigues. Antologia dos patronos da Academia Rio-grandense de
Letras. Porto Alegre: Martins Livreiro,
1982 107 p.
VILHENA, Luís
Rodolfo (1963-1997). Projeto e Missão: o movimento folclórico brasileiro
1947-1964. Rio de Janeiro : Funarte
1997. 332p.
FONTES NUMÉRICAS- DIGITAIS
CHIBEIRO
Louis MANDRIN 1725-1755
ARGENTINA – Martin Fierro
Papa argentino e Chimarrão
PARAGUAI
FIDEL FERNANDEZ – artista
Tício ESCOBAR crítico
CABEÇA de VACA Alvar Nuñez c.1492-c.1560
URUGUAI
Juan Manuel BLANES (1830-1901)
Artigas: La REDOTA
CHIMARRÂO – FUTEBOL e CELULAR
GUASQUEIRO http://guasqueiro.blogspot.com.br/
Leandro
Antônio de Andrade PRIMEIRO PRATEIRO de PORTO ALEGRE
FONTES para
estudo da PRATARIA GAÚCHA
João
Augusto Hexsel, Carlos
Willbaldo Hexsel e Conrado Augusto Hexsel
HÉLIO MORO MARIANTE
MATE- CHIMARRÂO
ALFREDO
FERREIRA RODRIGUES
(1865-1942)
Cadeira
21 Academia Sul-rio-grandense de Letras
VERSÃO do “CORVO “ de Alan POE:
POLITIZAÇÂO
da CULTURA
SATURNO
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Referências para Círio SIMON
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