domingo, 17 de agosto de 2014

090 – ISTO é ARTE

  O IDEAL e o EMPÍRICO em ARTE 

“Veríamos desaparecer completamente todas as artes, sem esperança alguma de retorno, sufocada por esta lei que proíbe toda pesquisa. E a vida que já é bastante penosa, tornar-se-ia então totalmente insuportável” ( Platão, Diálogos, 1991, p.417)"

Luis Carlos XAVIER, e Vasco PRADO - SÃO LEOPOLDO monumento do sesqucentenário da imigração inaugurado em 21.12.1974
Fig. 01- Monumento dedicado a lembrar o Sequicentenário da Imigração em São Leopoldo-RS. O seu autor o concebeu e usou formas e elementos plásticos que sugerem o mundo ideal, teórico e dos projetos perfeitos em contrate com mundo concreto, empírico e da realidade dada ao imigrante.

    O artista encontra-se exprimido entre o IDEAL e o mundo EMPÍRICO. Ele é esmigalhado entre mó rodante do ideal da ARTE e a mó fixa estática da realidade. Ele luta permanentemente entre o IDEAL ILIMITADO e IMPONDERÁVEL enquanto sofre, se revolta e vence os LIMITES concretos e empíricos da realidade na qual vive.
    Este Ideal, esdrúxulo à arte, ganha corpo em textos de leis monstruosas escritas, promulgadas e executadas por cima e por fora do campo estético. O artista é chicoteado por este poder esdrúxulo por meio de discursos do “DEVE SER”. Ele "DEVE" levar vida de aparências, de eventos bem concretos na forma de pessoas agindo como seus atravessadores, mediadores e seus tuteladores interesseiros.
Bruno GIORGI 1903-1993 - Teorema 1987-88 - Mármore - Porto Alegre – RS
Fig. 02- As formas dos arqétipos  propiciam ao artista- e ao receptor da obra - uma grande liberdade intelectual, enquanto priva ambos do mundo figurativo. No presente texto pode refenciar a leitura dos dois mundo (ideal x empírico) gerando um vazio para ser ocupado por uma mandala perfeita.
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         Não se trata de racionalizar, estetizar e simplificar. A obra de arte, por mais física e concreta que seja, é índice do modo de o SER evidenciar o seu ENTE. É o que nos ensina Platão:
“O bom discurso, a boa harmonia, a graça e a eurritmia dependem da simplicidade do caráter, não desta tolice que gentilmente denominamos simplicidade, mas da verdadeira simplicidade de um espírito que alia a bondade à beleza” (1991, p.173)
        Em arte a obra precede o filosofar. Porém raríssimos momentos em que ENTE e SER dialogam e interagem em sintonia perfeita.
                                                                    Cildo MEIRELLES (1948- ) - Zero cruzeiro
Fig. 03- O artista brasileiro Cildo Meireles usa toda a sua liberdade intelectual e extrai matéria para a sua obra do mundo figurativo, da economia e da tradição indígena brasileira. O mundo ideal que gera espectativas econômicas confronta-se com a anulação deste mesmo valor diante um mundo empírico indigena ainda sujeito ao escambo e distante da monetarização

   O poeta Paul Valéry tornou-se testemunho de preciosos fragmentos de afirmações do artista, pintor e desenhista Edgar Degas. Num estes fragmentos Degas disse que “um artista só é um artista em poucos momentos, por um esforço da vontade”. Em outro “o Desenho não é a forma, é a maneira de ver a forma”. O artista não tolerava discursos por cima e fora da Pintura “Degas gostava de falar sobre pintura e não suportava que se falasse sobre ela". Diante destes discursos “por cima e por fora de estranhos ao campo da arte” não poupava nem os amigos mais próximos. "Valéry dizia não compreender o que ele falava. Degas gritava, berrava que o poeta não entendia de nada e se metia em coisas que não eram de sua alçada"...
             Iberê Camargo preparando-se no seu atelier para intervir no movimento das DIRETAS JÁ
Fig. 04- Iberê Bassani Camargo partiu de sua realidade de menino do interior do Rio Grande do Sul e filho de ferroviário para criar, administrar e perpetuar uma das carreiras de um dos artista dos mais conhecidos, admirados e preservados na História das Artes Plásticas brasileiras. Soube entender o mundo ideal sem deixar de entregar-se  ao mundo empírico da atelier, do diólogo  com seus discípulos e compradores de sua intensa produção plástica e bem documentada obra visual por obra de Maria Coussirat Camargo.

    Assim a pesquisa estética precede a atualização da inteligência. Porém ambos convergem para formação de uma cultura ou um inconsciente coletivo.
“O direito permanente à pesquisa estética; a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de uma consciência nacional [..] A novidade fundamental, imposta pelo movimento, foi a conjugação dessas três normas num todo orgânico da consciência coletiva”
Mário de Andrade1 para a UNE, em 1942, p. 45.

      Inverter esta ordem significa preguiça mental, falta de vondade e ausência de um projeto próprio e fecundo. Inverter esta ordem significa o puro e ingênuo neo-colonialismo de uma consciẽncia importada de uma cultura alheia e alienante. Nesta cultura alheia importa o seu CONHECIMENTO e nada mais.
IA-UFRGS - Fundamentos da Cor - 2001 - Foto de Myra GONÇALVES
Fig. 05- Os meios para o artista contemporâneo pode mostrar o seu projeto, intenções e conhecimentos o leva para o território no qual brotam problemas inéditos permitem a pesquisa estética num grau nunca conhecido antes. Porém este mesmo mundo empírico e técnico sem coerência com o ideal, projeto e problema o podem jogar completamente a margem da arte, para o consumismo compulsivo e sua atividade num FAZER de mais um trabalho destinado à obsolẽncsia imediata e definitiva.

    Uma cultura alheia não pode servir de isca aos interesses não declarados dos detentores da hegemonia planetártia. Para além das fronteiras - destas culturas - elas tornam-se apenas conhecimento de suas origens, de sua fortuna, dos seus limites e das suas competências. Podem servir, no máximo, de matéria no ritual da antropofagia. Antropofagia da qual ninguém necessita prestar conta, sentir-se inferior ou individado com o seu consumo.
               Wenzel FOLBERGER .(..+ 24.06.1915) -ATLAS - Prédio Correios e Telégrafos POA-RS  
Fig. 06- O artista Wenzel FOLBERGER interpretou, na sua obra, o mundo figurativo do ATLAS da comunicação. Neste tema confere imagem ao pesado repertório que a criatura humana carrega no mundo da informação proveniente de todas as latitudes e tempos.

     O artista, ao lidar com a tradição, com o acúmulo do saber alheio e de poderosas e fundamentadas culturas hegemônicas,  sucumbe definitivamente diante de textos de leis monstruosas escritas, promulgadas e executadas por cima e por fora. O mero grito de indignação, destas vítimas ,que ostentam corações sangrando e mentes devastadas, constituem troféus eloquentes para esta saber estético alheio. O neo-colonialismo e os mentores da escravidão estética estão no triunfo ao abater os seus concorrentes e reduzi-los à servidão e à dependência.
Ruth SCHNEIDER (1943-2003) - obra da artista no Museu de Passo Fundo RS
Fig. 07- O olhar da artista passofundense parte de suas vivências imaginárias para criar instalações de sentido universal. O tema proveniente do repertório originário da vida boêmia imaginada.

     O ideal joga a criatura para o imponderável. O artista é vitima frequente da perigosa carga do poder simbólico da arte e motivado pela própria de sua fama. Poucos resistem a esta perigosa e alta tensão gerada pelos poderosos polos opostos.
A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário
Nitzsche 2000, p.134
    O próprio autor desta frase foi vítima das altas descargas destas forças simbólicas da arte. Assim teve de ser internado - no início do século XX-  como alienado mental. Entrou no cortejo de artistas como Van Gogh, Camile Claudel e, mais recentemente, Francis Bacon sofreu esta mesma compulsão. Além deles existem aqueles que descobriram possuídos destas forças subliminares da arte como Artur Bispo do Rosário sob o cuidados de Nise Silveira
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Parque MARINHA do BRASIL - obra de STOCKINGER (Xico 1919-2009) foto dez. 2010
Fig. 08- Um dos raros monumentos escultóricos com temática da flora. A obra é do artista de origem austríaca e com profunda admiração, vivência da flora brasileira e colecionador de cactus O estrangeiro possui este potencial de ver o diferente -de sua pátria de origem - e torna-se competente para carregar conscientemente o novo reprtório adulto proveniente do potencial da sua pátria de eleição. 

    De outra parte não bastam estas altas tensões e nem os discursos metafísicos “SOBRE a ARTE”. Contra este salto temerário para a METAFISICA – antes de pagar o tributo para o mundo EMPÍRICO da obra de arte - Valéry escrevia, como um artífice da linguagem, que “a linguagem do país das Artes é turvada com toda uma metafísica que se mescla de maneira muito íntima às puras noções da prática”. Uma interação saudável entre o SER e o SEU TEMPO - vivido no mundo empírico – não tolera o atalho, o ruído do ECLETISMO forçado e a racionalização entre o IDEAL e o EMPÍRICO em ARTE. Apesar de Leon Battista Alberti reconhecer que “a recompensa do artista é a fama”, esta fechou o horizonte de muitos artistas que foram abatidos, e imediatamente esquecidos, após o seu nome constar em todos os noticiários de sua época e terem acumulado fortunas.
Valeri registrou que:
Uma noite Degas fazia troça de Forain, que corria, chamado por um timbre imperioso, para atender o telefone. ‘É isso, o telefone?... Tocam um sinete e você acorre...’ Seria fácil generalizar essa expressão sarcástica. ‘É isso a Glória?... Você é citado, e acha que é alguém!...
     O pintor e professor Ado Malagoli foi mais sintético ao ser interrogado se 'um pintor poderia ficar rico'. A sua resposta fulminou muito delírio, capricho e ilusão. Respondeu que “SIM”.mas não deixou de acrescentar o preço desta nova condição: “ELE será apenas MAIS UM RICO”...


                                     FONTES BIBLIOGRÁFICAS:

ALBERTI, Leon Battista (1404-1472). Da pintura. Campinas: Unicamp, 1992. 161p.

PLATÃO ( 427-347a.C) DIÁLOGOS – (5ª ed.) São Paulo : Nova Cultural, 1991 – (Os pensadores)
------------ Diálogos: a República. 23.ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996.

VALÉRY, Paul (1871-1945) Introdução ao método de Leonardo da Vinci (Ed. Bilíngüe) São Paulo : Editora 34, 1998 256 p.

                                     FONTES NUMÈRICO DIGITAIS
Artur Bispo do Rosário (1911-1989)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Bispo_do_Ros%C3%A1rio

BACON Francis (1909-1992)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon_%28artista%29

Edgar DEGAS (1834-1917)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Edgar_Degas
DEGAS e a MANEIRA
http://artemazeh.blogspot.com.br/2014/07/a-maneira-de-degas-ii.html

PLATÃO A República
http://pt.scribd.com/doc/36631268/A-Republica-Platao-Vol-I

RAFAEL SANZIO (1483-1520) Escola de ATENAS
http://fr.wikipedia.org/wiki/L%27%C3%89cole_d%27Ath%C3%A8nes.

SILVEIRA Nise (1905-1999)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nise_da_Silveira
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