A
FESTA das ÁGUAS de NAVEGANTES e VENEZA: ou sendas abertas
para o seu estudo erudito.
FIG.01 – VISTA AÉREA da
procissão fluvial da FESTA de NAVEGANTES
em PORTO ALEGRE no dia 02 de fevereiro de 1930.
A Festa dos Navegantes,
celebrada no dia 02 de fevereiro de cada ano, é um dos pontos altos do
calendário de Porto Alegre. Fundamentalmente trata-se de uma FESTA das ÁGUAS.
Na presente postagem deseja-se destacar as festas que unem e celebram esta
interação de um núcleo urbano da capital do Rio Grande do Sul, cercada por um
enorme caudal de água doce. Nesta celebração é possível observar uma imensa
pluralidade de repertórios, temas e sentidos presentes - consciente e
subliminarmente - nos eventos e nas celebrações populares de qualquer cultura
humana.
FIG.02 – A procissão da FESTA de NOSSO SENHOR dos NAVEGANTES em
SALVADOR na BAHIA, celebrada cada dia 01 de janeiro sai da igreja da Conceição
da Praia, vai até o mar e retorna pela baía até a igreja do Bom Fim. Ela é o ponto maior de numerosas outras procissões fluviais do rio São
Francisco
Francisco
GUARDI (1712-1791) A partida do
Bucentauro - c. 1755 – óleo 66 x 100 cm
- Museu do Louvre
FIG.03 – Na laguna de Veneza
na FESTA da ASCENÇÃO sai o desfile de numerosas embarcações comandadas pela
galeota dourada BUCENTAURO. A Rainha do Adriático tomava ocasião
para fazer marketing e propaganda e assim marcar o seu poder e esplendor. Este
poder e esplendor começaram a declinar com a descoberta de novo caminhos para
os mercados do Oriente e especial com a descoberta da América. Porém a pompa e
as circunstâncias foram mantidas e serviram de paradigma para festas aquáticas
mundo afora.
Veneza misturava o sagrado e profano
nesta cultura material e imaterial na celebração de sua FESTA das ÁGUAS. Em
Porto Alegre a FESTA de NAVEGANTES segue rigorosamente o mesmo padrão.
Foto da antiga Igreja Nossa
Senhora do Rosário de Porto Alegre
demolida na década de 1950.
FIG.04 – A igreja do ROSÁRIO
foi obra da Irmandade do Rosário de PORTO ALEGRE. O costume transfere para este
templo a imagem de Nossa Senhora dos
NAVEGANTES uma semana antes do dia 02 de
FEVEREIRO. A procissão fluvial, ou terrestre, parte deste ponto. A igreja original
de Nossa Senhora do Rosário de Porto Alegre
foi construída pelos cativos nos dias de suas folgas e com o dinheiro
arrecadado pelo venda de quitutes preparadas pelas escravas. Evidencia-se assim
o profundo vínculo da cultura afro-brasileira com a festa de Nossa Senhora dos
Navegantes.
Porém Porto Alegre não é um ponto isolado e
único nesta celebração. A FESTA das ÁGUAS foi e continua sendo ainda uma
cultura litorânea e fluvial do Brasil inteiro. Nesta relação de cidades
brasileiras a beira da água acontece festas como o Senhor dos Navegantes de
Salvador na Bahia no dia 01 de janeiro.
LAYTANO,
1955, p.123. fig. b
FIG.05 – A multidão forma a
PROCISSÃO da FESTA de NAVEGANTES em PORTO ALEGRE. O verão escaldante de Porto Alegre
obriga ao uso de multicolores sombrinhas.
A festa do Círio de Belém de Pará
não esquece que a existência da capital do Pará depende das águas. A herança
afro-brasileira celebra na beira das águas as suas divindades ancestrais e em
especial de Iemanjá. O pesquisador Dante Laytano pesquisou e publicou em 1955,
as celebrações afro-brasileiras da Festa das Águas em Porto Alegre.
LAYTANO,
1955, p.115. fig. b
FIG.06 – EMBARQUE no cais de
PORTO ALEGRE no 02 de FEVEREIRO para dar
início à PROCISSÃO FLUVIAL em direção ao BAIRRO de NAVEGANTES. Este percurso foi alterado para a
procissão terrestre depois do desastre do Bateau Mouche ocorrido no Rio
de Janeiro.
A FESTA das ÁGUAS ganha
também conotações ecológicas. Motiva alertas
e constitui a motivação certa no sentido contemporâneo de denunciar e
afastar as ameaças que sofre a preservação das águas potáveis. O Museu das
Águas de Porto Alegre projeta, reforça e materializa esta motivação.
LAYTANO,
1955, p.114. fig. a
FIG.07 – O tradicional barco
JENNY NAVAL, lotado no dia 02 de FEVEREIRO, navega, com a imagem de Nossa
Senhora dos NAVEGANTES, rumo à maior
FESTA POPULAR de PORTO ALEGRE
Na conclusão é possível
constatar que a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes abre um enorme leque de
estudos, pesquisas e ações. Nas pesquisas restam numerosas sendas abertas pelo
trabalho exemplar de Dante Laytano.
LAYTANO,
1955, p.117. fig. a
FIG.08 – Um detalhe da
POPULAÇÃO que aflui para a FESTA de
NAVEGANTES em PORTO ALEGRE no dia 02 de FEVEREIRO
Nos possíveis materiais
logísticos, deste estudo, encontra-se o acervo jornalístico escrito, falado e
de imagens desta festa local. O estudo sistemático deste material é capaz de
preencher existências humanas com o seu estudo.
FIG.09 –A PONTE da Travessia
do Delta do Jacui por pouco não obrigou a demolição do templo
de Nossa Senhora dos NAVEGANTES em PORTO ALEGRE. Hoje a ponte constitui
um cenário que envolve este templo
Outros tantos temas de
estudos estão dispersos nos materiais empíricos dispersos no bairro Navegantes
de Porto Alegre. De um lado um eterno estacionamento provisório, depósitos e
vida efêmera de experiências empresariais. Pelo constante trânsito, armar e
desarmar a festa e o trabalho de biscate e mutável faz jus ao temo NAVEGANTES.
O prédio do seu templo um barco emborcado a espera de ser posto na
correnteza. De outra parte - e contraditoriamente - existe neste bairro um
busca de tornar este local um lar, um ponto de permanência. Este contrate -
entre efêmero e eterno - coloca o Bairro Navegantes em plena consonância com a
passagem da Era Industrial para o virtual.
FIG.10 – A culminância
religiosa da FESTA de NAVEGANTES é a MISSA CAMPAL rezada diante do templo
reconstruído em 1913 após o incêndio do templo ali erguido em 1875. Este incêndio ocorreu em dezembro de 1910 e foi divulgada como criminoso. Felizmente o
templo tinha um seguro, o que permitiu dar inicio à sua rápida reconstrução.
São instituições, grupos
envolvidos e famílias tradicionais frequentadores assíduos desta FESTA. Isto sem tocar na História e nas narrativas
orais avulsas e pessoais de quem organiza, executa e avalia este evento.
Margarida TEIXEIRA de PIVA
doadora do terreno da Igreja Navegantes
Correio do Povo 03.01.2011
FIG.11 – DONA MARGARIDA
TEIXEIRA foi doadora do terreno para erguer o primeiro templo em 1875. Hoje ela
é homenageada pelo nome de uma das ruas do bairro. A orla do Guaíba abrigava uma série de chácaras unidas por um belo
passeio descrito por vários viajantes.
Inclusive Debret desenhou este passeio e que equivocadamente atribuiu
com sendo um vista de Paranaguá.
As conexões de Porto
Alegre com Veneza estão na memória de uma grande leva imigratória italiana
procedente desta região. No presente Veneza
consegue manter-se, como rainha do Adriático pela sua indústria cultural do
turismo e na sua centenária Bienal.
FIG.12 – O Bairro NAVEGANTES,
de PORTO ALEGRE, abrigou um intenso parque industrial do qual sobram alguns
índices. Qs prédios das Fábricas RENNER estão parcialmente
preservados e readequados. Neste sentido este bairro seguiu o exemplo do
Arsenal de Veneza
Tanto Veneza com Porto Alegre perderam as atividades
industriais, estaleiros e o próprio sentido original dos seus portos. Neste
sentido a Bienal do Mercosul possui na sua genética esta raiz veneziana.
FIG.13 – A capa do LIVRO de
Dante LAYTANO. Sua consulta ganha sentido na medida em que estuda e publica
inclusive estatísticas da presença e da força da cultura afro-brasileira em
PORTO ALEGRE, tendo como motivo e guia a FESTA de NAVEGANTES. Esta obra visita também o panteão da cultura afro pela mão de diversos
pais de santo que o seu autor entrevistou na época. Assim se debruça sobre as
possíveis conexões religiosas entre Iemanjá e Nossa Senhora dos Navegantes.
Na presente postagem
arranhou-se apenas a imensa pluralidade de repertórios, temas e sentidos
presentes - consciente e subliminarmente – no evento das celebrações populares
da Festa de Nossa Senhora dos Navegantes de Porto Alegre.
Evento e celebração aberto para leituras
complementares ou contrárias. Nas contrariedades não faltaram contrariedades,
incêndios, proibição da procissão fluvial e ameaças de sua pura e simples demolição
do seu templo. Na complementariedade este evento consegue unir credos, rituais,
festas sacras e profanas. Só para levantar um outro véu deste evento seria
possível evidenciar e pesquisar a relação da música popular com a festa e em especial de Lupicínio Rodrigues
(1914-1974) cujo centenário de nascimento ocorre em 2014.
FIG.13 – O cenário do templo e
da festa e Nossa Senhora dos NAVEGANTES em PORTO ALEGRE PONTE foi ameçado pela
ponte Travessia do Delta do Jacui e
posteriormente pel traçado do metrô de superfície. Em 2013 ela convive
com a via expressa, com o ponte, metrô e assiste a revitalização do Cais
Navegantes e convive com o Shopping DC NAVEGANTES que ocupou os prédios das
fábricas Renner
FONTE IMPRESSA
LAYTANO, Dante (1908-2000) Festa de
Nossa Senhora dos Navegantes: estudo de uma tradição das populações
Afro-Brasileiras de Porto Alegre – Curitiba: Instituto Brasileiro de
Educação e Ciência I.B.E.C.C. vol 6 1955
– 128 p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
ASTARTÉ
BUCENTAURO de VENEZA
DANTE LAYTANO
GALEOTA de OURO de DONA MARIA I
de PORTUGAL
MUSEU das ÁGUAS
de PORTO ALEGRE
NOSSO SENHOR dos
NAVEGANTES da BAHIA
A Galeota
PORTOA ALEGRE
PROCISSÂO FLUVIAL dos NAVEGANTES em 1930
http://ronaldofotografia.blogspot.com.br/2010/07/vista-aerea-do-cais-do-porto-em-1930.html
SOCIEDADE VENEZIANOS
de PORTO ALEGRE
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