domingo, 8 de dezembro de 2013

078 – ISTO é ARTE


Um LEGADO de um  PARAIBANO ao

 RIO GRANDE do SUL

O paraibano Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) possui muitos traços em comum com o sul-rio-grandense Ruben Martin Berta (19071966). Um carregou o Brasil nas asas da imaginação e da informação. O  outro carregou o Brasil fisico nas asas da sua companhia de aviação. As empresas de ambos sucumbiram na ausência destes líderes e sem a sua ação  pessoal e determinante.

Chateaubriand recebe Nelson Rockefeller-  Fonte da imagem: Morais, 1994, p. 637
Fig. 01 –Assis Chateaubriand, mostrou uma  poderosa a vontade de viver, de agir e de produzir e incomum numa pessoa nestas limitadas circunstâncias nos oito anos em que foi portador de severas necessidades especiais. Do outro demonstrou que uma civilização que necessita se educar, adequar e oferecer o acesso universal ao deslocamento de uma pessoa nestas circunstâncias.  O lucro é visível, tanto para o portador destas necessidades como para a sociedade e a sua cultura. Nesta cultura a  sociedade produz, conserva e faz circular aquilo que a torna mais viva, atenta e  cada vez mais presente em outros desafios existenciais. A Pinacoteca Ruben Berta constitui dos índices deste esforço tanto do seu mentor como da sociedade.  Esta sociedade redobrou a atenção para o seu legado da  Arte.Procurou e achou as condições de receber, permanecer e continuar a distribuir Arte mesmo na ausência  de quem se dedicou à  ela com o máximo  afinco e no limite de suas forças.

Estes pontos de semelhança convergiram para campo das artes plásticas no qual deu-se a permanência do melhor da memória da ambos. O presidente dos Diários Associados espalhou obras de arte, por onde andava,  enquanto vivo e pode. O gaúcho dava o suporte logístico para continuação desta aventura.

Chateaubriand recebe “Baby” Pignatari no MASP - Fonte da imagem: Morais, 1994, p. 491
Fig. 02 – O MASP teve destacada participação no processo de formação dos Museus Regionais, que Assis Chateaubriand pretendia estabelecer com o objetivo de dotar as várias regiões do país com um núcleo consistente de arte brasileira,. Max Lowenstein, funcionário do museu, foi nomeado presidente não estatutário do MASP por Chateaubriand, por conta de seus relevantes serviços prestados para a implementação dos museus de Olinda (Museu de Arte Contemporânea de Pernambuco), Campina Grande (Museu de Artes Assis Chateaubriand), Araxá (Museu Histórico de Araxá "Dona Beja"), Porto Alegre (Pinacoteca Ruben Berta) e Feira de Santana (Museu Regional de Arte). O sr. Max Lowenstein foi nomeado por Assis Chateaubriand presidente não estatutário por relevantes serviços prestados à formação dos Museus Regionais que Chateaubriand iniciou para dotar as várias regiões do país com um núcleo de arte brasileira, 

Assis Chateaubriand reuniu no Rio Grande do Sul um belo acervo e confiou a sua organização ao professor Ângelo Guido, crítico de arte do Diário de Noticias. Instalou esta seleção de obras de arte nos estúdios da TV Piratini. Vinha ao Rio Grande do Sul para acompanhar pessoalmente a sorte desta coleção mesmo depois de ser atingido no dia 27 de fevereiro de 1960 por severa trombose. É o que o escultor e professor Luiz Gonzaga narrou, em 02.12.2013, para este que escreve, que Assis Chateaubriand foi, em cadeira de rodas, ao Instituto de Artes da UFRGS para se entender com os seus mestres e estudantes sobre este acervo. Os convidou para uma reunião no prédio da TV PIRATINI para uma sessão na qual mostrou e celebrou, à sua maneira, esta conquista para a Arte no Rio Grande do Sul.
Aqueles que herdaram e administram este acervo das obras de arte Ruben Berta o definiram e o limitaram conceitual e fisicamente como uma “estrutura fechada”. Assim a sua origem e a vontade daqueles que lhe deram origem permanecem mais evidentes. Poucos acervos nacionais possuem esta característica de terem estrutura fechada para entrada de novas obras de arte, além daqueles de dedicados a um único artista já falecido. Há necessidade de se interrogar o que significa esteticamente o limite imposto da entrada de novas obras de arte no acervo do Ruben Berta.



Fig. 03 – A Pinacoteca Ruben Berta pertence a um vasto projeto  que continua vivo e  atuante em diversas instituições brasileiras, conforme o quadro acima.   Assis Chateaubriand liderou e esteve fisicamente presente apesar dos oito anos em que  foi portador de severas necessidades especiais. Demonstrou ao mundo a necessidade de uma civilização se educar, adequar e oferecer o acesso universal ao deslocamento de uma pessoa nestas circunstâncias.  O lucro é visível na Arte que conserva, renova e reproduz  no seu mínimo físico o máximo de uma civilização viva. Civilização que atravessa o Tempo tonando contemporâneos e materializando os pensamentos dos homens das cavernas com a cultura mais complexa e sofisticada.
Clique sobre o quadro  para ler

Este limite aponta para uma homenagem estética e para a preservação das circunstâncias de origem do pensamento de quem formou tal coleção. Esta coleção possui a sua origem no pensamento de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello  e as circunstâncias vividas por esta personalidade.  Nestas circunstâncias é necessário estar atento à política e ao pensamento do projeto civilizatório que este jornalista paraibano exerceu junto aos empresários nacionais para os quais ele promovia a circulação dos seus produtos. Nesta circulação consta a homenagem ao empresário da aviação Ruben Martin Berta. Assis Chateaubriand e Ruben Berta viveram e foram protagonistas dos mais fortes projetos políticos que cavaram o leito acidentado no qual puderam correr as Revoluções de 1930 e de 1964. Assim acervo Ruben Berta é mantido na íntegra para preservar o pensamento de sua origem e das circunstâncias de sua formação.


Fig. 04    Pedro Américo de Figueiredo e Mello (1843-1903) não esteve no RS nem interpretou algum tema gaúcho. Este  artista, filosofo e com decisiva  ação política-  a ponto ser constituinte de 1891 -  tomou ao pé da letra os ensinamentos do seu mestre e orientador Araújo Porto-Alegre. Mais do que isto  a sua esposa era filha de Manuel Aráujo. O artista, filósofo e político paraibano Pedro Américo está representado por duas obras  no acervo das obras de arte Ruben Berta. O primeiro doutor brasileiro em Filosofia absorveu as mais adiantadas concepções políticas na Universidade Livre de Bélgica na qual defendeu a sua tese. Com a proclamação da Republica no Brasil foi constituinte republicano pelo seu estado natal desenvolvendo intensas teses sobre a institucionalização das artes no Brasil. Realizou esta tarefa apesar de seu profundo vínculo com o regime imperial.  Esta autonomia Pedro Américo é característica dos seus concidadãos paraibanos e que se desenvolveu em grau expressivo em Chateaubriand, doador do acervo Ruben Berta.  De outra parte Assis Chateaubriand e o  mestre de Areia-PB traziam o  mesma determinação e traço comum ao povo  paraibano que ostenta a bandeira do NEGO.

No presente - ao percorrer as obras do acervo Ruben Berta - salta a nossa memória a moldura política das circunstâncias dos projetos civilizatórios do cultivo das artes nas quais foram colecionadas. Projetos civilizatórios que recebem sentido pleno e que mostra todo  o seu potencial após a leitura  e assimilação de textos como os deArgan (1992: 23), de Marques dos Santos (1997: 132) de  Chaves de Melo (1974: 25) e de Bulhões  (1992, pp.05 - 58). Sentido que baliza os caminhos da busca da universalidade e da perenidade tanto de quem foi homenageado como dos agentes e do publico deste acervo de Arte.

A coleção não se limitou a uma tipologia estética, apesar de ser constituída, e concluída numa época de intensa busca de identidade brasileira, mas nem por isto fechou-se nas fronteiras nacionais. Como resultado constam, no acervo das obras da  Pinacoteca Ruben Berta, numerosos fermentos que conferiram vida e forma às mais intensas e específicas estéticas no Brasil[1] e em territórios culturais de além fronteiras.


[1] -, O crítico paulista Tadeu CHIARELLI cita e estuda (2007- 325p.) nominalmente muitos artistas que constam no acervo das obras de arte Ruben Berta ou então estuda a condições estéticas brasileiras nas quais se moveram estes artistas na concepção de Mário de Andrade


Chateaubriand entrega para Winston Churchill a “Ordem do Jagunço” -Fonte da imagem: Morais, 1994, p. 493
Fig. 05  O  Os artistas ingleses que constam no acervo das obras de arte Ruben Berta representam uma boa equipe do pós-guerra britânico e a preparação da Pop-art. De outra parte ela representa a irrestrita admiração de Chateaubriand  pela cultura, política e capacidade de iniciativa inglesa.

Se de um lado se observam muitas obras não figurativas das artes visuais, não faltam, neste acervo, aquelas que apontam a estética da “volta à ordem” corrente na época da criação de muitas obras.

Se nas obras de arte do acervo Ruben Berta, estão presentes os resultados de inúmeros fermentos estéticos.  Estes fermentos também são coerentes, na sua multiplicidade e contradições, com as circunstâncias políticas da época da origem desta coleção. Como a obra de arte expressa e evidencia as inúmeras contradições políticas. As obras de arte do acervo Ruben Berta também são índices estéticos das contradições vividas no Brasil nos primórdios da adoção do regime republicano. Um olha atento também percebe as oscilações estéticas vividas ao longo do século XX e os índices das escolhas políticos das formas de governo no Brasil.

Ângelo GUIDO Gnocchi, Cremona, Itália, 1893 - Pelotas, RS, 1969 . “Paisagem”.  1949..- óleo sobre tela.  55,0 x 70,5 cm
Fig. 06  – O  pintor e professor Ângelo Guido reforçou,  no Rio Grande do Sul, a obra do seu conterrâneo Pietro Bardi.  Os dois foram mentores das escolhas estéticas de Assis Chateaubriand. Ambos reforçaram as conexões conceituais da Arte com o público dos veículos de comunicação do paraibano Chateaubriand. Ângelo Guido veio  veio Brasil ao três anos. Estudou na Escola de Artes e Ofícios de São Paulo tendo interagido com os membros da Semana de Arte Moderna. Teve a resenha de uma das obras de jornalista em Santos analisada na revista KLAXON. Foi  consultor estético dos Concursos de Miss Brasil promovidos pó este órgão impresso no Diário de Notícias de Porto Alegre onde era o crítico de artes visuais. Além de pintor foi catedrático de História da Arte do Instituto de Belas Artes do RS.

As concepções políticas não devem ser procuradas nos temas explícitos das obras do acervo Ruben Berta. Os temas explícitos destas obras podem parecer antípodas destes dois personagens. Contudo deve-se procurar a coerência entre política e estética nas referências da fama que estes artistas gozavam e estão expressos nas molduras de suas obras. Estes dois personagens procuravam transpor o gosto pela fama, nos seus termos, expressos na sua sede de mando e seu profundo sentimento nacionalista sem xenofobia das outras culturas no que estas possuíam de melhor. Numerosos paraibanos e gaúchos foram agentes de proa da política republicana brasileira. Campina Grande e Porto Alegre foram destinos privilegiados de coleções com seu centro irradiador nos primórdios das aquisições e constituição do MASP[1] e local das decisões do império do mentor e condutor dos Diários Associados


[1] Morais, 1994, p. 584 (e seguintes)


Judith FORTES  ( -) “Retrato” – 1938 - óleo sobre cartão   45,0 x 34,5 cm..                 
Fig. 07    Muitos artistas, deste acervo, não tiveram grande fortuna na constituição de colecionadores, observadores e muito menos em estudos mais nutridos. Só para destacar o nome poderia ser evidenciado o nome de Judith Fortes formada em 1919 no centenário Instituto de Belas Artes do RS na turma de Francisco Bellanca. Ela tentou carreira solo quando isto era impensável para uma mulher,  ainda sem direito ao voto. As três obras que constam no acervo Ruben Berta talvez seja um dos conjuntos mais representativos das suas obras numa única coleção. Politicamente presente  Judith Fortes foi uma das fundadoras da Associação Francisco Lisboa. Para a sua sobrevivência mantinha na frente do prédio do Instituto de Artes um curso de preparação para o vestibular. 

  O acervo Ruben Berta resultou de um projeto inconcluso do embaixador Assis Chateaubriand e proprietário, em Porto Alegre, do jornal Diário de Noticias, Rádio Farroupilha e a TV PIRATINI. Nos quadros do Diário de Noticias ele teve o professor Ângelo Guido. Os textos deste crítico de arte devem ter reforçado a convicção do seu chefe para a criação de  um Museu de Arte em Porto Alegre, como uma extensão nacional do MASP somando-se às iniciativas do italiano prof. Pietro Maria Bardi. A Pinacoteca Ruben Berta veio para as dependências dos Diários e Emissoras Associados, em Porto Alegre como parte do projeto de Assis Chateaubriand de criar museus regionais, de alto valor artístico, em vários pontos do País. O acervo do Museu Rubem Berta foi entregue à cidade de Porto Alegre no dia 06 de março de 1967. Porém, apenas cinco foram implantados, sendo um deles a atual Pinacoteca Ruben Berta. Esta Pinacoteca é formada por obras de reconhecidos artistas nacionais e estrangeiros. Este acervo permaneceu junto aos estúdios da TV Piratini e Rádio Farroupilha -  no alto do Morro Santa Teresa -  até 1971 quando o prefeito Thompson Flores e recebeu das mãos do senador João Calmon, sendo doada à Prefeitura de Porto Alegre, em 1971, pela direção dos Diários Associados.

A Lei Municipal nº 3.558, de 10 de novembro de 1971, assinada pelo prefeito Telmo Thompson Flores, criou a comissão da Prefeitura de Porto Alegre, para este acervo. Esta comissão emitido o seu relatório, em dezembro de 1986. Cumpriu e  atendeu o que consta na Portaria nº 051, de 30 de julho de 1986 do processo nº 51/86. Este relatório estava acompanhado pela  lista de obras do Museu Rubem Berta que é sua composição original sendo fechado e permanece inalterada.


PORTINARI, Cândido Torquato Brodósqui, SP, 1903 – Rio de Janeiro, RJ, 1962 “Retrato de Rodolfo Jozetti  1928..- óleo sobre tela  200,0 x 90,5 cm..                 
Fig. 08  – As obras de Portinari não são muito numerosas em Porto Alegre. Pietro Mari Barde e  Ângelo Guido  incluiram uma das suas obras na Pinacoteca que  Assis Chateaubriand estava destinando ao Rio Grande do Sul  

Fortes mudanças políticas e econômicas vieram atingir o acervo das obras de arte Ruben Berta com a retirada dos Diários Associados – o jornal Diário de Notícias, da TV PIRATINI - do Rio Grande do Sul e com o regime de exceção, implantado no dia 31.03.1964. A política dos regimes de exceção sempre estimularam e “toleraram” a estetização superficial e a liberalização da criação individual e solitária. Assim o poder discricionário se mascara na aparente liberalização e a “tolerância” cultural e artística.   O preço que o artista deve pagar - em compensação desta “tolerância” da estetização e da liberalização da criação individual e solitária - é de não contestar e deixar incólumes os instrumentos de poder discricionário.  As tratativas, em 1971, para a entrada massiva da carga das obras de arte do acervo Ruben Berta na posse e na economia da Prefeitura apontavam para esta política de estimulo e “tolerância”, tendo como preço a heteronomia dos artistas vivos e da sua produção ainda “não consagrada” pelo mercado e sistema de artes
Carlos Frederico  BASTOS, Salvador, BA, (1925-2004) .“Arraial da Glória” 1966. óleo sobre tela. 57,5 x 90,5 cm
Fig. 09  – O regionalismo  não é hermético e excludente nas escolhas do acervos deixados por Assis Chateaubriand. As escolhas estéticas de Assis Chateaubriand e dos seus mentores Pietro Bardi e Ângelo Guido estabeleceram conexões de complementariedade. Os veículos de comunicação do paraibano ofereciam assim estas riquezas  regionais, nacionais e internacionais através dos museus espalhados pelo território nacional. O núcleo da Pinacoteca Ruben Berta possui, no seu núcleo, forte presença da Arte do Rio Grande do Sul. Porém convive perfeita e harmoniosamente com os nordestinos, como Carlos Bastos.

No contraditório, a estrutura fechada para entrada de novas obras de arte no acervo Ruben Berta, possibilita-lhe inúmeras vantagens na busca da sua autonomia. As competências fechadas permitem operar ao modelo da célula viva, na concepção de Maturana.  Maturana &Varela mostram (1996: 41) na biologia o exemplo da autonomia da célula viva que necessita da membrana para proteger a competência da vida. Só a partir da célula viva é possível determinar o que é relevante. De um lado a película externa da membrana protege a célula viva da sua dissolução no meio externo e na entropia da indefinição daquilo que é prioritário. Do seu lado a célula viva escolhe, neste mundo externo, o que lhe interessa como prioritário para continuar a sua vida. A célula sadia devolve – numa perpetuo comércio - o que interessa ao meio externo. O acervo das obras de arte Ruben Berta, com este pensamento de autonomia (competências e limites) se institucionaliza e se fecha na sua membrana protetora. Nesta dialética pode organizar a sua competência e se reorganizar num constante intercâmbio com o meio cultural próximo e com acervos de outras culturas.

Busto de RUBEN BERTA  obra de VASCO PRADO - foto Círio – Ver Jose Francisco ALVES 2004 - p. 126
Fig. 10  Ruben Martin Berta foi um empresário brasileiro e ex-presidente da Varig. Foi contratado por Otto Ernst Meyer, aos dezenove anos tornou-se o primeiro funcionário da Varig, como auxiliar de escritório e secretário de seus diretores fundadores. Em 1941, tornou-se diretor-presidente, cargo em que permaneceu até sua morte, em um período em que a empresa teve grande expansão. A homenagem de Chateaubriand ao presidente da VARIG, integrava-se ao seu projeto de projeto de manter aeroclubes e estimular a aviação civil brasileira.

No futuro da política cultural de Porto Alegre desenha-se uma intensa ação civilizatória por meio deste acervo. A obra de arte confere uma potencialidade única e primordial para esta ação civilizatória municipal a ser conduzida pela sua Secretaria de Cultura. Quanto ao PROJETO e ARTE. Argan enfatiza (1992: 23) que o projeto  fundamenta a ideia da ação histórica”. Projeto civilizatório para Marques dos Santos (1997: 132)  compreende, a contrapartida da afirmação política da institucionalização dos Estado autônomo, uma espécie de missão civilizatória”. Enquanto  Chaves de Melo distingue cultura de civilização quando afirma (1974: 25) que, civilização supõe instituições. Bulhões argumenta (1992, pp. 5 e 58) que “na sociedade brasileira, onde tudo parece estar por ser feito, a recorrência a projetos modernos enunciados como ideais, já é uma tradição. A cada projeto socioeconômico e político corresponde um projeto estético a ele articulado num processo de mútuo reforço”.

A obra de arte - única e primordial – preserva também o pensamento de quem a colecionou. O pensamento que emana do acervo das obras de arte Ruben Berta constitui um forte elo no sistema da arte da capital, do estado e nação com os seus múltiplos vínculos internacionais. Assim este elo extrapola a circulação local, pois, desde a sua origem, o acervo das obras de arte Ruben Berta faz parte do projeto civilizatório brasileiro, possibilitando retomar o sistema nacional com os demais acervos de obras de arte criados pelo jornalista embaixador.  O pensamento que regeu a criação destas instituições novamente poderá ser evidenciado na soma destas instituições -não só sonhadas - mas efetivamente iniciadas por Assis Chateaubriand. Instituições, que na sua soma, continuam em plena vida e ação como desdobramento do seu projeto civilizatório nacional.


Fig. 11   A celebração da transferência no dia 02 de dezembro de 2013 para sua sede especialmente recuperada e preparada   para tanto na rua Duque da Caxias,  nº 973 . Imagens das obras do   acervo Ruben Berta deixam simbolicamente o Prédio Histórico da Prefeitura de Porto Alegre.  No seu peregrinar pousou nos Estúdios da TV PIRATINI, migrou para a reserva do MARGS e deste para a sólida reserva técnica e profissional no qual continuará enquanto se renovam as exposições de algumas das obras originais  no prédio que leva doravante o seu nome e a função exclusiva.
 
Uma coleção é  a origem de um museu inicia conforme Gervereau. A coleção de obras de arte reunidas por iniciativa de Assis Chateaubriand possui agora o abrigo de uma instituição consolidada. Consolidação que recebeu o abrigo de sólida mansão. Esta mansão representa esta esperança humana colocada na Arte num momento de generalizada crise de valores.

Esta crise possui o dom de evidenciar as competências e os limites aos artistas vivos. Limites de sua heteronomia e o preço ainda devem pagar de sua produção ainda “não consagrada” pelo mercado e sistema de artes. Se os artistas do passado recente produziram sua obra apesar da política da “tolerância”, este acervo, ora consagrado, mostra como transformam, com o passar do Tempo, esta contradição em complementariedade.  

Sempre cabe o contraditório para as estreitas e cansativas mentalidades estéticas, políticas e ideológicas. Estas poderiam exibir argumentos fixos e maniqueístas como do embalsamento de um acervo e um segundo e um definitivo funeral para Assis Chateaubriand e Ruben Berta. O exame isento da política municipal de Porto Alegre mostram o contrário e outros argumentos. A renovação de exposições no prédio histórico municipal como espaço nobre para as obras de artistas atuantes, a fidelidade do Atelier Livre em se renovar continuadamente desde 1960 e a sintonia com a Secretaria de Cultural - das quais a Pinacoteca Ruben Berta é uma das suas expressões -  contradizem qualquer estética fixa comandada po um único dono que se orienta pelos parãmtres do estreito marketing e propaganda. 

Mas o que convém sublinhar nestas expressões é a continuidade deste projeto civilizatório compensador da violência. A politica que prevalece na Pinacoteca Ruben Berta é a legalidade, a impessoalidade, a moralidade, a publicidade e a eficiência. O município de Porto Alegre, como célula primeira  do Estado Brasileiro, cumpre assim o projeto que lhes descreve o caput do artigo 37 da Constituição Brasileira  de 1988. Certamente nenhum cidadão é maior do que seu município ou de qualquer uma das suas instituições.




FONTES BIBLIOGRÁFICAS.



ALVES Jose Francisco - A Escultura Pública de Porto Alegre- história, contexto e significado.  Porto Alegre: Artifolio, 2004 - 262 p.



ARGAN, Giulio Carlo (1909-1992).   História da arte como história da cidade.   São Paulo :  Martins Fontes. 1992.



BULHÕES GARCIA, Maria Amélia. Artes Plásticas: participação e distinção. Brasil            anos 60/70. São Paulo: USP. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. 1990, 283 f. (Tese).

____. «Modernidade como projeto: mudança e conservação» in  A Semana de  22

           e a emergência da modernidade no Brasil. Porto Alegre : Secretaria Municipal da  Cultura, 1992. pp. 58-61.



CHAVES de MELO. Gladston. Origem, formação e aspectos da cultura brasileira.  Rio de Janeiro : Padrão , 1974.  277p.



CHIARELLI, Tadeu Pintura não é só beleza ; a crítica de arte de Mário de Andrade. Florianópolis : Letras Contemporâneas,  2007, 325 p.



KRAWCZYK, Flávio. O espetáculo da legitimidade: os salões de artes plásticas em        Porto Alegre. Porto Alegre : Programa de Pós Graduação em Artes Visuais, 1997. 526 fls.. (dissertação)



LEON, Aurora.  El Museu: teoria, práxis y utopia. Madrid : Cátedra, 1995. 378 p.



PETTINI Ana Luz e KRAWCZYK, Flávio Pinacotecas ALDO LOCATELLI e RUBEN BERTA:  acervo artístico da Prefeitura de Porto Alegre - Porto Alegre : Pallotti, 2008, 216 p.il color



MARQUES dos SANTOS, Afonso Carlos «A Academia Imperial de Belas Artes e o projeto   Civilizatório do Império»  in  180 anos de Escola de Belas Artes.  Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997, pp. 127/146.



MATURANA R., Humberto (1928-) e VARELA. Francisco (1946-). El árbol del  conocimiento: las bases biológicas del conocimiento humano. Madrid: Unigraf. 1996, 219p



MORAIS, Fernando (1940- ) Chato : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubrinad. São Paulo ; Companhia das Letras, 1994, 732 p

SILVA, Úrsula Rosa da - A fundamentação estética da crítica de arte em Ângelo Guido : a crítica de arte sob o enfoque de uma história das ideias  Porto Alegre: PUC-RS, 2002 Tese (Doutorado em História) - PUCRS, Fac. de Filosofia e Ciências Humanas .

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS


BERTA, Ruben

DIÁRIO de NOTICIAS de PORTO ALEGRE 1925-1979

GERVEREAU, Laurent OS MUSEUS ESTÃO em CRISE

GONZAGA, Luiz –

Museu de Arte de São Paulo (MASP)   http://masp.art.br/sobreomasp/historico.php
PINACOTECA RUBEN BERTA inauguração da sede

Projeto civilizatório  compensador ver as fontes bibliográficas no site  www.ciriosimon.pro.br no tópico PRODUÇÃO DIDÁTICA onde consta no texto do arquivo HISTÓRIA da ARTE INSTITUCINALIZADA no RIO GRANDE  do SUL


[1] GERVEREAU, Laurent OS MUSEUS ESTÃO em CRISE  http://www.latribunedelart.com/les-musees-sont-en-crise




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