PAULO
PERES:
o ENTE no SER.
“Toda a arte está no que produz,
e não no que é produzido”.
[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética
a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
Fig 01 – O AGIR de Paulo Peres sempre foi o de reunir - ao seu
redor - amigos da Arte como o fez para
iniciar o ano de 2013. Assim reuniu ao
redor da mesma mesa, no dia 02 de janeiro, Annete Abarno, Marilene Burtet Pieta, Alberto
Pereira, Selsa Dal Bello, Círio Simon e Paulo Peres.
A maior expressão de um
artista é a sua capacidade de conquistar, cultivar e reproduzir a coerência entre
a Vida e Arte. Melhor quando esta coerência torna-se sensível nas obras, no
agir quotidiano e na expressão dos pensamentos que o viver concreto estimula.
“Sob a aparência, estou tentado
dizer sobre o disfarce, de um dos membros da raça humana, o indivíduo é de fato
sozinho e único e no qual as características comuns a todos os indivíduos,
tomados no conjunto, não possuem nenhuma relação com a explosão solitária de um
indivíduo entregue a si mesmo”.
DUCHAMP.
Marcel “O artista deve ir à universidade?”[1]
in SANOULLET, Michel. DUCHAMP
DU SIGNE réunis et présentés par Michel Sanouillet Paris: Flammarrion,
1991, pp. 236-239
As obras, o pensamento e
a ação de Paulo Peres (1935-2013) são frutos desta coerência entre a Vida e a Arte.
Alguém afirmava na sua despedida física de que “Paulo Peres foi o maior artista que o Rio Grande do Sul já teve”.
De um lado é necessário concordar na medida em que poucos o igualaram Paulo
Peres na sua ARTE de AGIR sem AGIR. De outra parte qualquer comparação é sempre
odiosa, redutora e determinante de um padrão fixo. Entre estes extremos é
necessário construir uma narrativa em relação ás obras, ao pensamento e á ação
de Paulo Peres que atravesse e não pereça num destes extremos.
[1] - Texto de uma alocução em
inglês pronunciada por Marcel Duchamp, num colóquio organizado em Hofstra em 13
de maio de 1960.
Consta em SANOULLET, Michel. DUCHAMP
DU SIGNE réunis et présentés par.. Paris Flammarrion, 1991, pp. 236-239
Traduzido
para Victor Hugo Guimarães Rodrigues - professor da FURG - por Círio Simon em 27 de junho de 2004 no
contexto do 1o Colóquio dos Dirigentes das Instituições Superior de
Arte do Rio Grande o Sul realizado entre 24 e 26 de junho de 2004 no Instituto
de Artes da UFRGS.
Fig 02 – As cores, os grafismos e os textos - que constam nas
obras de Paulo Peres - nos remetem para o universo de um artista desafiador
raramente visto e com um reconhecimento universal dos demais colegas de Arte no
Rio Grande do Sul e dos seus estudantes.
Agia e produzia sem de proselitismo, de fama pelo que produzia ou busca de
mercado fixo no âmbito da indústria cultural.
Nesta narrativa é de
extrema importância cultivo das obras, do pensamento e á ação de Paulo Peres,
para que permaneçam e se reproduzam no pensamento e no agir das novas gerações.
Na verdade é preciso reconhecer o pouco cuidado e persistência tivemos neste
cultivo das obras, do pensamento e á ação de gerações de artistas do passado, do
presente. Para aquelas do futuro não parece promissora face ás culturas
hegemônicas que praticam este cultivo com projetos e com a sua multissecular e
exemplar continuidade. Enquanto isto a nossa cultura concentra a sua atenção, seus
estudos e os seus recursos em alguns eventos pontuais. Para piorar o quadro importamos
produtos prontos e elaborados pela mídia, propaganda e marketing e que ainda alimentam
a preferência local com produtos de estudos, trabalho e estéticas alienígenas.
Fig 03 – A intensidade
gráfica das formas e das cores de obras de Paulo Peres remetem para o AGIR
distante de um mundo narrativo fixo por uma mensagem unívoca e linear. Os
mistérios são preservados e remetem para um tempo e um lugar universal que
dispensa a cápsula das formas singulares da comunicação num idioma
particular de uma cultura dada. Nestes
AGIR - sem AGIR nos paradigmas já conhecidos -
a gráfica das formas e das cores de obras de Paulo Peres remetem o seu
observador para o grafismo da criança, da pré-história e dos sonhos de todo e
qualquer ser humano.
Além da atenção e elaboração dos seus produtos
as culturas hegemônicas possuem maestria, competência e formas continuada de
mídia, de propaganda e de marketing. Não abrirão seu espaço já conquistado para
amadores e improvisadores enquanto durar
o seu projeto de dominação material e imaterial. Todo paradigma é total e como
tal procura esmagar qualquer outro que encontra no seu caminho.
Fig 04 – O intenso cromatismo da obra de Paulo Peres - nas suas ressonâncias
plásticas e visuais - despertam sentimentos,
sonhos e ressonâncias nos quais o verbo,
o som e o volume nada podem
acrescentar ou traduzir numa narrativa unívoca ou linear. Se a obra de Paulo
Peres nos desorienta de outro a surpresa de nos reduzir a observadores impotentes
como nos sentimos diante de uma criança que brinca, de um ser humano que
usa a cor e as formas sensoriais anteriores a
qualquer código previamente combinado da comunicação.
Paulo Peres compreendeu
este desafio destes paradigmas arrasadores, totalitários e concorrentes
alienígenas da cultura sul-rio-grandense. Diante destes tsunamis culturais - que se querem hegemônicas, arrasadores e
únicos - a saída foi o AGIR sem AGIR.
Paulo Peres investiu a
sua existência no AGIR sem AGIR em três vertentes. As três nasciam do foco do
seu ENTE empenhado em AGIR sem AGIR na fidelidade á Arte, ao magistério e as
duas orientadas pelo pensamento da transcendência.
Fig 05 – Paulo Peres - como estudante vestindo macacão de operário - entre os
colega Clébio SORIA (à sua direita) e Paulo PORCELLA (à sua esquerda) estudam
mural na disciplima comandada pelo experiente professor Aldo Locatelli. Paulo
Peres retornou para o seu universo lírico e pessoal no seu fazer poético
visual. Como estudante estava bem convencido que “estudante não faz Arte
na medida em que se encontra na heteronomia institucional, voluntariamente contratada,
mas da qual tem obrigação de se livrar na medida que descobre suas sendas e
caminhos que a coerência da vida.
Com esta energia enfrentou o mundo pratico do FAZER em franco
caminho de decomposição e descrédito social, político e econômico. Enfrentou
este seu mundo com o perpétuo sorriso nos lábios e otimismo no pensar. AGIU entre a sua liberdade e a coação imposta por
sistemas estéticos, imposições pedagógicas e assaltos em nome da transcendência
conferem-lhe expressões que vão muito
além do senso comum se um proselitismo interesseiro.
Fig 06 – A grande forma de AGIR de Paulo
Peres foi o de reunir - ao seu redor - amigos da Arte e ser assíduo a
estes ambientes. Nesta foto consta a turma do IBA_RS formado por 1-Paulo
Peres; 2-Ana Maria Estrella; 3-Eneida Morais; 4-Ana Amelia Althoff; 5-Vera
Suertegaray; 6-Angelo Guido; 7-Sandra Della Rocha; 8-Isaura Sanguinetti;
9-Suely Anna Kelling; 10-Elisabeth Marchiori; 11-Marilene Burtet; 12-Irene
Backheuser; 13-Ligia Carvalho da Silva; 14-Leonidia Stringhini; 15-Carmem
Seganfredo; 16-Lays Ilha Dias; 17-Maria Julia Lessa; 18-Marisa Brum;19-Selso
dal Belo; 20-Clebio Soria; 21-Maria Beatriz Rahde; 22-Ziloa Silva; 23-Helena
Gomes; 24-Teresinha Sanguiton; 25-Gisele Bonetti; 26-Jane Stoltenberg e 27-Ines
Pianezzola
[ Nomes identificados por
Marilene Pieta em 23.09.2013]
Clique na imagem para ampliá-la
Na senda daqueles que
modificaram o modo de sentir e de expressar o mundo Paulo Peres escreveu pouco
seu pensamento. Preferia o pensamento nascido da interlocução com a pessoa
concreta situada nas suas circunstâncias do daqui e do agora.
No magistério
coerentemente seguia a metodologia nascida do vasto e arejado espaço da
maiêutica socrática. Cada estudante era
um mundo a parte e que buscava uma interlocução se perder as características,
originalidades e motivações. Como estudante da Arte já havia percebido o pequeno,
estreito e contaminado espaço cultural. Porém contraditoriamente ali poderia
aprender a realizar os contratos culturais sem abdicar do seu projeto maior de
coerência. Como estudante passou ao magistério com este mesmo projeto.
Fig 07 – Paulo Peres prestigiando os amigos numa exposição na Iª Galeria Didática
de Porto Alegre. Da esquerda para direita da imagem o artista Clóvis Peretti, o
engenheiro Edmundo Gardolinsky, o diretor do Colégio São João Ir.Arnadlo
Schmitz, o presidente da Associação dos Pais e Mestres
do Colegio, o vereador Aloisio Filho, o
artista e professor Paulo Peres, o artista Luís Brasil e Círio Simon.
Paulo Peres cultivou a
transcendência numa sociedade profundamente marcada e condicionada pelo FAZER,
pela TER aparência física e pela busca de projeção social imediata e retumbante.
Mestre com a imensa
energia que emana das figuras com de Gandhi, de Leonardo da Vinci, de Maomé ,
Cristo, Sócrates, Buda ou de Lao-Tse entre tantos, para verificar que o seu
AGIR sem AGIR transformou-se em ação coletiva.
Fig 08 – Paulo Peres no
momento da doação de um álbum de gravuras produzidas no Atelier Livre da
Prefeitura de Porto Alegre
A obra Paulo Peres é
um dos índices sul-rio-grandenses na medida em que o homem do pampa está pouco
inclinado a se fixar na formalidade e trabalhar de forma demorada e requintada
com as mãos. A obra de Paulo Peres
aparenta-se- nesta busca do repente - do dos
meios formais imediatos, diretos e puros – com as obras de seus colegas
artistas próximos no tempo e na estética como Iberê CAMARGO (1914-1994), de um Vasco PRADO
(1914-1998), de Geraldo TRINDADE LEAL (1927-2013),
Ruth SCHNEIDER (1943-2003), Maria Lídia dos Santos MAGLIANI (1946-2012). Todos
eles deixam em suspenso os signos plásticos ainda próximos das suas origens
naturais. Tornaram competentes para manter puro e intacto a fonte do seu AGIR sem AGIR. Evitaram a corrupção por meio do puro artesanato do
FAZER pelo FAZER e do MATAR o TEMPO por
meio de um trabalho formal e sem alma. Signos
plásticos convocados para a cena da obra plástica pelas fortes concepções,
fatos mentais nascidas e justiçadas pela força do SER do artista na do seu ENTE
mais profundo e único.
Diante da obra do mestre
Paulo Peres cabe ao espectador toda a atenção que lhe possível. Este observador
necessita desfazer-se do seu próprio repertório alienante em relação à obra que
estuda. Para penetrar no sentido da obra do artista necessita afastar a
expectativa de encontrar nelas projetos recheados de onipotência de mudar o
mundo, de onisciência de todo fenômeno estético e de soluções capazes de
resolver suas próprias contradições. As mesmas observações cabem aos mediadores
da obra de Paulo Peres e aqueles que se intitulam atravessadores dela para um
público mais amplo. A recompensa para quem tiver ao seu dispor uma autêntica de
obra de Paulo Peres está de posse de uma chave singular para o caminho da sua
surpreendente biografia. Esta postagem é apenas uma gota neste vasto oceano a
ser ainda explorado, estudado e transmitido para as gerações posteriores.
Fig 09 – O AGIR continuado de Paulo Peres permitia-lhe criar
obras - como desta imagem – na qual uma linha definitiva sintética, uma mancha cromática e uma colagem traduzem um
longo trabalho, de infinitas escolhas entre potenciais repertórios e de
tantas outra renúncias narrativas que o artista remetia para outras potenciais linguagens
poéticas
Esta atenção,
distanciamento e são necessários e inerentes face aos grandes revolucionários a
todos os que querem pertencer á uma determinada cultura ou civilização. De um
lado não possível ao observador perecer no curso da Natureza com o seu
imponderável e da falta de algo por dentro. Do outro ser tomado pelo fascínio
do novo, inédito e do artificial, o
intencional e o construído por um projeto de uma determina civilização.
Diante das obras de
Paulo Peres não é possível esquecer as profundas influências místicas provenientes
do lado da civilização ocidental. Diante da obra de Paulo Peres é necessário
visitar as obras de George ROUAULT (1871-1958) com suas fortes e decididas
pinceladas, as de Emil NOLDE (1867-1957)
com suas trágicas cores e linhas com a obra Nicolas STAEL (1914-1955). Não há como contornar Henri-Emile Benoit
MATISSE (1869-1954) no o cultivo da cor
e ascético da linha sobre o plano e nem Charles
LAPIQUE (1898-1988) com as festas visuais dos quadros coloridos e alegres ou ignorar
o grafismo do músico suíço Paul KLEE
(1879-1940). Estes foram algumas das referências consagradas na formação plástica
e visual de Paulo Peres. Para transferir estas referências internacionais da
obra de Paulo Peres é necessário separar o seu ENTE daquilo que o mercado e a
indústria cultural divulgou a seu respeito. Para o artista sul-rio-grandense
importava a sua vida, a sua arte e o seu
modo de pensar por meio dos elementos sensoriais visuais.
Fig 10 – Esta obra transforma os signos em recursos gráficos e
vice versa. Os meios gráficos transfigurando-se em linguagens poéticas universais na espécie
humana. Linguagens da cor e dos gráficos
estão presentes em todas as culturas e civilizações humanas em todos os tempos
e lugares. O AGIR continuado de Paulo Peres confere a universalidade
s suas obras e este valor são passíveis de orientar narrativas em todos os códigos poéticos falados e
escritos da humanidade.
Um dado subliminar
- nas obras de Paulo Peres - é a sua preferência para os formatos pequenos
domésticos. Estes formatos pequenos
fazem pensar - e poderá tornar-se um ponto de investigação- a estética visual dos trabalhos provenientes
da vertente intimista do agir visual e plástico açoriano. Neste sentido ele
enveredou em caminhos distantes dos seus colegas de turma Clébio Sória e Paulo
Porcella. Estes optaram pela arte
pública e grandiloquente dos murais na senda das obras e temas do mestre de
todos eles que foi Aldo Locatelli.
Paulo Peres encontrava
frequentes estímulos visuais e plásticos provenientes das vertentes
desenvolvidas pelos indígenas brasileiros e pelas culturas avançadas pré-colombianas,
sem se fixar em uma em particular. Ali buscou formas, cores, linhas e uma fazer
estético ainda não colonizado.
Porém
é necessário destacar que, apesar de todas estas sendas - próximas do pensamentos, das
motivações e das obra de Paulo Peres –
não foram suficientemente fortes para ele ter qualquer projeto de imposição de sombras
de qualquer hegemonia estética, afetiva ou técnica da sua parte.
Fig
11 – Paulo Peres (4) agregando amigos da
Arte ao seu redor como na exposição SINGULAR
no PLURAL que aconteceu na Pinacoteca do
IA_UFRGS em 17 de abril de 1997 quando aparece com Alfredo Nicolaiewsky (1) Blanca Brites (2) Annete Abarno (3) Anico Hersokovits (5) e Mônica Zielinsky (6)
Assim ressoa “a
explosão solitária de um indivíduo entregue a si mesmo” do mestre Marcel
Duchamp - materializada para os sentidos humanos na obra de Paulo Peres - como um dos índices
dos meios plásticos, Coerência que esta artista singular agiu para tornar coerente com a sua gente, com seu tempo e com a sua cultura mais profunda e semente de uma civilização
OUTRAS
FONTES NUMERICAS DIGITAIS
PAULO
PERES imagens
em
25.10.2013
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