Um
ARTISTA no GOZO da sua AUTONOMIA:
JORGE
HERMANN - CONFLUÊNCIAS - uma crônica visual
da REDENÇÃO - 2012.
“Não há caminhos: os caminhos se fazem ao andar”
MACHADO, Antonio (1875-1939) Antología
poética. Madrid : Alianza,
1995, p.66
Fig.
01 – Jorge HERMANN retorna aos elementos básicos de desenho. Da mesma forma
como Giotto escolheu o retorno às tintas, os pinceis e a superfície
contrariando as joias, os esmaltes e as pedras preciosas dos ícones bizantinos
assim Jorge renuncia aos ícones da parafernália eletrônica. Mesma para os
ortodoxos dos meios sofisticados de arte foi um escândalo descobrir que Picasso
construiu a sua obra com tintas de parede, com lápis, cerâmica popular e
sucata.
Jorge HERMANN ilustra a
coerência com o seu caminhar pelas sendas da autonomia por meio dos seus
sucessivos projetos nas artes visuais. Com um sólido conhecimento dos múltiplos
caminhos, que a arte contemporânea oferece, e que conheceu num curso superior,
pode fazer esta escolha. Coerente com o mestre Ado Malagoli sabia que “estudante
não faz arte” pois se encontra na heteronímia. O que importa numa Universidade
é descobrir que:
“o único elemento, entre todos os
“autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus
estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de
assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma
inexorável lucidez a respeito de si mesmos”. Max WEBER 1989: 70 [1]
Jorge HERMANN manteve e
cultivou esta lucidez a respeito de si mesmo. Esta mesma lucidez fornece espaço
interior para responder a questão cartesiana do “penso, logo existo”. Jorge materializa este pensamento abstrato por
meio de sua expressão gráfica. Com esta questão imaterial e material resolvida,
é fácil admitir o OUTRO ou o SEMELHANTE que também possui a necessidade de
responder a mesma questão cartesiana
Fig.
02 – A felicidade e a realização de Jorge
HERMANN é perceber no OUTRO envolto com os elementos básicos do desenho que ele
usa. Elementos gráficos humanos universais e existentes na espécie
humana muito antes de qualquer cultura ou linguagem atual são visíveis na arte
rupestre de todos os tempos e lugares do planeta.
Na academia de arte
Jorge conseguiu sobreviver à pororoca das técnicas, das teorias e das tentações
mostradas e características deste curso superior e que afogam a originalidade e
autonomia do despreparado para nadar e mergulhar neste meio. Testado e coerente
consigo e com o seu projeto, evitou seguir simultaneamente à todos os caminhos
já feitos e apontados por esta academia como um “dejá-vue” e portanto não
originais.
Fig.
03 – Jorge HERMANN encontrou na profunda interação nas CONFLUÊNCIAS entre a Vida
humana e a Natureza presente do Campo da Redenção. Ele escolheu este espaço
democrático para deixar fluir o seu pensamento e a sua mão da qual resultou a
obra acima. Interação com a qual
interroga a Vida na sua essência e despoja de qualquer aparato da civilização e
da tecnologia de qualquer tempo histórico.
O observador desta imagem pode
sentir uma ponta de inveja que o seu autor sentiu e captou na confiança deste
ser humano encontrando na raiz e na sombra deste vegetal do parque da REDENÇÂO
de Porto Alegre-RS.
Diplomado, sobreviveu
aos três semestres posteriores à sua graduação quando teve de fazer o seu
caminho sem as escoras da turma, dos mestres e do meio cultural institucional.
Sobreviveu às tentações do já realizado por outros em todos os tempos e da fama
fácil e inconsequente. Sobreviveu às rigorosas perdas, de toda ordem, que uma
escolha madura e coerente impõe especialmente numa terra onde o colonialismo
constantemente renovado e a escravidão voluntária são leis imutáveis.
Fig.
04 – A atenção que Jorge HERMANN confere ao Buda - do Recanto
Oriental do Campo da Redenção de Porto Alegre - é um índice do que se passou na mente do artista. Índice da
técnica próxima aos calígrafos orientais, que manejam a tinta nanquim com maestria.
Índice presente no tema do Buda. Buda. Este com os olhos semicerrados e o
imenso pavilhão auricular evidenciam a concentração necessária na arte para
manter a coerência entre quem produz e
aquilo que ele produz.
Jorge HERMANN foi consequente
com a sua cultura urbana, buscou as imagens de sua gente, de sua prática
publicas e as imagens da natureza que se adaptou nos parques de Porto Alegre.
Busca o pertencimento desta gente à sua sociedade e meio.
Como artista
experimentado e livre ele usa os instrumentos mais singelos da arte. Escolheu o
preto e do branco que contem todas as cores sem se valer de nenhuma delas em
particular
Fig.
05 – O tema desta obra de Jorge HERMANN remete
ao equilíbrio homeostático necessário entre as mais diversas forças contrárias . Em arte não é possível pedir desculpa por
um eventual fracasso ou desiquilíbrio. O mesmo
acontece também no esporte, na política, pois o autentico esportista, o político e o artista sabem que
realizaram esta escolha por livre e espontânea vontade. O espaço do Campo da
Redenção faz lembrar o conceito de Liberdade de Democracia. Platão descreveu o regime democrático como um bazar
onde é possível encontrar todas as formas de governo. Assim no Campo da
Redenção CONFLUEM espontaneamente todas as formas políticas, esportivas e
artísticas dispensando mediadores,
tuteladores ou atravessadores do seu PODER ORIGINÀRIO.
Jorge HERMANN não busca
a epopeia pela epopeia. Subsumido, em cada um das suas imagens, está o desafio do
criador destas imagens de transmitir ao seu observador o seu pensamento lírico.
Com a economia dos meios técnicos consegue sublinhar e trazer para o presente o
pensamento do mestre de Alexandre Magno de que:
“toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Entrega ao seu
observador a sua obra com este lúcido e meridiano projeto na sua mente, no
coração e ao alcance de suas mãos.
Fig.
06 – Na história do espaço publico do
Campo da Redenção Jorge HERMANN escavou verdadeira relíquias de hábitos da
populações afrodescendentes e ex-escravos abandonados à sua própria sorte,
depois de exauridos no trabalho servil e do qual nada receberam. População que sem
revolta e sem agressão soube dar a volta por cima e se afirmar em todos os
setores como aqueles que readquiriram a liberdade e sabem o que fazer dela para
construir uma outra civilização e distinta dos horrores do colonialismo e da
escravidão.
O enigma do Parque
Farroupilha – o antigo CAMPO da REDENÇÂO e do BOM FIM de Porto Alegre – é o
problema que prendeu a atenção do artista. Problema que despertou os seus
pensamentos, a sua sensibilidade e os centralizou na produção física da sua
obra gráfica. Obra gráfica que revela o ENTE (o artista que produz) e que constitui o meio de SER (na obra que é
produzida).
Fig.
07 – Certamente todo porto-alegrense sabe que o Imperador Dom Pedro I da especulação imobiliária salvou o viria a
se denominar de Campo da Redenção. Este plano de loteamento já estava traçado. Poiso passageiro das
tropas que iam até as minas de ouros passando por Viamão, Gravataí, Pouso de
carreteiros vindos de todos os lados.
Com o seu gesto o imperador deu oportunidade para este espaço
continuasse sendo o lugar de múltiplas CONFLUÊNCIAS mesmo da atividade
produtiva. Jorge HERMANN retorna aos elementos básicos de desenho.
Para tanto se muniu de
um projeto, aprovado publicamente, e
permaneceu cativado ao longo de meses mergulhado numa contemplação ativa e
centrada e desafiado por este problema. Porém muito antes deste mergulho,
contemplação do problema, existia em Jorge Hermann a certeza de um projeto que
deveria ser levado à este mundo e ser devidamente socializado. Os índices materiais
que permaneceram desta fruição silenciosa resultaram em imagens reduzidas por
uma austera economia de meios gráficos. A ascese visual, à qual o artista se
submeteu, rendeu testemunhos que se oferecem para serem meios para decifrar o
ENTE do autor. A observação do que foi
produzido permite decifrar o ENTE do autor e a assimilação do seu pensamento em
qualquer cultura de qualquer tempo e lugar.
Fig.
08 – Nas suas CONFLUÊNCIAS Jorge HERMANN confere visibilidade pública
à aqueles que chegaram à esta terra
antes dos colonizadores europeus e os escravos afro-brasileiro. Esta
digna cultura pacífica deu exemplos de autonomia ao não se sujeitar à
escravidão legal sem deixar de interagir nas adversas condições coloniais. Num
futuro remoto os seus ensinamentos poderão ter validade na medida em que as
culturas dominantes entrarem em colapso e em consequência da sua ganância,
autoconfiança desmedida e por reiterados equívocos nas suas escolhas.
Cada fotógrafo iria
interpretar, certamente, este motivo do Campo da Redenção - ou Parque
Farroupilha - de sua maneira e com a sua sensibilidade. No entanto o desenho
manual - apenas com preto e o branco sobre pequenas folhas brancas – permitiu
ao artista apurar a sua sensibilidade e
oferece-la, ao seu observador, potencializada de uma forma universal, única e
humanizada.
Percebe-se nestas obras físicas que, enquanto
o lápis caminha sobre o papel branco, as ideias de Jorge HERMANN voavam. Nestes
voos destas ideias ele refez o panorama da História, perscrutou as razões
sociais, visitou as mentalidades dispersas mas que confluíam para este polo
imantado do Campo da Redenção
Fig.
09 – A floresta artificial e replantada do Parque da Redenção mostra o
potencial de recuperação da Natureza em questão de uma geração humana. Além de pulmão
verde da metrópole poluída e motorizada, constitui um patrimônio público
exemplar para onde conflui a população humana cujos interesses o artista Jorge HERMANN sonda e
traduz em imagens reconstruídas. Ele sabe que a sua obra poderá vir-a-ser mais um índice que carrega o máximo de
informação no mínimo de sua materialidade.
Há necessidade de
felicitar a Prefeitura de Porto Alegre por haver alcançado os meios para
colocar em evidência um bem público e que, assim, pode ser transposto e potencializado nesta série única e original de obras de arte.
Cumprimentos extensivos ao MUSEU UNIVERSITÁRIO da UFRGS por esta acertada
acolhida e socialização qualificada desta obra e ao Jornal da Universidade da
mesma UFRGS pela divulgação gratuita.
Desenhando
na Redenção –
obras de JORGE HERMANN - Jornal da
Universidade. Porto Alegre: UFRGS,
Ano XVI, nº 158, Abril 2013, p.14
Cabe concluir com o
convite, ao leitor, de dirigir-se pessoalmente ao Museu Universitário da UFRGS,
ou visitar o site do artista. Assim terá seus próprios argumentos para
concordar, emendar ou discordar da narrativa escrita e visual apresentada na
presente postagem. A obra de arte autêntica sempre é única e primordial.
FONTES
NUMÉRICAS DIGITAIS
Conceito
de AUTONOMIA e diferença com SOBERANIA
UFRGS
- Jornal da Universidade
Sala
Multimeios Museu da UFRGS
http://www.ufrgs.br/museu/palestra-ilustrada-com-jorge-herrmann
Site do artista JORGE HERMANN
JORGE HERMANN e o GRUPO VÉRTICE
04 de AGOSTO de 2012
07 de AGOSTO de 2012
09 de AGOSTO de 2012
10 de AGOSTO de 2012
Este
material possui uso restrito ao apoio do processo continuado de
ensino-aprendizagem
Não
há pretensão de lucro ou de apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus
eventuais usuários
Este
blog é editado e divulgado em língua nacional brasileira e respeita a sua
formação histórica. ...
e-mail ciriosimon@cpovo.net
1º blog :
2º blog
3º blog
SUMÁRIO do 1º
ANO de postagens do blog NÃO FOI no
GRITO
4º blog + site a partir de 24.01.2013
PODER ORIGINÁRIO
RESUMO:
TEXTO:
Site
CURRÍCULO LATTES
Vídeo:
Nenhum comentário:
Postar um comentário