domingo, 16 de setembro de 2012

ISTO é ARTE - 045


Os MEIOS, o LUGAR e o TEMPO do ESPANTO.
SIMON ROBERTS _ Let this be a sign - Que este seja um sinal- in La República it - em 12.09.2012
Fig, 01 – A era numérica digital trabalha a partir das combinações do código binário 0 e 1 explorando as potencialidades da eletrônica e da Física aplicada..Com tais recursos está reconvertendo toda a  cultura humana e gerando uma nova identidade. Se de um lado possui seguidores até as últimas consequências do outro está encontrando pessoas competentes, que além do natural espanto estejam aptas para perceberem e agirem nos limites desta nova competência técnica. O eventual leitor deste blog terá acesso a ele, devido a esta era numérica digital.

Toda a arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Aristóteles[1](1973: 243 114a 10 )

Conforme Aristóteles a Filosofia nasce com o espanto. Esta concepção foi atualizada por Heidegger, coerente com os novos meios, e para os lugares e os tempos atuais. Os oniscientes, os onipotentes, os eternos e os onipresentes são incapazes de sentir e se deixarem atingir pelo espanto. Por isto os oniscientes, os onipotentes, os eternos e os onipresentes são incapazes de sentir, perceber e admitir algo novo, original e diferente em qualquer meio, lugar e tempo. Arrastam consigo  o mesmo, o fixo e o unívoco. Esta gente bloqueou, para si mesmo e para os outros, o caminho do espanto, se anestesiaram diante dele ou são incapazes de perceber o que é incomum e espantoso.


[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
 
CRUIKDHANK George - 1792-1878 - sociedade de antiquários 1812 - detalhe
Fig, 02 – O espanto diante do antigo - trazido ao presente - mostra uma reconversão do passado para ganhar  museus e meios industriais sustentados por uma incipiente  cultura e indústria do turismo.  

As forças do sentir, do justo e do pensar constituem o campo da Arte. Por meio destas formas a Arte dedica-se à Verdade, além de buscar o Bem e o Belo. A teleologia imanente à Arte não se constitui apenas no agradar os sentidos, trabalhar para fornecer terapias para o ânimo e reforços aos repertórios já conhecidos. Ao contrário. A Arte lida também com o desconhecido, o tabu e o inédito. Com o desconhecido, com o tabu e com o inédito não pode prescindir do pensar para atingir o conhecimento, o totem e o novo. Assim a Arte também se move e produz a partir das forças desencadeadas pelo ESPANTO que se encontra na origem da Filosofia.

CAIAPÓS - fogo e câmara digital G1 - 14.06.201
Fig, 03 – Do fogo ancestral ao celular  e fotografia digital sã dois espantos nas mãos de ameríndios. O espantoso contraste ente a luz e as trevas da noite, o calor e o frio além dos benefícios e os malefícios do fogo o tornava simbólico do saber, da pureza e da magia. O celular manejado pelo índio indica que o índio aprendeu a contornar o tabu de sua imagem como repositório do seu ser.

Evidente que o espanto é algo mais complexo e profundo do que o simples susto, a surpresa e o imprevisto. O espanto mergulha as suas raízes no “pathos” na concepção grega. Nesta concepção o espanto arruína os alicerces do onisciente, do onipotente, do eterno e do onipresente.

RODNEY Donald - A casa de meu pai -. in The Guardian 07.07.2012
“Fig, 04 – Os termos “ecologia” e a “economia” possuem a mesma raiz etimológica no termo grego que designa a “casa” e o “ abrigo”. A “casa”, além de reportar-se ao útero materno. materializa o trabalho do pai erguendo e mantendo o abrigo humano. Esta “casa” foi o primeiro legado material e suporte e a possibilidade do desenvolvimento do mundo imaterial da. Neste mundo imaterial simbólico a fala, a linguagem e a sustentabilidade da vida.

Em contrapartida o autêntico espantoso - e aquilo que é percebido como tal -  exige o trabalho da reconstrução, do reconsiderar e da ruptura com um estágio anterior. O espanto é o momento e a ocasião para questionar a opinião geral. Questionamento ao seu mundo interior ou ao mundo exterior
 Uma tese também constitui um problema, é evidente: pois do que dissemos acima deduz-se necessariamente que ou a grande maioria dos homens discorda dos filósofos no tocante à tese, ou uma ou a outra classe está em desacordo consigo mesma, já que a tese é uma suposição em conflito com a opinião geral”.
                                                                       Aristóteles - Tópicos I - 11
Esta origem da Filosofia e da Arte está selada contra a entrada da opinião geral e dos anestesiados ao espanto e aqueles incapazes de se maravilharem diante dos contrastes.

CARTAZ POLONÊS-  ROMAN Ciesiewicz - Cartaz para teatro – Polônia – 1975
Fig, 05 – A cultura dos eventos, do marketing - e da subsequente obsolescência - causam a anestesia a qualquer possibilidade de espanto, sem a qual a criatura humana possa desenvolver defesas e de buscar o caminho da mudança.  Estes eventos,  marketing e obsolescência trabalham para absorver toda a identidade e próprio rosto de quem os recebe e absorve. No plano da vontade eles subsumam completamente as potencialidades humanas para deliberar e decidir.

 Estes anestesiados desconhecem o espanto diante do contraste do absolutamente simples, como também não alcançam as forças capazes de gerar o absolutamente complexo. Naturalizam o sistema binário na origem do mundo numérico digital. São incapazes de se deterem na tinta, no pincel e na superfície como meios elementares da pintura. Assim também não possuem a chave, ou senha,  para entrar  e alcançar a pintura, no momento em que ela cria universos visuais extremamente complexos. Universos complexos como os de Leonardo da Vinci, dos Impressionistas até à mais recente pó-modernidade, que limitam os seus meios plásticos à tinta, ao pincel e a uma superfície. O mesmo vale para a Música de um John Cage quando ele insiste simplesmente no silêncio. 
CALACAS - aula de circo - in Le MONDE 26.08.2012
Fig, 06 – A cultura dos eventos, de marketing e de obsolescência, vale-se do susto, do imprevisto e surpresa confundindo o seu receptor doo sentido profundo do autêntico espanto. A cultura do Barroco jogava o seu observador e participante na contradição da culpa e do perdão para desestabilizá-lo, anestesia-lo e retirar-lhe toda a potencialidade para deliberar e decidir no que era de fato competente. O marketing contemporâneo joga  nestes extremos para tornar culpado o seu observador e participante diante do consumo. Para tanto não permite a existência de janelas, aberturas para a visão externa e para a circulação do ar além daquele que este ambiente hermético no qual encerra os seus eventuais consumidores e potenciais vitimas da heteronímia da vontade.

Aos incompetentes e incapazes do espanto evidente cabe o um desconto extra. Assim uma criança se maravilha diante de cada nova descoberta das suas próprias possibilidades e do seu pequeno mundo. O adulto se defende e rejeita o mundo infantil como um mecanismo de defesa diante de uma urgente e imprescindível ruptura epistêmica para uma mudança significativa da vida. Estes se poupam da ruptura epistêmica, contornam, assim, da necessidade de realizar MUDANÇAS significativas para eles e toda a cultura na qual vivem.
Fig, 07 –  Joseph BEUYS (1921-1986) constitui-se num xamã para denunciar os processos da construção dos ambientes herméticos no quais a compulsão do consumo encerrava os seus eventuais consumidores e potenciais vitimas da heteronímia da vontade. Valendo-se dos mesmos meios mostrava o vazio e a malícia que se escondia atrás destes aparatos contemporâneos e que de fato degradam o meio físico e simbólico dos tempos da alta tecnologia mal e perversamente aplicada.

Aristóteles (384-322).  já percebeu e registrou esta impossibilidade e  resistência que alguns possuem de realizar MUDANÇAS diante do ESPANTO e do novo:
 Não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por força que degenerar        Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo aforismo][1].
Esta constatação é uma das autocriticas mais inteligentes que algum pensador já fez de si mesmo e da sua obra. Aristóteles faz esta autocritica depois de expor, na sua obra, todas as estratégias possíveis para convencer - por meio da Retórica - o seu oponente.

[1] http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2300
 
ESCRITOR e os seus SONHOS - Le Monde 27.05.2012
Fig, 08 – A industrialização das fantasias literárias, musicais, teatrais e das demais artes seguiu a mesma intensidade aera industrial. As concentrações urbanas e a perda do contato e interação direta com a Natureza, acumularam fantasias, criações culturais que as máquinas, numa linha de produção. Estas linhas de montagem e produção, exigiam consumidores e que deveriam ser estimulados e colocadas na mesma lógica da produção.  

Quando existe esta potencialidade para a MUDANÇA, diante do ESPANTO, esta reação ocorre em tempos diferentes conforme o lugar com as suas peculiares, observáveis o clima físico e na cultura. Comparando as culturas nórdicas que são diferentes das mediterrâneas e tropicais Wilhelm Worringer (1881-1965) observa o conjunto das reações ao espanto nestas regiões geográficas na sua obra “Abstraktion und Einfülung” (1907).  Segundo ele, as culturas nórdicas elaboram, no seu próprio interior, a reação ao espanto e que ele denomina de “Abstraktion”. Este conjunto de absorções, elaborações e reações nórdicas constitui-se lenta e interiormente ao sujeito, sendo demorada e imprevisível a sua reação externa à estas absorções elaborações interiores. Este tempo - de absorções, elaborações e reações - dá margem para a produção de obras de cunho expressionista, do constrangimento e do sentimento de transgressão e de pecado.

DROGAS - El Espacio.com.co  - Colômbia 08.09.2012
Fig, 09 – As drogas sepultam completamente os seus consumidores na alienação das potencialidades humanas para deliberar e decidir. Os que alimentam esta dependência humana   trabalham para absorver toda a identidade e próprio rosto do consumidor. Eliminam o saudável espanto sob a ânsia, na dependência e na possibilidade que venha faltar aquilo que substitui e  subsuma a sua própria vontade para deliberar e decidir.

Enquanto os mediterrâneos e as culturas dos trópicos, possuem um tempo mais curto de absorções, elaborações e reações. Esta reação imediata ao espanto expõe mais o sentimento de intimidade e que ele denomina de “Einfülung”. É este “Einfülung” - traduzido para o termo “Natureza”-  que constitui o clima e a cultura do Barroco, do carnaval e da falta de culpa, de pecado e do remorso.  

Fig, 10 – O artista  MARCEL DUCHAMP trabalhou, de 1915 até 1923,  no “Grande Vidro” (272,5 x 175,8 cm) que ele denominou a “Noiva Desnudada pelos seus Celibatários”. Este artista buscou  distância do mercado de arte e das suas leis de marketing, de acúmulo e de sistema industrial linear de fornecimento de insumos, sua elaboração e descarte pela obsolescência programada dos seus produtos. Para manter-se, lecionava francês para os americanos e participava de campeonatos de xadrez.

Cabe um evidente desconto extra aos incompetentes, resistentes e incapazes ao espanto. Desconto especial que necessita ser concedido para quem mergulha, se condiciona e estimula por meio de uma cultura permanente de eventos, de marketing e de obsolescência. Para os inteiramente entregues aos eventos, ao marketing - e se identificam com a voraz entropia -  merecem a obsolescência a mais rápida e completa possível.

PORTO ALEGRE em 24,08.1954 ZH 24.08.2012
Fig, 11 – O espanto diante do caos de uma revolução e da ira popular ao saberem do gesto inesperado de Getúlio Vargas ao se suicidar, em 24de agosto de 1954. A coincidência com uma faixa com o anúncio de um SALÂO de artistas plásticos. Contudo o artista sempre lidou com o imprevisível e constitui uma espécie de sismógrafo das convulsões sociais e populares.  

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p

HEIDEGGER, Martin (1889-1976). A origem da obra de arte. Lisboa ; edições 70 , 2000, 73 p

-------------- Introduzione all’estética: le lettere sull’educazione estetica dell’uomo di Schiller – Roma :Varocci, 2008, 170 p

WORRINGER W – Abstraccíón y naturaleza – Buenos Aires : Fondo de Cultura Econômica, 1953,  p. 137

- TORRE de BABEL ´sebos  Guardian UK 20.06.2012
Fig, 12 – A espantosa cultura dos sebos contemporâneos marca a passagem do livro industrial para o processo de sua museificação.  Este processo busca filtrar e preservar, no interior da nova infraestrutura, todo o saber físico e imaterial do estágio anterior. Evidente que o livro numérico digital ocupa menos espaço físico, mas constitui uma nova realidade que exige todo o trabalho de uma reconversão e mudança de hábitos e cultura humana.

FONTES NUMÉRIC0 DIGITAIS
COELHO Caco Cultura pelo condicionamento CORREIO do POVO ANO 117 Nº 351 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 15 DE SETEMBRO DE 2012 Arte & Agenda  http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=117&Numero=351&Caderno=5&Noticia=464661
DOENÇA HOLANDESA – o mesmo e a desilusão dos economistas
FILOSOFIA e o .ESPANTO.
HEIDEGGER e oi ESPANTO
HEIDEGGER e a OBRA de ARTE
WORRINGER Wilhelm  – ABSTRAKTION und EINFÜLUNG  (1907)

 
Fig, 12 – O monumento de 115m de altura para as Olimpíadas de Londres de 2012 concebido pelo artista indiano Anish KAPOOR(1954)(http://pt.wikipedia.org/wiki/Anish_Kapoor) rompe com a geometria e simetria clássica e causa espanto diante de uma cultura diferente. Ao mesmo tempo lembra a estrutura da pilha de livros da Fig. 11 deste post
 


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