Os
MEIOS, o LUGAR e o TEMPO do ESPANTO.
SIMON ROBERTS _ Let this be a sign - Que este seja um sinal- in
La República it - em 12.09.2012
Fig, 01 – A era numérica digital trabalha a partir das
combinações do código binário 0 e 1 explorando as potencialidades da eletrônica
e da Física aplicada..Com tais recursos está reconvertendo toda a cultura humana e gerando uma nova identidade.
Se de um lado possui seguidores até as últimas consequências do outro está
encontrando pessoas competentes, que além do natural espanto estejam aptas para
perceberem e agirem nos limites desta nova competência técnica. O eventual
leitor deste blog terá acesso a ele, devido a esta era numérica digital.
“Toda a
arte está no que produz, e não no que é produzido”.
Conforme Aristóteles a Filosofia
nasce com o espanto. Esta concepção foi atualizada por Heidegger, coerente com os
novos meios, e para os lugares e os tempos atuais. Os oniscientes, os
onipotentes, os eternos e os onipresentes são incapazes de sentir e se deixarem
atingir pelo espanto. Por isto os oniscientes, os onipotentes, os eternos e os
onipresentes são incapazes de sentir, perceber e admitir algo novo, original e
diferente em qualquer meio, lugar e tempo. Arrastam consigo o mesmo, o fixo e o unívoco. Esta gente
bloqueou, para si mesmo e para os outros, o caminho do espanto, se anestesiaram
diante dele ou são incapazes de perceber o que é incomum e espantoso.
[1] - ARISTÓTELES (384-322). Ética
a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p.
CRUIKDHANK George - 1792-1878 -
sociedade de antiquários 1812 - detalhe
Fig, 02 – O espanto diante do antigo - trazido ao presente -
mostra uma reconversão do passado para ganhar museus e meios industriais sustentados por uma
incipiente cultura e indústria do
turismo.
As forças do sentir, do
justo e do pensar constituem o campo da Arte. Por meio destas formas a Arte dedica-se
à Verdade, além de buscar o Bem e o Belo. A teleologia imanente à Arte não se
constitui apenas no agradar os sentidos, trabalhar para fornecer terapias para
o ânimo e reforços aos repertórios já conhecidos. Ao contrário. A Arte lida
também com o desconhecido, o tabu e o inédito. Com o desconhecido, com o tabu e
com o inédito não pode prescindir do pensar para atingir o conhecimento, o
totem e o novo. Assim a Arte também se move e produz a partir das forças
desencadeadas pelo ESPANTO que se encontra na origem da Filosofia.
CAIAPÓS
- fogo e câmara digital G1 - 14.06.201
Fig, 03 – Do fogo ancestral ao celular e fotografia digital sã dois espantos nas mãos
de ameríndios. O espantoso contraste ente a luz e as trevas da noite, o calor e
o frio além dos benefícios e os malefícios do fogo o tornava simbólico do
saber, da pureza e da magia. O celular manejado pelo índio indica que o índio
aprendeu a contornar o tabu de sua imagem como repositório do seu ser.
Evidente que o espanto é
algo mais complexo e profundo do que o simples susto, a surpresa e o
imprevisto. O espanto mergulha as suas raízes no “pathos” na concepção grega. Nesta concepção o espanto arruína os
alicerces do onisciente, do onipotente, do eterno e do onipresente.
RODNEY Donald - A casa de meu
pai -. in The Guardian 07.07.2012
“Fig, 04 – Os termos “ecologia” e a “economia” possuem a mesma
raiz etimológica no termo grego que designa a “casa” e o “ abrigo”.
A “casa”,
além de reportar-se ao útero materno. materializa o trabalho do pai erguendo e
mantendo o abrigo humano. Esta “casa” foi o primeiro legado material
e suporte e a possibilidade do desenvolvimento do mundo imaterial da. Neste
mundo imaterial simbólico a fala, a linguagem e a sustentabilidade da vida.
Em contrapartida o autêntico
espantoso - e aquilo que é percebido como tal - exige o trabalho da reconstrução, do
reconsiderar e da ruptura com um estágio anterior. O espanto é o momento e a
ocasião para questionar a opinião geral. Questionamento ao seu mundo interior
ou ao mundo exterior
“Uma tese também constitui um problema, é
evidente: pois do que dissemos acima deduz-se necessariamente que ou a grande
maioria dos homens discorda dos filósofos no tocante à tese, ou uma ou a outra
classe está em desacordo consigo mesma, já que a tese é uma suposição em
conflito com a opinião geral”.
Aristóteles - Tópicos I - 11
Esta origem da Filosofia
e da Arte está selada contra a entrada da opinião geral e dos anestesiados ao
espanto e aqueles incapazes de se maravilharem diante dos contrastes.
CARTAZ
POLONÊS- ROMAN Ciesiewicz - Cartaz para
teatro – Polônia – 1975
Fig, 05 – A cultura dos
eventos, do marketing - e da
subsequente obsolescência - causam a anestesia a qualquer possibilidade de espanto, sem a qual a criatura humana possa desenvolver defesas e de buscar o caminho da mudança. Estes eventos,
marketing e obsolescência trabalham para absorver toda a identidade e próprio
rosto de quem os recebe e absorve. No plano da vontade eles subsumam completamente
as potencialidades humanas para deliberar e decidir.
Estes anestesiados desconhecem o espanto diante
do contraste do absolutamente simples, como também não alcançam as forças capazes
de gerar o absolutamente complexo. Naturalizam o sistema binário na origem do
mundo numérico digital. São incapazes de se deterem na tinta, no pincel e na
superfície como meios elementares da pintura. Assim também não possuem a chave,
ou senha, para entrar e alcançar a pintura, no momento em que ela
cria universos visuais extremamente complexos. Universos complexos como os de
Leonardo da Vinci, dos Impressionistas até à mais recente pó-modernidade, que
limitam os seus meios plásticos à tinta, ao pincel e a uma superfície. O mesmo
vale para a Música de um John Cage quando ele insiste simplesmente no silêncio.
CALACAS - aula de circo - in Le
MONDE 26.08.2012
Fig, 06 – A cultura dos eventos, de marketing
e de obsolescência, vale-se do susto, do imprevisto e
surpresa confundindo o seu receptor doo sentido profundo do autêntico espanto.
A cultura do Barroco jogava o seu observador e participante na contradição da
culpa e do perdão para desestabilizá-lo, anestesia-lo e retirar-lhe toda a
potencialidade para deliberar e decidir no que era de fato competente. O
marketing contemporâneo joga nestes
extremos para tornar culpado o seu observador e participante diante do consumo.
Para tanto não permite a existência de janelas, aberturas para a visão externa
e para a circulação do ar além daquele que este ambiente hermético no qual
encerra os seus eventuais consumidores e potenciais vitimas da heteronímia da
vontade.
Aos incompetentes e
incapazes do espanto evidente cabe o um desconto extra. Assim uma criança se
maravilha diante de cada nova descoberta das suas próprias possibilidades e do
seu pequeno mundo. O adulto se defende e rejeita o mundo infantil como um
mecanismo de defesa diante de uma urgente e imprescindível ruptura epistêmica
para uma mudança significativa da vida. Estes se poupam da ruptura epistêmica,
contornam, assim, da necessidade de realizar MUDANÇAS significativas para eles
e toda a cultura na qual vivem.
Fig, 07 – Joseph BEUYS (1921-1986) constitui-se num
xamã para denunciar os processos da construção dos ambientes herméticos no quais
a compulsão do consumo encerrava os seus eventuais consumidores e potenciais
vitimas da heteronímia da vontade. Valendo-se dos mesmos meios mostrava o vazio
e a malícia que se escondia atrás destes aparatos contemporâneos e que de fato
degradam o meio físico e simbólico dos tempos da alta tecnologia mal e
perversamente aplicada.
Aristóteles (384-322).
já percebeu e registrou esta impossibilidade e
resistência que alguns possuem de
realizar MUDANÇAS diante do ESPANTO e do novo:
“Não se deve argumentar com todo mundo, nem praticar
argumentação com o homem da rua, pois há gente com quem toda discussão tem por
força que degenerar” Aristóteles –Tópicos – [Penúltimo
aforismo][1].
Esta constatação é uma das autocriticas mais inteligentes
que algum pensador já fez de si mesmo e da sua obra. Aristóteles faz esta
autocritica depois de expor, na sua obra, todas as estratégias possíveis para
convencer - por meio da Retórica - o seu oponente.
[1] http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2300
[1] http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2300
ESCRITOR e os seus
SONHOS - Le Monde 27.05.2012
Fig, 08 – A
industrialização das fantasias literárias, musicais, teatrais e das demais
artes seguiu a mesma intensidade aera industrial. As concentrações urbanas e a
perda do contato e interação direta com a Natureza, acumularam fantasias,
criações culturais que as máquinas, numa linha de produção. Estas linhas de
montagem e produção, exigiam consumidores e que deveriam ser estimulados e
colocadas na mesma lógica da produção.
Quando existe esta potencialidade para a MUDANÇA,
diante do ESPANTO, esta reação ocorre em tempos diferentes conforme o lugar com
as suas peculiares, observáveis o clima físico e na cultura. Comparando as
culturas nórdicas que são diferentes das mediterrâneas e tropicais Wilhelm Worringer
(1881-1965) observa o conjunto das reações ao espanto nestas regiões
geográficas na sua obra “Abstraktion und
Einfülung” (1907). Segundo ele, as
culturas nórdicas elaboram, no seu próprio interior, a reação ao espanto e que
ele denomina de “Abstraktion”. Este
conjunto de absorções, elaborações e reações nórdicas constitui-se lenta e
interiormente ao sujeito, sendo demorada e imprevisível a sua reação externa à
estas absorções elaborações interiores. Este tempo - de absorções, elaborações
e reações - dá margem para a produção de obras de cunho expressionista, do
constrangimento e do sentimento de transgressão e de pecado.
DROGAS - El
Espacio.com.co - Colômbia 08.09.2012
Fig, 09 – As drogas sepultam completamente os seus consumidores na
alienação das potencialidades humanas para deliberar e decidir. Os que
alimentam esta dependência humana trabalham para absorver toda a identidade e próprio
rosto do consumidor. Eliminam o saudável espanto sob a ânsia, na dependência e
na possibilidade que venha faltar aquilo que substitui e subsuma a sua própria vontade para deliberar e
decidir.
Enquanto os mediterrâneos e as culturas dos trópicos,
possuem um tempo mais curto de absorções, elaborações e reações. Esta reação
imediata ao espanto expõe mais o sentimento de intimidade e que ele denomina de
“Einfülung”. É este “Einfülung” - traduzido para o termo “Natureza”- que constitui o clima e a cultura do Barroco,
do carnaval e da falta de culpa, de pecado e do remorso.
Fig, 10 – O artista MARCEL DUCHAMP trabalhou, de 1915 até 1923,
no “Grande Vidro” (272,5 x 175,8 cm) que
ele denominou a “Noiva Desnudada pelos seus
Celibatários”. Este artista buscou distância do mercado de arte e das suas leis
de marketing, de acúmulo e de sistema industrial linear de fornecimento de
insumos, sua elaboração e descarte pela obsolescência programada dos seus
produtos. Para manter-se, lecionava francês para os americanos e participava de
campeonatos de xadrez.
Cabe um evidente desconto extra aos incompetentes,
resistentes e incapazes ao espanto. Desconto especial que necessita ser concedido
para quem mergulha, se condiciona e estimula por meio de uma cultura permanente
de eventos, de marketing e de obsolescência. Para os inteiramente entregues aos
eventos, ao marketing - e se identificam com a voraz entropia - merecem a obsolescência a mais rápida e
completa possível.
PORTO
ALEGRE em 24,08.1954 ZH 24.08.2012
Fig, 11 – O espanto diante do caos de uma revolução e da ira
popular ao saberem do gesto inesperado de Getúlio Vargas ao se suicidar, em
24de agosto de 1954. A coincidência com uma faixa com o anúncio de um SALÂO de
artistas plásticos. Contudo o artista sempre lidou com o imprevisível e
constitui uma espécie de sismógrafo das convulsões sociais e populares.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p
HEIDEGGER, Martin (1889-1976). A origem da obra de arte. Lisboa ; edições 70 , 2000, 73 p
-------------- Introduzione all’estética:
le lettere sull’educazione estetica dell’uomo di Schiller – Roma :Varocci,
2008, 170 p
WORRINGER W – Abstraccíón y naturaleza
– Buenos Aires : Fondo de Cultura Econômica, 1953, p. 137
-
TORRE de BABEL ´sebos Guardian UK
20.06.2012
Fig, 12 – A espantosa cultura dos sebos contemporâneos marca a passagem do livro industrial para o
processo de sua museificação. Este processo busca filtrar e preservar,
no interior da nova infraestrutura, todo o saber físico e imaterial do estágio
anterior. Evidente que o livro numérico digital ocupa menos espaço físico, mas
constitui uma nova realidade que exige todo o trabalho de uma reconversão e
mudança de hábitos e cultura humana.
FONTES NUMÉRIC0 DIGITAIS
COELHO Caco Cultura pelo condicionamento CORREIO do POVO
ANO 117 Nº 351 - PORTO ALEGRE, SÁBADO, 15 DE SETEMBRO DE 2012 Arte &
Agenda http://www.correiodopovo.com.br/Impresso/?Ano=117&Numero=351&Caderno=5&Noticia=464661
DOENÇA HOLANDESA – o mesmo e a desilusão dos
economistas
FILOSOFIA e o .ESPANTO.
HEIDEGGER e oi ESPANTO
HEIDEGGER e a OBRA de ARTE
WORRINGER
Wilhelm – ABSTRAKTION und EINFÜLUNG (1907)
Fig, 12 – O monumento
de 115m de altura para as Olimpíadas de Londres de 2012 concebido pelo
artista indiano Anish KAPOOR(1954)(http://pt.wikipedia.org/wiki/Anish_Kapoor)
rompe com a geometria e simetria clássica e causa espanto diante de uma
cultura diferente. Ao mesmo tempo lembra a estrutura da pilha de livros da
Fig. 11 deste post
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