O GRUPO VÉRTICE
no
Movimento Associativo nas Artes Visuais de Porto
Alegre e a busca da profissionalização.
“O Ente no Ser”
Martin Heidegger
(1889-1976)
Fig. 01 - Analino ZORZI
- História de uma semente nº 15 - 1990 -acrílico - 100 x 70 cm.
O texto do Manifesto do Grupo Vértice será o objeto da presente postagem. Um grupo de artes visuais vive e se
movimenta entre dois polos opostos. De um lado o polo do pertencimento, do
trabalho em comum e a necessidade de constituir observadores. No polo oposto a
necessidade do trabalho individual e ter uma obra única e original.
O Grupo Vértice foi um
momento de pertencimento de pessoas existencialmente ligadas à Arte. Cada uma dessas
pessoas construiu a sua obra única antes e depois deste pertencimento.
O Grupo Vértice não teve
presidente, tesoureiro e muito menos um estatuto ou regimento. Ao longo de dois
anos houve a busca do pertencimento ao grupo sem depender de um outro projeto
para durar por tempo indeterminado.
Este momento situa-se
dez anos depois do início da Abertura Política Brasileira e antes da Bienal do MERCOSUL.
Fig. 02 – Pierry
SCHULTZ auto retrato - 1990
O criador do mundo das artes visuais é um ser que
enfrenta solitário o mundo e o seu próprio interior. Nesta dupla solidão ele
constrói a coerência entre o seu mundo mental e o mundo físico da sua obra.
Afinal uma pintura continua sendo uma obra mental conforme estabeleceu Leonardo
da Vinci. A explosão solitária deste mundo de um indivíduo continua sendo o
desafio de Marcel Duchamp[1].
“E sobre
a aparência, eu estaria tentado dizer sob o disfarce, de um membro da raça
humana, o indivíduo está só e, como um fato, é único. As características comuns
a todos os indivíduos tomados em massa não possuem nenhuma relação com a explosão
solitária de um indivíduo entregue a si mesmo”.
No contraponto desta
explosão solitária deste artista, ou do seu mundo mental, só fazem sentido se
ele tiver garantias da recepção de sua obra. Mesmo que esta “recepção seja aquela formada pelos seus concorrentes”,
como quer Pierre Bourdieu. Explosão ou
mundo mental solitário, retornam para a Natureza, regida pela sua implacável
entropia.
O Grupo Vértice reuniu,
em Porto Alegre uma série de concorrentes com as mais variadas tendências
estéticas e de vida, no final da década de 1980. Cada um dos seus integrantes
tinha em comum esta necessidade de encontrar observadores de sua obra singular.
Isto acontecia após a Abertura Política quando surgiam, não só tendências
estéticas, mas políticas e culturais e que ninguém se nomeava como mediador, e
que na maioria das vezes encobria a sensor. Cada um dos integrantes deste grupo
já havia realizado o seu caminho, como após estes encontros cada qual seguiu
caminhos bem próprio e distintos. A pós-modernidade, por sua própria natureza,
não busca mais os compromissos por tempo indeterminado e contratos perpétuos.
Assim o Grupo Vértice somou energias, socializou a sua produção e cada qual foi
buscar o seu próprio caminho.
Em agosto de 1990
pensavam e explicitavam o seu projeto no seu MANIFESTO exatamente em direção
aos seus observadores presente ou futuros
[1] DUCHAMP, Marcel Duchamp
du signe –Escritos - Reunidos a
apresentados por Michel Sanouillet. Paris : Flammarion, 1991.
pp. 236-239
Fig. 03 - “VÉRTICE:
o Grupo Vértice manifesta-se sobre a profissionalização do artista” in Correio
do Povo Porto Alegre , ano 95, n°
320, p.21(toda) – Quinta-feira - 16
de agosto do e 1990
GRUPO VÉRTICE
PESQUISA E PROJETOS CULTURAIS
O artista como sujeito
de sua história
O artista e a sua
produção são primordiais numa cultura situada no tempo e no espaço. A produção
artística é um ato, um gesto concreto e positivo de indivíduos isolados ou de grupos. A criação artística, como
expressão maior de uma sociedade, necessita de condições preliminares
satisfeitas intencional, concreta e experimentalmente, de forma que o artista
seja sujeito e não apenas objeto.
Condições
adversas para este projeto de autonomia
No sistema
produtivo atual, o artista é mais objeto das instituições e indivíduos, do que
sujeito. Cuidar e manipular um patrimônio impessoal do passado é fácil. O
mérito está em assistir e garantir a produção artística viva e atual.
[1] - “Vértice” in Correio do Povo Porto Alegre , ano 95, n° 320, p.21(toda) – Quinta-feira - 16 de agosto do e
1990
Obra do Currículo da Artista logo após o Bacharelado em Desenho no Instituto de Artes
da UFRGS
Fig. 04 – JORGE HERRMAN Auto-Retrato
JORGE HERMANN em TORRES
https://www.youtube.com/watch?v=Fn9gpT5isMs&t=6s
O Grupo Vértice, conclama os demais
artistas para a sua articulação e o debate de todas as condições de pesquisa,
criação, produção e socialização artística atuais.
Propõe,
para tanto, assumir a atitude profissional, na seriedade de produção e
interferência efetiva na circulação da obra de arte.
Adverte sobre as
divisões insufladas por interesses estranhos para desestruturar e enfraquecer
grupos e pessoas que lidam com a produção artística. Neste sentido o GRUPO
VÉRTICE está trabalhando para a criação de uma Entidade de Classe.
Neste momento de
uma mudança política e na montagem de um novo aparelho de administração
estadual, solicita de todas as forças empenhadas em arrebatar este poder entre
1991 e 1995 no Rio Grande do Sul, um plano objetivo e claro para o artista
produtivo.
Propõe,
formalmente, que esta política cultural, incida intencionalmente na produção
artística que retrata as atuais condições de nossa vida.
Fig. 05 – Detalhe do pôster da Exposição dos integrantes do Grupo Vértice de 24 de julho a 10 de
agosto de 1990 na Galeria de Arte do Instituto Cultural GBOEX
Os meios que
garantem a preservação do patrimônio, devem acompanhar esta produção, mas não
os sufocar. Somos um estado jovem no qual falta tudo ainda por realizar. A
aposentadoria e a glória virão depois da produção.
A qualidade e a
excelência da produção artística resultam de um esforço no qual todas as
instituições particulares e governamentais vetorizam a sua vontade e possuem um
contrato de qualidade e excelência. Os resultados desta vetorização podem ser
cobrados através do exame de uma vida humana vivida dentro de valores da Arte.
Os valores
positivos da Arte fazem com que indivíduos, instituições e obras transcendam o
seu tempo e espaço.
Conclamam-se todas
as forças vivas, que compõe a nossa sociedade e que estão interessadas na sua
continuidade no tempo e no espaço, a prestigiar a Arte concretamente através de
ações culturais objetivas. Estas ações mostram que estas forças vivas são
positivas e não apenas interessadas na espoliação e acúmulo.
Fig. 06 - Detalhe da capa do catálogo da Exposição que precedeu o Grupo Vértice na Galeria de Arte do
Instituto Cultural GBOEX Porto Alegre e da qual participaram Paulo AGUINSKY, Clotilde
QUADROS de Cravo , Henrique RADOMSKY e Analino ZORZI – os dois últimos
integrantes do Grupo Vértice
A Arte transfigura
e torna educativa, em si mesma, em qualquer esforço produtivo feito na intenção
de prestigiar a nossa sociedade. Todas as sociedades sempre tiveram orgulho das
obras artísticas e se projetaram através delas.
A profissionalização
é uma relação. Como tal ela oscila entre a produção e o mercado. A
profissionalização muda toda a vez em que a produção e/ou o mercado muda. A
produção artística muda constantemente. Historicamente o mercado de arte
evoluiu através da nobreza, clero, burguesia ou dois bancos.. A produção artística, pela sua própria
natureza criativa, muda constantemente. Nada mais natural que a vontade da
profissionalização definitiva.
Um Estado que se deseja manter atualizado,
tem um papel significativo no alinhamento de um mercado de escala, em Arte,
quer através de encomendas a artistas atuais, quer através de pesquisa e
ensino.
Fig. 07 – Analino ZORZI
expondo no Tribunal Regional do Trabalho de Porto Alegre - RS e da qual
também cria o ambiente arquitetônico.
Por que
preservar o patrimônio artístico do passado quando não há mais produção
artística presente?
Depois de um grande período de amadorismo e
de uma atividade conservacionista, há necessidade de uma intensa atividade, que
só pode acontecer através de uma sólida e consistente profissionalização em
todos os níveis de que depende esta ação positiva.
CONVITE:
O GRUPO
VÉRTICE saúda todos os participantes do II
ENCONTRO LATINO-AMERICANO DE ARTES VISUAIS[1].
Convidando-os a visitar a exposição à Rua Sete de Setembro, n° 604 – Térreo . GALERIA DE ARTE GBOEX.
VERÔ CORBARI -
ANALINO ZORZI - CÍRIO SIMON – MÔNICA HEYDRICH - PIERRY SCHULZ - JUARES PALMA.
[1] -
“Três dias para a arte. – Inicia-se hoje, às 14h30min, o 2° encontro Latino-Americano de
Artes Plásticas. A palestra inaugural será com o crítico de arte Jacob
Klintowitz, que irá falar sobre a 11ª Bienal de São Paulo. Alem dos painéis e
debates ocorrerão hoje e amanhã, no auditório da Assembléia Legislativa, no
sábado, haverá, no Margs, apresentações práticas de trabalhos de pintura,
escultura, construção de instalações, performances e outras técnicas, bem como
projeção de slides e vídeos. Ainda no programa de hoje, as 18h, painel sobre “
O Significado das Artes Plásticas Hoje”, e as 19h, reunião das diversas
Comissões”
in Correio do Povo Porto Alegre , ano 95, n° 320, p.22, col.3– Quinta-feira- 16 de agosto do e 1990
Obra
do Currículo da Artista logo após o
Desafio lançado por Pierry SCHULTZ
Fig. 08 – Pintura de Verô CORBARI.
Cada integrante do
GRUPO VÈRTICE partiu para colocar no seu mundo estas concepções que fez público
neste manifesto. Com este vírus benéfico inoculado na mente e corpo cada qual
fez o seu caminho solitário.
Fig. 09 – Parte superior do folder da exposição dos Integrantes do GRUPO VÈRTICE 24 de
julho a 10 a agosto de 1990 na Galeria de Arte do Instituto Cultural GBOEX.
Assim inicia mais
uma etapa destas investigações que se destina a saber o destino, a obra e a
produção de condições para a reprodução destas ideias.
A
presente postagem é a 04 de uma série relativa ao Grupo Vértice.
Veja a
postagem nº 01 em http://profciriosimon.blogspot.com.br/2012/08/isto-e-arte-039.html
“ postagem nº 02 em http://profciriosimon.blogspot.com.br/2012/08/isto-e-arte-040.html
“ postagem nº 03 em http://profciriosimon.blogspot.com.br/2012/08/isto-e-arte-041.html
OBRA de ARTE - O
ENTE e o SER
em
HEIDEGGER,
Martin. A origem da obra de arte.
Tradução de Maria da Conceição Cocta. Lisboa:
Edições 70, 1990
Os
INTEGRANTES do GRUPO VÉRTICE no ESPAÇO NUMÉRICO DIGITAL
ANALINO ZORZI
FERNANDO
JARROS
1959-1989 fotógrafo - Porto Alegre
JORGE
HERMANN
JUARES
PALMA
PIERRY SCHULTZ pierryschultz@terra.com.br
Verô
CORBARI
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continuado de ensino-aprendizagem
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