Os OLHARES da
GERMANIDADE no BRASIL
ENFRENTAM um SISTEMA
de ARTES TEMPORÃO.
“Canto o hino da
pátria que permite ganhar o pão para os meus filhos”
José SIMON professor rural de uma comunidade
germânica ao longo do Estado Novo.
Fig. 01 – Diante do Monumento ao Sapateiro de Flávio Scholles, no centro de Novo Hamburgo,
pode-se pensar em ressonâncias do artista germânico contemporâneo que é A.R.Penck
(Ralf Winkler)
O Brasil e a Alemanha
saíram, em 1945, de regimes totalitários e tatearam por outros e novos caminhos.
A Alemanha foi transformada em lugar de embate da Guerra Fria. A divisão física, entre duas concepções
diametralmente opostas, traçou fronteiras sobre o seu território nacional. O
Brasil, superado o Estado Novo, mergulhou no regime militar para manter partido
de um dos lados desta mesma Guerra Fria.
Fig. 02 – Mira Schendel uma artista suíça com um
período de residência e produção em Porto Alegre. A sua obra ganhou depois
ressonância planetárias.
Ambas as nações saíram
destas situações no inicio da década de 1990. O Brasil teve a sua Constituição
Cidadã em 1988. O Muro de BERLIM entrou
em colapso em 1990, dando oportunidade para as duas Alemanhas se reunificarem.
Entre 1945 e 1990 foi
necessário reinventar toda a forma tradicional de fazer artes visuais, que
tenha alguma referência à germanidade, para reencontrar o caminho sem perder o
ânimo deste projeto. Se de um lado este caminho deveria ser trilhado pelo
artista individual, do outro a formação de grupos, de instituições e a constituição
de uma consciência coletiva eram imperativos diante de pulverizações de
estéticas tradicionais.
Revista da Globo,
ano 35, nº 861 , 07-20 dez 1963, pp 32-35
Fig.
03 – INSTITUTO de BELAS ARTES de NOVO
HABURGO – IBANH – Iniciativa da Profª Emília Margaret Sauer. Este
Instituto foi uma das matrizes da
FEEVALE e do seu curso superior de artes e que continua a sua obra benemérita
no Curso de Bacharelado em Artes Visuais
- para formar profissionais na área das artes visuais – e o Curso de
Licenciatura para o magistério na mesma área.
No Vale do Rio dos Sinos
a era industrial chegou, nesta época, ao seu apogeu. As suas fábricas de
calçados e a sua exportação, em larga escala, e fizeram circular, nesta região,
quantidades significativas de capitais econômicos.
Fig. 04 –
Sonia EBLING – Artista nascida em Taquara – RS
Este Capital induziu as artes visuais, a um sistema
temporão. Apesar do grande fluxo das riquezas, elas não criaram uma base permanente na região das antigas colônias
germânicas. Estas riquezas econômicas estavam muito distantes, ainda, para
oferecer uma sólida base para a renovação da ARTE. Estas riquezas, geradas na
origem deste trabalho, não perceberam a amplidão do seu papel cultural e social
como fontes de um desenvolvimento continuado de um projeto civilizatório
compensador da violência e mal-estar que lhes
é inerente. Muito menos foram suficientes e ágeis para gerar, e manter, um sistema de artes visuais competente
para tornar-se autossustentável e se reproduzir.
Fig. 05 – Casa Schmidt e Fundação Scheffel –
Hamburgo Velho
As riquezas, geradas na
região das antigas colônias germânicas, preferiram o lucro imediato e palpável
no investimento em imóveis de posse individual e hereditário. Aquelas que não
se fixaram nesta origem, migraram atraídos por projetos desenvolvidos em outras
regiões brasileiras, como o Nordeste brasileiro, e depois, para a China.
Uma das poucas exceções
foi a criação, em 1976, da Pinacoteca APLUB em porto Alegre. Esta investiu
pesado na compra de obras de vários artistas de ascendência germânica, ajudando
a sua cotação e estabilidade de preços. Porém a benemérita obra, iniciada por
Rolf Udo ZELMANOWIZ, teve de fechar as suas portas em 2002, quando houve
determinação que uma instituição financeira não podia contabilizar o capital
investido em obras de arte.
Fig. 06 – Ernesto
Frederico Scheffel criou o Monumento ao Sapateiro em Campo Bom. Como artista inquieto e em permanente
ruptura de limites entre as diversas manifestações artísticas. ..
Do lado das políticas
publicas também não aconteceu um projeto consistente compensador da violência
que o Estado deve exercer para manter a ordem e, paz e prosperidade. O afluxo
de uma massa rural empobrecida trouxe, para as regiões urbanas, já precárias, problemas
de toda ordem e cuja solução sempre foi “para ontem”.
As instituições,
principalmente a diversas universidades da região mantiveram silenciosamente e,
com grandes sacrifícios, um élan que se renova de geração em geração. Assumiram
o papel e o lugar, destes capitais voláteis e das políticas publicas sufocadas
por problemas imediatos, naquilo que não é de sua natureza intrínseca. Tiveram
de inovar em projetos que em outras culturas já foram transformados numa
segunda natureza.
Em Novo Hamburgo é
necessário conferir este élan, nos altos momentos na forma de uma “Casa Velha- Convívio de Arte!”, no grupo
"Cavalo Azul" ou na busca de um mercado de arte como na Galeria Contemporânea. Só
o projeto, e a realidade, da PINACOTECA da FEEVALE mereceria um estudo mais
documentado e critico. Projeto mantido com, o suporte a continuidade e
dinamismo dos seus curadores, as exposições que promovem, os convidados e a
realidade do suporte da divulgação e da infraestrutura física dos materiais
necessários e produzidos para manter, dinamizar e socializar este projeto.
Fig. 07 – O Kikito criado pela artesã Elizabeth
Rosenfeld (..-1980) representa uma das contribuições desta alma germânica para
a região das Hortênsias. O seu artesanato não só preparou mão de obras mais
especializada, mas mostrou o caminho para a indústria cultural e especialmente
do turismo receptivo. O Festival de Cinema de Gramado foi uma destas expressões
e que recompensa os melhores do evento com uma estatueta criada por Rosenfeld.
A região das Hortênsias
com fluxo menor, mas mais continuado de capitais, criou, desenvolveu e manteve um
polo expressivo do turismo nacional.
A cidade de Montenegro
retomou o seu papel de polo cultural como sede de um município do qual se
emanciparam prósperas e ativas comunidades. Agora como polo simbólico criou e
mantém viva e atuante a FUNDARTE. Esta, em parceria como a UERGS do governo
estadual, está mantendo diversos cursos e em diversos níveis das artes. A sua Galeria
de Arte recebeu o nome da benemérita artista Loide SCHWAMBACH nascida em Passo
Fundo. Também esta Pinacoteca mereceria também um estudo mais documentado e
critico.
Fig. 08 – Ernesto Frederico Scheffel é um artista que circula também pela Música na qual
possui criações próprias. Manifesta assim també mais um traço de sua
germanidade, pois foi na Música que esta cultura atingiu o vértice inconteste
da Arte universal.
No élan destas
comunidades é possível conferir, como nos seus polos maiores, como pulsa uma Arte
que carrega altos índices da sua origem germânica. Evidente que esta postagem
necessita de um auto-limite e assim não pode se dedicar a sua atenção a
registrar uma a uma. Contudo, em cada comunidade, de origem germânica no Brasil,
existe uma vida própria e distinta das
demais. Desde a região das Missões, Planalto Médio, Lago dos Patos, capital,
Depressão Central como na Serra Gaúcha, onde se derramaram os descentes dos
imigrantes germânicos, existe uma continuada e silenciosa produção visual de
raiz específica desta etnia. Estamos muito longe de poder registra um sistema
da artes nas antigas e novas colônias de origem alemã. Além disto, muitas
vezes, esta produção visual, ainda está presa
ao artesanato ou ao utilitarismo direto. Mas ela a companha a criatura humana
do berço ao túmulo e se prolonga e perpetua nos templos. Derrama-se nos clubes,
nos festivais gastronômicos, nas bebidas e nos instrumentos próprios para cada
atividade individual ou coletiva. Pontilha o calendário do primeiro ao último
dia do ano.
Fig. 09 –
Marciano SHMITZ não
escamoteia a sua origem germânica e que revela pelo cuidadoso desenho e pelos
mínimos detalhas narrativos que seleciona e inclui na sua obra. De outa parte o
seu repertório é constituído pelas formas naturais que percebe no meio telúrico
onde nasceu, fez a sua formação e produz a sua obra.
As oito postagens
anteriores foram necessárias, não só para perceber o imenso universo
civilizatório desenvolvido pela germanidade, mas para não ficarmos com os olhos
limitados pelo universo empírico do aqui e do agora. Muito mesmo na heteronomia
de Ciências que se dizem alheias e se desviam da essência e da natureza da
Arte. Se a civilização avança também significa a necessidade de transfigurar
este mundo empírico e limitado e assumir a essência da Arte. Evidente que a
indústria cultural e pragmática não dá conta das rupturas estéticas necessárias
para todas estas ricas e diversificadas experiências e nem suporta o hábito da
integridade intelectual. Se a era numérica digital acelera e precipita este
processo, de outra parte permite considerável acúmulo de informações para
constituir uma consciência coletiva mais ampla e crítica apta para se
reproduzir em novos agentes e obras.
Fig. 10 –
Flávio Scholes foi um dos artistas mentores do movimento Casa Velha
(1977-1979) pregava a radicação do artista no lugar de origem, para que fizesse
uma arte mais identificada com sua região, evitando ir para os grandes centros.
Ele mesmo um retornado dos grandes centros. Colegas com Marciano Schmitz
aceitaram o desafio de permanecer e construir a sua carreira
Qualquer patrulhamento
cultural, exercido sobre esta e outras etnias, perde sentido diante da força
interna desta massa de agentes, obras e informações estéticas canalizadas para
este campo de forças. Este campo de forças da Arte só acumula e percebe
oportunidades para reforçar a sua consciência interna. Oportunidades existentes
nas amplas motivações superiores e universais em outras etnias distintas da
sua. Diversidade na qual esta cultura busca o que existe de melhor. Todos os Estados e nações possuem o direito ao seu centralismo e
identidade própria, muitas vezes, construídos com os maiores e mais árduos
sacrifícios. Quem percebe estes sacrifícios a construção, destes centralismos
diferentes, reforça esta mesma prática e estimula a realizar sacrifícios
semelhantes. Percebe sempre o sentido daquilo que significa elevar-se da
barbárie e da Natureza bruta.
Fig. 11 – Flávio Scholes num dos seus temas
recorrentes que é trabalho coletivo das agricultoras
Esta consciência
coletiva e este centralismo são essenciais quando, no presente, um grande
número - destes Estados e Nações - está buscando o comércio simbólico e
material com todas as etnias. Neste comércio simbólico é sempre significativo o
diferente, o único e contraponto. O patrimônio simbólico da germanidade se
completa no interior deste concerto de etnias, de culturas e de buscas
continuadas.
Fig. 12 – A
devoção ao Pe REUS em São Leopoldo
foi oportunidade para a Arquitetura e as Artes Visuais materializarem este
sentimento religioso coletivo. Os mosaicos de Danúbio Gonçalves expressam
visualmente esta cultura imaterial.
No entanto esta consciência coletiva depende de um
processo da atualização da inteligência
e o exercício continuado ao direito à
pesquisa estética, na opinião de Mario de Andrade[1].
A Arte, quando é tratada como produto a mais, no mercado dos bens simbólicos e
sem o exercício continuado do hábito da integridade intelectual, ela se perde
na multidão anônima e indiferente. Neste processo ela está a mercê da entropia
e no caminho do seu retorna à Natureza bruta. Uma etnia, consciente de sua identidade e do
diferencial de que ela é portadora, é capaz, também, de estabelecer distinções
e constitui um caminho para a inscrição, do seu significado, numa civilização. O ecletismo, onde todos os gatos são pardos,
é o refúgio de quem cansou ou ainda não atingiu a sua própria época a qual
pertence culturalmente
[1]-
ANDRADE, Mário. O movimento modernista. Rio de Janeiro : Casa do Estudante
do Brasil, 1942, 81 p..
____. Curso de
Filosofia e História da Arte. São Paulo : Centro de Estudos Folclóricos, 1955.
119 f.
Fig. 13 – São Leopoldo - Monumento 150 anos da Imigração Alemã.
Não olhar prospetivo, a
partir da nossa própria época, não é
possível ignorar que daqui uma década e o Brasil estará celebrando o
bicentenário de sua maioridade e sua soberania. Certamente serão necessárias,
não só uma Semana de Arte Moderna mais milhares delas e em cada recanto do
Brasil onde cada uma irá reelaborar essa consciência do seu diferente e a sua
coerência com o coletivo nacional.
O Bicentenário da
Imigração Alemã segue cronologicamente O Bicentenário da Independência do Brasil.
Evidente que as duas datas possuem profundos vínculos. A começar pela
Imperatriz Leopoldina, que chegou ao Brasil, em 1818, cercada de missões culturais e científicas
germânicas fundamentais para os evento da Independência do Brasil diante do
mundo civilizado.
Para conhecer melhor a
ação de Dona Leopoldina no episódio da Independência do Brasil, convém
consultar o texto do Prof. Dr. Moacyr Flores http://www.ihgrgs.org.br/artigos/cartas_leopoldina.htm
Por este texto é possivel conferir que foram excelentes conselheiros e mantiveram uma assessoria
continuada para que a esposa do primeiro imperador do Brasil tivesse, não só a
sua lealdade à sua nova e definitiva nação, mas uma conselheira carinhosa e
prudente nestes momentos de transição. O mesmo pode ser dito de todas as
negociações e preparações para que a Grande Imigração decorresse da forma mais
coerente e produtiva tanto para o Brasil como para os novos habitantes que
tiveram o seu momento de teste em 1824.
Então não é por acaso que a soma das energias
brasileiras e dos imigrantes tivessem tido a fortuna que tiveram. As datas, de
1822 e 1824, ganham assim o mesmo sentido e se reforçam reciprocamente. De
outra parte nem a Independência, nem a Grande Imigração foram no improviso e no
capricho de um ou mais agentes. Com afirmamos e estamos estudando no 3º
blog ”Não
foi no Grito”.
ENDEREÇOS ELETRÔNICOS RELATIVOS à
ALGUMAS INSTITUIÇÕES de ARTES VISUAIS
Escola
de Belas Artes de Novo Hamburgo
Revista Globo- ano 35 - nº 861 - pp.
32-35-07-20 dez 1963
FEEVALE
Fundação SCHEFFEL
MONTENEGRO – arte
Fundarte http://www.fundarte.rs.gov.br/
Museu de Montenegro
MONUMENTO
1924 à IMIGRAÇÂO ALEMÂ
Museu de Taquara -RS
Museu de São Leopoldo
Galeria e Espaço Cultural Albano HARTZ
PINACOTECA APLUB (1975-2002) iniciativa de Rolf Udo ZELMANOWIZ obras de
artistas germânicos
REFERÊNCIAS a
ALGUNS NOMES de ARTISTAS e ARTESÕES
CARLÃO
ELIZABETH
ROSENFELD e o Artesanato Gramadense
Ena LAUTERT
Enio
Pinalli 1929-1990
MARCIANO
SCHMITZ
Mira SCHENDEL (1919-1988)
SALOMON
SMOLINOFF (1897-1976)
Este material possui uso restrito ao apoio do processo continuado
de ensino-aprendizagem
Não há pretensão de lucro ou de
apoio financeiro nem ao autor e nem aos seus eventuais usuários. ...
mail ciriosimon@cpovo.net
1º blog :
Caro prof. Círio, gostaria que fossem mantidos os créditos de fotografias de minha autoria que foram aqui utilizadas, ainda que se tenha procedido recortes ou derivação nas mesmas.
ResponderExcluirAbraço e parabéns pelo artigo.