Algumas INTERAÇÕES de
TENDÊNCIAS ARTÍSTICAS GERMÂNICAS e BRASILEIRAS nas CICUNSTÂNCIAS da CULTURA da
ERA INDUSTRIAL.
“Canto o hino da
pátria que permite ganhar o pão para os meus filhos”
José
SIMON professor rural de uma comunidade germânica ao longo do Estado Novo
SOGIPA: FRIEDERICH por
Andrés Arjona Guillén ou André Arjonas 1885-1970
Fig, 01 Jacob Aloys FRIEDERICH (1868-1950) defendia
que “os teuto-brasileiros não eram
alemães no exterior, mas brasileiros de sangue alemão. Não admitindo, portanto,
que sua demonstração de fidelidade ao caráter e etnicidade alemães seja
confundida com lealdade ao nacional-socialismo”.
Seria ingenuidade, ou má
índole, buscar e destacar apenas nomes individuais de artistas, sem perceber,
ou evidenciar, as circunstâncias na quais se desenvolveram as suas obras.
O período das duas
Guerras Mundiais, e o interregno entre elas, assistiu o triunfo da Era
Industrial e onde a Arte foi compelida a dar forma à indústria cultural. A obra
do artista mergulhado numa das ideologias, nacionalidades, políticas e
estéticas em aberto conflito e contraponto com correntes adversas deste período
sofria pesado silêncio, ofensas pessoais e patrulhamentos de toda ordem.
in Nogueira 2005
Fig.
02 – Cartaz OLHOS AZUES elaborado na oficina Litográfica de Miguel WEINGÄTNER (1869-1928). Esta
peça publicitária é um índice da indústria cultural que estava se instalando de
Porto Alegre. A conjugação da Musica e as Artes Visuais e a indústria gráfica
faz adivinhar o público consumidor de uma época anterior ao Rádio e outros
recursos eletrônicos.
.
A característica
KUNSTWOLLEN germânica pouca atentava para a inteligência dos outros e impunha o
direito de sua reprodução, por todos os meios. Diante disto o apelo para a
tecnologia, a agressiva busca de território vital e no final os dois conflitos
bélicos em dimensões planetárias.
Fig.
03 – Foto do Atelier de VITRAIS herdado por Hans VEIT (1898-1985),do seu pai Albert Gottfried VEIT era formado em escola técnica
germânica em vidro e em cerâmica. Hans exerceu esta atividade em Porto Alegre e na
forma empresarial e numa linha de montagem de vitrais e de azulejos. Na última
etapa criou a Escola UABOI na qual tentava repassar os seus conhecimentos.
As vanguardas europeias
encontram, na estética, desenvolvida em
solo germânico, expressões de primeira magnitude. Só para citar o
expressionismo, o dadaísmo, o surrealismo e a Bauhaus aglutinaram vontades de
aristas que a materializaram projetos em obras fundamentais da modernidade
clássica. Tudo isto foi questionado com poder e força ideológica, política e
econômica com ARTE DEGENERADA em 1937.
in TUBINO 2007
p.107
Fig. 04 – Uma das plantas industriais de A.J. RENNER , uma das tantas
experiências que a iniciativa empreendedora germânica desenvolve desde o início
de sua imigração ao Brasil. Em Porto Alegre firmas como a Wallig, Gerdau, Bins, Staigleder e tantas
outras, completaram o seu ciclo econômico com o final da era industrial e o seu
capital migrou para serviços, comércio ou bancário. A reciclagem destes espaços
urbanos está abrindo espaço para o lazer, turismo e trocas simbólicas.
Neste mesmo ano o Brasil
entrava no regime do Estado Novo e alguns anos após opunha-se, pelas armas, ao
regime nazifascista. Os descentes dos imigrantes alemães foram catalogados
sumariamente como “quinta colunas”. Não importava o trabalho, o patrimônio e a
cultura.
Na primeira metade do
século XX é possível falar de uma verdadeira hegemonia de artistas germânicos e
descendentes no Rio Grande do Sul. Evidente que este não era o seu projeto e
muito menos trabalharam para constituir algo separado e autônomo. Toda
comparação é odiosa e suscita sentimentos contraditórios de ódio e de amor.
Fig.
05 – Justina
KERNER Pohlmann (1846-1941) pintou em 1901o
retrato de Peter HERMES (1844-1917) um dos lideres de diversas
comunidades germânicas do interior do Rio Grande do Sul.
O legado da obra de
Pedro Weingärtner formou um dos diversos acervos de arte produzida por
descendentes ou artistas germânicos no Rio Grande do Sul. Porém milhares de
documentos escritos e obras de arte foram sepultados no campo da amnésia e
devido ao medo diante da cultura adotado pelo Estado Novo brasileiro. Este
iniciava a sua razia e pela destruição, pura e simples, inclusive de tudo que
lembrasse identidade de um estado brasileiro. Assim foram proibidos os hinos
estaduais e as sua bandeiras queimadas em praça publica no dia 19 de novembro
de 1937. Então a evocação de qualquer traço de cultura estrangeira era mais do
que suspeito.
Fig.
06 – Diversos desenhos de Justina KERNER Pohlmann (1846-1941) - que o
acervo da Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do IA-UFRSG conserva – mostram
recortes, como este aqui. Uma das hipóteses é a severa patrulha ideológica
desenvolvida pelo Estado Novo Brasileiro desenvolveu contra todos os documentos
escritos na língua alemã.
-
O cronista ou historiador que desejara vencer esta
barreira nacionalista dificilmente irá encontrar algum documento, obra ou mesmo
pessoa. Assim passaram pelo estado personagens como Justina Kerner, Mira Schendel ou Elizabeth Rosenfeld
das quais é difícil localizar obras ou precisar documentos confiáveis. Na obra
de Justina Kerner POHLMANN (1846-1941) foram recortadas as anotações em alemão
que constavam nos seus desenhos.
Fig. 07 – Um desenho mural exterior de Ferdinad SCHLATTER mostra o domínio
técnico do artista e a consequente preservação, em ambiente externo, desta
obra. Ela está situada na SOGIPA na parede externa da Casa dos Bávaros. Esta parte
dos murais foi pintada no mês do Centenário da celebração do Centenário da
Imigração Alemã ao Brasil.
As pinturas de Ferdinand
Schlatter da Biblioteca Pública de Porto Alegre foram recobertos com a desculpa
de poderiam distrair os leitores e serem pinturas acadêmicas sem valor.
Fig. 08 – A sede da Sociedade GERMÂNIA Rua Dr. Flores – Porto Alegre depredada ao longo da Iª
Guerra Mundial quando foram atacadas e destruídas várias empresas dos descentes
de alemães.
Contudo dois artistas já
com a sua formação profissional definida e que emigraram da Alemanha logo após a 1ª Guerra mundial não se deixaram enredar
neste patrulhamento ideológico de baixa estirpe e numa xenofobia e resistência
a tudo o que é novo e diferente.
Trata-se do arquiteto e artista plástico, Joseph Seraph
LUTZENBERGER (1882- 1951) e do artista gráfico Ernest ZEUNER (1895-1967)
Em ambos interessam, neste momento, a sua
competência em Artes Visuais. Lutzenberger, vivendo profissionalmente da
Arquitetura, mantinha uma produção autônoma e paralela de aquarelas, desenhos e
pinturas.
Veja mais em
http://zoonzum.blogspot.com.br/2011/01/porto-alegre-um-cotidiano-joseph.html
Fig. 09 – O
bávaro Joseph Seraph LUTZENBERGER (1882-
1951) foi um observador dos costumes do povo de Porto Alegre e registrou
algumas destas manifestações em desenhos com ironia e ao mesmo tempo carregada de uma profunda simpatia pelas
expressões espontâneas efêmeras do Einfulung tropical em contraste acentuado e
ressaltado pela típica Abstrakion do povo germânico.
O tema destas obras são as de um estrangeiro
encantado como diferente de sua terra de adoção. Neles descobriu e descreveu
graficamente os costumes gaúchos e técnicas em vias de extinção no próprio Rio
Grande do Sul. Palmilhou as poeirentas estradas da época em todas as direções
para atender os seus clientes de Arquitetura e trazendo, deste interior,
observações visuais. Não deixou discípulos diretos, apesar do respeito e
admiração continuada em relação a produção artística.
Fig.
10 – Uma das imagens antológicas de Ernest ZEUNER (1895-1967) para a Revista de Ensino da Secretaria de
Educação do Rio Grande do Sul no momento que uma das diretoras, desta Revista,
era Madalena Lutzenberger – filha do
Joseph Lutzenberger e irmã do ecologista José Lutzenberger
Já Ernest ZEUNER vivia
rodeado de colaboradores e seguidores que se acotovelavam com ele nas oficinas
gráficas da Editora Globo. Não impunha o seu modo de sentir a arte e ver o
mundo. Um dos seus companheiros que foi o taciturno João Fahrion(1898-1970).
Este aprofundou as questões gráficas e foi mais longe no mundo da Arte ao qual
transferiu o que não proclamava no seu discurso falado.
Fig.
11 – Autorretrato do taciturno João FAHRION foi acentuado pelos seus
traços expressionistas e que compensavam o quase mutismo social (Abstrakion)
amplamente compensada pelo verve do seu traço e pelo projeto mental que orienta
esta obra.
João levou seu acervo
de conhecimentos e práticas ao Curso de Artes Plásticas do Instituto de Belas
Artes do Rio Grande do Sul. Contudo, também como seu mestre, não impunha nem
sugeria a si como modelo. O seu estudante aproveitava este ambiente de
liberdade e de camaradagem para solicitar orientações em relação a um problema
específico. Manteve a sua autonomia e exerceu a mais fina observação e ironia em
relação os seus colegas e superiores da academia
Fig.
12 – Os colegas de João
FAHRION do Curso de Artes plásticas
do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul que não foram poupados pelo
mestre do desenho da ilustrações dos livro da Editora Globo, das revistas
Madrugada e depois nas magistrais capas da Revista do Globo
. [Da esquerda para
a direita na imagem – FAHRION, CASTAÑEDA, TASSO CORREA, FERNANDO CORONA, ANGELO
GUIDO LUTZENBERGER, MARISTANI TRIAS e ERNANI CORRÊA]
Edgar KOETZ, (1913
-1969) aprofundou as questões gráficas e as transferiu ao mudo da Arte as
palpitações e contradições da era
industrial e do meio urbano. Auto internado no Hospital Psiquiátrico São Pedro
refez, em Porto Alegre, o caminho de Van Gogh.
Fig. 13 – O gênio atormentado de Edgar KOETZ encontrou expressão artística,
tanto na sua pintura como no desenho autônomo e para a indústria gráfica de
revistas, jornais e livros.
O pintor e artista gráfico Gastão
HOFSTETTER ( 1917 -1986) viveu, num bairro operário, o apogeu da era industrial
em Porto Alegre e depois sua lenta
entropia. A sua obra está repleta de referências a ambientes carregados de
nostalgia de um passado recente, mas que está sendo carregado inexoravelmente
pelo tempo da era do artesanato e de objetos da era industrial.
Fig. 14 – Gastão
HOFSTETTER
Um entre tantos artesões
profissionais, Hans VEIT (1898-1985), demonstrava as referências em escola
técnica (Werkbund) germânica em vidro e em cerâmica. Exerceu esta atividade em
Porto Alegre, na forma empresarial e numa linha de montagem de vitrais e de
azulejos.
No conjunto das obras
dos artistas de ascendência germânica, atuando nas circunstâncias brasileiras,
percebe-se a fidelidade ao pragmatismo germânico onde confluem técnica,
domínio, utilidade e profissionalismo. Nas obras dos artistas, da presente
postagem, percebem-se também as circunstâncias na quais se desenvolveram as
suas obras. Nelas se evidenciou o triunfo da Era Industrial na qual a Arte foi
compelida a fluir em direção da indústria cultural. Estas obras também
pertencem ao passado devido ao
arrefecimento da era industrial e o surgimento da era numérica digital.
Fig. 15 – Hans VEiT
elaborou e forneceu, na década de
1950, as identificações visuais e os escudos oficiais para o prédios da URGS na
administração do reitor Eliseu Paglioli. Os trabalhos em azulejos eram a
especialidade deste técnico em cerâmica e vidro formado em escola profissional
desta especialidade na Alemanha. Han Veit foi um dos consultores permanente na
implantação das fábricas de azulejos de Criciúma - SC
Neste passado recente, as
obras e as mentalidades, vistas nesta postagem, demonstram a continuidade da
fidelidade ao caráter da origem germânica da parte do imigrado alemão e seus
descendentes. Ao mesmo tempo, estes descendentes da imigração alemã, romperam, com
a sua origem, qualquer vinculo político, administrativo ou ideológico. De um
lado a própria administração germânica faz cessar os direitos daquele que toma
a decisão de imigrar do seu território. O Brasil e a Alemanha tiveram, e
continuam a cultivar distintas evoluções administrativas e políticas. A
Alemanha busca formar, e se integrar no bloco europeu, onde se encontram as
suas remotas raízes culturais. Enquanto isto o Brasil busca externamente,
interagir planetariamente com todos os povos, etnias e culturas e constituir
raízes novas. Internamente, a brasilidade possui o projeto de criar uma
identidade - nova e própria - com todas as culturas e etnias, que migraram para
o seu território, provenientes de todos os recantos planetários.
As distinções entre a
cultura brasileira e alemã, sendo percebidas no paradigma da típica mentalidade
germânica, abrem diferenças abismais. A
formação do bloco europeu gera um WELTGEIST na Alemanha que colide com a busca
brasileira de sua integração nos emergentes (bics).
Estas duas maneiras de perceber o mundo abrem oportunidade completamente
distintas. No que tange ao ZEITGEIST, as distinções entre uma cultura e uma
língua consolidada - ao longo de dois milênios – frente a uma cultura cujo processo
de formação demandam tempos e ritmos
completamente distinto da germanidade consolidada. Quanto ao VOLSKSGEIST a
insistência germânica de um tipo humano padrão característico contrasta com uma
variedade humana brasileira em plena formação. Porém nenhum dos dois lados
aceita um ecletismo ou um meio termo, entre estes dois polos tão distintos.
Isto é impossível, de um lado, para a característica KUNSTWOLLEN (Abstraktion) germânica
e do outro lado para o JEITINHO (Einfuelung) brasileiro, impaciente com longos
discursos teóricos.
O que é belo e surpreendente - nestes dois
caminhos distintos - é que cada qual é competente para interagir com as
circunstâncias dos seus dois projetos propostos e continuara a mostrar
resultados em obras de arte concretas e coerentes com as suas escolhas.
FONTES
Jacob Aloys FRIEDRICHS
DOBERSTEIN, Arnoldo Walter. Porto Alegre 1900-1920: estatuária e
ideologia.
Porto Alegre : Secretaria Municipal de
Cultura, 1992, 102 p. il.
___Porto
Alegre(1898-1920): estatuária fachadista e
monumental, ideologia e sociedade. Porto Alegre : PUC-IFCH, 1988, Dissert 208 f..
__Rio Grande do Sul (1920-1940): estatuária,
catolicismo e gauchismo. Porto Alegre : PUC-Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas, 1999, Tese 377 f.
NOGUEIRA, Isabel Porto- El pianismo em la
ciudad de Pelotas (RS Brasil) Conservatório de Música 1918 a 1968 una
lectura histórica, musicológica y antropológica Madrid : Universidade Autónoma
de Madrid - tese 2.000 317 f. il
----------------História
iconográfica do Conservatório de Pelotas. Porto Alegre: Palotti, 2005, 283
p. il
PARA os CONCEITOS de Zeitgeist, Weltgeist, e
Volksgeist na Arte, veja
PARA os CONCEITOS de ABSTRAKTION, e EINFUELUNG na
Arte, veja
BLUMENAU e a HERANÇA GERMÂNICA
em SANTA CATARINA
JUSTINA KERNER POHLMANN
HILDA GOLTZ
Elizabeth
ROSENFELD
Joseph
Seraph LUTZENBERGER
Ernesto
SCHEFFEL cidadão de Novo Hamburgo
em Estrela
OBRAS
de HANS VEIT em
MOREIRA Altamir A Morte e o
Além: iconografia da pintura mural religiosa da
região central do Rio Grande do Sul (século XX)
Porto Alegre, IA UFRGS 2005
Disponível em : http://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/7181 in Anexos
QUEIMA
das BANDEIRAS ESTADUAIS pelo ESTADO NOVO
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