A ARTE NÃO MENTE.

EM ARTE NÃO ADIANTA PEDIR DESCULPAS.

“O ente no ser”

Heidegger

A arte não mente e o que permanece é pensamento que a gerou. Quando o pensamento descuidou dos mais elementares princípios da sua concepção e recepção de uma obra de arte, ela submerge no universo da entropia universal da Natureza. Nesta condição ela é destinada ao lixo. Se este trabalho, desta obra, foi concebido e realizado em nome da arte, poderá ser objeto da Arqueologia num futuro próximo ou remoto.

Nestas condições surge mais um sitio arqueológico de um passado próximo. Desta vez em Porto Alegre e no espaço antes ocupado pelo Guaíba. Trata-se das obras deixadas no Parque Marinha do Brasil pela Bienal do Mercosul, pelo Fórum Mundial, pela Prefeitura de Porto Alegre e outros.

Estas obras cumprirem, em 2009, o ciclo de sua obsolescência ao modelo da mentalidade de toda obra produzida no pensamento que orienta a era industrial. Modelo que induz a criatura humana o produzir e receber objetos e idéias coerentes com a obsolescência programada de pessoas e coisas ao ritmo da maquina. Esta mentalidade pode instalar os campos de extermínio humano em larga escala ou deixar seus artefatos na Lua ou em outros planetas.

Mentalidade que comandou a construção de cenários que se pautam a celebração de qualquer evento, na trilha da Propaganda da Fé nas Missões jesuíticas e dos cenários cinematográficos de Hollywood.

Não se trata aqui da “obra de arte na era da reprodutibilidade”, da industria cultural. Trata-se do ritmo “just-of-time” que a maquina atingiu e impõe como lógica do que pretende ser original. Esta mentalidade torna-se algo em si mesmo e com todas as consequências daquilo que deveria ser instrumento da produção, da circulação e da recepção de uma obra de arte.

As obras do Parque Marinha do Brasil não mereceram- e não receberam -um potencial índice da receptividade. Índice da receptividade digna de uma obra de arte. Recepção da arte que, desde a humanidade aprendeu a escrever e a ler, mereceu uma epígrafe mínima.

Nesta falta - de índices unívocos e lineares de uma potencial receptividade - retornam para a entropia e volta à Natureza. Isto se a população desinformada não colabora ativamente nesta entropia. A premissa para esta licença é dada pela frase “todos são artistas”.Se a aposta era desestabilizar a identidade local: o objetivo foi atingido.

- Mas o que se colocou no lugar desta identidade?

- Sucata?.

A sucata é um mal generalizado em todas as culturas fortemente atingidas pela industrialização, não se distinguindo capitalismo o socialismo. Evidente que existem empresas de sucata e que acham ouro na sucata. Os monumentos do regime soviético tornaram-se objetos de cobiça ou alvos de anarquistas.

A mediação institucional foi interrompida na realização e na entrega das obras do Parque Marinha do Brasil. As instituições de arte foram desqualificadas e anacronizadas pela mentalidade industrial. Juridicamente não houve um contrato ou faltou cumpri-lo.

As obras do Parque Marinha do Brasil de Porto Alegre, no estado em que se encontram, em 2009, dão uma aula para a população como se pode usar o dinheiro publico para o efêmero e o evento para o consumo imediato. Estas obras cobram - na sua impotência física - o direito da arte buscar a verdade no desenvolvimento coerente da vontade e do conhecimento.

O Rio Grande do Sul possui agora dois sítios arqueológicos; um das Missões e outro em Porto Alegre no Parque Marinha do Brasil. Ambos resultaram da propaganda de um projeto que deixou amargas lições para quem acreditou neles. Um da Propaganda da Fé e outro da Propaganda da era industrial. Contudo em ambos ficaram apenas as ruínas como consolo e tarefa destinada ao poder originário que nelas trabalhou e contribuiu na sua construção original. O lucro encontra-se em mãos alheias e muito longe do poder originário que os pagou e neles trabalhou fisicamente.

Busca-se, no presente texto e imagem, não a denúncia, mas a integridade intelectual que suscita toda de obra autêntica num PROJETO em NOME da ARTE. Obra como índice do melhor que uma civilização pode legar aos contemporâneos e que deveria permanecer para um futuro ideterminado. Civilização na qual uma obra de arte necessita cumprir, para merecer este nome, de integridade intelectual que aponta para o seu ciclo completo. O conhecimento, a vontade e o direito de possuir e legar uma obra de arte autêntica para as novas gerações, supõe a existência de uma civilização que lhe deu origem. Uma civilização na qual seja possível realizar contratos que respeitam e garantem o poder que lhe deu origem. Supõe instituições que entendam estes contratos, tenham condições para mantê-las no tempo indeterminado para que nelas uma nova geração se possa espelhar. Espelhar-se nelas não para admirá-las, mas para superá-las e por sua vez melhorar o conjunto desta civilização. Neste aspecto a obra de arte não é diferente de tudo o mais o que ocorre numa civilização. Obras de arte, que não tenham só a pretensão de serem fontes de inspiração para as inteligências, mas estímulos da vontade para que uma nova geração as receba para as transcenderem. Obras de arte que guardam como dados e que transmitem um pensamento digno de ser incluído em um novo projeto coerente com o novo tempo.

- Qual o pensamento resultante das obras deixadas no Parque Marinha do Brasil?

No estado atual, transmitem, para uma nova geração e estrangeiro, o pensamento deixado por eventos efêmeros e herméticos Pensamentos herméticos que remetem aos misterinhos inconseqüentes.

No seu estado atual não transmite nada além da mentalidade do misterinhos de brinquedos de casinha. Mentalidade que comandou a construção de cenários ao modelo da Propaganda da Fé das Missões jesuíticas, dos cenários cinematográficos de Hollywood e que pautam a celebração de qualquer evento. Não transmitem nada além do “pão e do circo”. Circo que amanhã estará em outro lugar. Aos donos do circo não se interessam pelos restos que a sua mentalidade do efêmero e do espetáculo deixam atrás de si.

A arte não mente e, em arte, não adianta pedir desculpas por uma mentira.

EMILIO SESSA

PRIMEIRO ANIVERSÁRO do INSTITUTO CULTURAL

EMÍLIO SESSA.

O INSTITUO CULTURAL EMÍLIO SESSA [ICES] comemora no dia 31 de outubro – véspera de TODOS os SANTOS – o seu primeiro ano de existência. O termo INSTITUTO faz lembra o INSTITUT de FRANCE[1] vértice das Académies e das Écoles. O termo faz lembrar que uma civilização existe e progride na mediada da vida de suas instituições.

Seguramente a figura, a obra e a vida de EMÍLIO SESSA constituem um núcleo digno de uma instituição desta natureza. Em especial o ICES constituído como Instituto retoma as tradições republicanas. O regime republicano busca a sua base no poder originário. O seu ente governamental não pode ser indiferente pois iria solapar o próprio suporte do qual ele próprio provém. Em especial quando se trata de um patrimônio material e imaterial da obra de Emilio SESSA cuja extensão merece ser conhecida. Uma vez conhecida este patrimônio necessita vontade para a sua preservação contra toda a entropia cultural que as necessidades das novas gerações necessitam também para se afirmar.

O direito para este patrimônio emergir - e se afirmar - à luz do nossa atualidade, provém da energia intelectual e das vontades de um grupo. Esta atualidade é constituída pelo belo grupo de intelectuais e estetas que se reuniu ao redor do projeto que sustenta, no presente, o ICES.

O Instituto possui a sua curadoria familiar sob o olhar do arquiteto Franco SESSA, filho do artista Emílio SESSA. Iniciou, no dia 31 de outubro de 2008 com o Prof. Dr. Arnoldo Walter DOBERSTEIN, Maria Regina de SOUZA LISBOA, Maria Helena MONTARDO, Giullia SOUZA MAGALHÃES, Anna Paula BONEBERG. Ana Maria GREFF BUAES e Eliane SILVA. A este time somaram-se muitos outros nomes ao longo dos seus 365 dias inaugurais.

Este grupo ampliado revive, no presente, os suportes que VASARI encontrou para escrever a História do Renascimento Italiano. O historiador recorreu ao patrimônio da memória que os artistas legaram ao seu grupo familiar é donde fluiu para toda a humanidade por meio das PALAVRAS de VASARI. Este legado familiar repete-se no Rio Grande do Sul pela obra de Maria COUSIRAT CAMARGO que está prestando suporte à obra e memória de Iberê CAMARGO. Em Ruth MALAGOLI à memória e ao legado das obras de Arte de Ado MALAGOLI e em Yvonne OLIVEIRA da CUNHA que se está centrando no estudo, conservação e divulgação orientada da obra de Plínio LIVI BERNHARDT. Contudo enquanto estes artistas eram jovens - e em plena produção - começava o trabalho da Família LOCATELLI. Mercedes, Roberto e Cristiana abraçaram a memória e a obra de Aldo em 1962, com o desaparecimento precoce deste artista e levaram com carinho e devoção esta herança familiar. Agora - passado quase meio século – eles juntam a memória de LOCATELLI com a Família SESSA. As duas famílias juntas reforçam a memória dos dois artistas que iniciaram a sua produção artística coletiva em Bérgamo e juntos enfrentaram o estreito e incipiente sistema de artes que encontraram em Pelotas e depois no Rio Grande do Sul e no Brasil

Esta tradição familiar é o caminho mais seguro e eficiente de que a obra de arte necessita para realizar o seu trânsito do Espaço Privado para o Espaço Público. Espaço Publico no qual o Sistema de Artes opera, cuja densidade e coerência e caracteriza uma civilização.

Há necessidade que a PALAVRA ORIENTE o OLHAR - para as obras de Arte de Emílio SESSA - apesar da sua grande quantidade, de terem sido produzidas e estarem disponíveis em exposição constante. OLHAR que possui a tendência natural de se entregar à rotina e distrair-se, mesmo diante da maior obra de arte, como advertiu Maragoni[2].

O grupo do ICES possui a grande tarefa de criar a PALAVRA ADEQUADA e COERENTE para ORIENTAR o OLHAR do PÙBLICO em relação á OBRA de Emílio SESSA.

O registro do andamento deste trabalho você pode encontrar em:

http://www.emiliosessa.com.br/

Luiz Eduardo Robinson Achutti
:
ler@achutti.com.br > : www.achutti.com.br www.fotoetnografia.com.br http://www.artes.ufrgs.br



[2] MARANGONI, Matteo ( 1876-1958). Aprenda a ver uma obra de arte. São Paulo : Instituto Progresso Editorial, 1949, 251 p.

SISTOLE ou DIÁSTOLE :

NACIONALISMO ou REGIONALISMO.

A soberania dos Estados Regionais - concedida pelos próceres brasileiros do regime republicano - implodiu o monolítico edifício do regime imperial. Edifício monolítico mantido por meio da contração (sístole) política de todos os poderes sediando-os na metrópole.

Os republicanos haviam constituído, nos estados mais politizados, poderes paralelos e afinados com o novo regime que desejavam implementar. Nada mais lógico que os próceres republicanos concedessem a estes estados ao prêmio da sua SOBERANIA - (diástole).

“Art 3.o Cada um desses estados, no exercício de sua legítima soberania, decretará opportunamente a sua constituição definitiva, elegendo os seus corpos delibrantes e os seus governos locaes”.

Decreto n.o 1 de 15 de novembro de 1889[1]

Proclama a republica federativa e dá outras providencias

Evidente que este “prêmio” teve de ser pago e muitas vezes com o sangue como aquele que correu em 1893 nas revoluções de cunho “federalista”. O governo de Júlio de Castilhos foi o mais conseqüente com a “soberania” concedida. É contraditório que do Rio Grande do Sul parte, em 1930, a nova sístole nacionalista, comandada por Getúlio Vargas. Sístole que culminou com o Estado Novo quando este governo central queima as bandeiras e proíbe os hinos dos estados regionais. Sístole retomada “manu militari em 1964

O decreto que instaurou o regime republicano completa 120 aniversários no dia 15 de novembro de 2009. Neste período as sístoles e as diástoles políticas continuaram a ocorrer com regularidade e com intensidade no Brasil “gigante pela própria natureza”, como diz o seu Hino. Ocorreram no cenário de uma nação que até o presente não construiu, para o bem ou para o mal, o seu contrato político unívoco e linear a ponto de poder apresentá-lo no âmbito de um projeto de nação brasileira. O mesmo ocorreu com os Estados Regionais, com exceção do Estado de São Paulo. Este, a partir do “Grito do Ipiranga”, soube cultivar o seu projeto regional com nítidas ambições hegemônicas que ele exerceu com desenvoltura como província - e agora exerce com estado - por meio da economia e da cultura.

A natureza mantém os seres vivos pelo trabalho entre extremos. O equilíbrio estático ou a fixação num destes extremos constitui a morte deste ser vivo e o seu retorno à entropia universal.

A criatura humana nas suas criações está condicionada a este trabalho entre extremos. O OU não existe e necessita ser substituído pelo ENTRE [a sístole e a diástoles]. O ENTRE é um lugar da passagem da circulação. Circulação que obedece aos sistemas mantidos no equilíbrio homeostático ENTRE extremos. Esta homeostase não se vale apenas de dois extremos. Neste caso a morte pode vir pela maniqueismo reducionista. O equilíbrio homeostático ocorre ENTRE múltiplas e inesperadas energias contrárias.

Afirmou-se, acima, de que até o presente o Brasil não construiu, para o bem ou para o mal, um projeto unívoco e linear. Para o bem, pois um projeto unívoco e linear é uma vitima fácil de aventureiros e que conseguem corromper, distorcer e encaminhar este projeto unívoco e linear para desígnios obscuros. Para o mal dos que desejam a ordem a qualquer preço e estão incapacitados a se mover dentro de um espaço político de uma homeostase entre numerosas energias. Para o bem de tribos, da ecologia e das forças multi-étnicas e multi-ideológicas que circulam no seu espaço cultural e político e geográfico brasileiro.

Assim o espaço político e cultural coloca na prática quotidiana brasileira os versos do Hino Nacional

TEUS RISONHOS, LINDOS CAMPOS TÊM MAIS FLORES;
"NOSSOS BOSQUES TEM MAIS VIDA,"
"NOSSA VIDA" NO TEU SEIO "MAIS AMORES
"

Hoje já existe consenso jurídico de que o Estado Brasileiro goza e merece a soberania e os Estados Regionais possuem autonomia. Autonomia que se compõe de competências e de limites.


[1] Decreto n. 1 de 15.11.1889 do Governo Provisório “proclama a republica e dá outras providêncas”, composto de 11 artigos.

In Decretos do Governo Provisório. Rio de Janeiro : Imprensa Nacional, 1889, pp. 612 - 613.

GUIDO MONDIN e o 4º DISTRITO de PORTO ALEGRE

O autor deste blog foi obsequiado pela obra de

MOLON, Floriano. “A Via Sacra de GUIDO MONDIN”. Porto Alegre : EST, 2006; 64p. Il

A obra – resultante da bela safra comandada pelo operoso Frei Rovilio Costa – traça um momento e o esboço do rico universo de Guido MONDIN. Escrevemos esboço pois é enciclopédica a vida e a obra deste artista e político.Certamente um Catalogue Raisonée das 4.200 telas (Molon, 2006, p.6) seria apenas um pequeno capítulo da vida deste Senador da República e Ministro do Tribunal de Contas da União.

Contudo a criatividade de MONDIN não se restringe à arte e ao exercício das funções dos cargos públicos da mais alta relevância. Como memorialista fixou as suas lembranças do 4º Distrito de Porto Alegre.

MONDIN, Guido Burgo sem água: reminiscências do 4º Distrito. Porto Alegre : FEPLAN, 1987, 187 p.

Nesta obra ele faz o registro emocional da aurora de sua vida passada num dos bairros mais humanos cheio de contrastes e num universo que poucos captaram na fugacidade dos tempos modernos de uma era industrial chegando a Porto Alegre. Registro visual de um pintor e que não só descreve, mas fixa em desenho algumas das suas percepções. Esta obra não circula mais. Não sei como estão os seus direitos autorais e editoriais.

O nosso glorioso 4º Distrito tornou-se um grande estacionamento provisório, ao estilo norte-americano. Felizmente o autor deste blog está “estacionado” nele há mais de meio século e que espera sair dele só para algum dos nossos crematórios. O Centro da nossa Região metropolitana deveria girar e recuperar o rio Gravataí. A FIERGS, a Coca-Cola e agora o Grêmio acharam este lugar. Aeroporto, free-way, trem da alta velocidade e rodoviária deveriam interconectar-se ao redor do Rio Gravataí e fazer dele o que Sena, o Tibre e Tamisa fazem para as cidades de fama mundial.

A vida e a obra de Guido MONDIN podem ser uma bela metáfora deste “estacionamento”, do qual ele se deslocava em todas as direções e dimensões. Esta metáfora conduz ao cerne da questão: a pessoa Guido Fernando MONDIN. Interessa o “ente no ser” de Heidegger ou a arte está em quem a faz e não no que produz” de Aristóteles.

Guido Mondin conjugou a arte com a política, com textos fundadores e com o ente na busca do seu ser. Nesta conjugação feliz ele é um dos fundadores, em 1938, da Associação Francisco Lisboa (Chico Lisboa) Nas suas pesquisa documentais Maria Lucia Basto Kern registrou[1] os nomes destes jovens artistas:

João Faria Vianna, Carlos Scliar, Mário Mônaco, Edla Silva, Nelson Boeira Faedrich e Gaston Hofstetter. Nesse mesmo ano ingressam Guido Mondin, João Fontana, Arnildo Kuwe Kindler, João Fahrion. Judith Fortes, José Rasgado Filho, Gustav Epstein, Mário Berhauser, Júlia Felizardo e Romano Reif.” (KERN. 1981 ff. 112 e 113) [2].

A Chico Lisboa - como uma verdadeira instituição que congrega os artistas visuais - já completou os seus 70 anos. Ela possui uma vida ativa como poucas instituições e cumprindo a meta do congraçamento e um passo importante da profissionalização dos artistas visuais em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Localizado na Travessa dos Venezianos. Ela está sob a orientação de André VENZON, outro artista plástico com profundos vínculos com o 4º Distrito.

Não faltarão as motivações que um dos seus fundadores demonstrou com a sua arte, com a sua ação publica, com os seus textos. A motivação maior é com o exemplo de vida de MONDIN como é possível agir dentro dos limites e das competências de uma sociedade como a nossa. O “estacionamento” do 4º Distrito de Porto Alegre é uma metáfora [metaphorai] desta potencialidade.



[1] KERN, Maria Lúcia Bastos. Les origines de la peinture "Moderniste” au Rio Grande do Sul - Brésil. Paris : Université de Paris I- Panthéon.Sorbonne , tese, 1981. 435 fls.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Gerônimo Wanderlei MACHADO disse...

Caro Círio:
Só agora consegui entrar no teu Blog. Já havia feito outras tentativas. Mas, não sei porque razão não conseguia. O anexo que me enviaste é que me permitiu.
Achei limpo, claro e elegante a "configuração e paginação" de teu Blog. Uma beleza!
E, uma parte dos teus conteúdos eu já havia lido. Mas deverei voltar, com mais tempo, para completar as minhas curiosidades.
Agora é só para te fazer ver o meu registro.
Com abraços do,
Prof. Dr. Gerônimo W. MACHADO.
Fpolis (SC) BR.

20 de Outubro de 2009 04:51

A RECEPÇÃO da OBRA de ARTE

Se, por acaso, o quadro original de Leonardo da Vinci aparece flutuando no Guaíba a sua RECEPÇÃO seria duvidosa. Se fosse fruto de um cataclismo mundial certamente todos os possíveis observadores estariam procurando salvar-se de uma ou outra forma . A obra - que atualmente está nos pináculos da sua celebridade - teria sua RECEPÇÃO reduzida a zero. Se isto acontecesse nos dias “normais” de hoje, talvez seria recolhido pelas patrulhas ambientais como lixo contaminante de nossas águas. Com um pouco de sorte a tábua viraria uma emenda da carroceria de uma carrocinha de papeleiro. Como um pouco de mais sorte seria jogado num depósito de coisas velhas. E se a pessoa, que a recolheu, fosse de má índole, esta obra original poderia desaparecer para sempre. Precisaria ter muito mais sorte, para ser encontrada por alguém capaz de distinguir este original de uma cópia realizada por Salomão Sorowitsch, por Han van Meegeren ou um mero produto da indústria cultural.

Espera-se que a metáfora nunca aconteça. Mas ela serve para sublinhar que uma OBRA de ARTE se COMPLETA na RECEPÇÃO. O Guaíba poderia ser o rio Sena inclusive.

A humanidade já viveu a completa destruição das pinturas clássicas gregas e helenísticas. Houve um momento na História em que a sua recepção baixou para zero ou, então, como algo negativo e degradante.

No contrário, quando as artes viveram momentos altos, elas foram amparadas materialmente por toda a sociedade nas quais nasceram. Nestes momentos altos, estas obras, foram criadas e fizeram a fortuna da sua RECEPÇÂO e que se prolongou através do tempo. Em relação às bases da fortuna da RECEPÇÃO da Arte do Renascimento - na Itália e no mundo - Miguel Ângelo afirmou:

Nesta nossa terra [Itália] até os que não estimam muito a pintura a pagam muito melhor que em Espanha e Portugal os que muito a festejam, por onde vos aconselho, como a filho, que não vos devíeis partir dela, por que hei medo que, não o fazendo, vos arrependereis

Miguel Ângelo a Francisco de Holanda, 1955, p. 66.

HOLANDA, Francisco de (1517-1584) Diálogos de Roma: da pintura antiga. Prefácio de Manuel Mendes. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1955, 158 p.

Até hoje a Itália vive do investimento daqueles que - na época do Renascimento - pagavam a pintura mesmo não a estimando muito. Deve-se lembrar que, em 1548, Espanha e Portugal estavam no seu apogeu econômico, fruto das riquezas do Novo Mundo e do Oriente.

Evidente que a obra de arte não ocupa o lugar mais lembrado numa escala de necessidades primárias humanas - ao exemplo daquela de Maslow.

Contudo, diante desta mesma memória humana, esta obra de arte salta como um índice claro de uma civilização. Na sua forma material mínima ela narra as bases e as soluções encontradas pelas diversas civilizações e como lidaram com as suas necessidades básicas. Lidaram com estas necessidades - que ainda temos hoje - e eles as resolveram de tal forma que no topo das suas preocupações foi-lhe possível produzir as suas obras de arte universais. Assim a obra de arte constitui-se num testemunho inequívoco do grau de sua felicidade, coerência com sua base material e a busca da verdade que a inscreveu no patrimônio da Humanidade.

Mas atenção: aqui estamos tratando da RECEPÇÃO da Arte. A RECEPÇÃO da cultura é outro negócio !

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Arnoldo Walter disse...

Que bom poder ter contato com a reflexão de uma pessoa como o professor Cirio sobre as questões da História. Tanto da história-acontecimente como, e principalmente, da História-registro. É sobre esta última que devemos conversar. Numa época como a nossa, de tantos relativismos (cada um com sua História) é bom ouvir que as perguntas que fizemos ao passado dependem de certos valores.É gratificante escutar alguém com o qual a nossa reflexão encontra tantos pontos de convergência.

21 de Outubro de 2009 09:49

EMPRESÁRIOS do ESCÂNDALO.

O pragmático empresário norte americano afirma que “onde existe uma necessidade existe um negócio”.

Existem empresários para preencher a necessidade do medo suscitado pela solidão no meio da multidão, do ócio compulsório - quando falta de trabalho para todos - e da carência de estímulos e de motivações pessoais.

Evidente que o fenômeno não é novo. Os romanos já entendiam do negócio. Os empresários do “pão e circo” ou os sacerdotes maias - e dos astecas em escala genocídio - mantinham a indústria cultural de sacrificar espetacularmente a vida de jovens no Antigo e Novo Mundo.

A arte foi chamada, muitas vezes, para legitimar e estetizar estes negociantes do escândalo. O que deveria servir para transformar o TABU em TOTEM, permanece no TABU ou no puro CRIME primário e imperdoável. E ao artista - que deveria cultivar a sua autonomia para merecer este posto na sociedade - cai ingenuamente na heteronomia destes empresários do escândalo. Para sair desta heteronomia o conselho de Nietzsche pode ajudá-lo

A arte não pode ter sua missão na cultura e formação, mas seu fim deve ser alguém mais elevado que sobre-passe a humanidade. Com isso deve satisfazer-se o artista. É o único inútil, no sentido mais temerário

Niettzsche 2000, p.134[1]

O fim da era industrial também acabou com o trabalho na sua forma até hoje conhecida. As improvisações, destes empresários do escândalo, respondem às necessidades para ocupar as mentes, os corações e braços de uma população cada vez mais numerosa. Respondem às necessidades de uma visão de que 97% da produção pode ser equacionada pelos robôs ou maquinas. Mas os empresários do escândalo não resolvem as novas necessidades da percepção da essência do mundo. Atacam os efeitos por meio da banalização do escândalo, pelo afrouxamento da moral e pela corrupção da estética na qual arte ainda é autônoma .

A rebelião do clima, o esgotamento do oxigênio do planeta - e não só dos recursos fósseis - não pode ser tapado e escamoteado mantendo a população presa e alienada deste macro-problema pela indústria do escândalo. Indústria do escândalo pré-anunciado e aguardando eventos pontuais que não só distraem dos magnos problemas da humanidade do planeta e, mas embotam sentidos, coração e mente da criatura humana.

A indústria do escândalo também é a matriz de muitas ideologias, partidos ou religiões que se afirmam e crescem em cima de denúncias e que fabricam escândalos para afirmar e reproduzir as suas posições ideológicas. As obras dos ideólogos nazistas, que se aproveitam dos descalabros de uma Alemanha - humilhada pela 1ª guerra mundial - para construir um monstro monolítico que assusta até os nossos dias e que necessita ser combatido.

O administrador público necessita potenciializar o curto período de sua fama. Valem também para ele os 15 minutos de fama prognosticado por Andy Wahrol. No curto e limitado período de sua administração ele necessita demonstrar para o que veio. Geralmente o seu projeto não passa de ocupar o cargo para seu proveito e dos que o conduziram ao cargo. Nem pensar nas funções para as quais existe este cargo público. Nada melhor do que a indústria do escândalo para desqualificar as administrações anteriores e castigar qualquer concorrente que se aproxime dele ou tenha pretensões de sucedê-lo. Por sua vez a oposição não perde a ocasião para atacar com a indústria do escândalo a quem ocupa qualquer cargo público.O poder originário é colocado como publico cativo e deste espetáculo deprimente

A indústria do denuncismo é um braço da indústria do escândalo. Os mais bem intencionados cidadãos não escapam da indústria do denuncismo e são as suas vítimas preferenciais. O Cardeal Richelieu mestre da política do denuncismo já afirmava “dêem-me um texto de cinco linhas do mais respeitados súdito deste reino, e eu encontrarei cinco razões para enforcar o se autor deste texto”.

A indústria do escândalo usa moral que como base do seu direito. Este direito possui a mesma lógica das sátiras romanas cujo lema o “Ridendo castigat mores não resiste ao menor exame da razão e da ética. Este moral traz no seu bojo a moral da escravidão. Escravidão que mantinha os sábios de todo o mundo mediterrâneo sob o tacão do poder romano da época imperial. Na atualidade tal tacão imperial usa os instrumentos da indústria do escândalo para manter submetidos os povos. Indústria do escândalo que renova e potencializa e avassala as consciências atuais pelo meio dos instrumentos numéricos digitais.



[1] NIETZSCHE, Frederico Guillermo (1844-1900) Sobre el porvenir de nuestras escuelas. Barcelona: Tusquets, 2000. 179.

TODO DOCUMENTO é um ATENTADO CONTRA a ONIPOTÊNCIA HUMANA.

Um documento contradiz as sensações naturais humanas A onipotência, a onisciência, a onipresença e a eternidade buscadas pela criatura humana natural, encontram, na forma de um documento, os seus limites e em algo que lhe é externo.

Sócrates diria “só sei que nada sei” contra a opinião destes onipotentes, oniscientes, onipresentes e eternos donos do raio e do trovão.

Maquiavel sabia colocar a memória humana no devido lugar. Escreveu “deve o príncipe abster-se dos bens alheios, posto que os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio”.[1]. Sabendo da maleabilidade desta memória humana aconselhou o Príncipe a praticar o mal de uma única vez e praticar o bem ao longo de todo o seu reinado. Evidente que este bem pode estender-se para além da vida do príncipe, quando devidamente sedimentado na memória escrita de uma história fundada em documentos irrefutáveis. Napoleão Bonaparte foi mestre em reescrever a sua vida e feitos em documentos sobre o se controle pessoal, Aproveitou o exílio e o silencio da ilha de Santa Helena para produzir e reescrever feitos da sua vida. Conferiu-lhes forma e narrativa que ele desejava para um publico potencial consumidor de produtos da industria cultural.

Contudo toda memória humana, além de limitada pelo tempo e pelo espaço, é falsa[2]. A percepção humana é sempre parcial e orientada por repertórios pessoais de interesses momentâneos[3]. O poeta Mario Quintana fulminou: “prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura” diante deste limite da percepção e da memória humana.

Diante deste limite os instaladores da nova ordem necessitam da terra arrasada para se constituírem em profetas descartáveis do reino dos mil anos. São eles que instalam a lógica da queima de etapas. Sabem também que a História nunca se repete a não ser como uma farsa da qual eles querem e se oferecem para serem os atores centrais.

Uma nação inteira pode ser mergulhada neste inconsciente coletivo. Inconsciente coletivo que é necessário preservar por meio do “nihil opstat do bispo ou pela queima de documentos dos hereges e dos maias. As lições dos nazistas são eternas na sua maldade conceitual e na instalação prática do Inferno na Terra.

Todo documento se for honesto e coerente é uma denuncia. Denuncia o limite daqueles conquistaram o poder num dado momento. Conquistadores que devem agir depressa para negar e corromper, se possível, apagar e destruir para sempre a origem do seu poder[4].



[2] Les métamorphoses de la mémoire (1/6) L'hippocampe de Proust LE MONDE | 14.07.08 | 16h13 • Mis à jour le 16.07.08 | 14h32

[4] - Ver PODER ORIGINÀRIO em SIMON. Círio http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lançamento do livro:

BRAMBATTI, Luiz Ernesto. Locatelli no Brasil – Caxias do Sul-RS : Belas Letras. 2008, 240 p.

Cerimônia do lançamento do livro no CENTRO CULTURAL CEEE – Érico Veríssimo em 21 de outubro de 2009

Na foto a seguir [da esquerda para a direita do observador] Luiz Ernesto BRAMBATTI, Sérgio CAMPS de MORAIS –Diretor Presidente do GRUPO CEEE, Círio SIMON e Roberto LOCATELLI - filho de Aldo LOCATELLI.

Foto de Miguel da COSTA

migustatche@yahoo.com.br

VISITA e CONTRIBUIÇÃO HONROSA e ESTE BLOG

Este blog recebeu a visita e uma preciosa contribuição do Prof Dr Arnoldo Walter DOBERSTEIN.

Colega estudante do programa de Doutoramento em História da PUC-RS deste que mantém este blog.

O Prof. Arnoldo é um trabalhador e historiador da memória cultural de Porto Alegre. Ele está investindo energia e o seu grande conhecimento para trazer à memória publica do artista Emílio SESSA.

Emílio foi companheiro de Aldo LOCATELLI tanto na Itália como aqui no Rio Grande do Sul. Para manter em alto nível esta memória o Prof. Arnoldo está trabalhando no INSTITUTO CULTURAL EMÍLIO SESSA que mantém o site http://www.emiliosessa.com.br/ contendo um BLOG. Recomendamos ambos para os visitantes deste blog.

O prof. Arnoldo, generoso como sempre, se inscreveu imediatamente como seguidor deste blog.

O pesquisador LUIZ ERNESTO BRAMBATTI deu uma aula como a HISTÒRIA pode constituir-se num instrumento para o conhecimento das nossas circunstâncias e uma possibilidade de refletir e projetar-se nelas.

BRAMBATTI, tendo como tema a pessoa, a obra e o público de Aldo LOCATELLI, entregou à cultura do Rio Grande do Sul, na noite de 21.10.2009, um livro que faz jus ao que de melhor circula na cultura mundial.

Para tanto entendeu e colocou em prática o papel do apoio dos entes governamentais para uma obra de três longos e fecundos anos de pesquisas. Nestas pesquisas trouxe para o presente o legado do mestre Locatelli que viveu e trabalho entre nós de 1948 até 1962. Escolheu o Centro Cultural CEEE Érico Veríssimo para lançar esta obra.

A presença do Diretor-Presidente Sérgio Camps de Morais do Grupo CEEE caracterizou muito bem o papel que os entes públicos possuem num projeto civilizatório de alto nível e compensador da violência que está se disseminado pela sociedade. A constelação do apoio do Governo Federal pela Lei de Incentivos à Cultura, a Eletrobrás, o Grupo CEEE e do Governo do Estado do Rio Grande do Sul deram corpo de apoio a este projeto civilizatório compensador. Projeto que reuniu Roberto Locatelli o filho do artista e Franco Sessa o filho de Emílio Sessa no palco Centro Cultural CEEE frente a um publico atento e participativo.

Este público aguarda a promessa de LUIZ ERNESTO BRAMBATTI de investimento das suas energias e dos seus conhecimentos e do seu trabalho no INSTITUTO CULTURAL EMÍLIO SESSA visando o apoio institucional, a pesquisa e a produção de um livro com as mesmas características da obra dada ao publico na noite de 21.10.2009 no Centro Cultural CEEE.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A História responde as perguntas a ela dirigidas

A História é ótima para a criatura humana. Por meio dela esta criatura possui um instrumento para o conhecimento das suas circunstâncias e uma possibilidade de refletir e projetar-se nelas. Especialmente as circunstâncias de suas origens próximas e/ou remotas. Com esses dados na mão pode perceber tendências recorrentes e traçar projetos para o seu futuro.

Mas a História é sempre uma criação humana. O ótimo da História pode ser corrompido como qualquer criação humana. E toda corrupção do que é ótimo, é péssima.

Esta corrupção pode iniciar pela pergunta que dirigimos ao passado. Nesta interrogação fatalmente misturam-se os próprios valores de quem realiza a pergunta. Não adianta procurá-los no passado se quem pergunta não possui valores.

“É tal a força da solidariedade das épocas que os laços da inteligibilidade entre elas se tecem verdadeiramente nos dois sentidos. A incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado. Mas talvez não seja mais útil esforçar-nos por compreender o passado se nada sabemos do presente” . Marc Bloch 1976, p.42.[1].

Os filmes pseudo-históricos produzidos por Hollywood - e depois pela Cinecittá italiana - trazem subliminarmente os valores comerciais e os lucros aos quais se destinavam estas obras. Os temas destes filmes inspiravam se em obras literárias de um romantismo que já havia pervertido os fatos e respondendo ao solepsismo dos seus autores e do público e caro aos valores cultivados pela industria cultural.

O escapismo de um presente, considerado chato e incômodo, é um valor para muitos textos de auto-ajuda ou peças áudio-visuais da industria cultural.

A tudo isto se acrescente o fato da percepção humana ser limitada a poucos elementos de um fato, mesmo para quem o tenha vivido pessoalmente. Esta limitação sensorial humana reflete-se na memória humana. Estudiosos afirmam que toda memória humana é falsa ou ao menos profundamente limitada. O limite continua na tradução dos signos de comunicação incluindo imagens. O repertorio de quem constrói a narrativa histórica e de quem a recebe – é determinante para a transmissão desta narrativa escrita ou áudio-visual.

O direito ao conhecimento - do conteúdo autêntico de uma narrativa histórica - impõe-se a crítica e uma vontade coerente com este conhecimento. Esta crítica necessita ter sempre bem presente qual a competência da História e os limites - desta competência. A vontade e a crítica, ilustrada pela razão, são necessárias a quem produz e consome História. Vontade e a crítica instrumentos valiosos para não resvalar para o mito e corromper o ótimo da autêntica História. Vontade e crítica para dirigir as perguntas corretas para a História e obter dela as respostas coerentes com o tempo e os fatos que estão no passado. Coerência entre passado e com quem realiza a pergunta a este passado.



[1] BLOCH, Marc (1886-1944) . Introdução à História.[3ª ed] Conclusão de Lucian FEBVRE - .Lisboa :Europa- América 1976 179 p.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Endogenia corporativa

Reprodução do poder de um grupo interno para proveito próprio do trabalho de uma organização humana. Para tanto este grupo interno instala o controle do poder a favor dos seus interesses particulares e o busca reproduzir, por tempo indeterminado. Interesses com o objetivo buscar e manter a hegemonia no exercício do poder em nome do trabalho dos demais componentes da organização. Este poder é mantido nas mãos de alguns dos membros ortodoxos do grupo interno que manipula o contrato recebido. Mantém este poder através de contratos marginais aos objetivos originais da organização do seu poder originário conduzindo e o legitimando por meio de pseudo-eleições e oportunistas. Desta endogenia corporativa resulta o cerceamento da circulação do poder originário, a democracia e o voto são apenas formais.

4 - A UNIVERSIDADE e o ESTADO BRASILEIRO

A universidade Federal Brasileira na Heteronomia:

A universidade brasileira continua a vegetar, em 2009, num estado carente de um projeto de Nação. Nação que não reconhece o seu poder originário em todas as suas instâncias, devido à projeção da sua cultura servil.

No seu estágio atual a Universidade brasileira, encontra-se na heteronomia esperando ser vítima do primeiro interesse ideológico ou político. Não faltam candidatos para este assalto. Candidatos que são provenientes de classes profissionais ávidos para se apoderar do poder desta universidade disponível. Candidatos cujo único projeto é corromper o que é ótimo e inerente à natureza da própria instituição. Como tal esta universidade brasileira não só passa a ser inútil, mas perigosa devido à corrupção do núcleo moral do projeto de uma nação verdadeira, justa e coerente com o seu povo.

Tomada de decisões e uma ação coerente

Tendo presentes estas questões, as soluções dos problemas apontados aqui são:

1 – O fluxo do poder no interior da universidade é o mesmo do poder originário da nação brasileira.

2 – Como tal possui - de fato e de direito - vontade e condições para discutir a problema do EQUÍVOCO UNIVERSIDADE no BRASIL com todas as implicações provenientes desta discussão

3 – A luz desta deliberação: reforçar o conhecimento do poder originário da universidade e a decisão prioritária para este poder tenha o direito a um projeto que explicite o contrato decorrente do poder originário da universidade. Projeto no qual se confere representação efetiva aos docentes das universidades federais brasileiras na condição de agentes do ensino, da inovação e da extensão transformadora.

“A formação universitária dos professores não é somente uma necessidade da função educativa, mas o único meio de, elevando-lhes em verticalidade a cultura, e abrindo-lhes a vida sobre todos os horizontes, estabelecer, entre todos, para a realização da obra educacional, uma compreensão recíproca, uma vida sentimental comum e um vigoroso espírito comum nas aspirações e nos ideais”[1].

Formação universitária dos professores apesar da cultura brasileira de escravidão e da servidão seculares. Cultura de escravidão e servidão duma nação nascida e mantida num regime colonial. Cultura que manteve afastada e escondida toda possibilidade da autonomia de um poder originário, inclusive o docente da universidade federal brasileiro. Docente mantido incentivado por associações espúrias que reproduzem a heteronomia da cultura brasileira de escravidão e da servidão seculares.

DISTINGUNDO ALGUNS TERMOS.

Academia: jardim de Atenas onde se reuniam os discípulos da Platão. As academias substituíram as guildas medievais ao longo do Renascimento Italiano. Na Revolução Francesa foram criadas as diferentes academias conforme a classificação iluminista dos saberes mas sem estudantes que eram remetidos para as suas respectivas Escolas.. No Brasil a Academia Brasileira de Letras retomou o sentido da Revolução Francesa como o lugar do saber literário e sem a presença do estudante.

Autonomia: principio da sanção moral dos atos humanos. Autonomia compreende uma competência interna e um limite. Na imagem de Maturana, uma célula viva necessita da membrana que a delimita, permite assimilar o que lhe interessa e proteger-se do que não

Contrato social: legado iluminista para o exercício pleno da cidadania e contra a vontade divina dos príncipes, reis e eclesiásticos.

Endogenia corporativa e O grupo que se forma no interior de um grupo humano e que busca a hegemonia do exercício do poder procura reproduzir-se na corporação através de contratos a margem dos objetivos originais da fundação original

Ensino Superior: ensino de terceiro grau

Escola: na etimologia grega como “lugar do ócio”, em contraposição ao neg-ócio ou “sacerd-ócio”. Durante a Revolução Francesa a escola era o lugar do ensino e mantida através de um saber específico das Academias reunidas no alto patrocínio do Institut de France. Assim a França atual mantém as suas Escolas de ciências, profissionais e artísticos e com formador dos agentes qualificados para o Estado Francês. A Sorbonne destina-se para saberes mais gerais, vulgares e populares.

Escravo: não é gente, na concepção de Aristóteles, pois ele não delibera e nem decide[2]

Estado brasileiro: No 1º decreto republicano atribui-se “a soberania” ao Estado Regional. Os federalistas e opunham a competência. Hoje o Estado Regional é considerado “autônomo” enquanto o Estado Brasileiro é “soberano”

Faculdade: O estatuto da UFRGS escreve no “Art. 30 - As Unidades Universitárias destinam-se ao exercício das atividades de ensino, de pesquisa e de extensão. §1º - Os Institutos Centrais são Unidades que atuam, predominantemente, no domínio do conhecimento fundamental. §2º - As Faculdades e Escolas são Unidades que atuam nas áreas do conhecimento aplicado”.

Fazer x Agir: o homo faber (Hannah Arendt) como princípio e fim do ensino superior profissionalizante.

Federal – As “Universidades Temporãs do Brasil” ( Cunha, 1980) não tinham o projeto da sua competência para todo o território nacional.

Heteronomia Florestan Fernandes escreveu (1966, p.105) “o escravo não se liberta a si mesmo: ele é libertado”.

Homo Faber: Expressão de Hannah Arendt que percebe no homem contemporâneo a compulsão do FAZER, a qualquer preço, sobre o AGIR. O resultado é o TRABALHO, e NÃO a OBRA. Trabalho condenado à obsolescência e ao lixo de tudo que o “homo faber” produz, inclusive ele próprio. A OBRA é o que permanece e não e consumido. A universidade ocidental reproduz esta compulsão, a ensina e não vê drama moral algum no lixo e na obosolescência.

Instituto: Pensa-se no formato e papel do “INSTITUT de FRANCE” com as suas “ACADEMIES” e suas “ÉCOLES” em substituição ao papel e formato da Universidade de Sorbonne do “Ancien Regime”.

Instituição: uma civilização existe e se mantém na medida das suas instituições.

Lei Brasileira: precede o fato. A universidade para todo o território brasileiro criada por lei.

Liberdade: como atribuição da decisão da reprodução deliberada. O patrício romano podia deliberar e decidir a sua reprodução e a transferência das suas prerrogativas para a sua descendência, a partir do memento de atingir a sua maturidade sexual (líber). O escravo, não.

Poder originário: poder anterior a qualquer delegação ou contrato social.

[veja o desenvolvimento deste conceito em http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html]

Populismo: o autêntico poder originário é corrompido e enganado por um grupo interno legitimado num determinado ponto. Este equívoco é alimentado com aparências do exercício do poder, e que ao contrário disto, impede, ao restante do grupo assumir mudanças significativas e coerentes com a realidade que este grupo vive.

Projeto civilizatório compensador Se o cidadão renuncia ao exercício da violência a favor do Estado, de outro este Estado necessariamente necessita responder a este delegação. Se o exercício desta violência que lhe é delegada pelo cidadão avulso e auto-despojado da violência, de outro este mesmo Estado necessita compensar este exercício da violência, propondo um projeto positivo e aqui se entende como “projeto civilizatório compensador” : Lefort anuncia (1983, p.79) o Estado aparece a todos e se representa a si mesmo como o princípio instituinte, como o grande ator que detém os meios de transformação social e do conhecimento de todas as coisas

Reprodução: todo ser vivo busca formas de perpetuara-se

República dos estudantes da Universidade de Bolonha como promotores das Repúblicas Italianas do Renascimento. A defesa do doutorado na rua e como desafio ao catedrático

Servidão voluntária: como refúgio da heteronomia irresponsáve[3]l.

Sístole x diástole: Em movimentos contrários a República Brasileira proclamou a “soberania” dos seus Estados (15.11.1889) dispersando (diástole) o poder por todo o território nacional. Em 19.11.1937, queimou as bandeiras destes Estados retomando (sístole) a sua soberania.

Tese: uma afirmação contra a opinião geral.

Universidade: uma das poucas criações ocidentais segundo Max Weber.

O único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as universidades) podem, legitimamente, oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos Max WEBER 1989: 70 [4]

Voto: na Universidade o poder é distribuído conforme o acento eleitoral. Na Universidade de Bolonha este acento era dos estudantes. Na Sorbonne predominava a dos docentes. A Universidade Nacional de La República do Uruguaia agrega, ao acento eleitoral, a comunidade e, em especial, os sés ex estudantes.

O texto que segue é disponibilizado no interior dos princípios contratuais de:

Creative Commons



[2] Na concepção de Santos (1975, p.25) o professor só administra o seu repertório e ensina aquilo que ele é. “Nem o escravo e nem o proletário, podem ensinar para a responsabilidade, para o futuro, porque o seu futuro é hoje. Nem um nem outro podem transmitir valores. Sua situação é de inconsciência. São desvalores. Educar para o desvalor e para o hoje é uma contradição lógica, um absurdo sóciológico, um erro pedagógico”. SANTOS, Ely Souto dos. Os Proletários da Cultura. Porto Alegre: Gráfica Dom Bosco, 1975. 209p.

[3] La Boetie percebeu no Renascimento Francês quando escreveu (1974, 1982, p. 25) que: a primeira razão por que os homens servem de bom grado é que nascem servos e são criados como tais. Desta decorre uma outra, que sob os tiranos, as pessoas facilmente tornam-se covardes e efeminadas. BOÉTIE, Etienne La (1530-1563). Discurso da Servidão Voluntária (1549). Tradução de Laymert G. dos Santos. Comentários de Claude Lefort e Marilena Chauí. São Paulo : Brasiliense, 1982. 239p

[4] - WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.