Um documento contradiz as sensações naturais humanas A onipotência, a onisciência, a onipresença e a eternidade buscadas pela criatura humana natural, encontram, na forma de um documento, os seus limites e em algo que lhe é externo.
Sócrates diria “só sei que nada sei” contra a opinião destes onipotentes, oniscientes, onipresentes e eternos donos do raio e do trovão.
Maquiavel sabia colocar a memória humana no devido lugar. Escreveu “deve o príncipe abster-se dos bens alheios, posto que os homens esquecem mais rapidamente a morte do pai do que a perda do patrimônio”.[1]. Sabendo da maleabilidade desta memória humana aconselhou o Príncipe a praticar o mal de uma única vez e praticar o bem ao longo de todo o seu reinado. Evidente que este bem pode estender-se para além da vida do príncipe, quando devidamente sedimentado na memória escrita de uma história fundada em documentos irrefutáveis. Napoleão Bonaparte foi mestre em reescrever a sua vida e feitos em documentos sobre o se controle pessoal, Aproveitou o exílio e o silencio da ilha de Santa Helena para produzir e reescrever feitos da sua vida. Conferiu-lhes forma e narrativa que ele desejava para um publico potencial consumidor de produtos da industria cultural.
Contudo toda memória humana, além de limitada pelo tempo e pelo espaço, é falsa[2]. A percepção humana é sempre parcial e orientada por repertórios pessoais de interesses momentâneos[3]. O poeta Mario Quintana fulminou: “prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura” diante deste limite da percepção e da memória humana.
Diante deste limite os instaladores da nova ordem necessitam da terra arrasada para se constituírem em profetas descartáveis do reino dos mil anos. São eles que instalam a lógica da queima de etapas. Sabem também que a História nunca se repete a não ser como uma farsa da qual eles querem e se oferecem para serem os atores centrais.
Uma nação inteira pode ser mergulhada neste inconsciente coletivo. Inconsciente coletivo que é necessário preservar por meio do “nihil opstat” do bispo ou pela queima de documentos dos hereges e dos maias. As lições dos nazistas são eternas na sua maldade conceitual e na instalação prática do Inferno na Terra.
Todo documento se for honesto e coerente é uma denuncia. Denuncia o limite daqueles conquistaram o poder num dado momento. Conquistadores que devem agir depressa para negar e corromper, se possível, apagar e destruir para sempre a origem do seu poder[4].
[1] O PRINCIPE – Cap. XVII – Da Crueldade e da Piedade http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=172
[2] Les métamorphoses de la mémoire (1/6) L'hippocampe de Proust LE MONDE | 14.07.08 | 16h13 • Mis à jour le 16.07.08 | 14h32
[4] - Ver PODER ORIGINÀRIO em SIMON. Círio http://www.ciriosimon.pro.br/pol/pol.html
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