quarta-feira, 28 de outubro de 2009

GUIDO MONDIN e o 4º DISTRITO de PORTO ALEGRE

O autor deste blog foi obsequiado pela obra de

MOLON, Floriano. “A Via Sacra de GUIDO MONDIN”. Porto Alegre : EST, 2006; 64p. Il

A obra – resultante da bela safra comandada pelo operoso Frei Rovilio Costa – traça um momento e o esboço do rico universo de Guido MONDIN. Escrevemos esboço pois é enciclopédica a vida e a obra deste artista e político.Certamente um Catalogue Raisonée das 4.200 telas (Molon, 2006, p.6) seria apenas um pequeno capítulo da vida deste Senador da República e Ministro do Tribunal de Contas da União.

Contudo a criatividade de MONDIN não se restringe à arte e ao exercício das funções dos cargos públicos da mais alta relevância. Como memorialista fixou as suas lembranças do 4º Distrito de Porto Alegre.

MONDIN, Guido Burgo sem água: reminiscências do 4º Distrito. Porto Alegre : FEPLAN, 1987, 187 p.

Nesta obra ele faz o registro emocional da aurora de sua vida passada num dos bairros mais humanos cheio de contrastes e num universo que poucos captaram na fugacidade dos tempos modernos de uma era industrial chegando a Porto Alegre. Registro visual de um pintor e que não só descreve, mas fixa em desenho algumas das suas percepções. Esta obra não circula mais. Não sei como estão os seus direitos autorais e editoriais.

O nosso glorioso 4º Distrito tornou-se um grande estacionamento provisório, ao estilo norte-americano. Felizmente o autor deste blog está “estacionado” nele há mais de meio século e que espera sair dele só para algum dos nossos crematórios. O Centro da nossa Região metropolitana deveria girar e recuperar o rio Gravataí. A FIERGS, a Coca-Cola e agora o Grêmio acharam este lugar. Aeroporto, free-way, trem da alta velocidade e rodoviária deveriam interconectar-se ao redor do Rio Gravataí e fazer dele o que Sena, o Tibre e Tamisa fazem para as cidades de fama mundial.

A vida e a obra de Guido MONDIN podem ser uma bela metáfora deste “estacionamento”, do qual ele se deslocava em todas as direções e dimensões. Esta metáfora conduz ao cerne da questão: a pessoa Guido Fernando MONDIN. Interessa o “ente no ser” de Heidegger ou a arte está em quem a faz e não no que produz” de Aristóteles.

Guido Mondin conjugou a arte com a política, com textos fundadores e com o ente na busca do seu ser. Nesta conjugação feliz ele é um dos fundadores, em 1938, da Associação Francisco Lisboa (Chico Lisboa) Nas suas pesquisa documentais Maria Lucia Basto Kern registrou[1] os nomes destes jovens artistas:

João Faria Vianna, Carlos Scliar, Mário Mônaco, Edla Silva, Nelson Boeira Faedrich e Gaston Hofstetter. Nesse mesmo ano ingressam Guido Mondin, João Fontana, Arnildo Kuwe Kindler, João Fahrion. Judith Fortes, José Rasgado Filho, Gustav Epstein, Mário Berhauser, Júlia Felizardo e Romano Reif.” (KERN. 1981 ff. 112 e 113) [2].

A Chico Lisboa - como uma verdadeira instituição que congrega os artistas visuais - já completou os seus 70 anos. Ela possui uma vida ativa como poucas instituições e cumprindo a meta do congraçamento e um passo importante da profissionalização dos artistas visuais em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul. Localizado na Travessa dos Venezianos. Ela está sob a orientação de André VENZON, outro artista plástico com profundos vínculos com o 4º Distrito.

Não faltarão as motivações que um dos seus fundadores demonstrou com a sua arte, com a sua ação publica, com os seus textos. A motivação maior é com o exemplo de vida de MONDIN como é possível agir dentro dos limites e das competências de uma sociedade como a nossa. O “estacionamento” do 4º Distrito de Porto Alegre é uma metáfora [metaphorai] desta potencialidade.



[1] KERN, Maria Lúcia Bastos. Les origines de la peinture "Moderniste” au Rio Grande do Sul - Brésil. Paris : Université de Paris I- Panthéon.Sorbonne , tese, 1981. 435 fls.

Nenhum comentário:

Postar um comentário