1911
O CENTENÁRIO de uma PINTURA
2011
O CENTENÁRIO de uma PINTURA
2011
A obra de arte “MARICÁS”,
do pintor PEDRO WEINGÄRTNER (1853-1929), completa, em 2011, um século de sua
criação. Ela migrou, em 1913, para o que, hoje, constitui o Acervo da PINACOTECA BARÃO de
SANTO ÂNGELO do Instituto de Artes da UFRGS.
Fig.
01 “MARICÁS” óleo sobre tela 35 x 60
cm de Pedro Weingärtner - 1911.
Esta migração precoce,
não só manteve esta obra de arte em Porto Alegre, mas, assegurou e também acumulou índices preciosos
desta época e cultura para o presente e para o futuro. O pintor mantinha
contato permanente com o sistema emergente de arte de Porto Alegre. Este
artista era originário e residia com os seus familiares nesta cidade. Era a sua
base. Dela partia para suas frequentes viagens ao seu atelier de Roma e aos maiores
centros de mercado de arte, como também para São Paulo e Rio de Janeiro. Isto
sem falar da sua visceral e continuada interação com o interior brasileiro, em
especial aquela da imigração alemã e italiana. O quadro “MARICÁS” constitui um dos
índices desta interação telúrica. Ele também construiu a sua moradia em Porto
Alegre, onde faleceu em 1929.
É necessário reconhecer
que a fortuna da repercussão pública, da obra “MARICÁS”, foi escassa e restrita quase só ao âmbito
local. Estes limites constituem um desafio capaz de mover a inteligência, a vontade
e a sensibilidade para vencer estas dificuldades e barreiras. Dificuldades que
consistem em abrir um espaço seguro para o seu estudo e para a circulação das
informações a seu respeito. Estudo e circulação de informações competentes para
estabelecer um referencial, por seu intermédio, para a identidade cultural e da
Arte de Porto Alegre
A presente postagem quer
ressaltar a criação, a migração e a incorporação da obra “MARICÁS” ao patrimônio
público e as repercussões institucionais, culturais e civilizatórios deste
projeto e ações coerentes com este gesto e mentalidade.
Porém, antes de tudo, é necessário sublinhar a
gênese formal da sua criação. Esta obra continuou a tradição da técnica da
tinta com pincel. Assim, a obra de Weingärtner, inscreve-se na longa tradição
pictórica que passa por Giotto, Leonardo da Vinci, dos impressionistas e vai se
projetar, depois de Weingärtner, na pintura matérica. Se não possui a fortuna
do seu conhecimento e reconhecimento universal, ela é honesta e coerente com a
sua tradição. No ambiente cultural de Porto Alegre Weingärtner aproveitou
dignamente, na sua criação, as contribuições
da fotografia do seu amigo Luis Nascimento RAMOS (1864-1937)
o Lunara.
Fig. 02 – CANOAS
Capão do Corvo de Canoas-RS numa foto recente luiz antonio
tesser - GOOGLE EARTH. A família Weingärtner tinha residência de campo no
centro da cidade. Associando os fatos é
possível imaginar Pedro armando cavalete de pintura para elaborar obras de
“plein-air”
A PINTURA como ARTE silenciosa
necessita um acompanhamento atento nas suas elaborações, migrações e bloqueios
dos seus caminhos.. As imensas forças do mundo físico não fazem ruídos e agem
sem estardalhaço e coerentemente com as suas energias. Da mesma forma as
energias e as forças morais comportam-se silenciosamente como o magnetismo. A PINTURA
não fala, não produz sons e nem se movimenta. É necessário fazer com que ela
fale. Esta fala significa, na prática, trazê-la ao mundo semiótico de uma
determinada cultura. Nesta cultura criar e conferir narrativas coerentes com as
suas elaborações, migrações e os bloqueios que encontra nos seus caminhos.
Fig. 03 – CANOAS 1940. Pedro Weingärtner tinha
residência urbana em Porto Alegre na Rua Mostardeiros. Contudo, após a Via
Férrea ter uma estação em Canoas, este local tornou-se um lugar de residência
de capo . Antes de Gramado e Canela era o ponto de Veraneio. Assim a Família
WEINGÄRTNER tinha uma residência frente a Estação Canoas e em terreno que hoje
pertence ao UNILASALLE.. A cidade de Canoas, dedicou ao artista um dos nomes de
umas das suas artérias mais movimentadas.Ver
Nesello 201 pp.45 e 47 Clique sobre a imagem para ler
Esta narrativa poderá ser
polarizada pelo mundo a qual ela pertence, atravessa e ao qual pertence (WELTGEIST).
Pode ainda ser vetorizada pelos valores e hierarquias da sociedade na qual
nasceu e circulou - sincronia - horizontalmente (VOLKSGEIST). Ainda poder ser
vista no tempo da sua gênese e o século que ela percorreu - diacronia - com todos os percalços e ajudas
que recebeu (ZETGEST).
Nestas três dimensões contém
o máximo de conteúdo no mínimo de sua forma como é da natureza de toda obra de
arte. No âmbito do seu conteúdo, e visando uma narrativa, é necessário limitar-se a um ponto especifico
nesta tripla análise se desejarmos algo significativo e passível de comunicação.
Na pintura “MARICÁS”,
se for o seu TEMA o ponto a ser narrado, esta narrativa poderá conduzir para a
sua vertente ICONOGRÁFICA com os recursos da ICONOLOGIA. Também poderá ser
visto nas suas repercussões no interior do sistema das artes especifico de
Porto Alegre. Contudo os caminhos da ICONOLOGIA e do SISTEMA de ARTES em Porto
Alegre ainda são frágeis, acríticos, sem um acúmulo consolidado de discussões e
com profissionais esparsos e sem um projeto em comum.
Em vista destas reflexões opta-se no presente
texto - e as imagens auxiliares usadas - fixam-se no tema da pintura “MARICÁS”,
de Pedro Weingärtner. Este tema poderá ser
estudado, descrito do geral para o particular seguindo por um longo percurso
pela PAISAGEM, as suas tipologias e abordagens até atingir à superfície e o tema.
Invertemos e preferimos empreender o estudo partindo da obra para o geral.
Nesta inversão segue-se o percurso orientado pelos referenciais do WELTGEIST, do
VOLKSGEIST e do ZEITGEST.
Fig. 04 – PORTO ALEGRE
VISTA da ILHAS do Delta do rio Jacui com pés floridos
de maricás. Comparando esta fase foto da planta em plena é possível afirmar que a pintura de WEINGÄRTNER
é do inverno. Segundo crença popular o
florescimento precoce do maricas no início doa ano anuncia um inverno também
precoce e muito severo..By Blue Velvetbr GOOGLE EARTH
Partindo do interior da
pintura “MARICÁS”, nota-se que o artista vale-se do seu “aqui” [WELTGEIST]. É no “aqui” da paisagem que Pedro Weingärtner
viveu no âmbito geográfico que Marcel Camus denominaria, em 1947, de “uma cidade ou civilização num banhado”.
O pintor conhece e
admira o seu “agora” [ZEITGEST]. O toma como fonte de inspiração, conjugando estes
seu conhecimento, vontade e sentimento singular. O tema do artista é surpreender
esta paisagem original e intocada por uma interpretação plástica proveniente de
outros pintores. A sua emoção e sua surpresa é singular e particular Ele é um
pintor que nasceu no meio urbano, estudou e circulou em meios urbanos e possui
o seu atelier na cidade de Roma, cidade drenada e urbanizada há milhares de anos. Contra esta paisagem
planetária o pintor escolheu o seu “aqui:
o meio pantanoso que cerca a cidade de Porto Alegre-RS”.
Fig. 05 – Vegetação florida de maricas na Ilha
da Pintada do delta do Rio Jacuí. O florescimento precoce do maricas no início
do ano anunciaria, segundo crença popular, um inverno também precoce e muito severo.. Detalhe porto alegre-
ilha da pintada By Blue Velvetbr GOOGLE
EARTH
Milhões de indivíduos
haviam visto esta cena de alguns pés de maricás num banhado no inverno do
hemisfério Sul. O artista necessitou toda a energia, tempo e habilidade para
criar e conferir alguma forma física a esta obra a partir deste tema de um
banhado com alguns maricás e que nem, ao menos, estavam floridos. Certamente
não há nenhum atrativo popular (VOLKSGEIST) neste tema. A escolha deste tema
comprova que a arte está sempre em quem a faz, e não no que faz. O ato de
desvelar e arrancar alguma surpresa um
tema telúrico tão inexpressivo, em si mesmo, é um ato voluntário e com um
projeto especifico. Exige do artista uma suspensão do seu juízo em relação a
tudo que é periférico ao seu agir específico.
Quando artista escolheu este tema esta “epoké”, este silêncio e distância do aplauso público, certamente
não estavam na prioridade das suas intenções. O seu modo de se inscrever VOLKSGEIST
estava voltado ao mundo dos seus concorrentes pintores, na concepção enunciada
por Pierre Bourdieu. Mostrava para estes concorrentes que o tema mais banal,
inesperado e até mal cheiroso, não era um quadro destinado para combinar com a
cor dos móveis e nem produzir emoções fortes O destino de sua obra eram aqueles
que manejavam a tinta e o pincel.
È interessante perceber
que o próprio artista não retornou sobre este tema. Venceu as dificuldades
técnicas, estilísticas e temáticas, nesta obra singular Não retomou depois e
muito menos constituiu uma série de quadros no caminho do impressionista Monet.
No âmbito externo, do sistema de artes
de Porto Alegre, este tema e a sua interpretação permanecem solitários. Não foi
seguido ou reinterpretado por outros artistas. O quadro
“MARICÁS”, não teve a
fortuna das interpretações da “Ponte de Pedra do Arroio Dilúvio”,
tema obrigatório para pintores, desenhistas e fotógrafos de Porto Alegre desta
época e depois.
Fig. 06 – LIBINDO FERRÁS Obra apresentada no
Catálogo da Exposição da Escoa da Artes do IBA-RS em 1929 ano da morte de Pedro
Weingärtener
O quadro “MARICÁS”,
encontrou abrigo numa Escola de Artes. Era uma perene aula de PINTURA. Obra
onde se uniam a técnica e coerência interna colocada sobre a tela com tinta e
pincel. Tintas que não craquelaram, não mudaram de tonalidade e mantiveram o seu
corpo pictórico como a mão do artista lhes deram forma há um século atrás.
Fig. 07 – DIACRONIA X SINCRONIA e as ARTES.
Segue-se a
leitura dos fatos mais recentes situados na camada superior e os antiga na
inferires, ao modelo do corte e da leitura arqueológica de um sambaqui.
Clique sobre a imagem para ler
Ao localizar o tema e a
técnica do quadro “MARICÁS”, consta-se que elas ainda se referenciam ao mundo
rural agrícola. Não como tema e técnica funcionais deste período. O contrário
este tema e técnica estavam sendo extinto pela industrialização, que atingia não
soa as artes mas também as próprias lavouras. As lavouras, que se estavam
instalando em Porto Alegre e seus arredores, estavam drenando os banhados e
eliminando esta “capoeira inútil e braba”
de maricás improdutivos para os agros-negócios. Assim, o quadro “MARICÁS”,
cumpre o seu papel de imagem de “algo que
já está perdido ou em vias de extinção”. Na pintura artística ocidental o
tema da paisagem possui uma história recente como motivo autônomo. na medida
que estes mundo se urbaniza e se industrializa a pintura da paisagem ganha
pleno vigor. O mundo natural estava sendo tomado e sendo perdido. Assim a pintura da paisagem
poder ser vinculado e se torna corrente na medida desta pedra do mundo rural e
contato íntimo e direto com a Natureza. No mundo oriental na China ela nasceu
quase como as pinturas nipônicas ela usufruía um status próprio e cultivado
pelas longas tradições dos kakemonos e takemonos, da tinta nanquim, os papeis
específicos e dos pinceis apropriados.
No que tange especifica,
física e economicamente esta pintura com o tema “Maricás” de Pedro
Weingärtner, ela estava apontando o caminho do museu desde a sua origem. De
fato esta tela migrou de sua origem como obra única e original e de bem e de
posse individual, para a posse pública de um museu que a passaria a guardar
como bem simbólico. Este museu-escola, em guardando esta obra se reforçava e
neste reforço legitimava a instituição pública para a qual a tela migrava.
É necessário ressaltar
que a sua internação institucional pública foi benéfica para a obra, como para
os seus potenciais observadores. A obra “Maricás” tinha severas limitações quanto à sua
recepção imediata. Os componentes, que a inscreviam num contexto tanto no WELTGEIST,
VOLKSGEIST e ZEITGEST não eram perceptíveis e nem atrativos para o mercado de
arte e para um sistema de arte embrionário. Só outro pintor concorrente e situado
no interior de uma instituição podia perceber esta energia vital e artística
que circulavam nesta obra de arte. No aspecto de sua territorialidade, ou do
seu WELTGEIST, ela não ultrapassava o regional. Dificilmente outro sistema de
arte, de outro centro cultural, poderia
avaliar e perceber algo nesta obra que a tornavam única, original e viva.
Fig. 08 – TRES EIXOS DIACRONIA e SINCRONIA e as ARTES
Este limite territorial
impõe esta leitura de dentro da obra, do seu ente inacessível, do seu modo de
ser pintura que pode ser descrito a partir dos seus dignos.
Isto impõe um passeio e
uma visita ao VOLKSGEIST que estava vigente n sociedade do Porto Alegre na
época ZEITGEST de sua criação em 1911 e sua migração para o Instituto de Belas
Artes do Rio Grande do Sul (IBA-RS) e que adquiria esta obra em 1913. De fato
Porto Alegre estava no governo (1908-1913) do médico Carlos Barbosa Gonçalves
(1851-1933) e se estava tentando em se constituir na sala de visita do Estado
do Rio Grande do Sul na feliz expressão de Margareth BAKOS. [ http://www.scielo.br/pdf/ea/v12n33/v12n33a16.pdf
]
Fig. 09 – PORTO ALEGRE e as ARTES Uma das obras
arquitetônicas que Rodolfo AHRONS estava construindo do ano de 1911, o
mesma da pintura do quadro “MARICÁS”,
Clique sobre a imagem
para ver os detalhes
A obra de ARTE corre
seus os perigos, ameaças e a própria morte ao longo da sua trajetória e
migração no tempo. O maior perigo reside
no seu retorno à Natureza. Ao se tornar o fenômeno NATURAL, aquilo que foi uma
obra de arte, recai para o seu estágio inicial e pronto para ser devorado pela
entropia universal. As obras de arte, apesar de sua imensa carga simbólica de
que são portadores estes objetos de sentido elaborados pelas mãos humanas,
também estão sujeitas à entropia universal. conservou-se obra alguma da pintura
grega, a não ser algumas citações esparsas em textos, pinturas em vasos e os
seus discípulos escravos de Roma. Se a obra de arte não for estudada
permanentemente, o seu sentido re-inscrito e somado ao novo tempo, o seu
destino é a entropia implacável do seu sentido e por fim o entulho e o lixão.
Não bastam eventos e campanhas esporádicas e sem continuidade nem colocar esta
obras em praças públicas como aquelas abandonadas, no inicio do século XXI,
Parque Marinha do Brasil de Porto Alegre.
O Acervo da Pinacoteca
enfrentou períodos e situações muito semelhantes como que aconteceu com a
pintura clássica grega. A obra de arte deslizou para o comércio como outro objeto
desta troca, entre muitos outros oferecidos pelo comercio helênico. Deste
rebaixamento comercial, para a pura categoria como “objeto natural”, foi um
passo só. Como tal estava pronto para o descarte e para o lixo. O “homo faber”, na concepção de Hannah
Arendt, inclui facilmente a OBRA de ARTE nesta categoria de vida útil de tempo
de uso planejado, mergulhado que está em objetos com a marca da obsolescência
programada. Um período de política discricionário e de busca de resultados
práticos imediatos estimula os resultantes desta anestesia e da letargia
natural em relação à ARTE e à CULTURA. Um
regime, como de Roma ou qualquer ditadura militar, constituem o empurrão que
falta e a licença tácita para a barbárie que costuma provocar a transformação
da OBRA de ARTE em OBJETO de DESCARTE.
O período de 1964 até
1979 foi este período de naturalização e período de anestesia cultural para o
Acervo da PINACOTECA BARÃO de SANTO ANGELO do Instituto de Artes da UFRGS.
Certamente isto ocorreu no silêncio, incúria e na espera para que a Natureza
fizesse o seu trabalho rumo à entropia natural. De um lado perdeu-se a memória
e esqueceu-se todo projeto do primeiro acervo público de obras de artes visuais
no Rio Grande do Sul. De outra parte a falta de designações e contratações e de
profissionais específicos e qualificados aliaram-se à falta de qualquer suporte
de financeiro para a conservação, estudo e publicidade adequada deste
patrimônio institucional e público.
Neste período o IA e a
sua PINACOTECA foram entregues á entropia natural e barbárie de pessoas que
queria cargos, mas poucas sabiam das funções na ARTE e na CULTURA o espaço da
ARTE e de mais exercer um duro e constante controle ideológico fizeram o resto.
Como o IA já pertencia à UFRGS ele era controlado e vigiado de perto pelo
Coronel Natalício que tinha infiltrado estudantes no IA que de fato eram
agentes da Polícia Federal. Assim se foi e se evaporou qualquer liberdade,
criatividade.
A atual presidente do
Brasil - que foi presa e torturada – abriu, em novembro de 2011, a
possibilidade de investigar este período, mas com mil ressalvas e melindres,
pois as pessoas ainda estão vivas e ativas.
http://fotosantigas.prati.com.br/fotosantigas/PortoAlegre/Porto_Alegre_Cotidiano(Lunara)_1900_09.htm
Fig. 10 – PORTO ALEGRE e o RETORNO À NATUREZA Foto Lunara 1900. Casal de ex escravos de
Porto Alegre, despojados de todos o bens recomeçam a vida da esta zero- os
galhos de maricás ganha papel de cerca e alimentam o fogo no inverno e no
preparo do alimentos além de servir para as paredes de barro.
No final deste período
lúgubre, para este patrimônio, as iniciativas começaram a acender luzes isoladas,
e pessoais, em relação ao estudo, ao entendimento deste Acervo da PINACOTECA
BARÃO de SANTO ANGELO do Instituto de Artes da UFRGS.
Ressurgindo, qual Fênix
das suas cinzas, a recuperação da PINACOTECA do IA-UFRGS necessita de um
projeto legal, impessoal, moral, público e eficiente a ser conduzido ao longo
de várias gerações. A recomposição
destas energias perdidas, de todas as ordens e grandezas, necessitam prever as
cíclicas recaídas nestes golpes que a jogam na heteronomia da vontade e dos
sentimentos. Esta recomposição constitui um trabalho árduo, lento e seguro.
Trabalho que visa conferir sentido e
incentivo na direção de uma civilização que se renova em direção a de um WELTGEIST, VOLKSGEIST e
ZEITGEST conhecidos e em relação quais todos podem deliberar e decidir. Deliberação
e decisão que se materializa no acervo de uma Pinacoteca com as sua obras em
perfeitas condições são a expressão maior e daquilo que poderá permanecer como
expressão maior de um direito a uma civilização continuada, feliz e humana.
Fig. 11 – PORTO ALEGRE ENFEITA_SE COMO SALA de
VISITA do Rio Grande do Sul
Cervejaria Continental. Outra obras arquitetônica e esculturas de fachada do ano de 1911, o mesma da pintura do quadro “MARICÁS
Assim é possível
verificar que a obra de arte “MARICÁS”, do pintor PEDRO
WEINGÄRTNER, já fazia parte do acervo da GALERIA de ARTE do IBA-RS, em 1913. Se
nem tudo é possível tudo em qualquer época e lugar, contudo sempre é possível
um PROJETO especifico. Este projeto é bom e saudável para que ele sofra os
contraditórios e as provas do tempo e lugar pela qual é obrigado a migrar. Em
especial ao se tratar de uma universidade na qual a única lição que esta
instituição pode dar é o “cultivo do
hábito da integridade intelectual” nas palavras de Max Weber.
Fig. 12 –BANHADO RECONSTRUÍDO e CONSERVADO no JARDIM BOTÂNICO PORTO ALEGRE Foto Círio
SIMON 2011-12-04
E outra parte os
fundamentos do IBA-RS repousavam na lógica de que “ele não era formado pelas suas pessoas, mas pelas doações e as
liberalidades daqueles que de fato gostavam de arte”. Com toda certeza o Acervo
da Pinacoteca materializa pelo melhor possível destas doações e liberalidades.
A luta por este Acervo
da Galeria está no projeto do IBA-RS socializado pelo esteta e pediatra Olinto Olympio
de Oliveira(1865-1856) e seu presidente de 1908 até 1919. Ele inicia estimulando
a mentalidade para que entrassem obras originais neste Acervo da Galeria, em
vez cópias, como era comum nas outras academias de arte, ou, pior, “óleo-grafias”. Assim, o que se denomina hoje como PINACOTECA BARÃO
de SANTO ÂNGELO do Instituto de Artes da UFRGS, só possui obras originais e não
editadas e veiculadas em meios mecânicos e artificiais. Esta
Pinacoteca não era vista como um museu ou algo hermético e inviolável ou um
ente autônomo dentro do Instituto de Artes. As obras de arte tinham, em geral, nas escolas
superiores um papel de estímulo aos estudantes e mostravam, por meio de obras
de arte vistas como exemplares, um referencial concreto do patamar profissional
a atingir. A aquisição e a exibição constante e silenciosa do quadro “MARICÁS”, do pintor PEDRO
WEINGÄRTNER, integrava este projeto institucional.
Para entender como esta mentalidade e este projeto se traduzia na
prática institucional, há necessidade de retornar ao papel do Prof Libindo
Ferrás (1877-1951). Ele tinha um cargo de diretor de Escola de Artes e era o Conservador
do Instituto. Para tanto o IBA-RS possuía uma reserva anual, no seu
orçamento, uma verba para compra de obras de arte. Assim o IBA-RS constituiu o
núcleo das obras mais importantes e caras da atual PINACOTECA BARÃO de SANTO ÂNGELO do
Instituto de Artes da UFRGS. Como estas obras não eram separadas e secretas,
estas pínturas ficavam democraticamente à vista de todos. isto representa os
limites de um quase crime para os atuais especialistas e profissionais. No
entanto, na mentalidade da época o Instituto transforma-se num ambiente
diferenciado e como se vivia o início romântico da República, nada mais natural
e convincente que a obra de arte convivesse democraticamente com o espaço publico
em especial se esta instituição tinha finalidade didática. Se de um lado isto
colaborava para a naturalização da obra de arte e as expusesse a perigos de
segurança, necessita-se distinguir de que estávamos numa época na qual a obra
de arte não era tão comum no meio cultural e, quanto a segurança, estamos numa
sociedade que distinguia o que era público e aquilo que era particular.
É necessário acompanhar
os passos e as tarefas de Libindo Ferrás para que o projeto e a mentalidade de
Olinto de Oliveira chegassem ao mundo prático. Libindo ocupou na prática, entre
1908 até 1936, o cargo e as funções do Conservador Geral do Instituto,
acumulando-as com as de Diretor de Escola de Artes do IBA-RS
As funções do Conservador Geral do Instituto eram
reguladas pelo primeiro Estatuto nos seguintes termos:
“Art. 27º - O
Conservador-geral superintende e dirige os serviços da Biblioteca e dos Museus
e coleções do Instituto, competindo-lhe:1º organizar essa repartição com os
seus respectivos regulamentos, e provê-las do pessoal necessário, de acordo com
a Diretoria; 2º - apresentar ao Presidente requisições para a compra de livros
e outros objetos de acordo com as propostas dos Diretores e Professores das
Escolas; 3º apresentar um relatório dos seus serviços a seu cargo; 4º assumir a
Presidência, nas condições do art. 17, §3º.”
Nestes passos e tarefas
distinguindo possível como avalista das aquisições de obras para a Pinacoteca,
na seqüência dos seus relatórios estudados.
Assim ele registrou em
1913 o contato com Pedro Weingärtner para adquirir, mediante compra, o quadro
‘Maricás”.
Fig. 13 – A AQUISIÇÂO
do QUADRO MARÌCÁS REGISTRADO no RELATÓRIO ANUAL de LIBINDO FERRÁS de 1913 –
Veja-se a denominação de GALERIA da ESCOLA como consta no Relatório de 1913 de Libindo Ferrás ao
Presidente do Instituto de Belas Artes - }Arquivo
Geral do Instituto de Artes da UFRGS.
A história ganha corpo, se
transmite nas narrativas e nos documentos. Num regime de força e exceção legal
e quebras contratuais contínuas, as pessoas e as instituições se calam e os
documentos escondidos da vista pública. Pessoas e instituições, diante do
regime do força, elegem as necessidades básicas para sobreviver física,
intelectual e sentimentalmente. As narrativas emudecem. As acontecem são
distorcidas e falas. Obras de arte como os documentos somem.
Quando o acervo da
Pinacoteca ganha status próprio e separado gozando de limites e de competências
especificas, certamente isto não significa ruptura com as suas origens o seu
passado. Nem pode suportar o risco de tornar-se um feudo pessoal. Isto o conduziria
de retorno à Natureza pelo extremo oposto. Estaria frente de novo com a entropia
natural, possível de se infiltrar, via reducionismo e projetos datados, sem
vínculo com a instituição, com a Universidade e com a própria civilização.
Arquivo e o Acervo da
Pinacoteca viveram situações muito semelhantes e resultantes da anestesia e da
letargia que uma licença tácita para a barbárie em cima da ARTE e da CULTURA
costuma provocar em qualquer tempo e lugar. Mesmo o nosso tempo e nossa ARTE e CULTURA LOCAL
A recuperação desta
energia e deste sentido da PINACOTECA do IA-UFRGS é palpável e avaliável na
medida em ela goza o privilégio de um projeto legal, impessoal, moral, público
e eficiente. Condições que garante a condução ao longo de várias gerações e que
saberão evitar golpes e a heteronomia da
vontade e dos sentimentos superiores e universais. Nestes termos o ACERVO da
PINACOTECA do IA-UFRGS materializa o direito a uma civilização continuada,
feliz e humana. Uma obra que possui experiência, agora secular, neste trânsito,
conflitos, esquecimentos e retomadas é uma garantia e um referencial mínimo na
sua forma mas gigante no seu sentido.
Quando se afirma que uma
obra de arte carrega o máximo no mínimo de sua forma a sentença cabe
perfeitamente à obra “Maricás” de Pedro Weingärtner. Nos
seus parcos centímetros quadrados - e bem elaborados - residem índices físicos
que esta obra carrega como um mundo próprio e único. Mundo que não para de
crescer a medida que faz o seu trânsito no tempo. Recebe não só os olhares das
sucessivas gerações, mas desperta ressonâncias culturais únicas e de uma
fertilidade que a obra “Maricás” renova a cada olhar novo e
potencializa constantemente par que estiver atento e interrogar o seu mistério.
FONTES NUMÉRICO-DIGITAIS EM
ACERVO
PINACITECA BARÃO de SANTO ÂNGELO IA-UFRS
Veja algumas
relações de PEDRO
WEINGÄRTNER com a ESCOLA de ARTES
1 – Pedro
Weingärtner e a Pinacoteca do IBA-RS
2 - Pedro
Weingärtner e o sentido da formação institucional de um artista
3 - Pedro
Weingärtner na passagem entre o regime imperial e o regime republicano
brasileiro.
LUNARA – Luis
Nascimento RAMOS 1864-1937 - Fotógrafo
http://fotosantigas.prati.com.br/fotosantigas/PortoAlegre/Porto_Alegre_Cotidiano(Lunara)_1900_09.htm
CANOAS
e PEDRO WEINGÄRTNER - rua
NESELLO, Norberto Luiz - 1908-La
Salle-2008: cem anos de presença
em Canoas – Canoas : La Salle, 2011 92 p. Il.
CANOAS
e GIUSEPPE GAUDENZI
LIBINDO
FERRÁS
http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/wiwimod/index.php?page=FERRÁS,+Libindo Para
mais detalhes deste cargo e as funções de Conservado Geral de uma Instituição
de Arte ,ver os art.s 157 a 160 do regimento da
ESCOLA NACIONAL de BELLAS ARTES
anexo ao Decreto nº 11.749 – de 13.10.1915. .
OLINTO
OLYMPIO de OLIVEIRA
Rodolpho
AHRONS 1911
O
VEGETAL MARICÁ descrito pela EMBRAPA
BARÂO de SANTO ÂNGELO Manuel Araujo PORTO-ALEGRE
Quando a história do quadro "Maricás" reverbera-se através da alma sonora-voz escrita do professor Círio Simon, há ainda uma semente germinando a esperança de que a cultura nesse estado ainda conte com alguns Quixotes e estadistas da palavra universal, tal qual o mestre Círio profere em seu blog. Lendo tal texto há de se colocar uma flor de Lótus no pântano de Albert Camus. Parabéns
ResponderExcluirMuito bom ter a oportunidade de ler os escritos de um pensador como o professor Círio. Sim, porque escrever, hoje em dia, muita gente escreve. Mas pensar e propor, como é o seu caso... Entre as diversas afinidades que o meu modesto modo de ver tem a ver com a análise do Círio está na importância que devemos dar à situação social do artista. Muito diferente do que nos ensinavam nossos prezados professores estruturalistas dos anos 1960-70. Só daí entendemos a opção do artista por pintar seus maricás. Só que se lembra do cheiro dos maricás em flor pode entender. Sim, porque os banhados podem até ser "mal-cheirosos" como diz o professor. Mas quando os maricás florescem até eles ficam perfumados. Continue nos brindando com seus textos, professor Círio.
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