quarta-feira, 13 de julho de 2011

ISTO NÃO É ARTE - 29

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

O TEMA não é ARTE.

Senhorita! Se quiser ver a NATUREZA

olhe pela janela

Picasso para Brigite Bardot

Depois de 28 artigos, tratando dos mais variados TEMAS e de não aceitar nenhum deles como ARTE em si mesmo, chegamos a um ponto no qual é necessária uma reflexão e um tempo para distinguir as competências da ARTE e do TEMA.


Fig. 01 - Charles DARWIN 1809-1882 - Caricatura do autor e da teoria

Os infinitos TEMAS, que a humanidade encontra no seu mundo, constituem um imenso acervo para construção do seu repertório. O ordenamento deste repertório é comandado pela hierarquia das necessidades a partir do fundamento dos básicos e que, e comandadas por estas necessidades, geram interesses conseqüentes com estas necessidades. O interesse estético ganha mais sentido, evidência e autonomia face ao demais interesses na medida em que as necessidades básicas estão satisfeitas. Isto não quer dizer que o interesse estético não possa ser posto como a razão maior que coloca a ARTE em 1º plano. Neste o caso o artista coloca o projeto de a ARTE como interesse básico de vida. Este artista se tornará histórico na medida em que for competente para conduzir esta contradição coerentemente a um bom termo

Uma determinada cultura terá tanto mais condições para o florescimento da ARTE, quanto mais, e melhor suprir as suas necessidades básicas e os associar coerentemente ao suporte do seu próprio projeto civilizatório. Contudo, se este projeto se dirige ao puro hedonismo, este levará a cultura e o seu artista, rapidamente de retorno à Natureza. Para fugir desta entropia da ARTE, comandada pela Natureza, o artista conduz a contradição de colocar o projeto de a ARTE como interesse básico de sua vida

Fig.02 - Jean Auguste INGRES 1780-1867 - Banho Turco - 1862 – Apesar do tema ser praticamente o mesmo da fig.03 os repertórios dos dois artistas francesas da mesma época é distinto e produz obras de aspectos visuais antagônicos..

A ARTE situa-se nas camadas mais elevadas e gratuitas das necessidades e dos repertórios humanos. O TEMA irá motivar, alavancar e fornecer as base para estas buscas. Contudo a OBRA de ARTE não produzida por este TEMA por mais elevado, abstrato ou mesmo mais bizarro e inédito que ele seja em si mesmo.


Fig.03 - Ferdinand Victor Eugene DELACROIX 1798-1863 - Mulheres no Harém em Argel 1834 DELACROIX interpretou o tema que conheci de vista. Ele não escondia o antagonismo estético com INGRES, que interpretou este tem de forma distinta, ideal e apenas imaginado. Contudo, apesar de ambos os pintores produziram obras de aspectos visuais distintas, sobreviveu em ambos o pensamento que orientou os seus projetos transferidos para as suas obras..

Invertendo o raciocínio podemos verificar que os TEMAS são preciosos degraus para a decodificação dos interesses e dos repertórios que produziram determinadas OBRAS de ARTE. A iconologia, como a iconografia, seriam muito difíceis sem o cuidado com o estudo e consideração dos TEMAS inda que os degraus dos TEMAS das OBRAS não sejam codificados, unívocos e lineares. Muitas vezes estes TEMAS pertencem aos repertórios mortos e os seus novos potenciais observadores não encontram mais alguém que os possam decodificar adequadamente.


Fig.04 - Georges MATHIEU 1921 - pintura gestual 1954

Muitas vezes há referência ao TEMA da ARTE ABSTRATA quando seria necessário falar em ARTE NÃO FIGURATIVA. De outra parte KANDINSKY escrevia do ESPIRITUAL na ARTE, sem que isto significasse qualquer referência mística ou religiosa.


Fig.05 - ALHAMBRA – GRANADA – O padrão infinito islâmica aplicado ao revestimento de uma cúpula.. O jogo da luz modifica a cada momento o visual.

As culturas e religiões que proíbem a imagem figurativa elevam os seus TEMAS ao mundo dos PADRÕES INFINITOS. Diversas culturas, como também a ARTE isLâmica e a dos bizantinos iconoclastas incentivaram e desenvolveram o uso dos TEMAS GEOMÉTRICOS e MATEMÁTICOS nas suas obras. O mundo conceitual e estético, que se desenvolveu na cultura muçulmana, impregnou-se e levou para as superfícies das paredes, tetos e tapetes os TEMAS ou PADRÕES que se desenvolvem como nas infinitas repetições das rezas das Suras do CORÃO.

Inclusive a sua Literatura adotou este PADRÃO INFINITO como nas intermináveis MIL e UMA NOITES. Assim a Álgebra, o uso dos algarismos, incluindo ZERO indiano, são coerentes e não prendem os seus usuários ao repertório aos TEMAS EMPÍRICOS e REDUTORES desta capacidade de abstração.


Fig.06 - MARRACOS – O padrão infinito islâmica aplicado ao revestimento em azulejos

O artista contemporâneo está se concentrando cada vez mais no tema de “SURPREENDER a SI MESMO e ao seu ESPECTADOR”. Novamente por maior, e melhor calculada que seja esta SURPRESA, este TEMA não é OBRA de ARTE por si mesma. O SURPREENDER a SI MESMO e ao seu ESPECTADOR poderia ser a releitura ou o retorno dos TEMAS de um museu das raridades e ao mundo exótico romântico.


Fig.07 - Jean-Louis MEISSONIER 1815-1891 – Auto retrato desenhando no quartel

O tema comandado por MISTERINHOS e QUEBRA-CABEÇAS também é outra ilusão para artista e para o seu público. A ARTE é esterilizada e mistificada por troques e mágicas que surpreendem sem serem portadores de qualquer pensamento. O observador não guarda nada maias nada além de um surpresa passageira como aquelas que a Natureza oferece a cada instante.

O tema da ironia também afasta o observador rapidamente de quem produz a ironia. Este público sabe que ele poder ser a próxima vítima de alguém quer se quer irônico. Este pretenso artista escorrega para o universo da Comunicação, da charge, do cartoon e da caricatura. Ademais a ironia pode ser produzida por alguém que não possui alcance intelectual para atingir e administrar um determinado repertório, na clássica fábula “as uvas estão verdes” .

O artista foi libertado do jugo dos temas figurativos pela objetividade da mecânica, comandada pela fotografia. Resultante da longa experimentação e dos registros gráficos e visuais a era industrial os associou à Física, da Química e mais recentemente à Eletrônica e Informática. A Fotografia não é nenhum tabu. Antes disto o Artista sente-se à vontade com ela na medida em que ela o ajuda a fixar o seu pensamento, seus projetos e suas percepções.


Fig.08 - William DYCE 1806-1864 - Pegwell Bay in Kent- lembranças do dia 05.10.1858

Quando o tema figurativo passou para a mecânica da fotografia, Manuel Araújo Porto-Alegre já interrogava os seus colegas pintores numa fala realizada , em 1855, na Imperial Academia de Belas Artes:

A descoberta da fotografia foi útil ou perniciosa à pintura? E se ela chegar a imprimir as cores da natureza com a fidelidade com que imprime as formas monocronicamente, o que será da pintura, e mormente dos retratistas e paisagistas?

http://www.anpap.org.br/anais/2007/2007/artigos/034.pdf

As respostas a estas questões residem no projeto do artista de afirma-se como indivíduo, tendo em mente algum projeto, pensamento a ser transformado em Obra de ARTE. Leonardo da Vinci se afastava de um determinado tema ao saber que outro era competente para resolvê-lo.

Um determinado tema pode ser cultivado por alguém que é suficientemente confiante nas suas competências e conhece suficientemente os seus próprios limites. Nesta condição convergem nele a inteligência, a vontade e o direito de cultivar este tema. O clássico “CONHECE-TE a TI MESMO” comanda esta vontade e lhe confere direitos a afirmar-se diante da incógnita do tempo passageiro e do seu espaço limitado.


http://www.guardian.co.uk/theobserver/2010/may/09/big-picture-brigitte-bardot-picasso#

Fig.09 – Picasso para Brigite Bardot Senhorita! Se quiser ver a NATUREZA olhe pela janela

A ARTE foi sempre esta expressão do indivíduo humano criador. Mesmo despojado de todos os seus pertences, equipamentos e cultura de origem este criador encontre no seu ENTE para afirmar o seu SER no mundo.

O ator cria novos mundos que o conectam à espécie humana na medida em que se põe a representar, com o seu corpo e voz, para si mesmo ou para o público. Esta conexão cria civilizações humanas que duram enquanto o seu projeto original se alimentar, se mantiver e se reproduzir.



FONTES NUMÉRICO-DIGITAIS

ARAÚJO PORTO-ALEGRE e a FOTOGRAFIA

http://www.anpap.org.br/anais/2007/2007/artigos/034.pdf

BRANCUSI

http://blogillustratus.blogspot.com/2010/06/constantin-brancusi.html

Georges MATHIEU

http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://images.artnet.com/artwork_images/171046/336565.jpg&imgrefurl=http://celebs2day4.all.co.uk/key/georges%2520mathieu&h=480&w=614&sz=44&tbnid=ilgXyCpo0n9khM:&tbnh=102&tbnw=130&prev=/search%3Fq%3Dgeorges%2Bmathieu%26tbm%3Disch%26tbo%3Du&zoom=1&q=georges+mathieu&hl=pt-BR&usg=__t_zqsfjljvbxERpy0aQfvqi-AMc=&sa=X&ei=fJAdTrm9D8qcgQftseDkCQ&ved=0CCgQ9QEwAg

PICASSO e BRIGITE BARDOT

http://www.guardian.co.uk/theobserver/2010/may/09/big-picture-brigitte-bardot-picasso#

Um comentário:

  1. Por isso que digo que eu não sou Artista. E sim um mecânico de bicicletas. E afirmo: QUE EU NÃO PRECISO DE NINGUÉM, SÓ DE VOCÊ...123!

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