sexta-feira, 1 de julho de 2011

ISTO não é ARTE - 25

Antes de ler este artigo, convém consultar:

http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html

GUERRA não é ARTE.

Falar em ARTE da GUERRA não é o mesmo do que admitir que a GUERRA é ARTE. Quando trocamos a ordem dos termos há necessidade de distinguir o seu novo sentido.


http://super.abril.com.br/superarquivo/2000/conteudo_120187.shtml

Fig. 01 – GUERREIRO SUPLICIADO das ESCAVAÇÕES da PIRÂMIDE e TÚMULO do SENHOR de SIPÁN - PERÚ .

Podemos falar da ARTE da GUERRA como podemos falar da Arte Médica, Arte das Adivinhações e de tantas outras. Contudo não há como defender que elas sejam ARTES em si mesmas. Esta distinção é necessária até para que GUERRA, MEDICINA ASTROLOGIA... não percam seu sentido específico e a sua autonomia.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Los_Desastres_de_la_Guerra

Fig. 02 – DESASTRES da GUERRA. Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828) Gravuras 1810-1820

Assim a GUERRA não é uma ARTE completa, autônoma e com as características que atualmente se deseja conferir aos conceitos estéticos. A guerra carece de gratuidade, para ser considerada ARTE, entre tantas atribuições exigidas de todas as práticas e motivações conceituais do que se pretende atualmente inscrever no campo estético. E se a gratuidade acontece com a guerra, a humanidade retorna para a mais completa barbárie e ao puro exercício e para a disputa do mais forte ou do mais ardiloso.


Fig. 03 – GUERRA– detalhe Cândido Portinari (1903-1962) dos murais GUERRA e PAZ Edifício da ONU 1956 – Nova York.

O guerreiro é treinado para não pensar e não sentir, nas suas práticas militares. As táticas, estratégias e a logística condicionam ao seu pensamento e os seus sentimentos ao longo do treinamento militar. A sua vida, os seus sentimentos individuais e particulares necessitam ceder e dar lugar para esta lógica implacável. Treino que implica em aceitar que sua vida e os seus sentimentos podem ser sacrificados, e com frequência, isto deve acontecer física e emocionalmente. Mergulhado nas paixões, dos institutos primários, que a GUERRA desperta, elas abrem livre curso ao TÂNATOS. Estas paixões contrapõem-se às condições positivas que o EROS necessita para cultivar a sobrevivência e a reprodução da vida e dos sentimentos humanos.


Fig. 04 – A GUERRA- mosaico sumério.

A GUERRA está colocada no cenário do permanente conflito humano entre o EROS e o TÂNATOS, ou do AMOR e do ÓDIO, ou ainda no princípio CONSTRUTIVO e o DESTRUTIVO, tendendo mais para o lado DESTRUTIVO, do ÓDIO e do TÂNATOS. Certamente não se permaneceu na HISTÓRIA humana uma GUERRA CONSTRUTIVA, pautada pelo BEM e pela BELEZA, no CONVÍVIO e RESPEITO MÚTUO ou que não tenha colocado a VIDA e os SENTIMENTOS em perigo e na insegurança nos seus resultados.


Fig. 05 – GUERREIROS EGÌPCIOS maquete de um túmulo.

Deste contraste, entre ARTE e GUERRA, certamente a primeira tira todas as suas vantagens e todos os seus méritos. A ARTE, por essência busca o CONSTRUTIVO pautado pelo BEM, pelo CONVÍVIO e pelo RESPEITO MÚTUO. Além disto, a ARTE não coloca a VIDA em perigo ou a oferece como prêmio. As suas obras colaboram efetivamente para melhorar a espécie humana UNIVERSALMENTE trazendo, ao mundo sensível, aquilo que mais orgulha as civilizações na HISTÓRIA de longa duração.


Fig. 06 – GUERREIROS ROMANOS baixo relevo

De um lado a doutrina militar busca a segurança, a todo preço. Consegue esta segurança pelas doutrinas e rotinas da caserna onde acumula antigas táticas, estratégias e logística, misturando-as ecleticamente com as práticas contemporâneas. Enquanto isto a ARTE busca fugir do pensamento fixo e único e da rotina, não se repetir e, temerária, corre todos os riscos que qualquer mudança significativa impõe.


Fig. 07 – O CRISTO GUERREIRO e JUIZ – Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni (1474-1563) JUIZO FINAL 1534 - detalhe

A GUEERA foi um tema constante da ARTE. A MÚSICA militar, monumentos, imagens desenhadas, fotografadas e pintadas, teatro, cinema ou os longos poemas épicos deram corpo simbólico a este universo particular. Universo que ninguém deseja prolongar e viver constantemente sob as suas asas sinistras e ameaçadoras. Neste particular a ARTE e a GUERRA se distinguem. A ARTE passa a constituir-se numa das catarses do horror da GUERRA. A ARTE, vivida e exercida numa autêntica cultura, projeta-se sobre todas as demais culturas que a respeitam. Respeito e admiração que brotam deste clima e alto astral que ela irradia como aura positiva e estimulante, gerando bem estar. Já uma cultura que opta pela GUERRA, ao estilo de Esparta, afasta os que se aproximam dela, inspira temor e sentimento de mal estar com o seu mau humor e o seu hálito bélico.


http://en.wikipedia.org/wiki/Albrecht_Altdorfer

Fig. 08 – GUERRA por Albrecht ALTDORFER (1480-1538) – “Batalha de Alexandre Magno contra Dario”.1529

Mesmo os profissionais, preparados para a GUERRA, a evitam por todos meios, e por isto são remunerados. Em várias fontes afirma-se que “a GUERRA é um assunto sério demais para deixá-lo para os generais”. Em geral eles são arrastados, para este contexto, pelos vendedores de tecnologias e dos donos dos capitais na busca de cobaias da sua lógica industrial, ao estilo da “A Batalha dos Ricos” de BRUEGHEL.

O sobreviventes de uma GUERRA constituem um dos seus aspectos mais dramáticos e negativos. Os VETERANOS carregam, pelo resto de suas vidas, traumas da GUERRA, se esta não lhes arrancou membros do seu corpo físico.


Fig. 09 – GUERRA por Pieter BRUEGHEL o Velho 1525-1569 – “A Batalha dos Ricos”.

As religiões desencadeiam frequentemente as suas GUERRAS com fundamentos nos seus credos e doutrinas. As cruzadas cristãs, a jihad muçulmana e as sangrentas lutas travadas entre reformistas e contra-reformistas europeus, são algumas das amostras destas intolerâncias religiosas. O Armagedon, o juízo final e os apocalipses estão cercados das auras sulfurosas e das atmosferas que acompanham todas as batalhas travadas pelos humanos entre si. Os seus personagens se parecem os trabalhos de Gilgamesh, de Hércules ou são clones dos 4 Cavaleiros do Apocalipse.


http://pt.wikipedia.org/wiki/Los_Desastres_de_la_Guerra

Fig. 10 – DESASTRES da GUERRA Francisco José de Goya y Lucientes (1746-1828)

Gravuras 1810-1820.

A humanidade busca, por todos os meios, esquecer rapidamente o aversivo, o horroroso e o que escapa à sua vontade. A GUERRA certamente é um destes aversivos e um dos horrores que escapa à vontade, inclusive, dos seus agentes envolvidos diretamente nela. Por isto faz de tudo para contorná-la antes de iniciar, se aconteceram, se desviar deles e se acontecem, por acaso, não se lembrar dos seus horrores.


Fig. 11 – GUERREIROS NAZISTAS no FRONT RUSSO LESTE em 1941 - NYT. 25.06.2011- O horror estampado nos rostos endurecidos pela guerra contraria todo o romantismo e eventual propaganda e marketing que os vendedores de armas e políticos usam para justificar a guerra..

Novamente a ARTE é o contrário da GUERRA. A ARTE representa algo que a humanidade busca, aceita e onde pode projetar aquilo que tem de melhor, daquilo que gosta de fazer, pensar e aspirar. Como resultado final destes momentos de alta criação positiva, deixa algo que enobrece a humanidade e o que ela gosta de rememorar.


Fig. 12 – GUERRA na LÍBIA em 2011 - SPIEGEL 22.06.2011

O artista criador e o seu observador buscam a competência para realizar a autonomia nas suas práticas continuadas. A GUERRA rompe este continuo e todos os seus projetos civilizatórios são contrariados.

As vezes este equívoco pode ocorrer a partir do próprio artista seduzido pelos apelos marciais. É o que aconteceu com o Futurismo. Nos tópicos iniciais do Manifesto do Futurismo de 20.02.1909 no Le Figaro de Paris em possivel ler:

1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.[...].

2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia. .[...]

3. Nós queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o salto mortal, o bofetão e o soco.[...]

7. Não há mais beleza, a não ser na luta.[...]..

8. Nós estamos no promontório extremo dos séculos!.[....Por que haveríamos de olhar para trás,

9. Nós queremos glorificar a guerra.[...].

10. Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academia

11. Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho.[...] .”

http://pt.wikipedia.org/wiki/Manifesto_Futurista

Os infelizes artistas equivocados não precisaram esperar o transcurso da década prevista por Napoleão Bonaparte, um dos maiores guerreiros de todos os tempos, quando afirmou: “onde passam as idéias de GUERRA, dez anos depois passam os CANHÕES”. Cinco anos depois do Manifesto Futurista o trágico resultado deste equívoco se consumou. As máquinas, os gases e os canhões da I Guerra Mundial (1914-1918) consumiram fisicamente o melhor e o mais promissor desta geração Futurista. Inclusive Porto Alegre deixou que o jovem artista italiano Miro Gasparello (1891-1916) se deixasse atrair pelo chamados à armas. Ele foi uma das jovens vidas, de incontáveis vitimas, devoradas pelas máquinas de uma guerra industrial sem precedentes e sem o menor traço possível de cavalheirismo.

Esta guerra industrial provou que, aquele que se entrega à logística às táticas e estratégias militares, não pode pensar e nem sentir. Pensamento e sentimentos subtraídos pelos vendedores de tecnologias e dos donos dos capitais na busca de cobaias desta lógica industrial. Esta lógica industrial produziu a mentalidade e os equipamentos usados nos campos de extermínio em massa da II Guerra Mundial (1939-1945).

Neste ponto é necessário evocar a vigilância permanente para “não deixarmos que se estabeleça uma dependência deles” recomendada por Sêneca. Isto também vale para que o artista não seja seduzido pelas sereias dos apelos marciais.

FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS

ARMAGEDON

http://pt.wikipedia.org/wiki/Armagedom

ARTE da GUERRA

http://pt.wikipedia.org/wiki/A_Arte_da_Guerra

http://rgvweb.com.br/a-arte-da-guerra-sun-tzu-e-marketing-o-que-tem-em-comum/

CONTESTAÇÔES da GUERRA
http://agal-gz.org/blogues/index.php/canta/2011/06/02/canta-o-merlo-compreender-a-guerra-da-libia-1

DESASTRES da GUERRA - Goya

http://pt.wikipedia.org/wiki/Los_Desastres_de_la_Guerra

EROS

http://www.imagick.org.br/pagmag/pardal/mitoeros.html

FUTURISMO O MANIFESTO FUTURISTA - 20 de fevereiro de 1909 – MARINETTI

http://futurismo1909.wordpress.com/manifesto/

http://www.theartstory.org/movement-futurism.htm

http://defenestrando.wordpress.com/2006/12/19/metabolistas/

GILGAMESH

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gilgamesh

GUERRA e PAZ – Portinari

http://www.guerraepaz.org.br/#/home

GUERNICA Picasso

http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica_(quadro)

JIHAD

http://pt.wikipedia.org/wiki/Jihad

SUMÉRIA – guerra

http://legiosxiii.5.forumer.com/index.php?showtopic=69

TANATOS

http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%A2nato

http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/8.pdf

A GUERRA no RIO GRANDE do SUL

O presente texto foi elaborado e é divulgado a partir do Rio Grande do Sul. Muitos autores sustentam que o Rio Grande do Sul sofreu graves atrasos pela sua necessidade de estar em permanente vigilância, lutas e guerras de fronteira.. Este Estado é conhecido como um dos mais aguerridos da Federação Brasileira. Disto são testemunhas muitas obras literárias e historiográficas. Entre estas é possível citar:

VARELA de VILARES, Alfredo Augusto (1864-1943) Revoluções cisplatinas : a república rio-grandense . Porto : Chardron 1915 1056 p. 1915

---------História da grande revolução: o cyclo farroupilha no Brasil Porto Alegre : Globo, 1933, 6v – Edição comemorativa do centenário

http://www.pampalivre.info/alfredovarela/historia_da_grande_revolucao__alfredo_varela.htm

Contudo esta belicosidade nunca foi gratuita, a não ser em cabeça de alguns “ gaúchos em disponibilidade forçada ”, na expressão de Athos Damasceno que espalharam uma imagem do sul-rio-grandense violento e estava em permanentes guerras. Este cronista e poeta rebateu este argumento e generalização apressada, afirmando (1971, p.449)

certamente, as lutas que tivemos de sustentar desde os tempos recuados da Colônia, na defesa de nosso território e na fixação de suas fronteiras, em muito entorpeceram e retardaram nosso processo cultural. Não, porém, tanto quanto seria natural que ocorresse, uma vez evidenciada historicamente a belicosidade crioula, arrolada por aí, com um abusivo relevo, entre virtudes que nos compõem a fisionomia moral. Nossa história está realmente pontilhada de embates sangrentos. Mas lutas e guerras não foram desencadeadas por nós, senão que tivemos de arrostá-las compelidos pelas circunstâncias. Nunca deixamos de ser um povo amante da paz. E, em nossos anseios de construção, sempre desejosos dela. Tropelias e bravatas de certos gaúchos em disponibilidade forçada, não têm o menor lastro Histórico: pertencem aos domínios da anedota que os próprios rio-grandenses exploram, com malícia, para a desmoralização daqueles que o fazem, com malignidade”.

Assim, este sentimento de pertencimento regional sul-rio-grandense, é transferido, as mais das vezes, ao pertencimento à nação brasileira. São estes regionais que carregam, muitas vezes, a bandeira nacional. Este fato foi materializado em.uma imagem pelo artista e pintor carioca Helios SEELINGER quando elaborou, em 1925, um projeto de um mural para o Palácio Piratini.



Fig. 13 – “O RIO GRANDE de PÉ pelo BRASILesboço de Helios Aristides SEELINGER (1878-1965) Revista Máscara – Porto Alegre Junho de 1925.

Veja a obra definitiva em: http://www.defender.org.br/uploads/Telas.pdf

Esta imagem motivou e transformou-se em fatos que ocorreram em 1930 e mais recentemente, em 1961, no episódio da LEGALIDADE. Contudo esta belicosidade não é nem residual no Rio Grande do Sul e nem é gratuita como parece estar na cabeça de “alguns gaúchos em disponibilidade forçada.”

HINO da LEGALIDADE - 1961

http://www.franklinmartins.com.br/som_na_caixa_gravacao.php?titulo=hino-da-legalidade

http://www.youtube.com/watch?v=_aQaWVFdF0w veja e escute uma interpretação absolutamente cidadã, doméstica e sem instrumento de acompanhamento musical militar.

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