Antes de ler este artigo, convém consultar:
http://profciriosimon.blogspot.com/2010/10/isto-nao-e-arte-01.html
04 – NEM o ACASO e NEM o MILAGRE SÃO ARTE POR SI MESMOS.
"O acaso favorece apenas as mentes preparadas." Louis Pasteur
O tema do ‘NEM o ACASO e NEM o MILAGRE SÃO ARTE por SI MESMOS’, leva-nos adiante na investigação de outros limites e competências das artes visuais.
O limite da proibição, da norma ou do tabu, constituem formas de desafio para o artista. O artista passa a verificar, nestes obstáculos e limites, as formas como estes desafios constituem referenciais básicos e abrem oportunidades para expressar o seu agora e o seu mundo daqui.
http://curtapoesia.blogspot.com/2009/07/fugacidade-do-tempo.html
Fig. 01 – Salvador DALI (1904-1989)
O tempo circular e a mandala do relógio, desfazem-se e retornam ao acaso e ao caos, conduzidos pela entropia universal. A obra de Dali remete ao campo da comunicação linear e unívoca devido à exagerada e à redundante evidência de sua linearidade descritiva.
Assim, o caos e o sem sentido, podem constituir-se em desafios potenciais que impõe urgência na busca de uma ordem escondida ou ignorada para encontrar um sentido que ninguém percebeu antes dele. As grandes civilizações egípcias e pré incaicas nasceram em lugares geográficos nos quais as oportunidades para a vida eram mínimas. Enquanto o território brasileiro oferecia tudo ao alcance da mão, não gerou nenhuma civilização pré-histórica digna deste nome, consequente no tempo e capaz de fugir da entropia provocada pela abundância de recursos naturais.
Fig. 02 - Paul KLEE (1879-1940) – “Fast getroffen” ou “quase atingido”. 1928
Aquarela 50,8 X 39,37 cm
O perigo inesperado, o desafio, ou a ameaça do rompimento eminente da ordem habitual impulsionam ao despertar da criatura humana e a permanecer na vigilância.
Contudo qualquer achado - sem um rumo, sem uma escolha ou um projeto - não possui sentido por si mesmo. Aquele que tropeça, nestes acasos, logo os elimina da sua memória consciente. A criatura é histórica na medida dos seus projetos e por saber-se no interior de um processo. O máximo que pode acontecer com aqueles que se privam de algum projeto é andar em círculos, ao modo do “peru num círculo de giz”[1]. A carência de um projeto, deliberado e decididamente assumido, constitui, no plano individual, o retorno aos círculos impostos pelas leis da natureza. A entrega ao acaso, ao milagre e às superstições, conduz, na coletividade, à abdicação e à ruptura de qualquer autonomia, face ao mundo social do OUTRO. Desta entrega ao acaso, decorrem graves riscos de desconhecer e ultrapassar qualquer sanção moral dos atos individuais e coletivos praticados na heteronomia desta vontade.
ACASOS POTENCIALMENTE CRIATIVOS
“São fúteis e cheias de erros as ciências que não nasceram da experimentação, mãe de todo conhecimento”. Leonardo da Vinci
A ausência de um projeto - daquilo que ela busca - pode assemelhar a criatura humana encontrada congelada e morta sobre uma montanha de carvão de pedra. A vítima jamais suspeitou que a sua salvação estava naquilo que o congelava e matava. O coletador, na busca apenas do seu alimento e abrigo imediato, não atribuía o menor sentido para metais, que hoje denominamos preciosos.
Só se acha aquilo que se procura. A criatura humana é histórica na medida do seu projeto. Mesmo quando um indivíduo, isolado e singular, consegue provar objetivamente que objeto de um projeto não existe ou é impossível, a humanidade toda progride ao se livrar de um problema insolúvel.
1. [1] [PDF] CÍRCULO-DE-GIS-DE-PRENDER-PERU: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS ...Formato do arquivo: PDF/Adobe Acrobat - Visualização rápidaUma cantiga de perua. É como tudo está aqui! O círculo-de-gis, a impaciência: o peru é impaciente, a perua é pessimista. E quando o peru estufa o ... www.fag.edu.br/adverbio/artigos/artigo08%20-%20adv06.pdf - Similares
http://eloprimitivo.blogspot.com/2005/05/um-lance-de-dados-jamais-abolir-o.html http://www.textfield.org/tags/theory/
Fig. 03 – “Um lance de dados jamais abolirá o acaso” “Un coup de dés jamais abolira lê hasard” escrevia Stephane MALLARMÉ (1842-1898). Apesar da ironia - do artista da obra da figura acima- de que todos os dados mostrem o nº 1 de cada das suas faces, isto não garante que. no lance seguinte , venha acontecer de novo, se os dados não forem viciados
Uma das tarefas da criatura humana civilizada é manter intacta a contradição e transformá-la em complementaridade. Contradição que mantém a tensão entre o acaso e o projeto humano. Forças irreconciliáveis geradas entre o acaso e o projeto, mas, entre as quais, é indispensável estabelecer a circulação das forças da complementaridade criativa.
O artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) mergulhou profundamente na relação entre o acaso e a arte. Ele deslocou da sua função uma sua série de objetos encontrados por acaso [‘objet trouvé’: mitório, roda de bicicleta, porta garrafas, malas..][1] e os introduziu no circuito de arte onde ganharam novo status de obra consagradas e aceitas como tais. As milhões de rodas de bicicletas, os mitórios públicos e malas, ninguém considera obras de arte, mas que Duchamp deslocou por meio da ação comandada pelo seu projeto consciente e consequente. A “arte está em quem a faz, não naquilo que produz” no pensamento de Aristóteles. No caso a arte estava em Duchamp
O TERROR do ACASO e do CAOS PRIMORDIAL
O terror do acaso pode conduzir à racionalização, ao retorno do seio materno e ao interior da concha protetora primordial. A consequência é a eliminação, ou drástica limitação das possibilidades criativas.
http://www.latribunedelart.com/spip.php?page=docbig&id_document=8319
Fig. 04 - TURNER, Joseph Mallord William (1775-1851) Desastre no Mar c. 1835 – Óleo 171 X 220 cm (detalhe).
Os artistas românticos experimentaram formas que pudessem lidar e expressar o caos e o acaso, em oposição aos valores unívocos e lineares do Iluminismo e Racionalismo que os antecedeu historicamente.
Após o Romantismo do século XIX novas correntes e estéticas tiveram no acaso e no caos primordial a motivação e a fonte de inspiração. O Simbolismo, o Surrealismo e o Expressionismo, buscaram no acaso e no caos, cada uma à sua própria maneira, as suas fontes. As obras individuais de André Breton (1896-1966), Max Ernst, Joseph Beuys (1921-1986) e Francis Bacon (1909-1992) mostram os numerosos recursos estilísticos e os repertórios que os recursos materiais do acaso e do caos. As suas obras de arte despertaram com os limites e as possibilidades de transformar estes acasos na criação humana da arte.
O ACASO e o INTERIOR dos RECURSOS MATERIAIS da ARTE.
“Para estar junto não é preciso estar perto mas sim estar dentro”.
Leonardo Da Vinci
A ativação das forças subterrâneas, do inconsciente humano reprimido, libertaram a arte de sua carga da comunicação linear e unívoca. Para o artista, estas correntes abriram a manipulação direta dos signos. O constrangimento da temática abriu-se no uso direto e livre dos índices e dos ícones. A arte , com esta liberdade, poucas vezes vista antes na história humana, apropriou-se da pureza e da natureza dos sons, das palavras, do gesto, da cor, do movimento e com eles mostrou a sua criatividade e liberdade. Cada um no seu território, pois cada manifestação da arte é ciumenta e não tolera sobreposições, e administra mal, reforços indevidos de outros recursos criativos. A Pintura, por exemplo, voltou a pureza e exclusividade do desafio de manipular e criar pelo meio exclusivo das tintas, dos pincéis e das superfícies. Esta pureza impõe uma gramática que é inerente a este meio exclusivo. Neste meio, por menor que seja o contínuo de uma obra de arte, “ogni quantità continua é divisibile in infinito” conforme Leonardo (In VALÉRY, 1998 p. 36) afirmou na proposição CCLXXI do seu Tratado da Pintura. Com esta concepção Leonardo construiu a imagem da Mona Lisa gerando esta imagem pó meio de uma nuvem de infinitas graduações de claros e de escuros onde não existe uma linha. Leonardo levou ao apogeu o projeto de Giotto di Bondone (1266-1337) trabalhar a sua pintura com os elementos de uma superfície, dos pigmentos e do pincel.
Do lado do espectador, e de quem recebe a obra, esta mensagem proveniente da natureza dos meios, não necessita subjugar-se ao tema e ao anedótico. Um filme é constituído 24 imagens por no mínimo segundo, que se seguem num movimento delimitado num começo e num fim.
Fig. 05 – ELEMENTOS da COMUNICAÇÃO e da SEMIÓTICA . O americano Charles Sanders Pierce (1839-1914) estabeleceu as bases da Semiótica. O seu pai era astrônomo - lidando com o infinitamente grande e no acaso cósmico - desafio que despertou no filho a necessidade de estabelecer sistemas e formas de orientação e de comunicação da máquina, da vida e do humano.
O vasto repertório humano é capaz de sinapses e de conotações inesperadas, tendo como suporte os bilhões de neurônios.
Evidentes, que estas sinapses e neurônios não são infinitos por mais extensos seja o seu número. Assim, estas sinapses, neurônios organizam-se em padrões hereditários e adquiridos. Padrões que permitem construir as linguagens da fala, do gesto, da imagem, e todos os demais recursos sensoriais reconhecíveis pelo repertório consciente ou inconsciente dos seus semelhantes. Contudo, na criatura humana, a maior parte destes padrões se desenvolveram e permaneceram, no inconsciente, a espera de codificações novas e criativas. Assim por maiores que sejam os esforços dos enciclopedistas antigos, ou contemporâneos, “un coup de dés jamais abolira lê hasard” permanecem abertas as possibilidades criativas humanas.
O vasto repertório humano do suporte os bilhões de neurônios, das sinapses e de conotações inesperadas multiplicam o seu potencial e inteligências humanas múltiplas. Para isto a permanente atenção das diversas formas da inteligência em desdobramentos e conexões novas e inesperadas.
http://educacaodialogica.blogspot.com/2008_03_07_archive.html
Fig. 06 – DESDOBRAMENTOS da MÚLTIPLA INTELIGÊNCIA HUMANA
As pesquisas e as teorias de Sigmund Schlomo Freud (1859-1939) tiveram um contraponto nas concepções e nas pesquisas de Carl Gustav Jung (1875-1961). Este percebeu a busca de organização do caos nas diversos graus da capacidade de organizar formalmente o seu consciente e inconsciente. Ele percebeu, na construção e nos formatos das mandalas, por exemplo, o esforço do ser humano em conferir sentido e projetar ativamente os graus e a intensidade desta luta interior deste indivíduo para organizar-se num padrão e num núcleo referencial para si mesmo e para os outros. Para Jung, o conjunto das artes, mostra como cada cultura humana lidou com este problema de conferir sentido ao acaso e ao caos primordial. Assim cada obra de arte torna-se, e continua a constituir-se no tempo, em um documento deste esforço do indivíduo, da cultura e da época de sua origem.
Fig. 07 – Teste de RORSCHACH [tons invertidos]. Neste teste o paciente “PROJETA” o seu repertório e os seus referenciais inconscientes num sentido que ele atribui às figuras padronizadas e apresentadas pelo psicólogo.
Nos abismos do inconsciente e nas numerosas e múltiplas inteligências humanas, organizam-se, funcionam e estão disponíveis padrões que diversos testes psicológicos permitem sondar. Um dos mais antigos e conhecidos popularmente são os testes de Hermann Rorschach (1884-1922). Numa série de manchas o entrevistado projeta, na linguagem, sentidos e significados pessoais e originais em relação a que percebe e expressa um outro entrevistado.
Fig. 08 – Teste de Hermann Rorschach que desenvolveu as manchas de tinta, embora não as utilizasse para a análise da personalidade.
Para ampliar o tema do acaso e arte:
TESTE de RORSCHACH
http://pt.wikipedia.org/wiki/Teste_de_Rorschach
http://sicologia.net/category/psiquiatria/
http://movv.org/2009/11/21/os-testes-de-rorschach/
http://brazil.skepdic.com/rorschach.html
http://www.famous-painters.org/Max-Ernst/The-Eye-of-Silence.shtm
Fig. 09 – Max ERNST (1891-1976) – O olho do Silêncio - c. 1943-4 – óleo 108 x 141 cm
http://www.nytimes.com/2010/11/19/arts/design/19kiefer.html
http://www.artnet.com/artwork/425931891/to-be-titled-triptyque.html
Fig. 10 - KIEFER, Anselm (1945 - ) – Tríptico. 2008, cada painel 330 x 190 cm
ARISTÓTELES (384 a.C – 322 a.C) e o AGORA
http://www.consciencia.org/o-agora-e-a-apreensao-do-tempo-na-fisica-de-aristoteles
http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=450
http://www.itaucultural.org.br/index.cfm?cd_pagina=2720&cd_materia=1269
CÍRCULO-DE-GIS-DE-PRENDER-PERU: UMA REFLEXÃO ACERCA DOS ...
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Uma cantiga de perua. É como tudo está aqui! O círculo-de-gis, a impaciência: o peru é impaciente, a perua é pessimista. E quando o peru estufa o ...
www.fag.edu.br/adverbio/artigos/artigo08%20-%20adv06.pdf - Similares
DUCHAMP, Marcel objet trouvè - - ready-made – objetos encontrados
http://www.answers.com/topic/found-art
MALLARMÉ, Stephane
http://eloprimitivo.blogspot.com/2005/05/um-lance-de-dados-jamais-abolir-o.html
http://www.textfield.org/tags/theory/
TAPIES, Antoni (1923-)
http://www.fundaciotapies.org/site/spip.php?article2983
TURNER, J.M.W 1775-1851
http://www.latribunedelart.com/spip.php?page=docbig&id_document=8319
Professor, acabei chegando ao seu site por acaso. Sou estudante de psicologia e vi que o senhor colocou algumas manchas do teste de Rorschach no post. Sei que elas estão em vários lugares da internet, mas essa divulgação dificulta a aplicação do teste, já que se o entrevistado souber que será utilizado esse teste ele pode achá-la na internet.
ResponderExcluirDiversas entidades estão tentado impedir essa divulgação que só dificulta o trabalho dos profissionais de psicologia.
Se o senhor puder retirar as imagens e os links, acredito que seu propósito será alcançado, sem que a divulgação do teste aumente. Talvez como até utilizar manchas outras, que apesar de similares não são utilizadas no teste.
Agradeço a compreensão!
Ah, ótimo blog, por sinal!
Abraço