Pinacoteca Aldo Locatellii Foto Fernando ZAGO
Fig. 01 – Alegoria - Clébio SÓRIA - 1983 detalhe da fig. 12 Acrílico sobre aglomerado
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Clébio Guillon Sória
- Foto Arquivo MARGS
Clébio Guillon Sória (*1934- +1987) era originário de Bagé[1]. A cultura da qual era portador, recende às lendas e gestas multisseculares das fronteiras e da proximidade dos campos neutrais. Cultura fermentada na gesta do homem do sul do Brasil na busca para criar formas, imagens, música e hábitos que identifiquem e o afirmem para si mesmo e diante do outro.
Além do Grupo de Bagé[2] o município sempre primou pela tradição e instituições[3] que remetem à cultura e à arte da mais alta expressão.
[3] - Informações relativas ao Instituto de Belas Artes de Bagé em http://www.bage.rs.gov.br/pontos_turisticos_visualiza.php?id=17
No dia 22 de abril de 1908 a comunidade de Bagé,foi representada pelo cel José Octavio Gonçalves, Visconde Ribeiro Magalhães, Emilio Guillayan e dr. Figueiredo Teixeira como Comissão Regional na formação do Instituto Livre de Belas Artes do Rio Grande do Sul . Foi do Conservatório deste Instituto que partiu, em 1921, o professor Guilherme Fontainha para criação do Instituto de Bagé
Estação TRENSURB Mercado Porto Alegre - Foto Círio SIMON
Fig. 03 – índio Missioneiro
A obra de Clébio Sória estava neste caminho quando sobreveio a Revolução de 1964. Com ela sou novamente o clarim da unidade nacional, os temas que lhe são inerentes e relegando as culturas regionais para segundo plano. Além disto ele viu desaparecer, em 1962, do seu lado, o mestre Aldo Locatelli que o aconselhava e o impulsionava desenvolver o muralismo e as grandes obras públicas.
Foto Selso da BELLO
Fig. 04 – “AGRICULTORES e OPERÁRIOS UNIDOS “Clébio Sória e Paulo Peres[1]
Detalhe do mural pintado sob os olhares e orientação de Aldo Locatelli e destinado . ao Restaurante Universitário da FEURGS- obra destruida[2]
No mesmo ano Clébio viu desaparecer também Cândido Portinari outra inspiração do muralismo público do cenário nacional.
[1] - Ver PIETA 1995, pp.. 1994 195 e 214 http://pt.wikipedia.org/wiki/Pintura_no_Rio_Grande_do_Sul
Estação TRENSURB Mercado Porto Alegre - Foto Círio SIMON
Fig. 05 – Carga de cavalaria d Revolução Farroupilha
Como pessoa adulta administrou estas perdas. Construiu a sua própria obra mergulhando fundo no imaginário da gente do Rio Grande do Sul. Desta mesma gente colheu aprovações e desaprovações.
A obra de Clébio está muito longe de ter a sua memória estudada, fixada e divulgada adequadamente. Esta obra deve ser buscada, como migalhas, nas mais diversas fontes. O que é certo é que ela pertence aos espaços públicos. Contudo a sua exposição costumeira e cotidiana nestes espaços públicos, gerou um hábito parecido com o que ocorre com os habitantes de Congonhas do Campo em relação aos profetas de Aleijadinho: todos as vêem, mas não as enxergam.
Estação TRENSURB Mercado Porto Alegre - Foto Círio SIMON
Fig. 06 – Garibaldi Transporta os Lanchões por Terra
O seu merecido e qualificado estudo sistemático não formou uma consciência explícita em relação a elas. Certamente o mesmo ocorreu em outras culturas. As culturas que investiram, em épocas passadas, na explicitação desta consciência estão colhendo os resultados, no presente. Resultados e que se traduzem em trabalhos de alto nível, na manutenção de empregos num amplo leque de retornos consistentes e continuados com expressiva entrada de divisas.
Contudo o artista criativo e original - com as suas obras de arte autênticas - precedem qualquer improvisação, eventos ou estratégia meramente mercadológica, marketing ou propaganda sem o lastro. A industria cultural sem a obra e artista corrompem-se em kitsch e que Umberto Eco definiu como “aquilo que nasce consumido”.
Estação TRENSURB Mercado Porto Alegre - Foto Círio SIMON
Fig. 07 – Imigrantes
Reproduzem-se, acima, imagens do ciclo murais que ele elaborou, em 1986, para a Estação Mercado do Trensurb de Porto Alegre[1]. Este ciclo é conhecido visualmente de todos os porto-alegrenses.
Placa na Estação TRENSURB Mercado Porto Alegre - Foto Círio SIMON
Fig. 08 – Placa de identificação dos Murais da Estação Mercado Transurbs
Contudo necessitam um cuidadoso percurso para reencontrar o ente e as circunstâncias que os produziram. Sem esquecer do tributo que pagam ao tempo, às intempéries e à poluição a que se encontram expostas. Mas é da veladura da sua efemeridade que retiram o enigma que esconde o ente que as produziu.
Foto da Revista Manchete - 1972
Fig. 09 – Clébio SÓRIA entre colegas de arte de Porto Alegre
Fila em baixo (da esquerda para a direita) Plínio Berrhardt, Clóvis Peretti, Gumercindo Pacheco [Guma].
Fila de cima Roberto Cidade, Paulo Porcela, Alice Bruegmann, Clébio Saria, Enio Lippman , Waldeni Elias
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Clébio era extremante reservado e com profundas experiências profissionais humanas. Ele buscou uma forma de ser na arte. Por meio da arte integrou-se na cultura sul-rio-grandense, conferindo-lhe visibilidade em imagens nas quais recriava as suas experiências pessoais. No presente artiga realiza-se este retorno ao ente por meio do percurso de algumas circunstâncias que produziram estas imagens e algumas reflexões escritas paralelas.
Os seus concorrentes - no campo das artes visuais - eram os seus maiores e freqüentes interlocutores. Só eles podiam compreender os limites que ele se impunha e as mesmo tempo as competências que ele explorava. A amostra mais clara desta interação é a dedicação de Danúbio Gonçalves, seu conterrâneo e integrante do legendário Grupo de Bagé.
Atelier Livre: 30 anos – 1992, p.41
Fig. 10 – Clébio SÓRIA professor do Atelier Livre de Porto Alegre
Mantendo a devida integridade intelectual neste processo. Danúbio, colega da primeira fase do Atelier Livre de Porto Alegre[1], saiu em defesa do colega Clébio, quando este não era entendido nas esferas federais e estaduais :
“Em outubro de 1990, seu colega e amigo Danúbio Gonçalves, respondeu pela curadoria do projeto Clébio Sória – Homenagem retrospectiva, realizado no MARGS, Porto Alegre, espaço que lhe fora negado em 1984 e ao qual seguiu-se ruidosa polêmica pelos jornais de Porto Alegre, colocando grande parte da classe artística e imprensa contra a direção do MARGS à época”. Rosa, 2000, pp.146/7
- Foto Arquivo MARGS http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_dossies_artista_docs.php?par_id=186
Fig. 11 – Clébio SÓRIA pintando os murais na Estação Mercado de Porto Alegre TRENSURB
Na prática a degradação e a entropia tomaram conta destes murais e está levando esta obra para uma queima definitiva da sua memória. Murais que assim correm também o risco da sua mitificação como foi o caso dos pintores do período clássico grega. Obras sobre as quais muito se escreveu, mas que não se encontrou nenhuma obra de Apeles e de tantas outros, desta época. Obras que constam na literatura, mas que ninguém viu no presente.
FONTES
PIETA, Marilene Burtet – Modernidade da pintura no Rio Grande do Sul. Porto Alegre : Sagra-DC Luzzatto, 1995273 p.
PETTINI Ana Luz - KRAWCZIK, Flavio Pinacotecas Aldo locatelli e Rubem Berta Acervo Artístico da Prefeitura de Porto Alegre - Porto Alegre: Pallotti, 2008, 216 p
PORTO ALEGRE Secretaria Municipal de Cultura. Coordenação de Artes Plásticas Atelier Livre: 30 anos. Porto Alegre : Secretaria Municipal da Cultura, 1992. 100 p.
ROSA , Renato - Dicionário de artes plásticas no Rio Grande do Sul [2ªed] Porto Alegre : editora/UFRGS 2000 527 p.
MARGS
http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_dossies_artista_docs.php?par_id=186
http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_dossies_artista_obras.php?par_id=186
CASA de ARTE CANOAS
http://www.casaartecanoas.com.br/web/biografia_det.php?artista=171
Pinacoteca Aldo Locatellii Foto Fernando ZAGO - PETTINI 2008 p.17
Fig. 12 – Alegoria - Clébio SÓRIA - 1983 Acrílico sobre aglomerado
Muito boa esta matéria sobre Clébio Sória.
ResponderExcluirUm grande artista e tão desconhecido do porto-alegrense.
Fiquei maravilhada com o que vi em poucos minutos aqui.
Não li quase nada, porque minha intenção de pesquisa, neste momento, é outra, mas vou segui-lo, prof.
grande abraço, Lília Manfroi
Sou sobrinho do Clébio, e sempre achei fantástico seu trabalho e genialidade. Sinto saudade da visita que fiz ao seu atelier e lembro do seu sorriso de satisfação ao mostrar seu trabalho. Sempre apreciei a arte e sinto seu coração por trás da pinceladas. Pena que as pessoas vivam tão pouco tempo. Giovanni Sória.
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