CLOVIS PERETTI
Arquivo Iª Galeria Didática de Porto Alegre
Fig. 01 – Clóvis Peretti no trabalho.
Nas artes de Porto Alegre cabe ao Clovis Peretti (1935-1995)[1] , como a poucos, um lugar e um trânsito singular no caminho da “história em migalhas”. Ele pertenceu á uma geração que recebeu fortes influências das comunicações contemporâneas e das permanentes atualizações das estéticas ocorridas em Porto Alegre entre 1960 e 1995.
A partir destas atualizações Clóvis tentou criar a sua obra neste meio cultural local. Recebeu estas influências mediadas pelo Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre e de uma intensa e carinhosa interação como todos os artistas e o publico que ele encontrava no seu caminho. Com uma comunicação típica de autêntico descendente de italianos interagiu e exercitou-se ao lado de Danúbio Gonçalves e do norte-americano Tadeus Lapinsky, de passagem nesta capital.
Foto e arquivo Círio Simon
Fig. 02 – Tadeu Lapinski trabalhando no atelier de Danúbio Gonçalves
Peretti trouxe, e incorporou na sua bagagem estética pessoal, os conhecimentos técnicos que ela havia adquirido nas oficinas d VARIG e naquelas da Refinaria Alberto Pasqualinii. Além disto as suas buscas da arte cinética interagiam com a música e com a incipiente era digital.
Arquivo Iª Galeria Didática de Porto Alegre
Fig. 03 – Clóvis Peretti: matriz original em gesso e cópia em papel.
A sua ultima fase esteve envolto com a Informática. Nestas buscas no primitivo mundo numérico digital ele experimentava criar gravuras com quais ele pretendia que o seu observador pudesse adquirir dele os direitos autorais, interagir e completá-las à maneira de um intérprete de uma música.
Zero Hora - Porto Alegre - 06 de maio de 1972
Fig. 04 – Notícia da premiação de Clóvis Peretti
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Desaparecido em 1995, aos 60 anos de idade, deixou a memória de um ativo produtor das artes visuais e um participante assíduo de exposições coletivas e individuais.
ARTISTAS PLÁSTICOS - RS - MANCHETE n.966 de 24.10.1970 p. 148
Fig. 05 – Artistas no Parque da Redenção a caminho de Brasília
Da esquerda para a direita: Roberto Cidade, Paulo Porcela, Alice Bruegmann, em baixo: Plínio Berrhardt, Clóvis Peretti, Gumercindo Pacheco [Guma], Ilse Monteiro, Carlos Tenius e [..], [..].
Fila de cima: Clébio Saria, Enio Lippman , Waldeni Elias [..]
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Peretti é da geração de Porto Alegre que experimentou e transitou pela arte não figurativa como o fizeram Avatar de Morais[1], Ilse Monteiro, Luis Barth, Rose Lutzenberger[2], Rubens Cabral e de tantos outros e sem contra a passagem da pioneira Mira Schendel[3] em Porto Alegre.
[1] - Confira biografia de Avatar de Morais em http://www.margs.rs.gov.br/ndpa_dossies_artista_bio.php?par_id=176
[2] Confira as obras http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/xcgal/thumbnails.php?album=search&type=full&search=rose%20lutzenberger
Arquivo Iª Galeria Didática de Porto Alegre
Fig. 06 – Clóvis Peretti no seu ambiente de trabalho unindo e fazendo interagir som, luz, cor e imagens.
Contudo Peretti é mais lembrado por suas incursões na arte cinética. Em 17 de novembro de 1969 a Folha da Tarde publicava uma notícia de suas investigações. Ele explicava
“Arte cinética é a arte do nosso tempo. Arte total. Da cor (até aqui ficava só nos quadros), dos sons (na música) ou do movimenta (da dança). Hoje tudo é englobado, exigindo participação do autor e de público, porque dependem dos movimentos que o autor faça para que a obras crie vida, dependem dos olhos dos expectadores”[1].
Neste texto Peretti evidencia o seu carinho para binômio “artista-observador” e em cuja interação a obra cumpre um papel primordial e indispensável. Evidente que a soberania do observador pode invocar todo acúmulo do seu próprio repertório pessoal, longamente cultivado e com o qual lhe é impossível romper.
[1] “Cinética é a arte da qual você participa” Folha da Tarde, Porto Alegre : Companhia Caldas Junior, ano XXXIV, 17 de novembro de 1969, p. 63.
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Fig. 07 – Clóvis Peretti no espelho de uma das suas obras
Neste caso a obra corre sério perigos na sua permanência. É o aconteceu com a maioria das obras de Clóvis Peretti. Muitas das suas obras foram destruídas pois estavam colocadas para muito adiante do seu tempo e do publico de Porto Alegre.
Arquivo Iª Galeria Didática de Porto Alegre
Fig. 08 – Obra cinética de Clóvis Peretti destruída
O perigo já estava presente quando em 22.06.1969 o Correio de Porto Alegre publicava:
“Na elaboração da obra cinética para a igreja de São João de Porto Alegre tentou-se aproveitar o que se faz de mais adiantado nos melhores centros culturais. Foi rara a felicidade de encontrar num artista o domínio da eletrônica, da música, da luz, dos elementos plásticos, do desenho técnico, das estruturas de materiais e a linguagem dos elementos visuais. A complexidade desta criação espelha bem a evolução das artes em nosso tempo. Em todas as épocas clássicas esta complexidade criativa existiu. O encontro com Clóvis Peretti determinou a pessoa que poderia trazer todos os elementos ao templo dentro da criatividade artística”[1].
[1] “Uma obra cinética para ambiente religioso” Correio do Povo, Porto Alegre : Companhia Caldas Junior, ANO 74, nº 220, 22 de junho de 1969, p. 34.
Fig. 09 – Obra cinética de Clóvis Peretti em montagem.
“Cinética é a arte da qual você participa” Folha da Tarde, Porto Alegre : Companhia Caldas Junior, ano XXXIV, 17 de novembro de 1969, p. 63.
O legado de Clóvis Peretti
Os perigos da permanência já haviam sido previstos na mesma matéria do Correio do Povo de 22.06.1969
Afirma Círio Simon que “ainda que em nosso meio até agora não houvesse a possibilidade de criar o próprio ambiente religioso com a totalidade dos materiais contemporâneos colocados à disposição pela técnica moderna a presença de uma peça cinética postula esta experiência a partir de agora”[1].
Não adiantam argumentos para uma sociedade com as suas necessidades básicas não resolvidas e nem de posse de uma cultura elaborada na direção de um projeto cujo objetivo seja o de transformar estas necessidades em um projeto social coletivo
Prossegue Círio Simon, em suas reflexões sobre uma obra cinética para ambientes religiosos: “Aguardando este momento, tratamos de justificar o primeiro passo dado neste sentido em nossa cidade, estado e talvez país. Torna-se assim a presença de um mundo técnico que está nascendo em nossas mãos, colocado num ambiente de passado. Esta tensão desvirtua o sentido global do objeto”[2].
[1] Correio do Povo Não 74, nº 220, p. 34 : Porto Alegre em 22.06.1969
[2] Correio do Povo Não 74, nº 220, p. 34 : Porto Alegre em 22.06.1969
Arquivo Iª Galeria Didática de Porto Alegre
Fig. 10 – Clóvis Peretti em concerto no quintal da sua casa.
Clarisse 9(ilha) , Ieda (esposa), Clovis e Paulinho
Certamente a vida e a obra de Clovis Peretti são migalhas da história das Artes Visuais de Porto Alegre. Ao mesmo tempo esta migalha é um grão de farinha do acervo deste artista cujas obras praticamente desapareceram da memória da geração atual. Na sua geração permaneceu a lembrança do seu pensamento e da suas buscas. Buscas que tentavam espelhar-se no convívio dos amigos, da sua família e de toda uma geração. Obras das quais ficaram esparsas em algumas notícias epidérmicas nos veículos de comunicação da industria cultural na passagem para a era da informática. Apesar das destruições e esquecimentos das obras físicas de Clóvis Peretti permanece o seu legado subterrâneo e que marcam uma fase de uma civilização de Porto Alegre em trânsito da era industrial para a pós-industrial.
Clovis Peretti foi alguém desta corrente que, ao modo da água da chuva, infiltra-se no lençol freático da cultura e da arte de Porto Alegre. Água, que ao brotar anônima em outro tempo e lugar, será capaz de aplacar a sede de novas gerações e permitir o continuum do fluxo de uma civilização.
Giovani Thadeu Prezado prof.Arnoldo, eu que venho da filosofia(UFRGS) e estudei a questões de estética , hoje frequentando algumas cadeiras da educação e também como eles chamam de arte aquilo que se pretende arte é bastante confuso o conceito e acredito não chegarmos a um acordo. Sendo que o próprio Sócrates chama o artista de copiador da natureza e que na outra ponta temos Nietzsche que diz"temos arte para não morrermos da verdade". O mundo mudou substancialmente, principalmente depois da evolução da internet e meios virtuais. Meu ex sogro Clóvis Peretti, foi pioneiro a produzir no RS arte digital,dava uma trabalheira medonha em computadores rústicos Macintosh, tinha que saber dominar a linguagem do computador e depois disso de como passar a gravura para impressora, na exposição dele, seus colegas não entenderam, acharam que era só fotografar e imprimir, o que o deixou um pouco frustrado, mas não se deixou abater porque entendia o raciocínio dos colegas,meu sogro foi sempre avantgarde vindo a ser também o primeiro no estado a trabalhar em acrílico. A lição que aprendi, a arte é fruto do seu contexto histórico e portanto dinâmica, nem sempre a história é justa com seus artistas. Meu ex sogro odiava marchands, ganhou premio nacional em Brasília, entre vários gaúchos conhecidos do mercado,saindo matéria na capa da revista Manchete de 1967, com todos estes gaúchos. Mas ele ficou à margem por vários motivos, minha ex sogra quis doar o acervo, que foi devorado por traças, para a a faculdade da UFRGS e a resposta foi de que não havia lugar para armazenamento. Bem existe, uma estátua em metal na entrada do prédio da Administração de autoria dele, que minha ex sogra deu ao afilhado que é professor lá.O que é arte, é e sempre será uma pergunta sem resposta.
CloVis PERETTI no MARGS
Leia e veja mais em: :
PRESSER, Décio et ROSA, Renato. Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul. (2a ed) Porto Alegre :
Editora da Universidade/ UFRGS, 2000, 527 p.
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