O MINISTÉRIO das ARTES:
outro projeto muito a frente da mentalidade do seu tempo.
Origem da imagem: Círio José SIMON – 05.08.2010
Fig. 01 - Alvorada em Brasília
Esplanada dos Ministérios e do Congresso vistos da Torre
O Ministério das Artes teve um projeto temporão, em Porto Alegre. A sua proposta ocorreu na euforia da concretização do arrojado projeto de Brasília, que surgia, na época, da poeira de sua origem. O projeto Ministério das Artes foi debatido, mas não aprovado, no 1º Congresso Brasileiro de Arte[1] que se realizou em 22 de abril de 1958, enquanto se construía a nova capital. O Congresso reuniu-se para celebrar o Cinqüentenário do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul e era secundado pelo 1º Salão Pan-Americano de Artes[2],
“Um dos pontos importantes do Congresso foi a tese apresentada pela direção do Instituto de Belas Artes com recomendação para a formação de um Ministério de Artes, tese esta não aprovada pela maioria dos participantes”.
Revista do Globo, nº 716, p. 82
Buscam-se , aqui, entender a não aprovação deste Ministério das Artes e adicionar estudos e argumentos para abrir caminho para a transformação, deste tabu, em potencial totem.
[1] - Boletim nº 1 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, Boletim nº 2 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, Boletim nº 3 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, 1º Congresso Brasileiro de Arte: recortes L Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS)
[2] - Catálogo do Iº Salão Pan – Americano de Arte abril-1958-maio + Catálogo do 7º Salão do Instituto de Belas Artes, Ata livro nº IV do Cons. Técnico Administrativo (CTA) do IBA – Conferir no: Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS
Revista do Globo, ,nº 716, pp. 81
Fig. 02 - 1º Congresso de Artes do Brasil
“Intelectuais de todo o Brasil se reúnem em importante conclave. Não foi aprovada a proposta para a formação de um ministério congregador das Artes”
A proposta do Ministério das Artes ainda permanece potencial e se concretizado acrescentaria mais forças para o projeto civilizatório compensador do Estado nacional brasileiro. No campo das artes este Ministério constituiria um incentivo às administrações dos estados regionais e municipais, além de corrigir os silêncios e os equívocos que a criação do Ministério da Cultura provocou e continua a provocar.
A forma atual dos Estados Nacionais partiu do Iluminismo. A sua lógica foi sustentada pela infra-estrutura da era industrial. Era que consagrou a clássica estrutura tripartite do Legislativo, Executivo e Judiciário[1]. O Executivo, seguindo a lógica industrial, dividiu as tarefas na forma de ministérios. O Ministério da Cultura ganhou o seu pleno sentido na medida da industria cultural e das suas tecnologias.
[1] - No caso da linha de montagem da indústria corresponde aos três ambientes distintos dos implementos ( legislativo), transformação (executivo) controle 9judiciário) e expedição.
Revista do Globo, nº 716, pp. 83
Fig. 03 - Uma Comissão do 1º Congresso de Artes e Érico Veríssimo.
No momento em que há necessidade da proposta e de criação de algo novo e inédito este espaço compete à Arte.
A Cultura multiplica a Arte que é a sua origem, ao modelo da Tecnologia que possui o papel de conferir forma e multiplicar a Ciência.
Há necessidade de um projeto coletivo para orientar o considerável, o crítico e o insubstituível potencial humano disponível na era pós-industrial. Pois, nesta era, a Tecnologia necessita apenas 3% da força de trabalho humano para operá-la. Nesta era a humanidade ingressa no universo do lazer. O projeto coletivo, nestas circunstâncias, se materializa em medidas objetivas e institucionais. Nestas medidas nada melhor, para esta nova infra-estrutura, para um Estado nacional do que um novo e eficiente Ministério das Artes competente para administrar as circunstâncias deste projeto coletivo.
Origem da imagem: Círio 2010
Fig. 04 - A ARTE e sua INFRA-ESTRUTURA
Três estágios
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Roma tentou desviar com a sua política do PÃO e CIRCO a pressão exercida por 50% de sua população ociosa, que vivia entre os seus muros. Evidente que foi uma política que nenhum patrício, senador ou empreendedor estava preparado para administrar e nem para medir as consequências desta política improvisada. A proliferação dos aproveitadores desta situação espelhou-se num mundo de empresários do espetáculo e cujas formas mais agudas foi buscada na antiga tradição dos espetáculos dos gladiadores e corrompido no seu sentido original.
Em Porto Alegre as políticas públicas e privadas - implementadas sob a forma de projetos de incentivos e conselhos de cultura - foram imediatamente cercadas e aliciadas pelos empreendedores que as domesticaram na forma da lógica que lhes é peculiar para administrar a indústria cultural.
Arquivo pessoal Círio Simon - 1968
Fig. 05 - Inauguração da exposição de Clovis Peretti na 1ª Galeria Didática de Porto Alegre
Clovis Peretti [1], Edmundo Gardolinsky [2], Ir. Arnaldo Isidoro [3], Yunes Jorge [4], Aluísio Filho [5], Paulo Peres [6], Roberto Cidade [7] e Círio Simon [8]
O que restou dos antigos Estados nacionais, no século XXI, perdeu o recurso aos seus grandes projetos civilizatórios compensatórios originais. Os manifestos fundantes destes antigos Estados nacionais tornaram-se obsoletos e foram privados de qualquer compromisso que nascia da força da delegação contratual do seu poder de origem. Contrato que o cidadão individual realizava com o Estado, ao abdicar do exercício da violência do “olho pelo olho”.
A retomada, neste panorama, da competência do Estado nacional, regional e municipal passa, necessariamente, pela consideração séria e objetiva do papel prático e simbólico das artes. Papel no qual a cidadania e a iniciativa privada são complementares e coerentes com a República brasileira. A arte, quando conta com um Ministério especifico, pode institucionalizar e criar gradativamente Secretarias de arte nos governos regionais e municipais como formas de incentivos mais próximas, objetivas e praticas de cidadania.
Evidente que é necessário contornar o Estado Nacional monólito, hegemônico e dono de todas as iniciativas para instaurar a circulação coerente entre o poder originário do Estado Nacional e deste, o retorno potencializado, para a sua fonte. Esta circulação é potencialmente possível a partir dos meios da democratização das informações disponíveis no século XXI.
Estes meios de informação, como aqueles dos quais este blog se vale, democratizam as informações e arejam o campo das artes. Campo, que entregue às leis darwinianas da seleção primária das espécies mais fortes e adaptadas que o jovem encontra no seu mundo e ocupado pela indústria cultural. Secundado, pela vontade política de um Ministério das Artes, será possível, no outro extremo, a institucionalização das forças criativas locais, regionais e nacionais. Sem a garantia continuada de uma política estatal, que se materializa num dos seus órgãos, o papel do jovem será apenas massa de manobra e trabalho que muitas vezes resvala para o trabalho escravo. Para este jovem, sem a possibilidade de expressar e garantir a sua vontade política, esta cultura não possui sentido e constitui um reforço do antigo que não consegue introduzir algo novo do qual ele é portador.
Arquivo pessoal Círio Simon - 1968
Fig. 06 - No Atelier no Colégio São João
O MINISTÉRIO das ARTES como GARANTIA ESTATAL da FORMAÇÃO INSTITUCIONALIZANDA por MEIO da ARTE
Ao considerar a política atual das esferas publicas em relação à formação do artista, o mínimo que se pode dizer, é que estes projetos de formação são eventuais e duram enquanto subsistem meios. Para levar adiante e reproduzir projeto civilizatórios compensadores da violência, há necessidade de inteligência, de vontade continuada e o direito garantido por instituições confiáveis, duráveis e transparentes para quem se aproxima e confia nelas.
No retrospecto desta política, foi clássica e elogiávela a intervenção do Estado brasileiro, para transitar da condição colonial para a Independência. Contudo esta política não foi mantida, reproduzida e vivificada institucional e administrativamente no Império e na República brasileira.
A clásiscica e elogiável Missão Artística Francesa foi um típico esforço direcionado para este projeto civilizatório compensador. Apoiado e mantido pelo incipiente Estado Imperial este projeto tornou-se obsoleto e pereceu no interior da máquina administrativa imperial e reduzida a um ponto mínimo no imenso território e cultura brasileira. Se o ato que o Estado Real praticou, no dia 12 de agosto de 1816, tivesse sido mantido por uma Secretaria ou Ministério Imperial específico para as artes, certamente teria sobrevivido e se reproduzido nas Províncias imperiais e, depois, no âmbito do Estado Republicano brasileiro. As Artes teriam um ponto de apoio para a formação de agentes qualificados para atuar nas comunidades e comarcas dos Estados Regionais. Certamente a intenção original era esta. Contudo reduziu-se à uma frágil Academia à qual faltava o suporte institucional específico de um órgão governamental coerente com as forças deste campo da civilização. Com o suporte institucional coerente a Arte não teria sido tratada como uma peteca, jogada do Ministério da Justiça, para o do Interior e deste para o Ministério da Educação e Saúde Pública e depois ser grosseiramente confundido com um “saco de gatos” do genérico Ministério da Cultura, sem força política respeitável e um parco orçamento pulverizado.
Revista do Globo, nº 716, pp. 85
Fig. 07 - 1º Salão Pan-americano de Artes em 1958.
A representação da Argentina
Este modelo de abrangência regional foi tentado no Rios Grande do Sul, no dia 22 de abril de 1908, quando o Executivo estimulou e acompanhou a formação do Instituto Livre de Belas Artes do RS tendo vértice uma Comissão Central e 65 Comissões Regionais espalhadas em todo território estadual.
Ministério das Artes.
As forças do campo das Artes ganham sentido e visibilidade na medida que concebem projetos e conseguem expressar circunstâncias da sua autonomia. Um projeto de um ministério das artes - nestas expressões das circunstâncias de autonomia - privilegia a criação original distinguindo-o do âmbito da cultura que já nasce consumida.
No entanto estes projetos podem não chegar ao mundo prático. Isto não os invalida estas expressões de autonomia da arte, pois estamos tratando do mundo simbólico que pode se materializar em tantas outras manifestações físicas.
O projeto que estamos estudando, o Ministério de Artes temporão, não chegou ao mundo prático, tanto por fatores externos, na oposição que lhe fizeram os intelectuais do centro do país, como as incoerências e incompreensões internas da Instituição proponente [1].
Contudo as tarefas práticas para um Ministério das Artes o Brasil vão se acumulando muito antes de sua criação institucional e administrativa. No momento presente um Ministério das Artes aponta para a tarefa prática de garantir a educação, continuada e administrativamente ao nível estatal, de profissionais numa Universidade específica das Artes, contratando-os e lotando-os, depois de sua formação, no campo onde as Artes exercem as suas forças. Profissionais qualificados, até para estudar e manter, por exemplo, aquilo que os eventos da indústria cultural costumam descartar, como se percebe nas obras da Bienal do Mercosul displicentemente abandonadas em parques[2].
[1] No interior do IBA-RS próprio Ernani irá propor, nesse meio tempo, a solução pela qual se distinguia e separava Arte da Arquitetura, através da criação da Faculdade de Arquitetura, sob a vigilância dos engenheiros, da iniciativa da URGS e separada do IBA-RS que estava fora da universidade.
[2] Obras sem identificação e sem possibilidade de cobranças da parte do cidadão comum, pela falta de responsabilidade daqueles que os deixam nestas condições.
Origem da imagem: Círio 2010
Fig. 08 - OBRAS sem IDENTIFICAÇAO PÚBLICA e sem MANUTENÇÃO.
Parque Marinha do Brasil – 2010 - Porto Alegre.
Alguns sentidos para uma Universidade das Artes
mantida por um Ministério das Artes estatal.
As propostas do Ministério das Artes e da respectiva Universidade das Artes fazem sentido cada vez mais atual e acumulam argumentos a seu favor. Neste sentido é possível enumerar e considerar que:
1) Dificilmente o campo das Artes não tangencia algum dos saberes superiores. Como no contrário, as forças das Artes são impulsionadas por todos os saberes de uma Universidade. No caso do IA-UFRGS ele surgiu, em 1908, pela do que de melhor possuíam em todos os saberes ativos e já institucionalizados em Porto Alegre nesta época.
2) Com a recente democratização dos saberes, o número cada vez maior de universitários exige a competente diferenciação das suas escolhas para a mais ampla formação de cada um dos seus estudantes. Contudo os estudantes do nível superior de todos os saberes podem vislumbrar, do patamar seguro e autônoma das Artes, tomar decisões de vida e optar por veredas em todas as direções significativas na amplidão da nossa atual civilização.
3) A atual política estatal da implementação dos Institutos Tecnológicos Federais autônomos das Universidades é outra porta aberta para que a Arte possa apresentar, implementar e manter instituições, também autônomas, que possuem as motivações da Arte no seu vértice institucional e administrativo.
4) O IA-UFRGS nunca deixou de ter vestibular próprio e específico em Artes. Mais do que qualquer outra área o saber da Arte impõe e necessita ser cultivado do berço até os últimos dias da existência humana. No caso de estas manifestações da Arte serem cultivadas por um simples lazer ou como ocupação passageira, estas manifestações deslizam para vala comum da cultura.
5) Na falta total de interação do Ministério da Cultura com as universidades brasileiras, percebeu-se numa honesta contabilidade, que até o momento, que este Ministério não teve êxito numa interação com aquelas instituições superiores, mesmo com aquelas que possuem as Artes na sua competência.
6) O aparente fracasso da tese do Ministério da Cultura- reforçado pelo nítido cabresto que lhe imposto pela Indústria Cultural – aproxima as manifestações culturais mais ao papel de uma Secretaria do Ministério da Indústria e Comércio do que do campo criativo das Artes. Este campo de forças distingue-se em relação à cultura e à educação. Estas últimas são coerentes com a eclética e xifópaga estrutura que se denominou Ministério de Educação e Cultura (MEC), a partir de 1953[1].
As Artes necessitam buscar o direito que as forças potenciais do seu campo possuem. Potência para promover uma civilização mais digna, mais humana e mais duradoura. A cultura atual impõe esta necessidade diante do que é explicitado pela ruína, proveniente da falta de inteligência e de vontade para além da natural entropia e obsolescência a que todo projeto humano está submetido.
UM MINISTÉRIO das ARTES nas ATUAIS CIRCUNSTÂNCIAS.
A proposta do Ministério das Artes, de Tasso Corrêa, não foi arroubo de um instante, em 1947. Ele acalentou por mais de uma década este projeto. Pois o fez figurar como tese central do Primeiro Congresso de Arte, de 1958, e fruto do que ele cultivou e não escondia de ninguém[2]. Esta tese foi pensada e lançada para todo o Brasil propondo este Ministério como mantenedora estatal do campo de forças das Artes e por tempo indeterminado.
No contraditório do pensamento de Tasso Corrêa - inteiramente ancorado na esperança do Estado Nacional - há necessidade de algumas atualizações. Nas circunstâncias do início do século XXI, percebe-se que os antigos Estados nacionais abdicaram dos grandes projetos civilizatórios compensatórios que foram a sua motivação, fonte e origem, ou tornaram obsoletos. A possibilidade atual - de retirada de cena deste tradicional agente da civilização dos últimos dois séculos - impõe projetos alternativos urgentes para esta carência ou então criar um projeto da reciclagem deste Estado nacional coerente com os novos tempos. Nesta coerência não se trata de promover mais uma das tradicionais queimas de etapas, em nome estes Estados nacionais, como acontecia no passado, ou de emitir mais um manifesto carente de compromissos.
[1] - Antes, em 1930, MESP – Ministério de Educação e Saúde Pública e depois MES Ministério de Educação e Saúde.
[2] - Pode-s supor que o pedido precipitado de aposentadoria, neste mesmo ano de 1958, quando ele estava dispondo o seu nome para mais um mandato, tenha um das suas raízes neste NÃO , para a sua tese, e recebido neste Congresso.
Foto Círio Simon 28.08.2010 sábado – 29h00
Fig. 09 - As CIRCUNSTÂNCIAS no INÌCIO do SÉCULO XXI.
Células numa estação de trabalho no mundo numérico digital num sábado de noite.
Trata-se objetivamente de olhar para imagem acima e perceber e, a partir desta percepção, conhecer, reordenar e implementar os instrumentos administrativos coerentes com as circunstâncias nas quais se encontra a atual criatura humana. O conhecimento e a incorporação de todos os saberes que se acumularam nos andares, que dão suporte a este 21º pavimento, supõe complexas relações deste prédio com toda civilização. A circulação deste saber comandada pela Informática encontra incorporada, minimizada e otimizada a linha de montagem e toda infra-estrutura anterior. Esta por sua vez afasta o fantasma maltusiano do esgotamento dos recursos naturais.
Quando, no século 21, as nações que antes eram inscritas nas fronteiras que as reservas de mercado lhe impunham, agora é lhes possível avaliar o gesto de um estado regional que promoveu em 1958, um Salão Pan-Americano. Carente de um Ministério das Artes esta interação multilateral das artes torna-se, senão impossível, mas, se realizado, corre sérios riscos de novas hegemonias culturais estéticas exercidos não por países mais fortes, mas mais aptos para impor as obras dos seus artistas.
Neste momento não há como esquecer o grande e incomensurável potencial da criatividade humana. Esta vem sendo mais bloqueada pelos esqueletos dos Estados arcaicos e construídos com esforços sobre-humanos na era industrial que, por sua vez, se tornou obsoleta. Contudo não há necessidade de implodir estas estruturas obsoletas. Uma adequada política de reciclagem e que coloque num lugar privilegiado a criatividade humana garante este renascimento.
Nesta direção o passo da política estatal, ainda é a criação e a manutenção do seu MINISTÉRIO das ARTES.
O que o 1º Congresso Brasileiro de Artes efetivamente aprovou, talvez venha a fazer sentido, se for somado à proposta da Direção do Instituto de Belas Artes do Rio Grade do Sul:
“Nesta conjuntura dramática da História, em que o Homem se vê ameaçado na sua liberdade e na sua integridade tanto intelectual como moral e mesmo física pelas forças da intolerância e da opressão desencadeadas por uma concepção mecânica e utilitária da vida, cujos valores supremos são o poder político e o êxito material, neste momento de angústia e incerteza em que a criatura humana corre o risco de transformar-se num mero número nos frios arquivos do Estado totalitário – os artistas, escritores, professores e estudantes reunidos em porto Alegre, afirmam sua fé e a sua esperança nos altos destinos da Humanidade e na força criadora e dignificadora da Arte e das Ciências, que só poderá sobreviver num clima de paz e liberdade”.
Revista do Globo, nº 716, p. 82
Certamente não era o que Tasso Corrêa esperava naquele momento. Contudo a não menção e aprovação de um Ministério das Artes, tolheu antecipadamente mais um instrumento de propaganda subliminar das ideologias das forças em confronto na Guerra Fria e os fantasmas que se concretizaram, no Brasil, em 1964. Um tal ministério das Artes poderia ser usado formalmente como pele de ovelha para encobrir, conseguir[1] e perpetuar os objetivos sinistros que o Manifesto nomeia. Contra estas forças subliminares, sente-se, neste Manifesto das Artes, a mão Érico Veríssimo e as teses pacifistas e civilizadas que perpassam as páginas do seu “Tempo e o Vento”.
Chega-se à conclusão de que a universidade e do ministério das artes constituíram exercícios de expressão de autonomia do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul. Expressões provenientes da mentalidade necessárias às forças do campo das artes que assim usufruíram a visibilidade e o sentido ao longo de uma década.
Fontes
Boletim nº 1 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, Boletim nº 2 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, Boletim nº 3 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, 1º Congresso Brasileiro de Arte: recortes L Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS)
Catálogo do Iº Salão Pan – Americano de Arte abril-1958-maio + Catálogo do 7º Salão do Instituto de Belas Artes, Ata livro nº IV do Cons. Técnico Administrativo (CTA) do IBA – Conferir no: Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS
FONSECA, Joaquim - Iº Congresso de Artes – Revista do Globo Porto Alegre : Globo, Ano XXIX ,nº 716, pp. 81 a 83 17 a 29 de maio de 1958 Fotos Thales FARIAS.
FONSECA, Joaquim – Primeiro Salão Pan-Americano de Artes – Revista do Globo Porto Alegre : Globo, Ano XXIX ,nº 716, pp. 84 a 87. 17 a 29 de maio de 1958 Fotos Thales FARIAS
[1] - A experiência das Artes nos períodos autoritários é que não faltam encomendas. Nesata épocas os mais competentes criadores são tentados e cooptados para produzir um pseudo arte para encobrir os horrores que são descobertos depois de passagem deste regimes. Ao longo do regime nazista, do fascista e do falangista houve encomendas dos respectivos Estados que os regimes democráticos não teriam a temeridade de encomendar e financiar. O regime Militar Brasileiro não foi exceção a esta regra
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