A UNIVERSIDADE das ARTES em PORTO ALEGRE:
uma idéia a frente do seu tempo.
Origem da imagem: Arquivo do Instituto de Artes-UFRGS
Fig. 01 - Projeto do conjunto da UNIVERSIIDADE das ARTES
Perspectiva de Fernando Corona– julho de 1947
As forças do campo das artes ganham visibilidade e sentido na medida das suas expressões de autonomia que conseguem representar para si mesmas e que as fazem circular no ambiente social e cultural.. O Instituto de Belas Ares do Rio Grande do Sul manteve vivas as expressões da universidade e do ministério das artes, ao longo de uma década,.
A universidade é uma das raras criações da cultura ocidental, conforme Max Weber. A universidade, apesar de sua origem humanista, cresceu e se expandiu na carona do mundo tecnológica da era industrial e agora vive e encontra-se face à era pós-industrial. A universidade girou e foi movida pelo cultivo das Ciências, ao longo da era industrial, motivada pela lógica da linha de montagem que exigia Tecnologias apropriadas para nascer, desenvolver-se e reproduzir-se. Este fato gerou o seu alinhamento em núcleos profissionalizantes. A era pós-industrial fragmentou este núcleo da linha de montagem e as motivações lineares e unívocas. Esta fragmentação recentemente impôs especificidades cada vez mais diferenciadas abrindo espaço para a criação, manutenção e reprodução das universidades de arte [1].
O notório o atraso da constituição da universidade para todo o território da nação brasileira.
A década de 1920 assistiu a lenta gestação de novos paradigmas para existência dos cursos superiores brasileiros no meio de inúmeras efervescências políticas, militares, econômicas, técnicas e artísticas. No final, esse ideal ganhou forma de associações com o objetivo de gerar a consciência universitária. Em nível nacional o movimento universitário foi desencadeado e sustentado pela Associação Brasileira de Educação (ABE) que realizou dois congressos para essa finalidade. Olinto de Oliveira foi consultado para expor as suas concepções para criar a nova realidade dos cursos superiores. Ele gozava de grandes competências para este parecer, pois era o fundador da Faculdade de Medicina, do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul de Porto Alegre e, em 1928,residindo na capital federal.
No Rio Grande do Sul a iniciativa foi da Federação Acadêmica de Porto Alegre constituída no dia 14 de julho de 1930. No Instituto de Belas Artes, os membros da Comissão Central e que eram docentes favoráveis à criação da Universidade, começaram a introduzir lentamente elementos que levariam o Instituto na direção da Universidade. Ao ler o Estatuto aprovado no dia 16 de dezembro de 1927 é possível surpreender elementos que são característicos da universidade getulhista e distintos do Estatuto de 1908. Assim foi nomeada e está explicita a Congregação dos Professores além de uma estrutura administrativa que lembra o futuro Conselho Técnico Administrativo (C.T.A.). Um dos juristas lúcidos, que senta a mesa para redigir esse estatuto é o Desembargador Manoel André da Rocha, que será, dez anos após a elaboração desse estatuto, o primeiro reitor da Universidade de Porto Alegre. O dedo de outro jurista não pode ser afastado foi o de Getúlio Vargas. O estatuto de 1927 estava sendo redigido apressadamente para o seu antecessor. O objetivo era incluir Antônio Borges de Medeiros entre os beneméritos do Instituto, ao lado de Carlos Barbosa e Olinto de Oliveira. Como patrono e protetor[2] do Instituto, Getúlio seria o candidato natural para a próxima inclusão do seu nome.
[1] O Brasil não será o pioneira nas universidades de artes, pois na Inglaterra ela já existe existe, na prática, a partir de 1986 e possível acessar em http://www.worldlingo.com/ma/enwiki/pt/University_of_the_Arts_London
[2] - Getúlio Vargas, como presidente do Estado, foi escolhido como paraninfo em 1928 dos formandos do Instituto e participou efetiva-mente, como tal, das cerimônias de colação de grau no Theatro São Pedro. A imagem faz parte do quadro de formatura.
Fig. 02 - Logo da UFRJ[1]
A universidade brasileira surgiu sob os efeitos de Revolução de 1930, como forma de reagir à pressão dos novos tempos, diante de uma nova política e da criatividade necessária em momentos de crises e contradições. Com as dores dessa crise ela nasceu do cérebro latejante de Zeus inteira, guerreira e na busca da verdade. O caso do surgimento da USP é exemplar nesta forma de transformar o tabu da derrota da Revolução Constitucionalista de 1932, em totem do saber.
Muito antes da Revolução de 1930, o vice-presidente do Estado do Rio Grande do Sul já havia escrito e publicou, no dia 22 de abril de 1908, que o Instituto de Belas Artes era:
“resultado lógico do evoluir da civilização rio-grandense, o Instituto pairava latente na ordem natural das cousas. [...] Tínhamos já a escola de engenharia, a faculdade de medicina e mais a de direito. [...] E o complemento necessário das ciências, como é sabido, são as letras e as belas artes. [...] A primeira diz respeito as concepções fundamentais que guiam o exercício universal da razão humana e a segunda refere-se às faculdades de expressão [...] A arte em geral é a tradução sensível do estado do espírito, feita de um modo exato, perfeito e belo, pela atividade filosófica do mesmo espírito. [...] As belas artes dirigem-se de preferência ao sentimento e suas obras tem por objeto satisfazer o gozo de uma contemplação especulativa. [...] A fundação do Instituto, tendo a dita de ver desde logo amparada pelos melhores elementos da sociedade gaúcha tão louvável iniciativa semente selecionada que um solo feraz e abençoado recebe, fecunda e germina com amor, para desdobrar amanhã, em vasta fronde benfazeja...[...], juntamos os nossos aplausos humildes às palmas que por todos os recantos da terra ilustre de Araújo Porto Alegre, reboam uníssonos, em torno do notável empreendimento”.
TOPSIUS [ Pseudônimo de Juvenal Miller[2]] Correio do Povo – Porto Alegre, dia 22 de abril de 1908.
Neste texto percebe-se que o paradigma universitário brasileiro não era indiferente ao ensino, a criação e a difusão da arte. De fato, a arte não escapou ao modelo universitário, apesar das históricas diferenças dos demais cursos superiores que esse paradigma desejava incorporar. As diferenças iniciavam nos próprios concursos de ingresso. O Instituto de Belas Artes repetia as exigências mínimas como aquelas vigentes já em 1855 na Academia Imperial
“Os alunos que pretendiam ingressar na Academia precisavam apenas saber ler, escrever e contar, conforme os Estatutos de 1855. A razão, dessas diferenças, está no fato do ensino das belas-artes, não garantir aos formandos o privilégio de ocuparem cargos na burocracia do Estado, nem exercerem profissões liberais controladas por entidades corporativas”
Cunha, 1980, p. 105
Evidente não era a universidade escolástica medieval, onde a arte designava uma série de saberes[3], menos a arte praticada por pintores, escultores ou arquitetos. As instituições, reformuladas ou criadas a partir dessa data, forçam os seus agentes a adotar a linha de montagem na formação dos novos agentes de arte contra o velho estamento manipulando o poder simbólico e proveito de sua própria estética, sobrevivendo à mudança do regime imperial para o republicano.
“A Academia Imperial de Belas Artes, Escola Nacional de Belas Artes após a República.. , como outras instituições criadas ou reformuladas no período .. foram modernizações institucionais que garantiam a permanência no poder, das oligarquias do Império até 1930. As alterações, no ensino artístico com a república também tiveram esta característica, adotaram inovações técnicas, mas o ensino continuou fundamentado em normas clássicas”
Arantes do Vale, 1997, pp.362/3
A Revolução de 1930 quando chegou ao Rio de Janeiro, colocou à frente da ENBA o jovem arquiteto-urbanista Lúcio Costa com as conseqüências conhecidas. Esses conflitos visualizam e reforçaram as velhas e consagradas oligarquias administrativas do campo artístico.
Em Porto Alegre a Comissão Central do IBA-RS, apesar da ‘solidariedade do Instituto na hora memorável’ a Getúlio Vargas, continuou a apostar e agir na lógica da inércia do sistema que tinham criado, para o seu controle, em 1908 e que, certamente imaginavam ‘durar por tempo indeterminado’. O Instituto Livre de Belas Artes, que a Comissão Central do IBA-RS mantinha, tornou-se uma amostra acabada contra as alterações institucionais que a Revolução de 1930 e que a sua universidade, vinha trazer ao cenário da institucionalização da arte.
Deve-a também à Revolução de 1930, a reunir os mais diversos saberes, que até aquele momento viviam separados e autônomos na figura de uma única universidade e sob uma única lei. Esta lei geral (Decreto nº 19851 de 11 de abril de 1931), abria também uma larga porta para a iniciativa privada,.
Para o atraso, encontra-se um cortejo de explicações e de desculpas. Com este atraso é natural que semente plantada em 1931 demorasse muito para nascer, crescer e frutificar em todos este vasto, desconcertante e diferenciado território nacional
Além do mais esta lei praticava a façanha de incluir a arte na sua estrutura, talvez pela novidade do terreno e de arrojo de que estava plantando esta semente. Esta semente, 16 anos após a efetiva criação do paradigma da universidade para o Brasil, estava se cogitando, em Porto Alegre na criação da Universidade das Arte.
O IBA-RS propõe a UNIVERSIDADE das ARTES.
O sonho de maior envergadura da administração Tasso Corrêa foi da Universidade de Artes do Rio Grande do Sul, que ficou evidentemente no plano das virtualidades.
[1] - Logo da UFRJ em http://en.wikipedia.org/wiki/File:UFRJ-Minerva.png
[2] TOPSIUS - Juvenal Octaviano Miller (*Rio Grande, 13 de outubro de 1866 + Rio de Janeiro, 9 de setembro de 1909) foi um político, militar e escritor brasileiro. Fundou a Escola de Engenharia de Porto Alegre. Em sua vida literária redigiu a “Denúncia”., órgão republicano da Escola Militar. Colaborou com a Revista Acadêmica da mesma escola. Escreveu para o Correio do Povo sob o pseudônimo de Dr. Topsius. Publicou em 1898, uma novela intitulada “Professor” que teve grande aceitação na época. Carlos Barbosa o indicou, em 1908, como Vice-Presidente do RS vindo a falecer no ano seguinte
[3] - “As artes, no contexto da universidade medieval, eram a Medicina, Filosofia, Astrologia e Matemática” Souza Campos, 1954, p.91
Origem da imagem: Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS
Fig. 03- Projeto da Reitoria por Fernando Corona– julho de 1947
Direção, docentes, estudantes no Sem
Tasso traduziu nesse projeto, em mais uma expressão de autonomia do campo das artes. Ao longo de toda a sua gestão Tasso deu visibilidade aos muitos projetos com que ele alimentou para dar corpo à teleologia imanente do Instituto. O diretor do Instituto foi ajudado pelo professor Fernando Corona que elaborou detalhadas de plantas e perspectivas do prédio dessa Universidade de Artes. Ela ocuparia todo o lado par superior da rua Senhor dos Passos e tendo ao centro e, como âncora, o prédio inaugurado em 1943, funcionando como uma reitoria. A parte inferior da rua seria ocupada por um Auditório–Teatro, sendo proposto como o “teatro municipal” de Porto Alegre para 1.800 cadeiras e com um palco de 180 m2, com a boca de 20 metros e a ser construído e administrado pela Prefeitura Municipal. Em correspondência ao governador[1] da época, Tasso escrevia “Esclareço a V. Excia, que a segunda parte da ampliação prevista – que se refere ao ‘Auditório – Teatro’ será proposta à Prefeitura Municipal, de vez que se trata de empreendimento de interesse imediato para a cidade”.
O lado par superior da rua deveria ser ocupado por uma Pinacoteca e pelo Museu de Arte do Rio Grande do Sul[2]. O prédio da rua Riachuelo n° 1.285, abrigaria a Escola de Dança e de Bailados[3], segundo um projeto de Ernani Dias Corrêa.
[1] - Correspondência do dia 24.09.1947 de Tasso Corrêa para Walter Jobim
[2] - Ante-projetos da ampliação do IBA-RS
[3] - IBA: Ernani Corrêa: prédio: Riachuelo, nº 1285 e IBA: Ernani Corrêa: prédio: Riachuelo, no1285CD-ROM - Disco 6 - IMAGENS. .
Origem da imagem: Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS
Fig. 04 - PROJETO da UNIVERSIDADE de ARTES -1947.
Planta de localização com as linhas de bondes
. Fernando Corona escreveu, em relação ao ano de 1947, no seu Diário (folhas 549 a 553)
“Volta a Porto Alegre e recomeço de aulas no mês de março Tasso Correa havia conseguido no Ministério da Educação uma subvenção de 2 milhões de cruzeiros. Nossa idéia imediata foi a de comprar a velha casa de nº 256 com 8.80 m. de frente pelos metros de frente da nossa sede construída e inaugurada em 1943, com 8.40 m. de frente. Era muito estreito e precisávamos de expansão. Fiz o projeto de ligação interna e a mesma sequência arquitetônica externa. Iniciamos a obra logo com a firma José Maria Carvalho e o Eugemiro Moreira nossos amigos e cálculos de Ivo Wolff. Enquanto isso eu sonhei mais longe. Imaginei uma obra desapropriando 4 casas velhas para a esquerda da Rua Senhor dos Passos até encostar na velha Igreja Protestante. Para esta parcela de terreno imaginava eu um Grande Teatro Auditório com capacidade para 2.000 pessoas, com salas de ensaios camarins e todo o conforto e técnica moderna para uma grande sala de espetáculo. Não satisfeito só com isso imaginei subir para a direta. Para a esquerda a área de terrenos seria aproximadamente de 1.400 m² das casas nº 214, antiga sede de uma Sociedade Alemã e agora propriedade do Estado e os nºs 228, 230, 232 e 240, esta ao lado do IBA. Em direção à Praça Dom Feliciano, existiam as casas de nº 256, 264 e 280, esta até a esquina com entrada pelo nº 14. O total em área seria de 620 metros aproximadamente. Para este lado, à direita do Instituto, alem da ampliação em 8.80m para o ensino da Escola, imaginei um Museu de Belas Artes com muita luz e salas de restauração e laboratórios. Estudei bem o projeto e fiz uma perspectiva das fachadas vistas da Praça Dom Feliciano. Tasso Corrêa ficou entusiasmado e tratou que fosse aprovado pela Congregação da Escola. O que foi feito. Tasso se apropriou da idéia a passou a ser dele embora o sonho fosse meu. Eu não me importei porque toda a minha vida foi de desprendimento e de sonho com a única ambição de ver o sonho realizado. Tasso tratou logo de fazer publicidade. Chamou um repórter do Correio do Povo e sem poder precisar o dia em quase meia página foi publicada a reportagem acompanhada de um chichê das fachadas em perspectiva com esta legenda ao pé: “Uma eloquente visão das futuras instalações do Instituto de Belas Artes. O projeto, da autoria do Prof. Fernando Corona, consta de três corpo distintos, formando um harmonioso conjunto de linhas modernas. Ao centro, a Escola, que terá juntamente o dobro da atual edificação: ao fundo, ao lado da Igreja, o grande Teatro-Auditório; e no primeiro plano o Museu de Belas Artes, com três galerias e frente para a Praça Dom Feliciano. Para a execução desse importante empreendimento, de elevado sentido cultural, o IBA conta com o apoio dos poderes públicos.” Palavras de Tasso ao jornalista: “Presentemente o Instituto de Belas Artes é uma verdadeira universidade de Belas Artes, reunindo quase todo o ensino artístico, com seus cursos completos de música, pintura, escultura, Arquitetura e Urbanismo*, com uma frequência de cerca de 600 alunos. A não ser a duplicação da escola conseguida com recursos do governo federal, nem o Teatro – Auditório nem o Museu não puderam ser construídos por falta de desapropriação dos prédios velhos: A Secretaria das Obras Públicas do Estado alegou falta de recursos e pouco interesse ouve pelo titular Dr. Eng. José Batista Pereira. O sonho desmoronou. Embora o projeto tivesse parecer favorável dos técnicos da Secretaria da Educação e Secretaria das Obras Públicas do Estado para imediata desapropriação, esta não chegou a ser consumada. Guardo comigo originais e copia do grandioso projeto, porta aberta para uma futura universidade de Artes onde além da Musica, Pintura, Escultura, Arquitetura, Urbanismo, ja em plena função poderiam ser criados outros cursos como Balet, Arte dramática, orquestras de Câmera. Orfeões e Coros etc. com difusão através da Radio, Televisão e outros meios de expansão cultural. O sonho aí ficou enterrado mas ficou em mim a satisfação de haver pensado bem com meu companheiro de lutas Tasso Corrêa, ele, diretor e executor de idéias aparentemente ilusórias mas no fim idéias de cultura das artes em geral. Diariamente juntos conspirávamos em favor dos outros em termos de desprendimento, mais eu do que ele, pois, economicamente Tasso era e é homem rico enquanto eu viví sempre com os minguados haveres dos meus vencimentos de professor e algum que outro projeto de arquitetura sempre mal pago. Para mim não havia problema pois sabia viver honestamente sem ambições de dinheiro. Eu sim tinha ambições outras: as de poder realizar as obras por mim sonhadas. Apenas isso. Segui um lema que jamais reneguei. Primeiro os outros, depois eu. Ou este: É melhor dar do que pedir” .
Origem da imagem: Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS
Fig. 05 - Projeto da Escola de Arte Dramática e Dança de
Ernani Dias Corrêa– julho de 1947
Em terreno do IBA_RS na Rua Riachuelo nº 1,285 Porto Alegre - RS[1]
Na véspera do dia da República em 14.11.1947, o jornal Correio do Povo estampava as intenções de Tasso Corrêa que constitui mais um precioso fragmento das expressões de autonomia que se busca nesse trabalho da presente tese. Diz ele “se o Instituto de Belas Artes não voltar para a Universidade [...] promoveremos a sua transformação em Universidade de Belas Artes”[2]. No dia seguinte, Ernani Corrêa, retomou, no mesmo jornal, o tema da Universidade de Belas Artes, onde ele recapitulava a história ocidental da institucionalização do ensino da arte e da arquitetura:
“Percebe-se que houve um transporte dos conhecimentos seculares de arquitetura, desde a velha Europa, transmitidos pela Missão Francesa no Rio de Janeiro e daí por intermédio da Escola Nacional de Belas Artes ao Rio Grande do Sul, veiculados pelo Instituto de Belas Artes que no dizer de notáveis estrangeiros que nos visitam, é uma verdadeira Universidade de Belas Artes pela razão de abranger o ensino superior de Música, da Pintura, da Escultura, da Arquitetura e do Urbanismo”
(CORRÊA, Ernani,15.11. 1947[3],).
Essa proposta distinguiu arte em relação à cultura e à educação, sendo mais coerente que a eclética e xifópaga estrutura que reuniu educação, cultura e arte no Ministério que se denominou de Educação e Cultura (MEC), a partir de 1953[4]. Essa proposta de Tasso Corrêa, não foi arroubo de um instante, em 1947. Ele acalentou por mais de uma década este projeto. Pois, até 1958, ao lado do 1º Salão Pan-Americano de Arte[5], Tasso cultivou a idéia, quando a proposta da Universidade de Belas Artes, irá figurar como tese central do Primeiro Congresso de Arte[6] e foi lançada para todo o Brasil e que propunha como mantenedora estatal, a criação do Ministério das Artes.
A referência legal e a efetiva existência de um Ministério das Artes evitaria que esta planejada Universidade das Artes pudesse evitar as históricas armadilhas dos centros universitários, faculdades e Institutos nos quais as Artes vivem na heteronomia de saberes alheios ao seu campo de forças, ou, se não, na maior histilidada velada ou aberta. Administrações nas quais a Arte percebe-se constrangida a se constituir em irmã xifópaga ao estilo das numerosas escolas de "arte e comunicação", ou de "letras e artes"...etc.. Esta típica solução formal, da época da ditadura militar de 1964, não só caçou, na raiz, as imaginadas possibilidades subversivas de que a arte sempre veio carregada, mas, tolhida mesmo naquilo que os estreito limites que estas estruturas xifópagas permitem.
A "COLÔNIA de FÉRIAS FRANCIS PELICHEK" do IBA-RS
Enquanto o IBA-RS gozava de sua autonomia, ele planejou e iniciou as tratativas para a constituição de um Núcleo de Férias do Instituto de Belas Artes. O seu projeto foi elaborado pelos arquitetos Luis Fernando Corona e João José Vallandro para o Núcleo de Ferias do Instituto de Belas Artes na cidade de Farroupilha Este tema chegou ao CTA. desta forma:
“ No dia 04 de fevereiro de 1944 havia comunicado ao Conselho Técnico Administrativo do Instituto de Belas Artes que Pedro Grendene oferecera um terreno na cidade de Farroupilha ao Instituto para a construção de uma Colônia de Férias para o Instituto de Belas Artes ao modelo do núcleo de Barbison do século XIX na França e das práticas de Pedro Weingärtner e Francis Pelichek no Rio Grande do Sul. O negócio se efetivou depois. Os professores Tasso Corrêa e Fernando Corona possuíam casas de veraneio em Farroupilha
II - Núcleo de Férias - O senhor Presidente levou ao conhecimento do plenário que o senhor João Dico de Barros já havia lhe autorizado a receber parte d quantia de Cr$ 300.000,00 (trezentos mil cruzeiros) que prometia ofertar ao Instituto para a construção do “Núcleo de Férias do IBA” no município de Farroupilha e o Conselho aprovou a indicação do nome do professor Luis Fernando Corona para elaborara, sem ônus para o estabelecimento, o projeto dêsse Núcleo que deverá ser orientado de acordo com o seguinte programa : “Terreno acidentado: 50 X 60 metros. Salão com 120 metros quadrados para concerto, conferências, exposições etc..- lareira e Bar - Cozinha - Despensa - “Hall” comunicando com o Salão e Dormitório para moças - Dormitório com 10 camas (beliches) para moças - banho -rouparia - 2 (dois) apartamentos , digo , - Dormitório com 5 (cinco) camas (beliches) para 10 moços ( no porão) - banhos -rouparia - Dois apartamentos com saleta, quarto e banho - Parte coberta e terraço ao ar livre – Adega e churrascaria, no pavimento inferior – Apartamento para Zelador ( no porão) - Os beliches deverão ter armários individuais”
Livro III da ATAS do CTA reunião de 19.071955 f. 58v.
[1] - Este terreno foi depois alienado pelo IBA-RS ao Estado do Rio Grande do Sul que o continua usando – em 2010- como garagem dos veículos que servem as repartições publicas que estão situadas nos arredores da Praça Marechal Deodoro ( Matriz)
[2] - Tasso Corrêa in Correio do Povo 14.11.1947, p.7 (Recorte doa CATC).
[3] - Ernani Corrêa in Correio do Povo, 15.11.1947 (recorte arquivo do CATC).
[4] - Antes, em 1930, MESP – Ministério de Educação e Saúde Pública e depois MES Ministério de Educação e Saúde.
[5] - Catálogo do Iº Salão Pan – Americano de Arte abril-1958-maio + Catálogo do 7º Salão do Instituto de Belas Artes, Ata livro nº IV do Cons. Técnico Administrativo (CTA) do IBA – Conferir no: Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS.
[6] - Boletim nº 1 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, Boletim nº 2 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, Boletim nº 3 do 1º Congresso Brasileiro de Arte, 1º Congresso Brasileiro de Arte: recortes L Arquivo do Instituto de Artes da UFRGS)
Recorte do jornal Correio do Povo – Porto Alegre - existente: Arquivo do Instituto de Artes da –UFRGS
Fig. 06 - Projeto da Colônia de Férias Francis Pelichek
por Luis Fernando Corona– julho de 1947
O projeto – e a aquisição do terreno na cidade serrana de Farroupilha- precedeu em três anos a proposta formal da Universidade das Artes. Contudo permitem avalia o grau de autonomia do campo das artes e mentalidade que a sustentava.
Estes projetos não chegaram ao mundo prático, tanto por fatores externos, na oposição que lhe fizeram os intelectuais do centro do país, como internamente, onde o próprio Ernani irá propor, nesse meio tempo, a solução pela qual se separava Arquitetura de Arte, através da criação da Faculdade de Arquitetura, sob a vigilância dos engenheiros e da iniciativa da URGS.
Sentido atual de uma Universidade das Artes e do
Ministério das Artes
Fazem sentido cada vez mais atual as propostas do Ministério das Artes e da respectiva Universidade das Artes.
Este senti nasce do fato de que dificilmente o campo das artes não toca, ou se sobrepõe ou é própria alma de muitos saberes superiores de uma Universidade. A Medicina, o Magistério e as Letras, como tantos outros, são campos que se motivam destas forças criativas humanos e cujos limites estão muito longe de serem traçados.
O Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul surgiu, em Porto Alegre, pela concorrência e soma de todos os saberes ativos em 1908 e que haviam sido institucionalizados nos primeiros anos de 1ª República Brasileira.
Com a democratização dos saberes o número cada vez maior de universitários há condições de criar e manter instituições com vocação cada vez mais específica. A Universidade de Artes, com este especificidade não só pode centrar as suas energias num saber específico, mas escapar das sombras e heteronomia que os outros saberes lhe impõe como a eclética geléia formada pela simples justaposição formal de saberes.
Com atual implementação dos Institutos Tecnológicos autônomos e o seu profundo vínculo com os fazeres anteriores à ao 3º grau, a Arte possui condições para reconquistar a sua ênfase que a formação da arte acompanha a criatura humana do berço ao final da vida. Nesta perspectiva o Instituto de Artes da UFRGS nunca deixou de ter o seu próprio vestibular. As artes necessitam, mais do que qualquer outra área que o seu saber seja cultivada em todos os instantes da existência humana
Numa honesta contabilidade, em relação às universidades brasileiras, o que se percebeu, até o momento, é falta total de interação do Ministério da Cultura com elas, mesmo com aquelas que possuem na sua competência as artes.
O evidente fracasso do Ministério da Cultura- reforçada pelo nítido cabresto que lhe imposto pela Indústria Cultural - o aproximou mais à uma secretaria do Ministério da Indústria e Comércio, do que ao legítimo campo criativo das Artes.
O pretendido Ministério das Artes permitiria distinguiu a arte em relação à cultura e à educação, sendo mais coerente que a eclética e xifópaga estrutura que reuniu educação, cultura e arte no Ministério que se denominou, a partir de 1953, de Educação e Cultura (MEC)[1].
Deve-se concordar que a proposta de Tasso Corrêa, não foi arroubo de um instante, em 1947. Ele acalentou por mais de uma década este projeto. Pois ele cultivou a idéia até 1958, quando a proposta da Universidade de Belas Artes, irá figurar como tese central do Primeiro Congresso de Arte e foi lançada para todo o Brasil e que propunha como mantenedora estatal, a criação do
Chega-se à conclusão de que a universidade e o ministério das artes constituíram exercícios de expressão de autonomia do IBA-RS. Se esta mentalidade foi atropelada por necessidades primárias, estas decorrem do estágio primitivo de nossa sociedade que ainda não usufruiu um projeto nacional e ainda não teve tempo, luzes e energia para costurar um contrato coletivo.
Contudo não há como deixar de reconhecer que o projeto explícito de uma a universidade e o ministério das artes foram, ao seu tempo e lugar, expressões provenientes da mentalidade necessárias às forças do campo das artes que assim podem usufruir de visibilidade e de sentido ao longo de uma década.
FONTES aqui CITADAS
ARANTES do VALE, Vanda. «Academia Imperial de Belas Artes - Escola Nacional de Belas Artes» In. 180 anos de Escola de Belas Artes. Anais do Seminário EBA 180. Rio de Janeiro : EBA-UFRJ, 1997. 347 – 363.
CUNHA, Luiz Antônio, Universidade temporã : o ensino superior da Colônia à Era Vargas. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira. 1980, 295p.
WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.
[1] - Antes, em 1930, MESP – Ministério de Educação e Saúde Pública e depois MES Ministério de Educação e Saúde.
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