Imagem da Revista do Globo, nº 1, jan. 1929
Aula ao ar livre com o Prof. Libindo Ferrás. Local Teresópolis no local onde está o Hospital Espírita.
(Informação ao autor da Profª Olga Paraguassu em 03.09.1996).
5 – Ações na Escola de Artes que qualificam sua reprodução externa.
- “As bellas artes, principalmente entre nós, consideradas antes como prenda do que como profissão ou objecto de alta cultura, de sorte que os rapazes, quase sempre cursando collegios ou já empregados desde cedo para o aprendizado de suas futuras
profissões, não encontram o tempo necessário para estes estudos, considerados de
simples ornamentos”.
Olinto de Oliveira- Relatório de 1912 (pp.37/8)
A tábua curricular, oferecida no ambiente da Escola de Artes, era condicionada por uma série de fatores culturais, econômicos e de espaço físico. Quanto aos fatores culturais, a busca da instauração de um sistema de artes plásticas privilegiou a mais ampla dessas disciplinas acadêmicas, que é o Desenho[1]. Os fatores econômicos eram determinantes, tanto no contrato de profissionais, quanto no gasto das instalações físicas, bem como nos materiais e equipamentos necessários para as práticas das diversas manifestações das Artes Plásticas. No Rio de Janeiro, a Academia Imperial de Belas Artes pode contratar profissionais para oferecer, desde o seu início, um vasto leque de disciplinas, graças ao patrocínio oficial[2]. Em Porto Alegre, onde havia grandes reticências dos positivistas para esse patrocínio oficial, a Escola era mantida também pelos estudantes, fatores esses que reduziram ao mínimo o leque disciplinar. O espaço físico era uma única sala e com os recursos didáticos voltados para a prática do Desenho nas suas diversas modalidades. Assim, a Escultura, a Pintura e a
Gravura estiveram fora do currículo da Escola de Artes entre 1910 e
1936.
Fig. 02 – Estudantes da Escola de Artes na aula de Desenho Geométrico[1] - Desenho ou ‘disegno’, constituía a base dos mais diversos ofícios e que vinculava as artes plásticas ao mundo das idéias através do ato da designação mental. Pevsner resumiu a importância que a Academia de Vasari dava Desenho, ao registrar que era a disciplina que reunia os mais diversos profissionais, trabalhando em materiais diferentes e que procuravam infundir nesses materiais os conceitos e idéias que os animavam. Assim registra (1982, p 45) que “na «Accademia del Disegno» os seus membros trabalhavam materiais muito diversificados, e portanto pertenciam a diferentes grêmios, mas o que o que era importante para todos era o «disegno» e que acima de qualquer outra coisa era «esprezione e dichiarazione del concetto che sia nell’animo».
[2] - Evidente, que com o conhecimento, que se possui agora, trata-se muito mais do que um ‘patrocínio’, pois esse suporte era feito através de umprojeto no qual, não só se oferecia, através dessa instituição imperial, uma compensação ao exercício do poder, mas o próprio trono, a nobreza e a administração interna e externa do país, ficam comprometidos com ele. Ver Morales de los Rios, 1938, Taunay, 1956, Pinheiro, Pompeo, 1966,Bittencourt, 1967 e Marques Santos, 1997.
Prospecto do Instituo de Belas Artes de 1915 Olinto de Oliveira
Prospecto institucional no qual se informa sobre o Instituto, o Conservatório e a Escola de Artes. Orçamento e a matrícula
Uma das características das escolas de artes era a realização de concursos e a atribuição de prêmios para estimular a aprendizagem como já praticava a Academia de Florença, fundada por Vasari, em 1563, conforme registra Pevsner (1982, p. 49).
A Escola de Artes da ILBA-RS promoveu, em 1913, como mais uma das estratégias didáticas, além das aulas regulares, um concurso de Desenho Figurado, no qual os alunos trabalharam mais livremente. Em 1916, três alunos recebem os diplomas do Curso Superior. Os primeiros diplomas de professor de Desenho foram entregues oficialmente para Júlia Boeira e para Francisco Bellanca no dia 29 de novembro de 1919. Existe o registro em 1924, das menções recebidas pela alunas Júlia Netto Felizardo, em Anatomia Artística, e por Gertrudes Bredendick em Perspectiva e Sombras. Ambas as disciplinas eram dirigidas por Libindo. Para o ano de 1928, ele apresentou, no dia 12 de novembro, uma lista de prêmios a serem atribuídos aos alunos que se destacaram na exposição promovida no Instituto[1]. Também sugere a aquisição do quadro ‘Ciganinha’, de Judith Fortes, pela quantia de 300$00, medalha de prata para os trabalhos Júlia Felizardo e a menção de honra para sete alunos, entre os quais se estava Adail Costa[2].A competência interna da Escola de Artes se desenvolveu lentamente. No seu início, entre 1910 até 1912, todos os adiantamentos e todas as disciplinas estavam aos cuidados de Libindo Ferrás[3]. Em 1912, Libindo registrou as disciplinas com a falta da cadeira de História da Arte e cujo professor havia voltado da Europa, mas não havia assumido a disciplina[4]. A grande novidade do ano de 1918 foi a aula de Modelo Vivo[5]. Ela iniciou no dia 19 de julho, acontecendo 45 lições pagas pelos alunos. Ela foi incorporada definitivamente, em 1919[6], como disciplina curricular efetiva e regular.
Libindo obteve[7], em 1926, a aprovação[8] do Curso de Pintura. No seu programa desdobrou o curso em Pintura de Atelier com as técnicas de óleo e pastel a ser conduzido por Francis Pelichek. Para si reservou a Pintura de ‘plein-air’ com as técnicas óleo e aquarela. Apesar do registro fotográfico de uma sessão de pintura ao ar livre, não há comprovantes de que a Pintura tenha se tornado uma disciplina regular[9].
Até a fundação do Instituto os poucos espaços físicos em Porto Alegre para a prática das Artes Plásticas eram improvisados ou estavam vinculados ao espaço residencial ou então aos canteiros de obras de edifícios em construção ou, ainda, em galpões-oficinas[10].
O primeiro atelier público definitivo para a prática das Artes Plásticas, vinculado à uma instituição, que se abriu em Porto Alegre, se localizou num sobrado na rua Senhor dos Passos. Essa sala já estava prevista no projeto do Instituto e depois da aquisição
definitiva desse prédio, pelo Instituto em 1913, foi acrescido um andar que foi inteiramente ocupado pelo atelier da Escola de Artes. Com luz zenital e com uma escada lateral ao prédio, tinha autonomia em relação às demais atividades do Instituto. Os tradicionais equipamentos e recursos didáticos, que identificam uma sala para essa finalidade, já estavam previstos para o Instituto, conforme registram os jornais[11]. Após a inauguração, Libindo continuou a solicitar e adquirir material para equipar essa sala. O projeto previa um ambiente constituído de um certo número de obras de arte, como estímulo para a aprendizagem[12], resultantes de aquisições e de concursos entre os estudantes. O presidente do Instituto registrou, no seu relatório de 1912, o pedido do diretor da Escola de Artes para obter modelos de gesso da Europa[13]. Dez anos depois, Protásio Alves, Secretário do Estado dos Negócios do Interior e Exterior, elogiava, no relatório de 1922, o espaço físico e o material de ensino da Escola de Artes[14].As práticas do ensino das artes plásticas são possíveis de visualizar nas conexões da época entre profissionais, escolas e ambientes. São visíveis, também, os contatos comerciais envolvendo o conjunto das operações presentes na aquisição desses recursos didáticos que a existência desse material envolvia[15]. João Vicente Friederichs forneceu, em 1913, cópias em gesso de modelos europeus (mãos, pés, orelha, boca e máscaras), que são mais simples do que os usados em anos anteriores. Em 1915 esses modelos anteriores, provinham da Escola de Artes e Ofícios da Engenharia, futuro Instituto Parobé[16]. Em 1917, Libindo acusou, no seu relatório, ter recebido o material enviado por Eduardo de Sá, da ENBA. Em 1919, o Instituto Parobé socorreu de novo a Escola de Artes[17].
Fig. 03 – Estudantes da Escola de Artes posando “com” as máscaras
[1] - Catálogos de realizações públicas do IBA da CCIBA até 1935
[2] - Conferir a obra de Adail Costa em SILVA, Úrsula R. da, et SILVA LORETO, Maria Lúcia. História da arte em Pelotas: a pintura de 1870 a 1980. Pelotas : EDUCAT, 1996, 180 p.
[3] - As aulas iniciavam na segunda-feira e concluíam no sábado, às 17 horas, como é visível no horário do ano escolar de 1914. De manhã as aulas iniciavam às 8 horas e terminavam as 10 horas. De tarde iniciam às 15 horas e terminavam às 17 horas.
[4] - É possível conjeturar que esse docente seja o médico e jornalista Fábio Barros, diante de vários índices. Ele não assumiu a disciplina, pois dessa forma deveria abdicar regimentalmente à sua cadeira na Comissão Central. Contudo, o seu nome figura no relatório final do ano de 1914, fazendo banca ao lado de Olinto de Oliveira, Giuseppe Gaudenzi, Oscar Boeira e Libindo Ferrás. Mas não existe os de História da Arte nesses exames finais.
[5] - A prática do modelo vivo foi introduzida na Escola de Artes por Luis Augusto de Freitas. Ver Sala de aula de modelo vivo – Pelichek – 1928 . TESE - IMAGENS.. Essa prática já era realizada na Academia dos Carracci. Porém havia casos onde era proibido, como na Academia São Fernando de Madrid, conforme Pevsner (1982 p. 156).
[6] - Em 1919 são 163 aulas contra 45 que haviam acontecido em 1918. O maior número, dessas aulas, ocorreu no mês de outubro (27). Em 1919, pagou-se 694$000, contra 180$000 em 1918. Em 1920, nas aulas de Modelo Vivo, foi despendida a quantia de 890$000. Em 1922, o ILBA-RS despendeu 742$000 com o Modelo Vivo. (Relatório 1922de Marinho Chaves para CC-ILBA-RS.) Os outros dados foram coligidos a partir dos registros, nos relatórios de Libindo, dos pagamentos feitos pelos alunos ao modelo.
[7] - Como foi visto, lindo já havia requerido, sem êxito, um curso livre de pintura no dia 02 de abril de 1910. Relatórios de Libindo Ferrás arquivados nos requerimentos ao Presidente}.
[8] - Libindo encaminhou o pedido no dia 03 de março de 1926. Essa matéria foi apreciada pela Comissão Central no dia 22.03.1926.( Livro nº I de atas da CC-ILBA-RS p. 37f sessão de 22.03.1926). Ele deveria apresentar o programa até o dia 29 desse mês à CC-ILBA-RS e que, nessa data, lhe destinou a dotação anual de 2:000$000.
[9] - Pevsner constata (1982, pp.118/9) a mesma ausência da Pintura ao estudar as academias de artes
“Os programas acadêmicos não incluíam o ensino metódico da pintura a óleo. Por mais surpreendente que possa parecer essa falta hoje em dia, não se deve esquecer que na França, como em outros países, estava ainda em uso o sistema medieval de apreender com um mestre o ofício de pintar. Nunca insistirei o bastante para recordar que e escola de arte pública, como lugar para a educação do artista, é uma inovação do século XIX”.
[10] - Oficina de Jacob Aloys Friederichs. . In Silva, 1997, p.24.
[11] - Coletava-se dinheiro para a sua aquisição e soluções já experimentadas em outras escolas. Essa preocupação aparece estampada no dia 04 de abril de 1908 no jornal A Federação: “Para a Europa, Rio da Prata e todo o Brasil, onde existem estabelecimentos desta ordem foram pedidos prospectos, programmas, regulamentos, etc., bem como pedidos de preços de materiais absolutamente necessários ao funcionamento do Instituto, afim de se fazerem os calculos todos, sem pessimismo ou optimismo”.
[12] - O jornal A Federação publicou no dia 04 de abril de 1908. “Nelle haverá um grande salão para concertos, uma sala espaçosa para pequenos concertos-ensaios, um salão para exposições de quadros, uma sala-galeria dos trabalhos que forem premiados, etc.”.
[13] - Libindo Ferras já havia feito em 1910 um pedido, que Olinto de Oliveira registrou no seu relatório de 1909-1912 “Por proposta do mesmo
professor, encommendei para a Europa, em 1910, as seguintes obras de gesso para servirem de modelo nas aulas: Venus de Milo (Louvre) estatua inteira. Apollo de Belvedere (Vaticano) – estatua inteira. Niobe (Florença) – busto. Ájax (Roma) – busto. Vênus (Acrópole) – cabeça. Cabeça de rapaz (Tarento) – cabeça. Duas mãos e dous pés. As duas estatuas, copias do tamanho dos respectivos originais, são magnificos modelos de escultura, perfeitamente reproduzidos, e que impressionam a quantos tem occasião de contemplal-os. Os bustos e cabeças egualmente boas reproduções de arte antiga. Andou toda a despeza com esta encommenda, inclusive despachos e armazenagem, em 1:333$350”. Relatório 1909-1912de Olinto de Oliveira, , pp. 34/5
[14] -“A Escola de Artes Plásticas (..) funciona desde 1910 e ocupa o segundo andar do edifício onde possui, além de outras acomodações um vasto “atelier” construído expressamente com iluminação apropriada. O material de ensino é abundante” «Retrospecto Econômico e
Financeiro do Estado do Rio Grande do Sul 1822-1922». Revista do Arquivo Público do RS. Porto Alegre : Globo 1922 p. 66[15] - A EBA-UFRJ sucessora da ENBA e AIBA Imperial criou um museu com esse material didático que vem sendo acumulado a partir da Missão Artística Francesa colocando a sua designação apropriadamente com o nome do soberano fundador da instituição. Ver: CATÁLOGO do Acervo de artes visuais do Museu D. João VI. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ/CNPq, 1996 300p
[16] - Com a data de 04.05.1915 existe uma prestação de contas de 60$000, em gastos feitos por Libindo. Inclui o gasto de 25$000 por ‘um busto de gesso de Demosthenes’ adquirido no ‘Instituto Téchnico Proffissional da Escola de Engenharia de Porto Alegre’. Ver a nota da compra com o logotipo com cabeçalho do ‘Instituto Técnhnico Proffissional’ (futuro Parobé).e Logotipo da Escola Técnica ( PAROBÉ) 1915
[17] - A escola de Engenharia entregou em 1919 os modelos de gesso, e que foram julgados superiores e de melhor manipulação do que os entregues por Eduardo de Sá da ENBA. O conjunto desses modelos de gesso provocou uma sessão de humor registrada numa foto d 1935 [F2.046c] Turma da Escola de Artes do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul em 29 de outubro de 1935 brincando com máscaras os modelos de gesso. TESE- IMAGENS. - Arquivo F2.
Foto cedida pela Profª Christina BALBÂO
No dia 10 de março de 1926, Libindo solicitou um esfolado de massa, que antigamente pertencia a Faculdade de Medicina, argumentando que os alunos de medicina deveriam praticar a dissecação em cadáver no necrotério, sendo que, nas Artes Plásticas, só era necessário um bom esfolado.
Fig. 04 – Estudantes da Escola de Artes na aula de Anatomia Artísitica
Prospecto do Instituo de Belas Artes de 1915 Olinto de Oliveira
Prospecto institucional no qual se informa sobre o Instituto, o Conservatório e a Escola de Artes. Orçamento e a matrícula
Ver o suporte teórico deste prática em:Outra prática fundamental da Escola de Artes foi a formação da Pinacoteca da instituição. Ela se destinava a criar um referencial para sustentar um sistema de artes visuais em Porto Alegre. Neste sentido reservava, do seu parco orçamento uma quantia para a aquisição de obras de arte dos artistas plásticos locais. A prática remonta às academias italianas (Pevsner 1982, 46), passando pela Academia Real da França (Merot, 1996, pp. 10/16) e introduzida no Brasil pela Missão Artística Francesa, em 1816. O tema pode ser conferido nos relatórios de Olinto de Oliveira e de Libindo Ferrás como um registro dessa prática[1] pioneira no sistema de artes plásticas do Rio Grande do Sul.
MEROT, Alain (edit.) Les conférences de l’Academie royale de peinture et esculpture au XVIIe siècle. Paris : RNSBA, 1996. 533p.
PEVSNER, Nikolaus. Las academias de arte: pasado y presente. Madrid : Cátedra. 1982. 252p. – (edição brasileira - Academias de Arte: passado e presente. São Paulo, Companhia das Letras, 2005).
PESQUISE MAIS no:
ARQUIVO GERAL do INSTITUTO de ARTES, Prédio da antiga Faculdade de Medicina – CAMPUS CENTRAL – UFRGS Contato Fone: (0xx51) 3308 3391 E-mail: ahia@ufrgs.br
BIBLIOTECA CARLOS BARBOSA, Rua Senhor dos Passos, 248 - 2º andar CEP 90.020-180 Porto Alegre RS - Telefone: (0xx51) 3308 4308 Fone/Fax: (0xx51) 3308 4307 E-mail: bibart@ufrgs.br
http://www.ufrgs.br/bibart/ Link para a página da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS]
Acesse aqui a página da Biblioteca do Instituto de Artes da UFRGS para obter mais informações sobre o acervo, regulamentos, normas técnicas, tutoriais e serviços.
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Acervo em http://www6.ufrgs.br/acervoartes/modules/mastop_publish/
[1]- Os relatórios de Libindo registram em 1913 que o Instituto a adquiriu, para a sua Pinacoteca, o quadro ‘Maricás’ de Pedro Weingärtner. Eugênio Latour fez em 1919 a doação á Pinacoteca do seu quadro ‘Polichinelo’[1], enquanto essa lhe adquiriu o quadro ‘Pensativa’ e a Intendência Municipal (Prefeitura) adquiriu, para Instituto, o seu quadro ‘Invidia’ (Inveja). De Carlos Torelly foi adquirido o quadro ‘No Jardim', enquanto de Oscar Pereira das Silva, o quadro ‘Ouvindo a Missa’. Em 1920 o Instituto adquiriu de Pedro Weingärtner o quadro ‘Solidão’. Em retribuição Weingärtner presenteou a Pinacoteca com uma coleção de suas ‘águas-fortes’.
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