ALICE SOARES PENSANDO o DESENHO.
- SUMÁRIO –
1 – Natureza
do PENSAMENTO de . Alice Ardohain SOARES. 2
– Obstáculos sociais e culturais
que Alice Ardohain SOARES teve
de enfrentar no cultivo e na divulgação de seu PENSAMENTO estético.
-3 – O contexto social, econômico e estético do PENSAMENTO de
Alice Ardohain SOARES no
Rio Grande do Sul. - 4 –
Alice Ardohain SOARES afirma
o seu PENSAMENTO e colabora na formação
da consciência estética no contexto
sul-rio-grandense apesar das fragilidades,
resistências e silêncio
oficial. - 5 – Leituras e
narrativas estilísticas do PENSAMENTO de
Alice Ardohain
SOARES - 6 –
O profissionalismo, a projeção e permanência
do PENSAMENTO de
. Alice Ardohain
SOARES. - 7 – Etapas da transição do PENSAMENTO de Alice Ardohain SOARES entre o mundo consagrado e o novo - 8
- Permanência do potencial do PENSAMENTO
de Alice
Ardohain SOARES apesar
da sua ausência física, 09 –
O pensamento de Alice Ardohain SOARES introduz
outras ESTRATÉGIAS para se tornar
AUTÔNOMO do MUNDO - que se quer
HEGEMÔNICO – Nesta sua AUTONOMIA ampliar o seu potencial de intelectual e
esteta e se aproximar da lógica da livre iniciativa da ERA INDUSTRIAL. 10 - O
PENSAMENTO de Alice
Ardohain SOARES e o
seu legado institucional .
FONTES BIBLIOGRÁFICAS relativas à Alice Ardohain SOARES.. FONTES BIBLIOGRÁFICAS TEÓRICAS CITADAS - FONTES NUMÉRICAS
DIGITAIS.
Fig. 01 Alice Ardohain Soares na sua tese revela toda a largueza e profundidade
do seu PENSAMENTO de ARTISTA, PESQUISADORA e ORIENTADORA sensível na formação
de uma nova geração. No entanto presta profundo tributo aqueles que antes dela haviam
percorridos este caminho. Para tanto revela toda a sua atenção que ela conferia
à HISTÓRIA das ARTES VISUAIS A escolha da obra de MATISSE é uma amostra desta
atenção reverente.
O DESENHO, um DEUS em NÓS
Todas as ARTES NOBRES
possuem, na sua origem, um DESIGNIO[1].
DESIGNIO que orienta toda a produção estética. A sentença de Miguel Ângelo de “Un DIO in NOI”[2]
é valida também para as demais artes. DESIGNIO
que se expressa num PROJETO que se materializa em algo sensível a um ou mais
sentidos humanos. DESIGNIO que torna histórica a criatura humana enquanto
sustenta e recria o seu PROJETO. Este PROJETO
tornou a pessoa de Alice Ardohain Soares (1917-2005) histórica. Ela apostou toda a sua existência, as suas
melhores energias no PROJETO e trazer para um superfície e com menores recursos
gráficos o que universal na criatura
humana. Escolheu como tema as “MENINAS” e como
meio material o grafismo.
[1] Desígnio
https://www.dicio.com.br/designio/
[2] FRANCISCO de HOLANDA “ Diálogos de Roma” http://profciriosimon.blogspot.com.br/2014/12/estudos-de-arte-002.html
Fig. 02 A ARTISTA, PESQUISADORA e ORIENTADORA
Alice Ardohain Soares revela nesta sua obra o seu
PENSAMENTO ao evidenciar a o organização das “MENINAS” reunidas para ato
cultural na qual uma delas toma a coordenação para o êxito coletivo da ação. Esta sua obras é um precioso documento da vida e da ação coletiva desta estudante
permanente e mestra de gerações.
A obra de Alice Ardohain Soares se
abasteceu, alimentou e reproduziu por meio, e em razão, do seu PENSAMENTO. No seu DESENHO o PENSAMENTO das “MENINAS” está
em primeiríssimo lugar e constitui o seu eterno tema. No âmbito deste seu
PROJETO, e do seu DESÍGNIO esta atividade foi conduzida ao longo de toda a sua
existência a e quem ficou fiel até o final. Assim o PROJETO, o DESIGNIO e o
PENSAMENTO TORNARAM Alice Ardohain Soares HISTÓRICA.
Pensamento coerente e que não desmente ou contradiz este universo de sua
atuação. Como educadora ela ultrapassou a sua pessoa singular e se socializou
nas suas orientações aos seus estudantes de Desenho. Orientações que tinham norte um intenso e refinado PENSAMENTO CULTIVADO e
por suporte a atividade gráfica do DESENHO e por âmbito as ARTES NOBRES.
Fig. 03 Alice Ardohain Soares (no ângulo direito superior de quem
olha a imagem) realiza os retratos das
suas colegas do CURSO de ESCULTURA da atelier de FERNANDO CORONA[1].(ao
centro) Ao realizar os cursos sucessivamente
superiores de ESCULTURA e depois de PINTURA conseguiu, por meio do DESENHO, o que é comum entre aos dois
campos estéticos.
Miguel Ângelo está entre os muitos mestres do DESENHO aos quais Alice Ardohain Soares rende
homenagem especial. Deste mestre Alice
SOARES destacou o PENSAMENTO e a PRÁTICA do DESENHO, comentando (1961, p.07) que:
“mesmo nos desenhos escultóricos de Miguel
Ângelo, onde o modelado foi decisivamente acentuado por grandes manchas
escuras, que se esfumam em meios tons, o contorno da figura e alguns detalhes
são indicados por linhas seguras, firmes, cheias de vigor e realismo,
transcrevendo o caráter do grande gênio. São elas na realidade, a definição
daquelas formas turbulentas; são elas que constituem o desenho propriamente
dito; ora salientando a força do titã, ora em levíssimas curvas, falando do
espírito sensível da alma do poeta, tão esfumaçadas que, as vezes, se perdem
nos claros do papel, contrastando com os tons escuros das passagens de sombra."
Alice Ardohain Soares havia estudado e se formara também em ESCULTURA. Tinha
plena consciência desta distinção e evidencia
o desempenho do PENSAMENTO de Miguel
Ângelo em relação ao DESENHO nas ARTES VISUAIS.
Impõe-se estudar este percurso de
Alice Ardohain Soares entre
suas escolhas, perdas e ganhos no meio de suas múltiplas potencialidades para finalmente
se fixar no DESENHO. Escolha, consolidação e produção compreensíveis num
PENSAMENTO competente para traçar sendas para si mesmo e para outros descobrirem, usufruírem e buscarem os seus
próprios caminhos, meios e recursos.
Fig. 04 Alice Ardohain Soares registra a sua colega CHRISTINA
HELFENSTELLER BALBÃO em pleno trabalho na seu cavalete de DESENHO. Colegas de
estudos e de magistério superior distinguiram entre si pelo fato de Christina
BALBÃO manter-se pouco interessada na produção e comercialização de suas
próprias obras.
1 – Natureza
do PENSAMENTO de Alice Ardohain SOARES.
A própria sensível produção estética de Alice Ardohain Soares e as nos fornece vários índices das conexões entre
imaterial do seu PENSAMENTO tornado material e sensível na sua obra. Nestes
índices materiais, do seu caminho, ela sabe que sempre podem ter o seu contraditório
e indicar senda oposta. Para Alice enfrentar estas contradições e
encruzilhadas, armazenou argumentos externos e que já circularam em outros
ambientes especialmente na HISTÓRIA das ARTES VISUAIS. Entre estes argumentos
externos ela citou (SOARES. 1961, p.15) no texto de sua tese que:
“segundo Arno Stern, “o que
condiciona a prática da Arte não é a aquisição de uma ciência; é o livre exercício
de uma expressão pessoal”. “É assim
que toda a prática visando a entravar a imaginação de início, vem em sentido
oposto ao fim procurado.” Outra opinião, esta de Henri Matisse, está
sintetizada do seguinte modo: “Criar, é expressar o que se tem dentro de si.
Todo o esforço autêntico de criação é interior.”
Estes índices apontam para um pensamento estético,
um profundo e autêntico respeito para as circunstâncias nas quais ela quis ser
aceita.
Este PENSAMENTO fundado na comunidade dos DEMAIS
PENSADDORES de ARTE a conduziram no firme compromisso com a formação de uma
nova geração de artistas. No fazer artístico ela nunca impunha a sua concepção pessoal
como também jamais desqualificava as concepções dos de demais mestres. Muito
menos impunha uma tendência estética mesmo para aqueles que vinham para as suas
aulas “COM a CABEÇA e os SENTIMENTOS FEITOS”
por uma DETERMINADA ESTÉTICA da moda. Neste sentido, na mesma tese e página,
ela argumentava que: “Cézanne
diz o seguinte: “A transmissão do saber, como um conjunto de regras
obrigatórias ou um estilo definido, passou para não voltar”.”
Esta autonomia de PENSAMENTO - numa sociedade, num
lugar e num tempo ainda dominados pelo servilismo e a espera de PENSAMENTO
PRONTO vindo dos centros hegemônicos – gozava de pouco espaço, oportunidades e
recursos técnicos para se reproduzir e gerar algo de novo, fecundo e criativo.
Foi neste espaço cultural, social e econômico que se nasceu, desenvolveu e se
reproduziu o universo estético de Alice Ardohain Soares.
Fig. 05 Nesta serigrafia Alice Ardohain Soares demonstra toda a sua competência técnica no domínio dos
selecionados meios gráficos para lugar ao seu PENSAMENTO sem abandonar o seu
tema das “MENINAS”. Contorna qualquer maneira de outros
ou da moda da época para insistir e materializar os seus próprios achados. Esta
ascese formal e ao mesmo tempo a fidelidade ao tema próprio e experimentado
milhares de vezes, torna esta obra legível e de atribuição única.
2 –
Obstáculos sociais e culturais que
Alice Ardohain
SOARES teve de enfrentar no cultivo e na divulgação de seu
PENSAMENTO estético.
Alice SOARES pertenceu àquela geração de mulheres
que tiveram de realizar duras e caras escolhas para se habilitarem para contrariar, com qualidade, mundo masculino e
entrar nele para estabelecer ali uma competência inquestionável. O argumento
foi uma obra de arte cultivada com profissionalismo, continuidade e alta
qualidade estética. Estes índices apontam para um pensamento estético, uma
profunda e autêntica AUTONOMIA como ela
afirma (SOARES, 1961, pp. 21-22) que:
“a conceituação do desenho, como arte autônoma, vai influir diretamente
na orientação do ensino. No terreno da experiência concluímos que importa mais
ao aluno ser ajudado, no sentido de saber que pode criar e de ter fé em sua
capacidade, do que carrega-lo de teorias e padrões. Importa, ainda, estabelecer
a posição do aluno em face de um comportamento diante da Arte, pois, estamos
certos de que, ao desenvolver, com segurança, suas capacidades artísticas, será
acrescido de uma riqueza de caráter humano, grandioso em seu conteúdo”.
É necessário intuir que o tema as “MENINAS” de Alice Ardohain Soares seja uma
aposta numa NOVA GERAÇÃO. NOVA GERAÇÃO competente para assumir plenamente a
AUTONOMIA de seu próprio PENSAMENTO. AUTONOMIA de seu próprio PENSAMENTO capaz
de mudar uma sociedade, criar um lugar ao Sol e afastar definitivamente um
TEMPO regado pelo servilismo e a espera de PENSAMENTO PRONTO. NOVA GERAÇÃO competente para gerar e
reproduzir algo de novo, fecundo e criativo a partir do SEU tempo, SEU lugar e
da SUA sociedade.
Fig. 06 Nesta obra de Alice Ardohain Soares a linha expressiva da imagem e modeladora
da superfície, ganha leves reforços de uma cor controlada. O PENSAMENTO de ARTISTA
dispensa a NÃO-FIGURAÇÃO da moda nesta escolha criteriosa dos seus próprios meios
visuais. O seu PENSAMENTO paira por cima de intrigas fáceis e que nada
acrescentam a aquilo que já é do domínio publico e disseminado por uma mídia de
impacto visual.
3 – O contexto social, econômico e estético do
PENSAMENTO de Alice Ardohain SOARES no
Rio Grande do Sul.
A vida a formação e a atividade estética e
profissional de Alice Soares ocorreram num estado periférico para o mundo
brasileiro. Contudo conectado
profundamente com o mundo
platino. Nascida em Uruguaiana a interação com a cultura argentina e uruguaia e
natural nesta cidade as margem do Rio Uruguai. As fronteiras e a visão ampla do
mundo eram algo inerente ao pensamento desta fronteiriça, artista e professora,
mas com pai baiano.
De outro lado Alice
Ardohain Soares acreditava na mudança apesar de todas as provas em contrário que
este ambiente provinciano, servil e na heteronomia de outras culturas. Esta
crença é possível conferir num PENSAMENTO de sua tese onde escreveu (SOARES. 1961, p. 15) que:
“encontramos
grandes e fecundos desenhistas especialmente entre os artistas de nosso século,
cujas características podem se resumir em liberdade de criação e inquietação,
forças essas, que muito bem se coadunam com as qualidades específicas do
desenho. Há nessa liberdade de criação um acúmulo de vitalidade magnífica e
constante”.
Evidente que este ideal da “liberdade de criação, um acúmulo de vitalidade magnifica e constante”
encontra-se muito distante da realidade empírica vivida por Alice Soares em
Porto Alegre e do Rio Grande do Sul. Porém ela soube, no meio de sua OBRA,
distinguir a “ATUALIZAÇÃO da INTELIGÊNCIA”
preliminar e diferente da sua “PESQUISA
ESTÉTICA”. ATUALIZAÇÃO da
INTELIGÊNCIA que a ERA INDUSTRIAL estava despejando em obras impressas e as facilidades
com o objetivo de PROPAGANDA e de MARKETING de outros centos culturais. Outros
centros para os quais ela se deslocava e
visitava regularmente. No entanto por maior que fosse esta “ATUALIZAÇÃO de SUA
INTELIGÊNCIA” o laboratório do seu atelier profissional era determinante “PESQUISA ESTÉTICA”. Atelier profissional que ela manteve junto
com Alice Esther BRUEGGMANN (1917-2001). Esta profissionalização era
revolucionária em Porto Alegre tanto no sentido geral como na afirmação
feminina nesta prática profissional.
Foto de Luiz Eduardo ACHUTTI
Fig. 07 A singular imagem de Alice Ardohain Soares infundia a maior veneração e estima de
todos aqueles que se aproximavam de se convívio, lições, frequentavam o seu
atelier ou sua presença nos mais diversos eventos culturais às quis ela
comparecia. Sempre estava disposta a
compartilhar, com todos e indiscriminadamente, aquilo que lhe tinha custado
dedicação continuada, muito trabalho e
devoção.
4 – Alice Ardohain SOARES afirma
o seu PENSAMENTO e colabora na formação
da consciência estética no contexto
sul-rio-grandense apesar das fragilidades,
resistências e silêncio oficial.
O projeto
de Alice
Ardohain Soares, é claro e cristalino como é cristalino o seu traço, a linha e
matéria mínima com a qual constrói sua obra.
Austeridade, clareza e forma cristalina
nascidas da fonte do seu PENSAMENTO. Este PENSAMENTO criou uma identidade que
tornou única, legível à primeira vista e endossado por todos que se aproximavam
de sua obra. Entre muitos registros escritos desta identidade visual é possível
citar MASSOLINI que publicou no seu blog ( 2010) [1] que o:
“seu tema foi sempre a “criança universal”. Ela as
retratou revelando a sua preocupação com a figura da criança. Soares achou a
síntese no desenho com força expressiva e pela maturidade alcançada. Seus
desenhos parecem seres vivos, porém, não são retratos, mas, sim, vindos do
pensamento e de muitos ensaios”.
Para tanto o PENSAMENTO,
o PROJETO e o DESÍGNIO de Alice Ardohain Soares ultrapassou a fase da ATUALIZAÇÃO da SUA INTELIGÊNCIA.
Ultrapassou a PESQUISA ESTÉTICA PERMANENTE para adentrar no território coletivo
da FORMAÇÃO de uma CONSCIÊNCIA COLETIVA. Assim concorda com o pensamento de
MÁRIO de ANDRADE[2]
que ela conhece e cita na sua tese. Esta citação ocorre quando ela traduz para
seu meio e época ao escrever (SOARES. 1961, p. 17)
que:
“diz Mário de Andrade: “Ao
artista cabe, apenas, é imprescindível, adquirir uma severa consciência
artística que o ... moralize, se podemos nos exprimir assim. Só esta severa
atitude, antes de mais nada humana, é que deve, na realidade, orientar e
coordenar a criação”.
Esta citação evidencia
um ponto da sua profunda conexão ao pensamento estético brasileiro. No entanto
a sua decisiva participação no SISTEMA de ARTES do RIO GRANDE do SUL, não só
ajudou a consolidar o MERCADO de ARTE LOCAL como gerou um SENTIMENTO de
PERTENCIMENTO COLETIVO. Muitos se
identificam ao redor de sua obra individual e do PENSAMENTO de Alice Ardohain Soares Tomam o seu PENSAMENTO como
REFERÊNCIA de algo UNIVERSAL e INTEMPORAL arrancado de algo que guarda e
transmite o seu TEMPO, LUGAR e SOCIEDADE. O PENSAMENTO da mestra ocorre, muitas
vezes, de forma subliminar, pois este seu IDEAL nunca foi de criar prosélitos,
fórmulas e receitas prontas e fáceis de ler e de aplicar.
[1] MASSOLINI, Fernando - Blog “Na HORA do AMARGO” – abril 2010
[2] ANDRADE, Mário. O movimento modernista. Rio
de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1942, 81 p.
Página do catálogo da EXPOSIÇÂO no CORREIO do POVO do dia 16.11.1949
Fig. 08 Uma das paginas do catálogo de um
exposição coletiva, de 1949, e na qual Alice
Ardohain Soares figura em três imagens e uma
lista de sete de suas obras. Até o presente não se conseguiu
certeza se o retrato de Alice Soares, que figura, nesta pagina é um
autorretrato ou é obra de um colega do grupo.
5 – Leituras e narrativas estilísticas do PENSAMENTO de
Alice Ardohain
SOARES..
O PROJETO e o DESÍGNIO de Alice Ardohain Soares são singulares
não só no tema das “MENINAS”. A sua tese inaugurou o PENSAMENTO FEMININO escrito e defendido
publicamente, em Porto Alegre, nas ARTES VISUAIS. Assim
esta tese é germinal, densa e contém potencialidades
latentes ao modo de uma semente. Ela contém potencialidades insuspeitas para
quem passa as suas poucas folhas e a as
percorre apenas os olhos em diagonal.
Até prova em contrário a
sua tese de concurso
para o provimento efetivo da cadeira de Desenho, “LINHA - FUNDAMENTO DO
DESENHO” (1961) cuja defesa e sustentação oral são pioneiras para uma professora de ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL.
De outra parte como
tributária de uma infraestrutura industrial ela paga amplamente o preço num ambiente
desprovido de todos os aparatos e tecnologias disponíveis no mundo numérico
digital. As suas fontes são aquelas que lhe permitiam a suas
viagens às capitais do Rio da Prata, Rio de Janeiro e para a Europa do
pós-guerra. As livrarias de Porto Alegre, as aquisições das bibliotecas
públicas e da sua biblioteca pessoal, estão presentes são lidas e citadas para
reforçar e destacar o seu PENSAMENTO próprio e autônomo.
O grande mérito do PENSAMENTO de Alice Ardohain Soares é o de conhecer
e de reconhecer os seus próprios LIMITES
e aqueles dos seus estudantes. No âmbito destes LIMITES ela anuncia as COMPETÊNCIAS
possíveis como quando afirma (SOARES.
1961, p. 19) que:
“é compreensível, que pela exiguidade do
tempo, tenhamos a sensação de que os alunos apenas passam por nós, pois,
contamos com um ano para o nosso trabalho, constatando de duas aulas semanais.
Guiados por isso mesmo, é que projetamos assim nosso pensamento, tendo como
fator importante estimular o estudante de arte que se inicia, favorecendo lhe
algo que o ajude a se encontrar e continuar o caminho, com o espírito de quem
quer alguma coisa, porque vislumbra o mundo repleto de recursos espirituais que
estão contidos na arte”.
Pelo texto acima é possível perceber que Alice Ardohain Soares não abdica
da COMPETÊNCIA do “nosso pensamento, tendo como fator importante estimular o estudante de
arte que se inicia, favorecendo lhe algo que o ajude a se encontrar e continuar
o caminho, com o espírito de quem quer alguma coisa”. Esta confiança, esperança e crença no seu
estudante estão acima, e além da infraestrutura
material de um SISTEMA e de um potencial MERCADO de ARTES do RIO GRANDE do SUL.
http://www.galart.com.br/artista/alice-soares/
Fig. 09 Alice Ardohain Soares dava o exemplo por meio de sua produção
pessoal no seu atelier profissional. Nesta produção
colocava a primordialidade em relação aos seus mais elevados títulos, cargos e
funções acadêmicas. Neste contexto os
seu PENSAMENTO de ARTISTA, da PESQUISADORA e da ORIENTADORA ganhava coerência e
se materializava numa OBRA que permanece. ASSIM é possível distinguir TRABALHO
das funções, cargos e títulos que s~~ao passageiros. Enquanto a OBRA é o
que permanece na sua ARTE, no seu DESENHO e nos seus DOCUMENTOS escritos e
imagens.
No núcleo do PENSAMENTO de Alice Ardohain Soares encontra-se a ENERGIA necessária e ativa para a
MUDANÇA, para a RUPTURA EPISTÊMICA, ESTETICA e TEMPORAL. Os seus estudantes de Arte estariam aptos – por meio desta
MUDANÇA ASSIMILLADA e COERENTE CONSIGO MESMO - para enfrentar os imensos
desafios culturais do interior brasileiro. Interior brasileiro no qual eles estariam entregues
à NATUREZA PRIMITIVA e INCULTA. Ou então
aptos para disputar espaço e lugar ao Sol nas improvisadas e caóticas
metrópoles brasileiras. Metrópoles que eram centros culturais hegemônicos e nos
quais estes estudantes deveriam disputar palmo a a palmo um LUGAR numa
SOCIEDADE alheia e numa cultura com outro TEMPO e HISTÓRIA.
Assim é possível
recapitular a fecundidade e a constante atualidade do PENSAMENTO de Alice Ardohain Soares por meio das carreiras, das obras e dos
pensamentos expressos pelos seus estudantes de artes do DESENHO. Ganham voz e
sentido, no mais alto grau da CIVILIZAÇÃO a atualidade do PENSAMENTO das “MENINAS”
vivas desta MESTRA. Esta nova geração expressa nas suas VIDAS, nas suas ESCOLHAS,
nas suas CARREIRAS e nas suas OBRAS a
fecundidade e a constante atualidade do PENSAMENTO da mestra.
Fig. 10 A presença de Alice Ardohain Soares (3ª sentada da esquerda ara a direita
de quem olha a imagem) na recepção da
estudante do IBA-RS Maria José Cardoso
que conquistara o titulo de Miss Brasil[1].
Era mais uma “MENINA” destacada ela sua cultura e beleza.
6 – O profissionalismo, a projeção e
permanência do PENSAMENTO de
Alice Ardohain
SOARES.
O PROFISIONALISMO da ARTISTA AUTÔNOMA e da MESTRA
decorria da sua capacidade entender e praticar as suas competências nos seus
próprios limites. O seu PENSAMENTO adquirido era motor e alimentado por esta
crença no seu trabalho continuado e a esperança de uma nova geração de
“MENINAS”. Este “CONHECENDO a SI MESMA” alargava o horizonte e sensibilidade
para perceber percalços, dúvidas e acertos daqueles que estão tentando iniciar
esta mesma caminhada. PENSAMENTO adquirido, de longo alcance e
superior, se deixar de notar e sublinhar que ele foi conquistado com muito
esforço e renovado diariamente.
Este profissionalismo
emergia num ambiente desprovido de todos os aparatos e tecnologias disponíveis
nos ambientes culturais hegemônicos. A ERA INDUSTRIAL chegava embrionária e ao
mesmo tempo tardia ao Rio Grande do Sul. Embrionária por meio de
algumas manifestações pontuais porém tardia pois já era descarte de
centros mais adiantados. Neste ambiente
importado de culturais hegemônicos teve de pagar o preço de não ter nascido e
de não poder se apoiar numa identidade própria largamente amadurecida e
reconhecida como tal. Ao contrário teve de enfrentar - decidida, rápida e
amplamente - os arremedos, as imitações
fáceis e superficiais de uma pseudo identidade importada de alhures. Assim
registra (SOARES. 1961, p. 19) que
“já ouvimos alguém condenar severamente o estímulo
dado a produção livre de quem se inicia no campo das artes”.
No contraditório, uma vez passada e vencida esta
avalanche de heteronomia, o PENSAMENTO de Alice Ardohain Soares teve
ocasião para mostrar a sua solidez, a sua coerência e a sua fecundidade.
Fig. 11 A permanente interação de Alice Ardohain Soares com seus colegas do Instituto de Artes da
UFRGS está estampada nesta imagem onde ela figura com 3ª da direita para a
esquerda de quem olha a imagem e depois de Armando Albuquerque e Celso Loureiro
Chaves. Materializa-se assim o PENSAMENTO de que uma
categoria se constrói e se mantém unida
por meio do TRABALHO em COMUM.
7 – Etapas da transição do PENSAMENTO de Alice Ardohain SOARES entre o mundo consagrado e o novo.
A longa e profunda gestação do PENSAMENTO
de Alice Ardohain Soares procede
da dialética da aceitação consciente da heteronomia do contrato acadêmico e, do
lado contrário, da posse de um PROJETO e de um DESÍGNIO que só ela podia
administrar. Ela se está consciente “desses
dois íntimos, o do novo e o do consagrado não se podem parecer”. O seu PENSAMENTO
atinge rapidamente a SÍNTESE na qual esta contradição pode ser resolvida na
complementariedade cultivada num “vastíssimo campo que podemos chamar a
bagagem do artista” No texto escrito
de sua tese ela repassa o caminho para
esta SÍNTESE pessoal e que foi gerada nesta convicção íntima quando afirma (SOARES. 1961, p. 19) que:
“já
ouvimos alguém condenar severamente o estímulo dado a produção livre de quem se
inicia no campo das artes, alegando que o esboço de um aluno pode chegar a se
comparar com um de Picasso, de Matisse ou outro artista. Oxalá, pensamos nós,
pois nos parece ótimo. O esboço, no caso, se referia a desenho e já não
afirmamos que o desenho, por sua qualidade espontânea, está ligado ao mais
íntimo do artista? Então, por que esses dois íntimos, o do novo e o do
consagrado não se podem parecer?- A continuação, a maturidade, enfim, é que vai
provar se ambos se parecem realmente. A questão é o estudante chegar,
conscientemente, a realizar mais do que este esboço. É vastíssimo o campo do
que podemos chamar a bagagem do artista, e é aí que ele se afirma”.
Porém esta SÍNTESE não é dada e nem é natural. Ela
significava ESCOLHAS para Alice Ardohain Soares que se
concentravam e ganhavam corpo no seu DESENHO. NÃO é possível sobrepor e
cultivar simultaneamente todas as manifestações estéticas mesmo no “vastíssimo o campo da bagagem possível ao
artista”. para dar voz e vez ao DESENHO nas Artes Visuais há necessidade de
ESCOLHER e encontrar caminhos na intersecção do campo da PINTURA e da
ESCULTURA. Ela sabe que as ARTES SÃO
CIUMENTAS e EXCLUDENTES entre si, pois cada uma delas é um MUNDO PRÓPRIO e com
FORÇAS PRÓPRIAS. É RUIDO aquilo que está FORA do CAMPO de cada destas FORÇAS. Além disto, a “ARTE é LONGA e a Vida é BREVE” forçando
a escolhas precisas e escapar do imponderável para não desperdiçar ENERGIAS e
TEMPO. Deste LIMITE da BREVIDADE nasce a
necessidade do SACRIFICIOS das ESCOLHAS em ARTE. Será melhor, para o artista e
para sociedade, quanto mais cedo ocorrer esta ESCOLHA definitiva. Evidente que
as manifestações de Arte podem ser praticadas em qualquer idade. No entanto
constituem “OUTRO CAMPO” como do lazer elevado e estimulante ao modo como
Winston CHURCHIL praticou a Pintura[1].
Neste “OUTRO CAMPO” não há pretensão de carreira ou de profissionalização desta
atividade estética por mais elevada que ela seja. No seu PENSAMENTO a mestra
percebe esta distinção e o sacrifício que significa para quem busca na ARTE uma
carreira e uma profissão para a sua vida. Como mestra lúcida ele escreveu (SOARES.
1961, p. 18) que:
“vamos
aplicar todos os recursos que possam desenvolver a sensibilidade emotiva,
enriquecendo-a de elementos de ordem estética. Sabemos que o artista consciente
conhece o sacrifício. Um aluno bem dotado terá visão deste sacrifício, isto é,
da responsabilidade de enfrentar o trabalho, e o conhecimento de que os quatro
anos de estudo, na escola, são apenas o começo de uma carreira”.
Na longa e profunda gestação do PENSAMENTO
de Alice Ardohain Soares é
possível acompanhar a sua evolução e passagem pela etapas da TESE, da ANTÍTESE
e da SÍNTESE. Na sua TESE impera a
centralidade do DESENHO que ela escolheu no âmbito das demais artes como “O SEU CAMINHO”. Nesta centralidade ela se defronta com a ESCOLHA entre os DOIS ÍNTIMOS gerando a ANTÍTESE se UM
que busca o CONSAGRADO e o OUTRO almeja o
NOVO e INÉDITO. Na SINTISE ela se dá conta da estreiteza deste maniqueísmo estético
e propõe a COMPLEMENTARIEDADE CULTIVADA num “vastíssimo campo que podemos chamar a bagagem do artista”. Evidente
que poucos atingem imunes esta SÍNTESE. A maioria se fascina e se perde no
prato feito e cheio entre as intrigas e nas polaridades forçadas entre
ACADÊMICOS e MODERNOS, entre MODERNOS e PÓS-MODERNOS.... Intrigas interessantes e oportunas que
fornecem recursos para formação de guetos estéticos e munição para rivalidades
sem fim num mundo de reducionismo, de propaganda e marketing “DO MELHOR do MUNDO”.
Alice Ardohain Soares CULTIVA
o seu PENSAMENTO na COMPLEMENTARIEDADE entre
as CONTRADIÇÕES. COMPLEMENTARIEDADE na qual ela se torna competente para
orientar, no mesmo processo da passagem da TESE, superar a ANTÍTESE e atingir uma
razoável e segura SÍNTESE. COMPLEMENTARIEDADE na qual a mestra acompanhou, com
êxito e inequívoca segurança uma nova
geração, diferente dela, com novos desafios de um outro tempo, um outro lugar,
uma nova sociedade e com outras tecnologias.
Alice SOARES faz o retrato de Tasso Corrêa –
Revista Globo nº242 -26.06.1943 p. 20
Fig. 12 Alice Ardohain Soares recebeu,, ainda com estudante, em 1943, a
incumbência do CENTRO ACADÊMICO para realizar o retrato de TASSO BOLIVAR DIAS
CORRÊA[1].
Esta agremiação acadêmica adotado o nome de TASSO
CORRÊA no momento em que este líder entregava o novo prédio de 8 andares erguido, em Porto Alegre, ao longo da II Guerra Mundial e com a ajuda
de 2.000 legionários voluntários.
8 -
Permanência do potencial do PENSAMENTO de Alice Ardohain SOARES apesar
da sua ausência física.
Certamente a grande fortuna do PENSAMENTO de Alice Ardohain Soares não reside
no fato de gerar prosélitos, nem no mercado de sua obras e nem uma “maneira”
fácil e facilitadora. Primordialmente está o seu PENSAMENTO. Este PENSAMENTO torna-se
primordial na medida em que ele aponta e expressa a AUTONOMIA a ser conquistada
em cada momento e por meio de toda obra de arte. Neste caminho ela segue a
norma de gerar, cultivar e repassar o cultivo do hábito da INTEGRIDADE INTELECTUAL
que Max Weber atribui
como apanágio da universidade ao escrever (1989:
70) [2] que:
“o único elemento, entre todos os “autênticos” pontos de vista essenciais que elas (as
universidades) podem, legitimamente,
oferecer aos seus estudantes, para ajudá-los em seu caminho pela vida afora, é
o hábito de assumir o dever da integridade intelectual; isso acarreta
necessariamente uma inexorável lucidez a respeito de si mesmos”
No caso de Alice
Ardohain Soares, o que ela gerou, cultivou e repassou, além do hábito da integridade intelectual, foi
o hábito da INTEGRIDADE ESTÉTICA. INTEGRIDADE INTELECTUAL e ESTÉTICA em coerência com o seu AUTO CONHECIMENTO. A mestra do Desenho permitia a cada estudante
a definição da sua HETERONOMIA CONTRATUAL assumida ao longo do tempo em que ele
estivesse sob a sua orientação. Tarefa que exigia ATENÇÃO da mestra. Cada estudante percorria um processo da
passagem diferente entre a TESE, a ANTÍTESE e a SÍNTESE. Não existem registros
de que esta INTERAÇÃO CONTRATUAL - entre estres estudantes com a mestra - não
funcionasse ou que produzisse ruídos e atritos inúteis, invasão dos limites e
das competências recíprocas.
Assim o seu PENSAMENTO permaneceu no mundo
imaterial. Porém não é nenhuma metafísica, ou instituição ou ideologia, pois é
atingível em outros lugares tempos e sociedades. Ela sabia que “a ARTE ESTÁ em quem PRODUZ e NÃO NO QUE
PRODUZ” na sentença de Aristóteles (1973:
243 114a 10
). Estes produtores de ARTE certamente estão
ativos e se expressam não ao modo de Alice
Ardohain Soares. Levaram adiante a essência do PENSAMENTO do projeto de sua mestra ao
construíram carreiras próprias, ensinaram e principalmente realizaram-se como
pessoas civilizadas, construtivas e fecundas. Certamente este projeto é
ponderável, factível e fecundo.
[1] - TASSO BOLIVAR DIAS CORRÊA http://profciriosimon.blogspot.com.br/2016/04/170-o-pensamento-de-tasso-correa.html
[2] - WEBER,
Max. Sobre a universidade. São Paulo:
Cortez, 1989. 152 p.
Fig. 13 A segura construção desta obra de Alice
Ardohain Soares é um documento PENSAMENTO de
ARTISTA na medida da ascese da escolha da direção da linhas, das cores baixas e
especialmente na conquista do espaço do quadro. Ela está atenta a toda uma construção formal herdado da primeira metade
do século XX. Atenção que ela transfere ao tema da “MENINA LENDO” atenta na sua
concentração solitária.
09 – O pensamento de Alice Ardohain SOARES introduz
outras ESTRATÉGIAS para se tornar
AUTÔNOMO - do MUNDO que se quer HEGEMÔNICO - Nesta sua AUTONOMIA ampliar o seu
potencial de intelectual e de esteta se
aproxima da lógica da livre iniciativa da ERA INDUSTRIAL.
Alice Ardohain Soares adotou
estratégias convenientes e eficazes para
dar corpo tarefa que ela aceitou. Tarefa
que exigia ATENÇÂO da mestra ao processo da passagem entre a TESE, a
ANTÌSE e a SINGTESE que cada um percorria livremente
Nestas estratégias ela se vale do trabalho coletivo
com Alice Esther BRUEGGMANN (1917-2001), com os seus colegas do Centro
Acadêmico Tasso Corrêa com os seus estudantes do ensino superior, a sua
presença e atividade na Escolinha de Artes dos Ex-alunos do IA-UFRGS, a suas
relações com o mercado de arte são ESTRATÉGIAS para expressar e materializar o
PENSAMENTO de centralidade ela se
defronta com a “ESCOLHA entre os DOIS
ÍNTIMOS"
Foto de Luiz Eduardo ACHUTTI
Fig. 14 O mítico ATELIER das DUAS ALICES numa
foto de Luiz Eduardo ACHUTTI. Lugar onde seu PENSAMENTO de ARTRISTA PESQUISADORA e
ORIENTADORA se ancorava e reunia energias para a tarefa da formação de uma nova geração daqueles que
iriam sucedê-las no campo das forças das ARTES VISUAIS .
Uma das estratégias que lhe davam mais retornos era
a de dedicar a sua presença e sua atividade na Escolinha de Artes dos Ex-alunos
do IA-UFRGS. Na sua tese Alice percebeu e registou que o ensino superior das
artes visuais depende da formação anterior deste candidato. Assim pondera
(SOARES. 1961, p. 17) que:
“não
podemos esquecer o velho problema, de recebermos alunos que não foram
estimulados em sua atividade criadora. Nossos métodos de ensino primário e
médio apenas se iniciam nesse setor da educação. Nosso primeiro trabalho ao
recebermos os alunos é ampará-los. Nosso dever é estimulá-los em autômatos”.
A atividade na Escolinha de Artes propicia esta
formação anterior deste candidato à formação
superior nas Artes Visuais. Para a mestra do Desenho Alice Ardohain Soares era uma das mais caras estratégias e cultivada com
carinho por ela.
É de se anotar a estratégia do livre trânsito entre
a academia e o mercado de arte. Ela sabia os limites da cada uma para não misturar
as duas competências e evitava tornar
uma das duas hegemônica sobre a outra. Ao contrário se completavam
reciprocamente, se reforçavam, ampliam o
seu potencial de intelectual e de esteta. Estava em jogo a sua capacidade de
transformar a contradição em complementariedade. A aproximação da lógica da
livre iniciativa da ERA INDUSTRIAL conferia sentido e competência no âmbito
acadêmico.
O perigo desta estratégia mal compreendida e ainda
pior aplicada é evidente. As páginas da mídia estão repletas de deslizes, de
corrupção e de abusos desta estratégia. Contornar este evidente perigo
constitui mais uma amostra da compreensão dos LIMITES no interior das
COMPETÊNCIAS que Alice Ardohain Soares sempre
praticou. Compreensão proveniente da sua
ERUDIÇÃO, da sua ÉTICA e da prática do seu HÁBITO da INTEGRIDADE INTELECTUAL.
Fig. 15 A síntese da linha, da cor e da técnica, atingidas por Alice Ardohain Soares, materializam o seu PENSAMENTO de ARTISTA PESQUISADORA e
ORIENTADORA . O tema é a nova
geração na qual ela deposita as suas esperanças e a crença numa nova
cultura, civilização e modo de vida.
10 - O PENSAMENTO de Alice Ardohain SOARES e o
seu legado institucional.
A obra de Alice
Ardohain Soares aparece como um oásis no meio do deserto cultural e
num ambiente com raros momentos de PESQUISA ESTÉTICA autêntica e autônoma.
Oasis que ela criou com a sua PESQUISA ESTÉTICA a revelia da heteronômica das constantes
ATUALIZAÇÕES da INTELIGÊNCIA mal assimiladas e das enxurradas de MODISMOS de
OCASIÃO. Esta FECUNDIDADE de PESQUISA ESTÉTICA autêntica e autônoma mereceu um
registro MASSOLINI[1]
quando ele cita:
"Ado Malagoli revelou: “Refiro-me as
duas Alices, a Soares e a Brueggemann. Se um movimento artístico no nosso
Estado (RS) possui características originais, com vida espiritual e processos
próprios de desenvolvimento; muito se deve ao ateliê aliciano. Outros valores
consagraram como um recanto de desenvolvimento artístico e cultural,
frequentado, como sempre foi por artistas e intelectuais... De futuro, a
crítica saberá, por certo, enumerar todas as fases do desenvolvimento porque
passou o ateliê das duas Alices, que enriqueceram sobremaneira a cultura artística
do nosso Estado (RS)”.
O sábio e atento mestre
MALAGOLI percebeu neste “ movimento artístico no nosso Estado
(RS) possui características originais, com vida espiritual e processos próprios
de desenvolvimento”
um mundo em gestação e promessas de desenvolvimentos próprios, originais e
únicos.
O legado maior de Alice Ardohain Soares é manter vivo a sólida, decidida e consequente
escolha o “DEUS em NÓS” que Miguel
Ângelo atribuía ao DESENHO .
A Universidade Federal
do Rio Grande do Sul reconheceu, em vida,
toda esta competência, dedicação e produção estética ao lhe conferir em
1980 o título de PROFESSORA EMÉRITA[2].
A posteridade não
esqueceu esta primeira geração de “MENINAS” e as sua contribuição de alto nível
civilizatório que legaram par o PENSAMENTO e ACERVO das ARTES VISUAIS no RIO
GRANDE do SUL. Em 2017 foi lembrado e registrado o CENTENÁRIO do seu nascimento[3]
junto com ALICE ESTHER BRUEGGMAN, CRHISTINA BALBÂO[4]
e LEDA FLORES. [5]
[2] ALICE SOARES PROFESSORA EMÈRTA DA UFRGS em 1980 http://www.ufrgs.br/acervoartes/artistas/s/soares-alice
[3] Centenário ALICES http://www.elfikurten.com.br/2016/12/centenarios-2017-personagens-e-obras.html
[4] - CHRISTINA HELFENSTELLER BALBÃO
- centenário http://profciriosimon.blogspot.com.br/2017/02/197-estudos-de-arte.html
[5] - CENTENÁRIO de QUATRO
MULHERES ARTISTAS http://pinacotecasaldolocatellierubenberta.blogspot.com.br/2017/05/4-mulheres-1-centenario.html
Fig. 16 A vida, a sociedade e a cultura
formaram para Alice Ardohain Soares as circunstâncias do seu
PENSAMENTO direcionado para o DESENHO. O seu passeio
pela Rua da Praia, ao lado de Christina BALBÂO, era uma destas circunstâncias.
Certamente este passeio é uma metáfora da passagem pelo seu TEMPO, LUGAR e
SOCIEDADE
Numa síntese é possível afirmar que o PENSAMENTO, a OBRA o universo dos
ESTUDANTES de Alice Ardohain Soares constituem
uma INSTITUIÇÃO ABERTA e FECUNDA. FECUNDA
para uma retomada da PESQUISA ESTÉTICA autêntica e autônoma. ABERTA para a ÉPOCA PÓSINDUSTRIAL onde tudo se
liquefaz enquanto todos buscam um referencial lógico e coerente com o seu
TEMPO, seu LUGAR e SOCIEDADE. Referencial que o mestre MALAGOLI enunciou como: “ movimento
artístico no nosso Estado (RS) com características originais, com vida
espiritual e processos próprios de desenvolvimento” num mundo em gestação e promessas
de desenvolvimentos próprios, originais e únicos.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS CITADAS
ANDRADE,
Mário. O movimento modernista. Rio
de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1942, 81 p.
ARISTÓTELES (384-322). Ética a Nicômano. São Paulo: Abril Cultural1973. 329p
CHURCHILL.
Winston (1874-1965) - Pintar como Passatempo - Rio de Janeiro: Odisseia. 2012, 72 p. https://www.estantevirtual.com.br/supersebo/winston-churchill-pintar-como-o-passa-tempo-245423342
DUAS
ALICES – Exposição em homenagem às alunas do Instituto de
Belas Artes: Alice Brüeggmann e Alice Soares, comemorando seus 80 anos. Porto
Alegre: UNICULTURA-UFRGS, 24.06 -
25.07.1997.
SOARES Alice
Ardohain (1917-2005) LINHA -
FUNDAMENTO DO DESENHO LINHA - FUNDAMENTO DO DESENHO Linha: Definição
Simbolismo Expressão artística Tese de concurso para o provimento efetivo da
cadeira de Desenho, dos Cursos de Pintura e Escultura do Instituto de Artes do
Rio Grande do Sul Porto Alegre, 196150 p.
WEBER, Max. Sobre a universidade. São Paulo : Cortez, 1989. 152 p.
WEBSTER,
Maria Helena et alii Do passado ao presente: as artes
plásticas no Rio Grande do Sul.
Porto Alegre: Cambona, s/d. 83p.
FONTES NUMÉRICAS DIGITAIS
RESENHA
BIOGR´|AFICA de Alice Ardohain SOARES
PINACOTECA BARÃO de SANTO ÂNGELO de Alice Ardohain SOARES
EXPOSIÇÂO de
2010 de Alice Ardohain SOARES
ACERVO COMERCIAL de Alice Ardohain SOARES
MEMÒRIA CENTENÁRIO de Alice Ardohain SOARES
PENSAMENTO e RESISTÊNCIA de Alice Ardohain SOARES
Desígnio
Obras de Alice SOARES
Obras de Alice SOARES na Pinacoteca Barão de santo Ângelo
Alice SOARES com FORMANDOS do
IA-UFRS- 1975
O ATELIER das duas ALICES
AS QUATRO DE 1917
MISS BRASIL 1956
Dorival CAYMMI
MASSOLINI,
Fernando - Blog “na HORA DO AMARGO – abril 2010
. ORIGENS do INSTITUTO de ARTES da UFRGS
ALICE SOARES PROFESSORA EMÈRTA DA UFRGS em 1980
FRANCISCO
de HOLANDA e MIGUEL ÂNGELO “DIÀLOGOS de ROMA”
MASSOLINI, Fernando - Blog “Na HORA do AMARGO” – abril 2010
QUATRO
“MENINAS” CENTENÀRIAS ou CENRTENAÁRIO de QUATRO MULHERES ATTISTAS http://pinacotecasaldolocatellierubenberta.blogspot.com.br/2017/05/4-mulheres-1-centenario.html
PROPOSTA de
ESTUDO dos PENSADORES das ARTES VISUAIS do RS
Estudado, no dia
24.08.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 03
Olinto Olympio de
OLIVEIRA (1866-1956)
Estudado, no dia
19.10.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 09
Fábio de BARROS
(1881-1951)
Estudado, no dia
28.09.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 07
Ângelo GUIDO GNOCCHI ( 1893-1969)
Estudado, no dia
21.09.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 06
Fernando CORONA (1895-1979)
Estudado, no dia
14.09.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 05
Tasso Bolívar Dias CORRÊA (1901-1977)
Estudado, no dia
05.10.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 08
Athos DAMASCENO
FERREIRA (1902-1975)
Estudado, no dia 31.08.2017,
pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 04
Herbert CARO
(1906-1991)
Estudado, no dia
26.10.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 10
Aldo OBINO
(1913-2007)
Estudado, no dia
09.11.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 11
Francisco
Rio-pardense MACEDO (1921-2007)
Estudado, no dia
23.11.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 13
Frei Antônio do
Carmo CHEUICHE (1927-2009)
Estudado, no dia
07.12.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 15
Carlos SCARINCI (1932-2015)
Estudado, no dia
30.11.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 14
Walmir AYALA
(1933-1991)
Estudado, no dia
14.12.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 16
João Carlos
TIBURSKY (1950 -+17.04.2011)
Estudado, no dia
21.12.2017, pelo GRUPO de PESQUISA - Registro na ata nº 17
SINTESE das postagens dos PENSADORES das ARTES
VISUAIS do RS
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