O pensamento do Dr. Fabio
de Barros (1881 – 1952)
“Fragmentos
de uma história”.
Pesquisa e Apresentação de Ilita PATRÍCIO
Grupo de pesquisa da AAMARGS
Fig. 01 – Fábio de BARROS, (Uruguaiana, 28.08.1881 –
Porto Alegre, 05.03.1952) Foi médico, jornalista, cronista, crítico de arte. Colaborador
assíduo da imprensa da capital gaúcha, desde 1900. Usava os pseudônimos: Vitor
Marçal e Vitoriano Serra. Nas raras fotos do medico psiquiatra Fábio de BARROS emerge a sua
imagem austera com o olhar focado nos seus observadores. Os seus textos mantém esta tensão
entre o emissor e receptor. O emissor - consciente de suas competências e
limites – percebe, do outro, o
repertório e trabalha para estabelecer interações significativas e coerentes interações significativas e coerentes para
as quais se vale da escrita, nos textos e na escolha apurada da gramática e
vocabulário..
Fábio de
BARROS foi apresentado por Ilita
PATRÍCIO como um dos PENSADORES
das ARTES
VISUAIS do Rio Grande do Sul. Ela
distribuiu aos presentes um texto poli copiado em vinte e seis (26) laudas.
Repassou a sua lietura para DIONE MARQUES, Esta iniciou por uma biografia
lendo que Fabio Barros nasceu em Uruguaiana e veio ainda menino, para Porto
Alegre, onde fez seu curso de humanidades Matriculou-se na Escola Militar,
donde em breve retirou-se por sentir não ser essa a carreira de sua vocação.
Seguiu então para o Rio de Janeiro e ai fez o
curso de medicina com muito agrado de seu avô Dr. Balduino do Nascimento,
médico que deixara um nome respeitado e querido em Uruguaiana. De volta a Porto
Alegre, Fabio logo ocupou o lugar de médico legista da polícia, fez concurso
para a cátedra de fisiologia na nossa faculdade, em 1908, sendo recebido por
unanimidade de votos. Em 1917 seguiu para Europa como membro da missão médica
brasileira que fora prestar seus serviços na guerra 1914 1918. Ai fez ótimas
relações, entre as quais, com o sábio professor Georges Dumas que muito o
considerou como um belo espírito vastamente cultivado.
Novamente em sua terra natal, apresentou-se a
segundo concurso na faculdade para a cadeira de clinica neurológica que bem se
enquadrava com seus estudos e vocação. Transferindo-se por este meio para a
regência daquela disciplina, ai se conservou , deixando a impressão imperecível
na lembrança de quantas turmas o acompanharam. Além de suas atividades no
magistério, ocupou mais 2 postos nos serviços médicos do Estado:
O de alienados no Hospital São Pedro e o de
Diretor de Saúde Pública. Nada disto impediu, porém, que ele se notabilizasse
no jornalismo, onde até hoje cintila o seu talento como um dos mais notáveis
cronistas do pais. Profundo conhecedor da língua que ele ama através dos seus
mais puros modelos, é dotado de larga e variada cultura e há muito que o meio
crítico o tem como um polígrafo autentico.
SALÃO de OUTONO de
1925 Porto Alegre Revista Máscara -
ano VII nº 7 junho 1925
Fig. 02 – Os próprios organizadores do SALÃO de OUTONO de
1925 se surpreenderam com a quantidade e diversidade daqueles que se dedicavam às
ARTES VISUAIS, de uma outra forma em PORTO ALEGRE. Entre os organizadores estava o
cronista de artes, medico psiquiatra
Fábio de BARROS. Ele acompanhava estes artistas desde fevereiro de 1925 do
BAILE de CARNAVAL organizado pelos “PHILÓSOPHOS”. O orador, com os papeis na
mão, é
o desembargador Manoel André da ROCHA, presidente do evento. Entre outros aspectos é
possível neste Salão a interação e a colaboração recíproca dos SABERES
SUPERIORES ativos em PORTO ALEGRE nesta ocasião..
Participou
da organização do Salão de Outono de 1925. No “Correio do Povo”, depois de ter
sido o apreciado crítico da seção de artes, como seu digno substituto do inesquecível
Mauricio Böhm[1],
tornou-se o festejado cronista que todo o pais admira, em Vitoriano Serra.
[1] Maurício
BÖHM era pseudônimo de Olympio Olinto de OLIVERA como critico da arte do
Correio do Povo e do qual foi um dos fundadores em 1895. A Música tomava maior
espaço na coluna critica de Olinto de
Oliveira , Fábio de Barros continuou este linha e a severidade de crítica do
seu antecessor Com a retirada do Olinto de Oliveira para o Rio de Janeiro, Fábio
de BARROS, que também compunha música, tomou, no dia 04 de outubro de 192, uma das 25 cadeiras da COMISSÃO CENTRAL do IBA-RS
Fig. 03 – O medico Olympio Olinto de OLIVEIRA – ou Maurício
BÖHM - ao lado do Presidente do Estado
Carlos BARBOSA GONÇALVES ( de cartola) Os dois
médicos estão presentes no lançamento da pedra fundamental do prédio da
Faculdade de Medicina no atual campus Central de UFRGS. Fabio de Barros irá suceder Olympio de
Oliveira quando este se aposentou e foi residir no Rio de Janeiro. O sucedeu
também nas crônica de arte no Correio do Povo, na Comissão Central do IBA-RS
ocupava, desde 1908, o cargo de professor
concursado da Faculdade de Medicina.
É também considerado o primeiro professor rio-grandense de História das Artes Visuais na Escola de Artes do INSTITUTO DE BELAS ARTES
Do RGS. Não fui capaz de encontrar documentos desta etapa de sua vida
profissional. Foi como jornalista que consegui mais informações que ajudaram a
tentar perceber como era este homem tão polifacético, um homem extremamente
culto, tendo seus textos citações em francês, latim, grego e outros. Seus
escritos, deliciosos, prendem a atenção e também por ainda serem seus temas tão
atuais. Na sua intensa atividade fundou e dirigiu a revista Máscara 1918,
jornal Manhã de 1920 até 1921 e o Correio do Povo entre 1929 e 1930. Foi redator
do Diário e a Federação. No dia 28 de novembro de 1938, no Hospital São Pedro,
realizou-se a sessão inaugural da então Sociedade de Neuro-Psiquiatria do Rio
Grande do Sul. Foi eleita a primeira diretoria, assim composta: Dr. Jacintho
Godoy (presidente), Dr. Fábio de Barros (vice-presidente) e Dr. Cyro Martins
(secretário). Foi nomeada também uma comissão para a elaboração dos estatutos,
assim constituída: Dr. Dyonélio Machado, Dr. Almir Alves e Dr. Paulo Louzada.
De 1938 a 1940, a Sociedade reunia-se mensalmente para discussão de casos
apresentados por um de seus membros e apreciação para admissão de novos sócios.
Após este período, a Sociedade entrou lentamente em decadência. Após um
reerguimento temporário, já realizando suas sessões na sede da Sociedade de
Medicina, houve uma fase de estagnação e colapso. O Dr. Cyro Martins
denominou-a genialmente como a “fase da idade média da Sociedade”.
Fig. 04 – Ilita PATRÌCIO e Dirce ZALEWSKY socializam a sua pesquisa com
o foco no PENSAMENTO do crítico de arte, medico psiquiatra Fábio de BARROS O grupo de PESQUISA da AAMARGS está reunido, no dia 28 de setembro de
2017, no MARGS para estudar, debater e continuar a investigar as expressões do
pensamento que emerge do campo das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL
A seguir Ilita apresentou alguns trechos dos artigos
de Fabio de Barros que para ela selecionou,
pois pareciam, de certa forma, ilustrar seu modo de pensar a vida e suas circunstâncias. As fontes do PENSAMENTO de FABIO de BARROS que ela consultou
foram Fabio de BARROS, Colheita .Oficinas Gráficas da Livraria do Globo . Porto Alegre
(1944) além de Palavras Ocas. Porto Alegre: Livraria do
Globo – (1923) e uma obra coletiva com Armando CÂMARA Porto Alegre: Revista Estudos , (1943) No
obra de 1944 ela destacou p 13-21 o texto
“O
Primado do Músculo” onde Fábio de Barros escreveu “Pouco antes da atual guerra,
Georges Duhamel publicou um interessante e sólido estudo sobre a deplorável
influência do desportismo na cultura da mocidade francesa. Verificando, cheio
de consternação, que um Bacharel de 1938 sabe menos grego, menos latim e menos
francês que um contemporâneo de Racine, aquele publicista lavra um veemente
libelo contra a tendência, evidente de mais para ser contestada, e com foros de
cidade mesmo nos meios oficiais, para degradar a cultura intelectual em
beneficio da cultura do músculo”.
Fig. 05 – Talvez mais grave do que reduzir a inteligência ao
cultivo do corpo e do músculos e a redução deste corpo a uma mera imagem. A imagem é sempre algo que está no lugar do que já existiu, Na medida em
que a era industrial, o marketing e a propaganda conseguem reduzir estes
músculos, corpo e inteligência a uma imagem é sinal que inteligência, o corpo e
os músculos existiram alguma vez como entidade e direitos próprios. No seu lugar está uma imagem que é algo que se
tornou um mero objeto de idolatria ou de descarte. Objeto que pode ser tanto
adorado como ídolo ou, então, ser
levado, sem qualquer remorso, para o descarte nos fornos crematórios.
Obra de Adolf ZIEGLER (1892-1959) https://www.sartle.com/artist/adolf-ziegler
Os
presentes lembraram o ambiente da época onde começava a industrialização do
esporte, a construção de ídolos pela mídia e a oferta de produtos, material e
equipamentos para o exercício físico
corpo. Neste sentido foi lembrado o projeto nazista da eugenia e da raça
humana, evidenciada nos corpos dos atletas. Na mesma obra de 1944 Fabio de
Barros discorre pp.22-25, sobre
Francesca de Rimini. Neste texto, falando sobre a Divina Comedia colhemos o
seguinte comentário:
“A arte não tem a verdade por objeto, mas o
belo. Quando porém, ela se apodera de um fato histórico e o transfigura e
deforma, criando uma ficção, a ficção fica sendo a verdade, e a História tem
que ceder. Afinal, que melhor garantia de veracidade nos pode oferecer a
História dos fatos, que menos se contestam, se não possui outra forma de
informação se não o testemunho, sempre falível, dos homens?”
O
desencanto de Fabio de Barros com a política os políticos brasileiros está no
artigo intitulado “Entre Platão e
Aristófanes” do qual Ilita ressaltou amos alguns trechos muito
interessantes e atuais. Entre eles Fabio de Barros escreveu em 1944 nas pp.
41-48.
“Menos compreensível é que, ainda hoje,
passados mais de vinte séculos, exista quem pretenda atribuir foros de dogma político a superstição que ligar a sorte da democracia aos discurso. Digo-lhes
aqui, confidencialmente, que esta solução não satisfaz completamente os meus
sentimentos. Se me fosse permitido, como brasileiro, formular um voto, pediria,
com todo o respeito a S. Ex. o senhor Getúlio Vargas, que houvesse por bem
fechar as portas da Câmara e do Senado e atirasse as chaves na baia da
Guanabara, bem ao fundo.”
Fig. 06 – O nome Hippolyte Léon DENIZARD RIVAIL (1804-1869) e
a obra “Education publique” (1828) submergiram no seu pseudônimo Alan Kardek e pela vulgarização e
reducionismo das suas ideias realizadas pela Revista Espírita a partir de 1858.
No Brasil esta doutrina seguiu o mesmo destino de
vulgarização e reducionismo que sofreu Augusto COMTE do seu CATECISMO
POSITIVISTA. Isto apesar do pintor Pedro
AMÉRICO haver defendido, em 1867 na sua tese “SISTEMA das CIÊNCIAS” defendida
diante de 2.000 pessoas na Universidade
Livre de Bruxelas. Em Porto Alegre Olinto de Oliveira foi certeiro na distinção
entre COMTISMO e POSITIVISMO defendido em dois artigos publicados em 1897 no
Correio do Povo
Em
outro artigo intitulado “medicina e espiritismo” de 1944, nas pp. 54 -62.
“Durante muito tempo os espíritas e os
médicos viveram em santa paz cada qual nos seus domínios. De certa maneira
pode-se dizer que o espiritismo nasceu da medicina. O pai do espiritismo era
médico. Chamava-se Rivail, de seu verdadeiro nome. Observador curioso, dado a
experimentação cientifica, sucedeu-lhe ver coisas que os outros não viam, ou
viam de modo diferente. Eram fenômenos pouco habituais e de uma natureza
especial. Não estavam na Ciência Oficial e acadêmica. Procurou explica-los.
Como além de obscuro e místico, possuía imaginação, não lhe custou nada abrir
uma fresta na consciência, por onde passou um raio de sobrenatural. Não era uma
claridade ofuscante antes uma penumbra discreta. Ninguém ignora que fantasmas
gostam de sombra. Eis porque o espiritismo é uma espécie de filho natural da
Medicina. Por que brigam agora? Para mim, como para os ilustres membros da
Sociedade de Medicina e Cirurgia, a doutrina espírita é pueril, extravagante,
arbitraria, fantasista. Num ponto porém divergimos, se a Sociedade me observar
que são, principalmente os pobres de espíritos que sustentam o Espiritismo,
advertirei ser inútil e, ao de mais injusto, pedir providencias à polícia
contra a tolice humana”.
Quanto
as médicos que se dedicam à ARTE e à POESIA - mesmo já na terceira idade -
Fábio de Barros artigo “Poesia nova” no qual, sob o seu pseudônimo
habitual Vitoriano Serra escreveu, em 1944 pp.
135-142 que:
EMÌLIO KEMP num desenho de um seus estudante e
publicado na REVISTA ESTUDO - nº1 - 1930 - p.13 .
Fig. 07 - O médico, jornalista, poeta e pedagogo Dr. Emílio KEMP LARBE (1874-1955)[1]
havia defendido tese de doutorado na mesma área de pediatria do que o Dr
Olímpio OLINTO de OLIVEIRA. Fernando Corona recebeu
preciosa ajuda no planejamento do Jardim de Infância de INSTITUTO de EDUCAÇÃO
FLORES da CUNHA de Porto Alegre da parte do Dr, Emílio KEMP e proveniente da sua
condição de pediatra profissional
“Emilio
Kemp teve a gentileza, que lhe agradeço, de oferecer –me um exemplar do seu
novo livro e versos. Novo, em mais de um sentido. Novo, pela data da
composição, que é recente (1938-1942); novo pela forma, que é novíssima e se
afasta, nalguns dos CANTOS de AMOR ao CÉU E À TERRA, daquela em que o poeta
vazou suas emoções, por volta de 1900, ao publicar uma primeira coletânea de
poesias... São porem infidelidades que suas musas já lhe terão perdoado, em
consideração do muito que ele as tem sabido amar. Não nos iludamos; este poeta
novo é um poeta velho. Uso a expressão sem a intenção depreciativa que ela
parece ter para a moderna geração de escritores e poetas. Os moços, no seu justificado entusiasmo, e
com a admiração que lhes merece a própria obra, acreditam nada dever ao
passado, e o tratam com desdém, esquecidos que, um dia, serão igualmente velhos
e olharão o presente com desconfiança. Nem tudo é mau na velhice, nem tudo é
bom, na juventude. Mas é natural e mesmo útil que os velhos sejam prudentes e
os moços revolucionários. Por esse conflito de ideias estabelece-se um justo
equilíbrio e, após a luta fica no campo alguma coisa de que as gerações
posteriores aproveitam. Em arte, como na vida, o instinto me conduz. E quem não
vê que o instinto é um guia mais fiel e mais seguro que a inteligência?” .
Ilita
comentou que se constitui num texto muito interessante. Como os anteriores não
trata diretamente da arte visual mas nos traz a baila a maneira de Fabio de
Barros posicionar-se frente aos fatos. Cirio Simon informou que o medico,
jornalista e pedagogo Emílio KEMP LARBE tinha defendido tese de doutorado na
mesma área de Olímpio Olinto de OLIVEIRA. Assim
Fernando Corona recebeu preciosa ajuda do Dr. Emílio KEMP no
planejamento do Jardim de Infância de INSTITUTO de EDUCAÇÂO FLORES da CUNHA de
Porto Alegre. Os presentes comentaram que o governo do Estado do Rio Grande do
Sul dedicou a titularidade de uma das suas unidades escolares ao Emílio KEMP.
Fig. 08 – Público atento e interagindo com a
exposição de Ilita PATRÌCIO e Dirce ZALEWSKY no momento em que estas
apresentavam, no dia 28 de setembro de 2017, a sua pesquisa relativa ao
PENSAMENTO do crítico de arte, medico psiquiatra Fábio de BARROS O projeto, de 2017, do grupo de PESQUISA da AAMARGS, é estudar, debater e continuar a investigar os
representantes que se dedicaram ao campo das ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL
por meio das expressões do seu pensamento ainda disponível, significativo e
ativo no presente.
No
artigo “Literatura e Psiquiatria” Fábio de Barros registrou em 1944, pp. 143 – 147:
“Informaram
os jornalistas desta semana, que o meu eminente amigo professor Austregésilo,
médico e membro da Ilustre Companhia, dando seu inestimável concurso aos vários
atos com que se celebra, no Rio, o centenário de Machado de Assis, pronunciará
na Academia Brasileira de Letras uma conferência, analisando, sob aspectos
psiquiátricos, a obra do grande romancista [....] Não me parece que exista
relação necessária entre o físico e o moral, entre o sistema nervoso e a alma.
Mas, quando mesmo se demonstra a existência dessa relação, que adiantaria a
verificação sob o ponto de vista estético? Explicar a obra pelo autor não se me
afigura um processo de crítica recomendável, em todos os casos. Nem sempre é
possível encontrar na obra literária da neurose ou da psicopatia do
escritor...Eis por que eu desejaria que a obra literária de Machado de Assis,
como toda a obra de arte, seja estudada e examinada em si mesma, na sua própria
beleza especifica, independentemente das condições que a fizeram nascer. Aliás,
se alguma cousa valem alguns homens, é exatamente por que, a despeito das suas
fraquezas ou das misérias da sua natureza material, conseguem elevar-se a
alturas a que não podem atingir a enorme maioria dos seus semelhantes, e,
criando uma forma de beleza, nos tornam a vida mais tolerável. E é
ainda uma verdade que devemos louvar a beleza, desinteressadamente e onde quer
que ela encontre, como louvou Aristóteles, que o considerava o melhor e o mais
raro dom dos deuses e a condição mesma da felicidade”.
Fábio
de Barros
expôs sua posição face as
narrativas histórias quando na “História de Hitler” escreveu,
1944 p 209, que
“a ficção, na história, utiliza os acontecimentos e dá-lhes uma forma
de arte, da mesma maneira que a escultura tira do mármore a estátua. Todo o
historiador é um artista, quando não seja, apenas um imbecil. Os gênios e os
monstros são igualmente necessários à completa harmonia do universo, que, sem
eles, nos pareceria menos perfeitos. Sem Hitlers e sem Bonapartes e também sem
Mussolinis e sem Göbbels – a comédia humana seria de uma horrível insipidez e o
mundo de uma intolerável monotonia. E a vida não será de toda má, se tivermos o
bom senso de distinguir as coisas, prevenindo-nos de confissões que nos
exponham ao risco de cairmos de novo, no caos primitivo”
Mesmo
nos piores e críticos momentos Fábio de Barros não perde o rumo ou se deixa fascinar pela propaganda de um mundo em
confronto de morte. Ao tomar posição no artigo “Delenda Cartago!” distingue o que deve ser destruído e aniquilado e o
que necessita ser preservado e continuar a ser cultivado como civilização Assim
escreveu, 1944 p 209, que :
“talvez não acreditem o que vou dizer. É uma
confissão arriscada neste momento; corro este risco: eu admiro a Alemanha e o
povo alemão. A filosofia e a poesia alemãs foram o cimento da minha educação
intelectual. Devo-lhes o gosto pela cultura clássica e pelo velho iluminismo,
tão desdenhado hoje e no qual se formou o meu espírito. Da Alemanha e do povo
alemão conservo n’alma recordações que se não apagaram porque são recordações
de mocidade. Como não admirara terra e o povo de onde surgiram Kant, Winkelman, Schopenhauer , Schiller e Lessing, Goethe e Heine , Tieck e Novalis,
Dürer, Beethoven e Bach? Como não admirar a Alemanha criadora do maior
movimento de ideias que embalou século XIX, no seu nascimento, o Romantismo, a
Alemanha liberal, sonhadora e revolucionaria de 1848, que se insurgia contra o
despotismo militar e levantava barricadas nas ruas de Berlim contra os
batalhões de Prittwitz? Eu poderia dizer alguma coisa da velha Alemanha, “loira
guardadora de ursos”, amante da paz e do estudo, que nos fazia rir os atrevidos
generais de Bonaparte, que a julgavam capaz somente de produzir poetas e
filósofos. Há trinta anos, eu visitei, como viajante sentimental, algumas das
cidades, onde as antigas e poéticas tradições haviam resistido à devastação da sólida bota prussiana e nelas respirei o sutil e cativante perfume do passado,
que, como o de certos vinhos guardados por muito tempo, produzem a embriaguez
eufórica e generosa de um filtro mágico. Mas não enganarei ninguém, dizendo que
foram os pensadores e poetas alemães que me ensinaram a detestar a Prússia e o
prussianismo...
Continua na p. 228, “eu que sempre
admirei a Alemanha honesta e sonhadora, em verdade vos digo: é necessário
destruir, a todo custo, o nazismo nas suas origens mais profundas. A severidade,
a dureza do ataque é o preço da nossa tranquilidade futura, que está sendo
alcançada com incalculáveis e ingentes sacrifícios. Queremos a paz: ela é o
melhor dos bens a que podemos aspirar”.
Preparando cenários para
ao baile “PHILOSOPHIA” no Theatro República – Porto Alegre. In Revista Máscara - 1925 http://prati.com.br/bwg_gallery/sociedade-revistas
Fig. 09 – A gênese do SALÃO de OUTONO de 1925 está no grupo
que preparou, em manga de camisas, os
cenários do BAILE de CARNAVAL denominado “PHILOSOPHIA” de fevereiro de 1925 . Um dos princípios para gerar projetos de pertencimento é o trabalho
coletivo. Esta norma é particularmente perceptível na formação de movimentos estéticos.
O medico, psiquiatra e crítico da arte Fábio de BARROS estava envolvido nas formações de grupos de
músicos. Com esta experiência Fábio esteve ao lado dos artistas visuais de
Porto Alegre quando estes resolveram socializar as suas obras que Joaquim LE
BRETON denominava de “ARTES NOBRES”. Fabio de BARROS as distinguia das “ARTES
MENOS NOBRES”
No
artigo “A Arte e a Moral” Fábio de Barros conduz o seu pensamento por meio de
amplos critérios nos quais se adivinha a sua formação psiquiátrica e as canecões
e suas escolhas estéticas. Assim registrou
1944 p. 230 que
“li, não
lembro onde, ser difícil que um sermão sobre a castidade se mantenha
inteiramente casto, de princípio ao fim. E isso é quase toda a literatura e
quase toda a arte. Que seja assim, não é de admirar. A função da arte é
produzir certo gênero de emoções que se propagam por contagio nervoso.....
Talvez se explique assim a predileção da literatura moderna, pelo menos, a de
certas escolas literárias, pela pintura e pela análise de sentimentos anormais,
pelo estudo dos casos patológico e, até mesmo dos teratológico, e o gosto de
nos mostrar o homem sujeito aos seus grosseiros instintos atávicos....”..
Recorte
colagem de uma página do Diário de Francis PELICHEK – Arquivo do IA-UFRGS
SALÃO de OUTONO de
1925 Porto Alegre Revista Máscara -
ano VII nº 7 junho 1925
Fig. 10 – Uma interferência do artista tcheco Francis PELICHEK
sobre uma página da Revista Máscara que fazia um ampla reportagem do SALÂO de OUTONO de 1925. PELICHEK esteve envolvido tanto na preparação do BAILE de CARNAVAL
como na SALÂO de OUTONO. De outra parte é necessário destacar a verve e
experiência carioca de Helios SEELINGER, como a do medico, psiquiatra e crítico
da arte Fábio de BARROS e Tasso CORREA ambos com a sua formação
acadêmica realizada no Rio de Janeiro e onde viveram o clima de carnaval
carioca.
Fábio de Barros continua na p. 240 que:
“é uma lei da psicologia que as ideias tendem
a realizar-se e os sentimentos a se exteriorizar. A arte, que nos sugere ideias
e sentimentos , pode , desta sorte , oferecer normas à conduta e dar uma
direção ao espirito... Eu sei perfeitamente que arte não é o mesmo que a moral.
Uma coleção de poesias não é um catecismo de direção espiritual”.
Este pensamento ganha forma na 241
“Eis porque uma arte que se compraz em
explorar as ideias menos nobres e os sentimentos que deprimem, em vez de
exaltar o indivíduo; que nos mostra o homem degradado, pinta a vida nos seus
aspectos mais repulsivos, e vê o mundo através de um pessimismo dissolvente,
uma arte, no fundo, inferior, sob o ponto de vista moral, é também inferior sob
o ponto de vista estético”
Na
mesma linha Fábio BARROS prossegue, 1944, p.247:
“que o
artista interprete e reproduza a natureza, muito bem. É um modelo excelente sob
a condição de não ser olhado de muito perto. Aliás, naturalistas ou românticas,
pintando o homem, o que ele pensa e sonha, o que ele sente e imagina, a arte
não sai do círculo estreito dos fatos naturais. Mas “a natureza só é bela
velada e talvez fosse preciso representar a arte, como o amor, com uma venda
nos olhos.” A natureza – e nela compreendo o coração do homem – tem mistérios
que não querem ser revelados, e nos advertem com um” noli me tangere”.
Neste
ponto Fábio BARROS na eterna problemática do TOTEM e do TABU em cujos extremos :
“uma grande curiosidade pode converter-se num
crime cujo castigo, é a morte do ideal. Foi o crime e, também o castigo de
psique. Mas, sem o ideal nenhuma arte é possível”.
Fig. 11
– Heitor MALAGUTI foi o libretista do texto italiano da ópera CARMELA
(1902) de José de ARAUJO VIANNA. Por sua vez Fábio de
BARROS havia composto em fevereiro de 1898 a música da ópera ESMERALDA
cantada por Stela Teixeira. Teatro S. Pedro, música de Fábio Barros e João
C. Fontoura, libreto de V. Oliveira, Arnaldo D. Oliveira e V. Vereza
Diante da
obra inacabada de Heitor Malagutti (1872-1925),
um artista com qual Fábio de Barros conviveu no antigo Rio de Janeiro
antes de Pereira Passos e Oswaldo Cruz. Na apreciação da obra do pintor o
cronista de arte escreveu 1944, p. 248 que :
“para traçar um retrato de Malaguti eu
precisaria de graça leve, das musas da Antologia, eximias no fundir, para a
eternidade em dois ou três versos alados e sutis, de uma melancolia sorridente,
a fisionomia de seus amigos mortos....Conheci-o em 1902. O Rio de Janeiro
daquele tempo era a velha cidade colonial de vielas irregulares e menos
cosmopolita, pois a febre amarela realizava então, um trabalho de
nacionalização mais seguro que o em que nos empenhamos hoje...”. e
prossegue na p, 251 “conheci Malaguti ,
nas portas da confeitaria Colombo. O maestro Araújo Viana fez as apresentações.
Malaguti nasceu sob o céu límpido da Itália e veio para o Brasil ainda nos
braços maternos. Criou-se no Rio, numa rua de subúrbio, como os pássaros e as
flores, à lei da natureza, que lhe concedeu sensibilidade delicada, a
inclinação e o gosto naturais para a arte, o amor da liberdade e quase tudo
quanto ele sabia, que era muito, porque é a vida. Adolescente tocava flauta
numa banda musical de bairro e conheceu Carlos Gomes. O mestre descobriu no
menino disposições para a música e propôs-se a leva-lo para Milão. Voltou ao
Rio já homem, não musico mas pintor e poeta, apaixonado por Dante e dos
clássicos latinos, especialmente Horácio, e com um sentimento ainda maior de
liberdade dentro do coração. Grande critico dele mesmo e dos outros. É pena,
costumava dizer, com frequência, aos seus companheiros de arte, vocês tem
talento, mas são escravos, e em arte precisamos ser livres. Pintor deixou
poucos quadros, todos inacabados. No seu modesto atelier havia sempre uma tela,
no cavalete, a espera da mão do artista. Tinha a imaginação poderosa e fecunda.
Perdia-se em projetos, sem forças para realiza-los. Creio que seu último quadro
foi um nu quer deveria ser admirável- Beatrix- em cuja moldura em estilo
dórico, como o pórtico de um templo pagão, mandou gravar um versículo bíblico.
A figura era de uma adolescente, de pé, a cabeça ligeiramente inclinada para a
direita, de olhar curioso e surpreso pelo estudo novo de vida que lhe inundava o
sangue. Pendia-lhe, do pescoço, uma fileira de pérolas, que se lhe insinuavam
entre os seios virgens, apenas núbeis, e iam enroscar-se lhe nos pulsos como
duas serpentes. Como fundo, longínquo, numa perspectiva fugidia, um pôr do sol
luminoso, sobre o outeiro da Gloria, em face para o mar, com as suas palmeiras
esguias e a silhueta da velha igreja. O quadro figurou inacabado, no salão de
Belas Artes de 1903 ou 1904 passou
despercebido, apesar de suas grandes qualidades. Malaguti foi um artista que
poderia ter sido grande, mas faltou-lhe aquela constância paciente, que para
Bufon era a condição mesma do gênio”.
Na obra
“Palavras Ocas”, editado no ano de
1921, e da qual se preserva a grafia original no tema “A Moral das Ligas” Fábio de Barros escreveu na p 58 que
“em geral, a moralidade ou a imoralidade não
constituem uma qualidade inerente à natureza das coisas. O conceito ético depende
da ideia que associamos aos fatos. Esta conclusão é perigosa para todos os
moralistas e para a “Liga”, mui especialmente. Pense-se, apenas, que a Liga
deve, por função, pronunciar-se constantemente, com o zelo peculiar á sua alta
dignidade social, sobre a vida diuturna da cidade, sobre nossos usos e
costumes, e, portanto, revelar o pensamento íntimo, a série de imagens mentais
que circunstâncias, de ordinário indiferentes á moral, despertam em sua
consciência impoluta. Desde o momento em que alguns cavalheiros puros, se
congregam para fundar uma “Liga pela moralidade pública ” investida de uma
autoridade omnimoda para julgar a
conduta alheia , dando-a como moralmente digna ou indigna , é de supor que os membros da terrível agremiação tomassem todas as providencias para assegurarem a posse de uma
certeza moral insofismável e absoluta.....” Na p 61 Fabio é incisivo...
“Os artistas, os poetas, sambem-no todos, são os mais imorais dos seres.
O caminho da arte é o caminho da perdição. Ela é volúpia, ela é sensualidade, ela é o desregramento dos sentidos...”
Na p 63 conclui irônico...
“Positivamente, em matéria de moralidade, as
únicas ligas que me seduzem são as de seda…”
Os
presente lembraram a atualidade desta discussão face a uma exposição realizada
em Porto Alegre violentamente contestada, defendida e que a instituição
resolveu encerrar antecipadamente. Nas suas competências e dos seus limites
Fábio de Barros esteve consciente, como é possível verificar em “ADVERTÊNCIA AO LEITOR” ao iniciar a sua
obra intitulada “A Colheita”
publicada em 1944
“Compõe
este volume alguns artigos que publiquei no “ Correio do Povo”....Aos
que me lerem por estima pessoal não será difícil verificar que em cada artigo
deixei um traço de mim mesmo: o conjunto delas será um retrato, grosseiro, mas
fiel e sincero, que a amizade poderá reconstituir quando eu já não for dentre
os vivos, o que acontecerá em breve, tenho certeza. Medindo o espaço já
percorrido, no caminho da existência é fácil calcular que pouco me resta a
andar até o ultimo marco. Sem contar com que é natural, outras causas estão
cooperando para encurtar o último trecho da jornada. Sinto a vida fugir-me
rapidamente, como a água por uma falha imperceptível do vaso que a contem. Não
indago o que virá após. Seria perder tempo, sem proveito. Quem conseguira
penetrar no mistério da morte?”
Jacinto
GODOY e equipe da SANTA CASA – Porto Alegre: Revista Máscara – 1925
Fig. 12
– O Dr. Jacynto GODOY[1]
com a sua equipe médica ativa, em 1925, na Santa Casa de Porto Alegre. O medico psiquiatra Fábio de BARROS foi
vice-presidente da “Sociedade de Neuro-Psiquiatria do Rio Grande do Sul” tendo como presidente o Dr. Jacynto GODOY com reunião regulares
mensais entre os anos de 1938 e 1940
Ilita
PATRÍCIO fez uma avaliação de sua pesquisa e os resultados obtidos. Em
“Comentários finais” escreveu:
“Não encontrei textos específicos sobre
pintura ou escultura, no material que tive acesso, apenas fragmentos que tentei
recolher. Durante seu período no Hospital Psiquiátrico São Pedro
também não achei muito material especifico sobre seu trabalho , penso
que era pelo fato de ser vice-diretor do Dr Jacintho Godoy. Seus temas
preferidos eram a literatura e história. Conhecedor dos pensadores gregos,
romanos, franceses alemães. Fazia citações em várias línguas. Observador dos
costumes e crítico dos mesmos. Vários artigos sobre o papel da mulher na
sociedade. Li com prazer os textos do Fabio de Barros, tentando construir uma
imagem de suas ideia sobre arte e a vida. Este recorte certamente será diverso
quando os textos forem lidos com outros olhos. Confesso que a seleção foi
subjetiva, deixe-me levar pelo instinto como Fabio me ensinou. Este é um
pequeno começo para desencadear um trabalho mais completo sobre este médico
multifunção!”.
Fig. 13 – O panorama de Porto Alegre, no início do século XX,
visto de uma das ilhas fronteiras e estampadas numa litografia da gráfica
Weingärtner. A capital do estado do Rio Grande do Sul foi o cenário das
críticas e crônicas de artes do medico psiquiatra
Fábio de BARROS. Apesar de sua origem em Uruguaiana
ele escolheu o lugar, o tempo e a sociedade metropolitana para exercer a sua
ciência e arte. De outra parte foi fiel a esta escolha até os seus últimos
dias. A tendência natural era migrar para o Rio de Janeiro com clima mais ameno
e uma intensa variedade de vivências estéticas, políticas, técnicas e
econômicas.
Ilita
escreveu um “Apêndice” no qual, por
curiosidade, trouxe alguns dados extraídos da obra “Estrychnina”
1997, de Luís Augusto Fischer. Este escreve que
“ Porto
Alegre, em 1881. ano de nascimento de
Fabio de Barros, pertencia ao regime da Monarquia. Se inaugurava o primeiro
chalé da Praça Quinze, a cervejaria Bopp,
o Prado no Menino Deus e a exposição Brasileira Alemã. Apareceu o jornal
“ Koseritz Deusche Zeitung. Primeira eleição direta para o parlamento nacional
quando Porto Alegre tinha 1687 eleitores e se iniciada a construção do Asilo da
Mendicidade. Já em 1900, Porto Alegre
contava, com 73.674 habitantes. Em contraste o Rio já contava com 612.933
cidadãos, são Paulo 239.820, salvador 205,813 Recife 113.106.A capital gaúcha
vinha e um crescimento populacional constante e homogêneo, desde o começo do
século, diferentemente de São Paulo, que entre 1840 e 1890 tinha população parecida
com a Porto Alegre mas estourou nos últimos dez anos do século. Entre os vários
jornais que circulavam então temos A Reforma, (1869-1912), Jornal do Comércio
(1864- 1911), e a Federação (1884-1937) órgão oficial do partido Republicano.
Todos traziam textos dos mais significativos intelectuais e artistas da época.
Na política, Fabio de Barros nascido então em 1881, viveu a época da Guerra
Civil de 93, luta mais sangrenta que o Brasil terá visto. Foi a revolução da
degola, a revolução da truculência aberta e impudica. De um lado o Estado
positivista republicano engendrado pelo jovem Júlio de Castilhos, Assis Brasil,
Borges de Medeiros, Pinheiro Machado, Ramiro Barcellos, todos nascidos entre
1851 e 1863. Do outro lado uma composição heterogênea de republicanos
descontentes, monarquistas saudosos, liberais assustados e caudilhos apeados do
poder, resistindo com maior ou menos consciência, à impiedosa avalanche
modernizadora representada pela República”.
INTERAÇÃO
entre os dois primeiros professores de HISTÓRIA da ARTE do RIO GRANDE do SUL
Fig. 14 – A lista dos artistas que apresentaram obras, em
1925, no SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES. Ângelo GUIDO percorreu, analisou cada artista e publicou na REVISTA da EDITORA
GLOBO de dezembro de 1929. A avaliação e
critica das obras, que Ângelo GUIDO expunha neste salão, couberam ao
jornalista, cronista e crítico de arte, medico psiquiatra Fábio de BARROS. A
repercussão social e econômica, deste SALÃO, foi duramente atingida pela QUEBRA
da BOLSA de Nova York do dia 24 de outubro de 1929. Esta roubou toda atenção
pública que este evento poderia ter recebido.
Conforme recomendo texto de Ilita PATRÍCIO que foi seguido até
este ponto, a rica e polifacética figura e obra de Fábio de BARROS merecem a
sua lembrança e a busca de prolongar o mais possível o seu PENSAMENTO. Muitas
outras descobertas é possível fazer nas
ARTES VISUAIS do RIO GRANDE do SUL. Uma delas é evidenciar a sua relação com o
INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL e os seus mestres
Fábio
de BARROS foi o primeiro professor de História da Arte ESCOLA de ARTES do
INSTITUTO de BELAS ARTES do RIO GRANDE do SUL Não se profissionalizou e nem
assumiu as funções deste cargo, pois psiquiatra o Dr. Fábio era membro da
COMISSÃO CENTRAL do IBA-RS e o regulamento proibia o acúmulo e esta
profissionalização Assim Ângelo GUIDO
(1893-1969) tornou-se o primeiro
professor já profissionalizado no magistério de História da Arte do IBA-RS na
condição universitária.
Os dois
mestres interagiam no espaço cultural de Porto Alegre ao longo da primeira
metade do século XX.
Uma
destas interações deu-se no SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS
ARTES do RIO GRANDE do SUL - aberto no dia 15 de novembro de 1929, no foyer do
Theatro São PEDRO. Fábio de BARROS manifestou-se em relação à obra de Ângelo Guido que havia escrita extensa crônica e apreciação deste SALÃO. Esta matéria foi capa na Revista do GLOBO no número ano 23 no seu
primeiro ano e com amplo texto ilustrado
das páginas 4 até 7. No entanto Ângelo Guido também expunha as suas obras e que
ele calou. Os editores da revista deram esta tarefa de registro e análise
estética para Fábio de Barros. Este publicou, sob a título “O PINTOR da VIDA”,
a sua apreciação nos seguintes termos:
“ As telas
de Ângelo Guido são desdobramento, através de um temperamento individual
de artista, do movimento vibratório da vida.
Fig. 15 – As metáforas que o medico e psiquiatra Fábio de
BARROS - evocou na sua experiência pessoal diante da obra pictórica de Ângelo
GUIDO - remetem o expectador a fazer a mesma experiência diante das “MANCHINHAS
PINTADAS” de Ângelo GUIDO No texto de Fabio de BARROS é notável
a sus capacidade de lidar com o repertório médio do seu leitor e potencial
observador da obra que é objeto de sua crônica e crítica.
A vida é a preocupação principal deste pintor.
Vida de trabalho, ou vida de sonho, talvez mais sonho que de trabalho, mas
enfim, sempre vida. Nas suas magníficas cenas de praia, o interesse humano
sobrepuja o pitoresco. . O mar está ali para dar sugestões à alma que se avizinha
como a rapariga apaixonada que traça com a ponta da sombrinha, em letras que a
água apagará sobre a praia, com o tempo apegar-lhe-á, no coração, o pensamento
que se arremessa par o céu, e luminosa se quebra contra o rochedo, como na
paisagem, o que lhe interessa é sempre o drama, no aspecto dinâmico da luta de
forças, o concerto de magias. Nada mais contrário ao temperamento da Ângelo
Guido, que a imobilidade. O que ele ama é a vida, os músculos em atividade, os
nervos vibrando, a selva borbulhando na cor dos vegetais, as forças misteriosas
que agitam a natureza. Daí uma técnica larga, rápida, ampla, de pinceladas que
mancham com segurança de uma emoção, em contrastes de cores cruas, em que mais
se sentem do que se percebem os detalhes. E apesar disso, existe nos quadro de
Ângelo Guido, uma extraordinária harmonia de colorido: é que o jogo dos valores
é estudado rigorosamente. Compreende-se que para chegar a este resultado devia começar o pintor, por desviar-se dos
caminhos trilhados e procurar, por sua própria conta, novas vias para alcançar
a sua meta. Felizmente, uma intuição, um como instinto discriminatório guia-lhe o braço na descoberta de efeitos.
Ele os alcança e realiza sempre pelos processos mais simples como nas coisas
que se produzem espontaneamente. Não se lhe percebem, rebuscamentos técnicos,
preciosismo de fatura, coisas para colherem a atenção e surpresa. A poesia, não
está os objetos, está em nós mesmos. E onde quer que caiam, ou pousem os olhos de Guido, praia e escapa,
árvore e silhueta de mulher, logo um eflúvio de poesia se derrama impregnando o
ambiente, a comunicar-se simpaticamente na alma de quem contempla os quadros. O
espírito do artista vibra em todos eles.”
Fábio
de BARROS.
Texto publicado no FACE BOOK do GRUPO de
PESQUISAS da AAMARGS
Fig. 16 – A capa da REVISTA da GLOBO de dezembro de 1929 que apresentaram obras do SALÃO
da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de BELAS ARTES inaugurada no dia 15 de novembro
de 1929. Esta data sublinhava e era parte da comemoração da PROCLAMAÇÂO da
REPÚBLICA do BRASIL. O IBA-RS tinha
surgido sob este regime republicano e, numa época. Na qual o ESTADO do RIO GRANDE do SUL e demais
estados brasileiros tinham sido elevados ao patamar de “SOBERANOS”. Assim estes estados tinham os
seus PRESIDENTES e um PALÁCIO PRESIDENCIAL. Assim era importante evidencia a
artes deste ESTADO SOBERANO. Esta tarefa cabia ao SALÃO da ESCOLA de ARTES do INSTITUTO de
BELAS ARTES Ângelo GUIDO e Fábio de BARROS interagiram
por meio da REVISTA do GLOBO que pode ser vista como parte final deste ESTADO
SOBERANO SUL-RIO-GRANDENSE. Cabe a evidente crítica que esta SOBERANIA ESTADUAL
era uma forte barreira para a interação na NAÇÂO BRASILEIRA. O ESTADO NOVO (1937-1945)
irá derrubar estas frágeis e inconsistentes barreiras que estes ESTADOS
SOBERANOS haviam construído ao redor de si mesmos.
Com seu exemplo pessoal,
Olinto conseguiu seduzir grandes nomes da medicina de Porto Alegre para as
artes. Além do médico João Birnfeld que, estava ao seu lado, no momento da
fundação do Instituto, o seu exemplo conseguiu levar para o Instituto o diretor
da Faculdade de Medicina Sarmento Leite. O seu cunhado, Raimundo Gonçalves
Vianna. Fábio de Barros e Mário Totta são outros médicos, que seguiram o seu
exemplo e dedicaram os seus melhores momentos ao trabalho na Comissão Central
do Instituto. Isso sem falar do médico que era presidente do Estado na época da
fundação do Instituto.
Fig. 17 – O prestígio profissional do medico
psiquiatra Fábio de BARROS fez com que ele fosse escolhido para chefiar a
equipe médica brasileira que se deslocou para o teatro da I GUERRA MUNDIAL.. O Brasil entrou no conflito depois de ser atingido no seu patrimônio e
de perder vidas humanas
Conforme Aldo Obino[1]
“ O Fábio chefiou a missão brasileira na
guerra de 1914; tirou retrato com Machado de Assis e escreveu peças teatrais.
Foi um médico ilustre na Guerra de 1914, mas tinha um vício: bebia e talvez algo mais...”.
[1] OBINO, Aldo. Notas de arte. Org, Cida Golin.
Porto Alegre : MARGS/Caxias do Sul : Nova Prova EDUCS, 2002, p. 19. https://www.ucs.br/site/editora/catalogo/artes/aldo-obino-notas-de-arte/
Missão Médica
Brasileira na I GUERRA MUNDIAL http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/oficinadohistoriador/article/view/19876/13291
Fábio de BARROS está
presente na reunião da Comissão Central do IBA-RS e assina na sessão do dia 04
de outubro de 1921 e da qual nunca se desvinculou para assumir o papel e as
funções de professor de História da Arte. Inclusive o numero de pagantes da
Escola De Arte não permita manter um quadro funcional além de Libindo Ferrás e
Francis Pelichek. Enquanto isto Fabio
preferiu a larga polêmica e o papel
didático dos periódicos de Porto Alegre ainda sem a concorrência do rádio e
muito menos da TV. Assim podia exercer e reforçar as suas posições de polemista
sem se restringir a uma sal de aula de uma escola que raramente atingia o
número de vinte estudantes de arte e num torno no qual frequentavam as escolas
“sérias e de futuros profissionais”.
Fig. 18 – As crônicas e críticas do medico psiquiatra Fábio
de BARROS constituíram um rico e variado acúmulo de narrativas publicadas nos
periódicos diários impressos mensais e prontas para receber o formato de um
livro. É necessário notar a autocritica
deste acúmulo e que o tempo lhe permitiu realizar. Na obra “COLHEITA” de 1944 e
com estrutura semelhante as “PAVRAS OCAS” de 1923 ele chega até as raias da
crueldade implacável consigo mesmo quando publicou que o leitor “poderá verificar que em cada artigo deixei um traço de mim
mesmo: o conjunto delas será um retrato, grosseiro, mas fiel e sincero, que a
amizade poderá reconstituir quando eu já não for dentre os vivos, o que
acontecerá em breve, tenho certeza”.
Fontes bibliográficas da pesquisa de ILITA PATRÍCIO
AZURENHA,Paulino; LOBO,Souza;TOTTA,Mario; Estrychnina, Porto Alegre: Artes e
Oficios, ( 1998)
DO RIO, João; A Alma encantadora das ruas - São Paulo: Companhia de Bolso .
(1997)
FRANCO, Sergio da Costa Porto Alegre ano a ano: cronologia histórica:1732-1950.
Porto Alegre: Letra & Vida . (2012).
BARROS, Fabio de Colheita .Oficinas Graficas da Livraria do Globo . Porto Alegre
(1944)
--------Palavras
ocas (chronicas e commentarios) Porto Alegre : Globo 1923
260 p.
CÂMARA, Armando, BARROS, Fabio de
Porto Alegre: Revista Estudos , (1943)
Yonissa Marmitt Wadi et Nádia Maria Weber Santos. Debats O Doutor Jacintho Godoy e a História da Psiquiatria
no Rio Grande do Sul /Brasil 2006
GODOY, Jacintho. A psiquiatria
no Rio Grande do Sul . Porto Alegre: edição do autor, 1955
OBINO, Aldo. Notas de arte. Org, Cida Golin. Porto Alegre : MARGS/Caxias do Sul : Nova Prova EDUCS, 2002, 152 p. https://www.ucs.br/site/editora/catalogo/artes/aldo-obino-notas-de-arte/
SANTOS, Nadia Maria Weber Espaços
e narrativas da loucura em três tempos (Brasil, 1905/1920/1937) UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO SULINSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANASPROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIAHISTÓRIAS DE SENSIBILIDADES .2005 (Brasi)
BARROS, Fábio
----Hiantesthesias organicas:
syndromo thalamico. Porto Alegre
: Faculdade de Medicina de
Porto Alegre Tese (cátedra de Clínica
Neuriatica) 1926 102 p.
-----Sobre a existencia de um :
syndromo choroide autonomo.Porto
Alegre : Faculdade de Medicina de Porto Alegre . Tese (cátedra de Clínica
Neuriatica) 1926 36 p.
Outras fontes bibliografia
da pesquisa que consta em
VILLAS-BÔAS, Pedro. Notas de bibliografia sul-rio-grandense-autores.
Porto Alegre: a Nação-SEC-IEL, 1974 e Dicionário bibliográfico. Porto Alegre :
EST-EDIGAL 1991.
------Esmeralda (Ópera, fev.1898, cantada por
Stela Teixeira. Teatro S. Pedro, música de Fábio Barros e João C. Fontoura,
libreto de V. Oliveira, Arnaldo D. Oliveira e V. Vereza);
------O ritmo da Arte (conferência), Porto Alegre : Globo 1908, 19 p. não numeradas;
------A liberdade profissional no Rio Grande do Sul: a Medicina e o Positivismo(conferência) Porto
Alegre : Globo 1916, 29 p.);
-------Saudação ao Prof. Georges Dumas na Faculdade de
Medicina .
Porto Alegre : Globo 1917, 14 p;
--------Aberrura oficial dos cursos (discurso in Revista dos Cursos da Faculdade de Medicina, Porto Alegre : Globo separata 1924, 10 p);
------- Sobre a existência de um Síndromo talâmico.
Porto Alegre : Faculdade de Medicina/Globo
1926, 36 p.
---------A missão de Sào Francisco in Conferências
franciscanas Porto Alegre : Globo
1927, pp.138/52 ; Colheita.
Porto Alegre : Globo 1944,
327 p”.
Fig. 19 – Mais uma entre as raras fotos do
medico psiquiatra Fábio de BARROS encontradas na pesquisa de Ilita PATRÍCIO. Os pequenos índices da imensa produção de Fábio de BARROS que serviram
para presente postagem necessitam ainda
de muita pesquisa. Porém mais urgente é a consolidação desta memória em
instituições confiáveis e reversíveis para dedicados pesquisadores competentes
para que reconhecer valores autênticos e ao nível deste professor, jornalista,
crítico de arte e cientista pioneiro e expoente nestas áreas no RIO GRANDE do SUL.
Fontes
numéricas
digitais
Dr.
Jacybro GODOY (1886-1959) https://nuevomundo.revues.org/1556
Emílio KEMP https://pt.wikipedia.org/wiki/Emílio_Kemp
Fábio de BARROS no
MUSEU de MEDICINA de POTO ALEGRE
Fábio de BARROS e a Música
Missão Médica
Brasileira na I GUERRA MUNDIAL
Hetore MALAGUTI
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