ARMINDA LOPES na busca do ESPLENDOR da VERDADE.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 01 – Armindo
LOPES expressa a sua busca da verdade na interação do corpo, mente e ecologia. As suas obras ganham pleno sentido na sua
intensa exposição à luz solar tropical.
Arminda Lopes demonstra as possibilidades de uma
artista visual sul-rio-grandenses transcender as suas próprias circunstâncias por
meio de sua obra de arte coerente com sua vida. Coerência sustentada por um
pensamento que se materializa num projeto ético cultivado continuamente num
árduo trabalho com a sua próprias mãos.
Neste
projeto Arminda não se nega olhar de frente a condição humana nas
circunstancias brasileiras, trabalhar com as suas próprias mãos a partir da sua
condição de gênero e no desafio de realizar a busca do esplendor da verdade na
difícil arte da escultura.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 02 – Na sua
aprendizagem Armindo LOPES não se recusou se submeter aos exercícios mais
exigentes e austeras para atingir da alegria da liberdade da criação expressa a sua busca da verdade na interação
do corpo, mente e ecologia. A composição no quadrado de 30 x 30 cm é
clássica na aprendizagem da modelagem e no domínio dos meios formais plásticos
dispostos sobre esta superfície que
permite infinitas variações de relevos, sombras, luzes, ângulo, linhas e pontos
de convergência e dispersão de forças
ordenadas por meio de um esquema mental .
Neste projeto Arminda progrediu no processo ensino-aprendizagem a
partir do modelo industrial. Modelo industrial no qual o estudante partia de um
curso preliminar no qual aprendia todas as técnicas da arte. Progrediu neste
caminho sob o olhar e o controle de mestres qualificados. Neste estágio ela
praticou e experimentou estas técnicas já consagradas e aceitas no campo das
artes visuais. Com este trabalho orientado a escultora atingiu a sua autonomia.
Nesta autonomia ela está trabalhando na formação de outros mestres. Com o
objetivo de estimular e transmitir as primeiras fases da formação ela abre o seu atelier consolidado. Recebe
especialmente para crianças e grupos que necessitam verificar a prática deste
processo de ensino aprendizagem. Estes grupos, mesmo que não enveredem para a
prática das artes visuais, serão apreciadores com experiência e contato com
obras originais. Eventualmente serão pessoas qualificadas para adquirir ou
aconselhar aquisições destas e outras obras originais.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 03 – Nas
duas composições com a figura humana Armindo LOPES vale-se de traços
essenciais.. O desenho foi a forma
de os escultores estabelecer a relação entre suas concepções com a
materialidade dos materiais tridimensionais. Miguel Ângelo praticava o desenho ou DESÍGNIO como a forma de
DESIGNAR o que ele via na matéria bruta
e uma conexão com “il Dio in noi” no registro de Francisco de Holanda[1].
No meio de suas pesquisas não esqueceu a
atualização de sua inteligência e a formação de uma visão crítica de sua obra. A
melhor forma de realizar esta atualização e ter uma visão crítica é a constante
socialização desta obra em exposições, recepção de visitas e a sua circulação
nos meios de comunicação de massa ou orientados para especialistas e outros
concorrentes ao campo das artes visuais.
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Fig. 04 – Armindo
LOPES desenha e esboça as suas obras e registra a contabilidade de sua produção
plástica de uma forma estruturada.. Ao
mesmo tempo no seu escritório mantém pesquisas estéticas, contabilidade e
controla compromissos e contratos numa vasta rede de contatos regionais e
internacionais.
Ela sabe que o autêntico artista transcende e
consegue criar a partir de um projeto sustentado por um pensamento coerente com
as suas próprias circunstâncias. As aparentes facilidades das suas pesquisas
estéticas resultam da atualização da sua
inteligência. Quem observa atenta e longamente a obra de Arminda Lopes percebe
um constante e gradativo exercício de escolhas coerentes. Escolhas que também significam
perdas de caminhos fáceis, porém fugazes e de rápida entropia. Assim ela
distingue perfeitamente a OBRA que permanece e aquela que é simples TRABALHO
sujeito às leis da obsolescência programada para o consumo.
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Fig. 05 – A
figura humana sob as mais variadas expressões ganha a sua primeira forma em
numerosos desenhos. A linha do seu
mestre Vasco Prado[1]
dedica um grande tempo e as melhores
energias para o exercício do desenho antes de se entrega à difícil, cara
e demorada obra tridimensional. Como no caso de Vasco Pardo Arminda produz, organiza e e guarda esta produção.
O constante exercício
do desenho, do traço e de expressão bidimensional a levam às suas conquistas
tridimensionais do espaço. E vice-versa: o volume a matéria impõe rigorosos
limites em linhas, em perfis e traços que alimentam e enriquecem aquilo que ela
registra sobre o plano
[1] VASCO PRADO: A escultura em traço -Curadoria e
organização editorial de Paulo Amaral – Porto Alegre: EST Edições 2015 108 p.
Il.
ISBN 978-85-68569-10-8
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 06 – Além
de ganhar as três dimensões as produções de Armindo LOPES possuem variadas
silhuetas. A escultura necessita que
o seu observador se desloque ao redor destas obras tridimensionais para perceber
uma série destas silhuetas
A longa ascese estética - a que Arminda LOPES se
submeteu por livre e espontânea vontade - está produzindo os seus frutos na
forma de pesquisas estéticas que se concretizam em esculturas, modelagens e
desenhos. Agora ela trata de socializar este saber. Socialização que ela
realiza com segurança pois ela sabe que está principiando algo que ela domina e
maneja em todo os sentidos e direções.
Em arte não cabem desculpas. Quem a pratica sabe
que a escolha foi por livre e espontânea escolha. O máximo possível diante de
uma dúvida ou eventual erro é recomeçar ou realizar tantas versões até ficar
plenamente convencido do acerto da busca do esplendor da verdade na sua obra.
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Fig. 07 – Outras
duas composições verticais no desenho de Armindo LOPES. Estas composições ultrapassam qualquer
tema, título ou representação de um determinado evento. Elas constituem o
prazer da criação e do exercício da linguagem gráfica e base de obras
tridimensionais.
Esta pesquisa estética ganha sentido pleno num
momento de instabilidades, de mudanças no mundo social, político e
econômico. Quem a pratica a pesquisa
estética demonstra que a sua escolha pela escultura foi livre e espontâneo.
Numa eventual dúvida, ou erro, ela sabe por que, quando e onde recomeçar ou
realizar tantas versões e experimentos até ficar plenamente convencido do
acerto da sua busca. Como na pesquisa estética no mundo social, político e
econômico é impensável qualquer improvisação precipitada e inconsequente com um
projeto que se desenha claramente na mente dos seus agentes. No caso de dúvida
ou erro sempre é possível o retorno à sua origem na medida do caminho seguido
no projeto mentalmente seguro e sempre reversível em todos os pontos.
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Fig. 08 – A
figura feminina refletindo diante do espelho pode ser metáfora da reflexão
mental pela qual esta criatura busque se representar com os índices do seu
corpo que colheu nas suas experiência no mundo externo a ela. Em obras
desta natureza Armindo LOPES busca também o esplendor da verdade seja ela qual
for.
Nestes momentos de crise - do modelo industrial do
estados nacionais - a artista consciente sabe, como cidadã, que ela vai ter de suprir
o projeto civilizatório compensador que o Estado deveria exercer. Porém este
Estado Nacional não sabe, não quer e não
se sente em condições de cumprir este contrato que ele assumiu com o cidadão.
Contrato pelo qual o cidadão delega esta violência ao seu Estado Nacional abdicando
de praticar a justiça com as próprias mãos e meios.
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Fig. 09 – A verdade da angústia, do suplicio quotidiano e
das violências gratuitas q a que está sujeito o corpo humano e especialmente
feminino ganha formas veementes e dramáticas nas esculturas de Armindo LOPES. Numa instalação subterrânea criou uma
instalação na qual os corpos humanos flutuam suspensos através de ganchos diante
da morte e transfiguração colocada ao final deste conjunto flutuante.
As obras de
Arminda representam simbolicamente este abandono e desesperança de figura
humana diante de um contrato não cumprido. É neste momento em que a figura humana, e principalmente a
feminina, representa e projeta a
angústia diante da barbárie crescente neste vazio de civilização.
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Fig. 10 – As
máscaras humanas, modeladas em argila por Armindo LOPES, se aglomeram sobre um
mural e são metáforas das multidões humanas de todos os tempos na busca do seu
destino. As faces humanas, no
entanto, obedecem a quem as modela como as notas musicais de um compositor.
As práticas da violência vinda da barbárie, da
corrupção e prepotência deflagram o grito da figura central da Guernica de
Picasso. A obra de arte empresta os seus meios sensoriais para evidenciar a
desesperança. A sensibilidade ferida toma forma na arte com o objetivo de
denunciar e mover inteligência e a vontade individual e coletiva. No caso brasileiro
e sul-rio-grandense a crescente barbárie sustenta novas, estranhas e corruptas
pirâmides sociais, políticas e econômicas paralelas ao Estado nacional.
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Fig. 11 – O
casal humano nas mãos e na mente de Armindo LOPES está diante do seu destino
irremediável. Esta obra atualiza
mesma questão – “De ONDE VIEMOS?, o QUE
SOMOS? E PARA ONDE VAMOS? ” do artista Paul GAUGUIN especialmente diante do
prolongamento da existência humana .
Porém Arminda sabe que seus exercícios e obras físicas são práticas
estéticas e não propaganda ou panfletos emocionais que exploram sentimentos
humanos. Se na concepção da escultora existe espanto, desesperança e as suas
mãos tremem ela não abdica da sua pesquisa plástica. Na sua denúncia as figuras tomam formas materiais para
representar o espanto, a desesperança e as suas mãos tremem eles acidentes
sobre projetadas no plano sobre-humano das civilizações. Civilizações que confiaram
às artes representar, para os sentidos humanos, do que significavam de
universal. Significativo que todos querem guardar do melhor e de significativo de
todos de tempos e lugares.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 12 – As
três dimensões das produções de Armindo
LOPES possuem variadas silhuetas. Nesta imagem desta obra de grandes proporções
esta mesma lógica ganha sentido e leituras na medida das luzes e sombras.
Arminda LOPES expressa a sua busca da verdade na interação do corpo
humano, luz e sombras. Sombras e luzes que ela procura e provoca
nas construções plásticas que as fazem vibrar de forma diferenciada a cada
variação da luz natural ou artificial.
Além de
evidenciar a desesperança e
sensibilidade ferida Arminda LOPES busca também o esplendor da verdade
naquilo que que todos querem guardar do melhor e de significativo de todos de
tempos e lugares. Numa séries de obras de artes ela quis fazer emergir formas
femininas em triunfo. A linguagem plástica - dos volumes jogados no espaço
tridimensional - exalta e glorifica com o objetivo de mostrar o caminho
possível. Não se trata de hedonismo, ou de um gozo visual inconsequente.
Trata-se do contraste que torna mais profunda a dor e do outro lado esta mesma
dor ganha um lenitivo e uma esperança nestas formas femininas em triunfo.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 13 – A
interação do corpo, da mente e do ambiente ao ar livre, luz solar e/ou
artificial fazem desta obra de Armindo LOPES mais uma busca da verdade. As suas obras ganham as dimensões do mundo
da beleza nativa brasileira.
O alvo da artista é a busca do esplendor da verdade nesta dialética
entre o desespero e a esperança. Esplendor que toma o corpo físico da figura
humana para afirmar a verdade inegável da dor. Na direção oposta este corpo
humano revela, os traços da saúde, da segurança nos seus gestos e atitudes.
Foto de Círio Simon no atelier de Arminda Lopes em 18.11.2016
Fig. 14 – A
descoberta e a epifania do esplendor da
verdade fazem desta obra de Armindo
LOPES uma síntese e uma metáfora das orantes dos primórdios do cristianismo. A vertical do corpo de pé e o arco
horizontal dos braços a remetem ao mundo da transcendência sem se prender a
nenhuma ideologia ou crença formal e canônica.
Com esta dialética e oscilação entre extremos as teses propostas por
Arminda tem a sua antítese num polo oposto. A síntese sempre converge para
busca do esplendor da verdade. Esplendor da verdade que impõe o cultivo do
hábito da integridade intelectual, moral e estético.
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Fig. 15 – A luz
da vela reforça a ambientação de transcendência e fazem das obras de Armindo
LOPES o centro da humanização de qualquer ambiente As autênticas obras de arte possuem este
poder de transmitir o máximo no mínimo de sua forma.
Arminda
Lopes já está muito longe e já percorreu os caminhos das tendências estéticas
passageiras e passa por cima de tabus e contradições artificialmente colocados
no seu caminho. A sua obra, o seu pensamento ou pessoa escapam, de outra
parte, de levar pelas costas um alfinete
classificatório para serem exibidos num quadro teórico ao lado de outros
exemplares raros de artistas visuais do Rio Grande do Sul.
A sua
obra necessita que o observador refaça os caminhos percorridos até o presente
pela artista, conheça fisicamente a sua obra e as suas circunstâncias. Pela
capacidade que esta artista adquiriu - e demonstra no presente - é possível
esperar muitas mudanças e rupturas intelectuais, estéticas e técnicas no
percurso desta escultora na busca do ESPLENDOR da VERDADE.
FONTES
BIBLIOGRÁFICAS da PRESENTE POSTAGEM
HOLANDA, Francisco. Diálogos de Roma: da
pintura antiga. Lisboa: Sá da
Costa, 1955, 158p.
PRESTES,
Cézar. Arminda Lopes: miseráveis a estética da dor. Porto Alegre:
MARGS- Nova Prova, 2007, s/p. il col https://www.estantevirtual.com.br/dasraizesaosfrutos/Arminda-Lopes-Miseraveis-a-Estetica-da-Dor-192581733
VASCO
PRADO: A escultura em traço -Curadoria
e organização editorial de Paulo Amaral – Porto Alegre: EST Edições 2015 108 p.
Il.
ISBN
978-85-68569-10-8
FONTES
NEMÉRICAS DIGITAIS
Face book Arminda Lopes
ENTREVISTA TVE-RS
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